História da Igreja desde a Reforma


Esta História do Cristianismo descreve a história da Igreja no Ocidente
da Europa até a Reforma. Propomo-nos em seguida, a escrever um resumo
da história da Igreja desde a Reforma.
O Breve Esboço dividiu a história em diversas épocas, seguindo a
visão profética contida nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse. Esta profecia,
aparentemente, segue a história da igreja ocidental, e seguiremos o mesmo
trilho, depois de dizer umas palavras acerca de outras seções da Igreja.

A IGREJA ORTODOXA, OU GREGA

Nos séculos VI e VII, quando o bispo de Roma procurava obter a
supremacia na Igreja universal, os bispos das igrejas no Oriente não
queriam reconhecer a sua autoridade. As sedes principais eram
Constantinopla (capital do império oriental), Antioquia (capital eclesiástica
da Síria), e Alexandria (no Egito). No século VII, os seguidores de
Maomé conquistaram a Síria, a Palestina, e o Egito, destruindo os
templos cristãos, e muitas vezes oferecendo aos crentes a alternativa de
conversão à religião falsa, ou a morte. As hostes do Islã não entraram na
Europa oriental até o século XV. Durante este intervalo, a Sé de
Constantinopla resistia à autoridade do papa de Roma. O bispo de
Constantinopla é chamado "Patriarca", e os bispos (ou patriarcas) da Igreja
Ortodoxa são mais ou menos independentes uns dos outros. A Igreja
Ortodoxa está cheia de ritualismo. A liturgia é na língua grega antiga, e
também em eslava antiga. A maior parte da península dos Bálcãs, antes da
invasão dos turcos, era adepta dessa igreja. Hoje os ortodoxos entendem
pouco da sua liturgia, devido ao dialeto ter mudado consideravelmente.
Durante os séculos V e VI, diversas raças de eslavos entraram na
península, e a liturgia foi traduzida na sua língua, mas hoje este dialeto é
também diferente. Ao fim do primeiro milênio, certos missionários entre os
eslavos foram à Rússia para evangelizar o povo, e, gradualmente, a religião
ortodoxa espalhou-se por entre esse vasto território, até chegar a ser a
religião estabelecida pelo governo da Rússia. No ano de 1453, os turcos
(maometanos) passaram para a Europa, e a cidade de Constantinopla caiu
nas suas mãos, e depois toda a península balcânica. Mais uma vez os
maometanos derrubaram as igrejas cristãs mas deixaram a catedral de
Santa Sofia em Constantinopla, convertendo-a numa mesquita (templo
maometano), mudando a cruz para uma lua crescente (símbolo
maometano). A Igreja Ortodoxa sendo perseguida, ficou reduzido o número
dos seus adeptos, e muitos fugiram, levando livros e a língua grega para a
Europa Ocidental. A Igreja Ortodoxa, porém, persistia. Mais tarde os
imperadores da Rússia, sendo da Igreja Ortodoxa, e sempre inimigos da
Turquia, protegeram as raças gregas e eslavas na Península, contra os
turcos.
A Reforma não influiu na Igreja Ortodoxa. Melanchton, o
companheiro de Lutero, escreveu ao Patriarca de Constantinopla, dandolhe
um relatório das doutrinas luteranas, segundo a Confissão de
Augsburgo, e sugerindo que a Igreja Oriental aceitasse as doutrinas da
Reforma. O Patriarca e seus colegas examinaram as novas idéias, e declararam
que eram doutrinas falsas e não podiam aceitá-las. Mais tarde, no
ano de 1621, um patriarca piedoso, reconhecendo a Reforma, fez a
sugestão aos ortodoxos para que aceitassem o Credo de Calvino. Os
jesuítas, porém, fizeram uma grande propaganda contra isso, e, por acusações
falsas, conseguiram a morte do bom Patriarca, e assim a Igreja Grega
continua até hoje com a sua corrupção.
Durante o século dezenove, os diversos países balcânicos
conquistaram sua independência. Quando da Grande Guerra, no ano
1917, a Rússia tornou-se bolchevista e ateia, proibindo qualquer religião
no país ou mesmo que nele entrasse uma só Bíblia. Missionários ingleses e
americanos têm trabalhado nos países da Península, mas têm encontrado
muitas dificuldades, devido à ignorância do povo, e ao fanatismo dos
padres e às leis dos governos.

A IGREJA ARMÊNIA

A Igreja Armênia existia no país chamado Armênia, entre o mar Negro
e o Cáspio, mas agora está quase extinta. Era um cristianismo corrupto, e
no fim do século passado e na primeira metade deste século, quase toda a
nação foi exterminada pelos turcos, apesar dos protestos constantes do
governo inglês. Hoje, o povo que ainda resta é pobre e está espalhado por
diversas nações.

A IGREJA CÓPTICA

A Igreja Cóptica existe no Egito e na Abissínia. Quando os
maometanos conquistaram o Egito, os cristãos sofreram perseguições, mas
muitos continuaram firmes na fé, e a Abissínia não foi conquistada pelos
árabes. A sede do Patriarca é Alexandria e ele é quem sempre nomeia o
bispo da Abissínia. Este país foi evangelizado por Frumêncio que entrou ali
no ano 330. A religião é um cristianismo corrupto. No século XVI, a Igreja
Romana enviou missionários portugueses à Abissínia. Tiveram bom êxito
no princípio, mas finalmente foram todos expulsos, e o povo da Etiópia
voltou à sua antiga religião. Durante o presente século, diversos
missionários ingleses têm trabalhado no país, e foram bem auxiliados pelo
imperador Haile Selassie. Era um homem de fé e retidão, mas foi obrigado
a fugir na guerra de 1935, quando os exércitos da Itália conquistaram todo
o país. O governo italiano expulsou todos os missionários, e os italianos
mataram muitos dos crentes indígenas. No ano de 1941, os italianos foram
expulsos pelos exércitos britânicos, e o Imperador voltou à sua pátria, e
prometeu ajudar tanto quanto possível os missionários que voltaram.

A IGREJA NO OCIDENTE DA EUROPA

Devemos voltar ao nosso assunto principal, que é a história da Igreja
na Europa Ocidental. Temos notado, nas primeiras quatro igrejas da visão
profética de Apocalipse capítulos 2 e 3 um desenvolvimento. O estado de
Esmirna desenvolve-se no estado de Efeso; o de Pérgamo no de Esmirna, e
o de Tiatira no de Pérgamo. Mas as últimas fases, as de Tiatira, Sardo,
Filadélfia, e Laodicéia, continuam juntas até terminar a história da Igreja
no mundo, marcada pela volta de Cristo, que é mencionado como o alvo
dos vencedores em cada uma das últimas igrejas. Por isso julgamos que as
últimas fases serão encontradas em diversas partes do mundo ao mesmo
tempo. Temos dito que Tiatira representa a igreja de Roma plenamente
desenvolvida; Sardo representa as igrejas protestantes no seu desenvolvimento;
Filadélfia representa as diversas revivificações que têm surgido
durante os dois últimos séculos, e Laodicéia é mais o aspecto que se
encontra hoje nos países protestantes.

A BÍBLIA

Antes de descrever a história dos vários países, devemos dizer umas
palavras acerca da base da nossa fé - a Palavra de Deus. A atitude de cada
nação e de cada pessoa com respeito à Bíblia determina seu estado
espiritual. Onde o livro sagrado está fechado ao povo, aí há ignorância,
trevas, injustiças e corrupção. Onde a Palavra de Deus é lida e apreciada,
aí há inteligência, justiça e progresso.
Duas coisas, especialmente, resultaram em tornar a Palavra de Deus
um livro ao alcance do povo mais uma vez na história da Igreja. Devido à
entrada dos turcos em Constantinopla, muitos dos literatos gregos fugiram
para toda a parte da Europa, levando seus escritos na língua grega.
Tornou-se praxe nas Universidades da Europa o ensino da língua grega,
que é a língua original do Novo Testamento. Os professorese estudantes
começaram a estudar o Novo Testamento no original, e muitos tiveram os
seus olhos abertos para os erros da Igreja de Roma, e aceitaram a verdade
de Deus. Estes homens naturalmente queriam pôr as verdades
encontradas ao alcance de todos, e para isso era necessário a tradução da
Bíblia para as línguas modernas. Mas um livro em manuscrito custava
muito caro para os pobres. O descobrimento da arte tipográfica durante o
mesmo século barateou grandemente o preço dos livros, e pôs o Novo
Testamento ou a Bíblia toda ao alcance de muitas pessoas que sabiam ler.
A Igreja Romana reconheceu somente a Vulgata, a tradução de Jerônimo,
feita no século V, das línguas originais para a Latina, que no tempo deste
tradutor era a língua quase universal. No século XV o Latim já não era a
língua de qualquer nação, mas era usado em conferências internacionais,
políticas ou eclesiásticas. A Igreja Romana continuou com a sua liturgia
nesta língua morta.
Agora vamos seguir o progresso do cristianismo nos países da
Europa, e as conseqüências da aceitação ou rejeição do Evangelho em cada
caso.

ESPANHA

O país mais poderoso da Europa durante o tempo da Reforma (1520-
1580) era a Espanha. Dominou a América do Sul e a América Central e
uma boa porção da América do Norte, ilhas no Pacífico, as índias
Ocidentais, os Países Baixos (Holanda e Bélgica) e certas províncias da
Itália. O rei Carlos V era também Imperador da Alemanha, e seu filho Filipe
II veio a ser também rei de Portugal e do Brasil, em 1580. Tinha um grande
e bem treinado exército, e uma poderosa frota. O rei Filipe II era homem
fanático, mesquinho, teimoso e cruel. Animou a Inquisição a fazer seu serviço
nefário, torturando e queimando os "hereges protestantes" e os judeus.
Antes de morrer (1598), o rei gabou-se pelo fato de não existir nem um só
"herege" no país. A Holanda recebeu esses "hereges" e a Espanha fez guerra
contra esse povo, que se revoltara contra a introdução da Inquisição e
contra a terrível perseguição à sua fé evangélica; e, antes de morrer, o rei
da Espanha tinha perdido a Holanda.
Os espanhóis levaram sua religião e a Inquisição a todas as partes do
mundo que conquistaram. Antes da morte de Filipe, a decadência do país
começara, e continuou no século seguinte. O rei vira destruída sua
"Invencível Armada", a grande frota que mandara com a bênção do papa
para castigar a herética Inglaterra, com Isabel sua rainha protestante
(1588). Os espanhóis eram odiados devido a crueldade dos seus soldados e
padres, e o rei era homem sem misericórdia para com seus inimigos.
A Espanha foi de mal a pior nos séculos XVII e XVIII, e a imoralidade
do povo em geral durante o século XVIII, como descreve um
contemporâneo, parece-nos quase incrível. No tempo de Napoleão, os
exércitos Franceses entraram e tomaram posse do país com o
consentimento do seu rei. Os generais franceses acabaram com a
Inquisição que ainda funcionava até aquela data. A Guerra Peninsular assolava
todo o país, trazendo terrível miséria ao povo, até que terminou no
ano de 1814, quando os exércitos ingleses expulsaram seus inimigos.
Vinte anos depois, rebentou uma guerra civil que durou muitos anos,
com uma ferocidade incrível. A administração das colônias espanholas era
sempre péssima, e estas aproveitaram as dificuldades internas da
Metrópole para declararem sua independência. Assim, as possessões da
América revoltaram-se e tornaram-se repúblicas, desde o México, no Norte,
até a Argentina, no Sul. Isto foi uma grande vantagem para o trabalho
evangélico, pois missionários da Inglaterra e da América do Norte agora
trabalham em todas as repúblicas. A Espanha passou poucos anos
durante o século XIX com paz interna. Havia uma decadência, produzindo
uma degradação intelectual, moral e material. Mais de 80SV. do povo era
de analfabetos. O país é muito rico em minerais, com clima bom e solo
fértil, mas tornou-se a nação mais atrasada da Europa. A corrupção da
administração das Ilhas de Cuba, e das Filipinas, no Pacífico, resultou
numa guerra com os Estados Unidos em 1896, e a Espanha perdeu suas
últimas colônias de importância e terminou o século com uma dívida
enorme.
A Sociedade Bíblica Britânica enviou Jorge Borrow para vender
Bíblias e Novos Testamentos na Espanha no ano 1835, e imprimiu o Novo
Testamento na Capital. Enquanto isto se fazia, Jorge Borrow visitava as
cidades principais do país, vendendo bíblias, mas encontrou muitas dificuldades,
e a oposição dos padres. No princípio do presente século,
diversos missionários ingleses começaram o trabalho evangélico na
Espanha, mas a guerra civil no ano de 1936 pôs termo a este serviço, e
mais uma vez produziu muita miséria e grande privação para o povo. A
Espanha tem sido uma filha fiel da infiel igreja de Roma, e tem pago caro
por ter rejeitado o Evangelho no tempo da Reforma.

FRANÇA

A França no tempo da Reforma era um país poderoso e rival da
Espanha, então não possuía colônias. O Evangelho pregado por Pedro
Waldo de Lyon no século XII produzia bom resultado, mas a perseguição
diminuíra o número dos crentes, e a maior parte fugiu para a Suíça. No
princípio do século XVI o "novo ensino" despertou muito interesse nas
universidades mormente na Sorbone de Paris. O rei Francisco I era
católico, mas no princípio não era perseguidor. A irmã do rei, Margarida de
Angouleme, era uma mulher intelectual e piedosa, que estudava o Novo
Testamento grego, e queria animar outros a lê-lo. Durante a ausência do
seu irmão na guerra contra os espanhóis e quando ele estava prisioneiro do
Imperador Carlos V, depois da batalha de Pávia, Margarida protegia da ira
dos padres os novos conversos. Infelizmente havia alguns dos protestantes
sem prudência, que começaram a derrubar os ídolos e pregar placas nas
igrejas e até no palácio do rei, fazendo críticas à Igreja Romana. Em virtude
disso, houve uma grande perseguição. Muitos foram presos e queimados
na praça pública. Mas os huguenotes (como se chamavam os protestantes
da França) cresceram em número. Muitos dos nobres, por motivos
políticos, uniram-se aos novos convertidos, e tornaram-se um poder
político, e pegaram em armas. A guerra civil rebentou e continuou por
muitos anos. Com o morticínio no dia de S. Bartolomeu não terminou a
luta. Henrique de Navarra ficou à frente das forças dos huguenotes. Este
príncipe era filho da célebre Jeanne de Navarra, que era filha de Margarida
de Angouleme, pelo segundo marido, o rei de Navarra. Sua mãe e avó eram
cristãs sinceras e piedosas, mas para Henrique a religião era uma política.
A morte dos herdeiros ao trono da França deixou-o como o sucessor. Mas,
sendo protestante, a maior parte dos franceses opuseram-se a sua
pretensão. Henrique, porém, venceu todos os seus inimigos numa guerra
civil, e, a fim de trazer tranqüilidade ao país, e firmar seu trono, o novo rei
(Henrique IV) professou a religião católica, dizendo que "Paris valia uma
missa". Foi um bom rei, e uma das primeiras leis a ser promulgada foi a
chamada "O edito de Nantes", que deu liberdade religiosa e política aos
huguenotes. Quando o rei Henrique foi assassinado por um jesuíta, seu
filho (Luiz XIII) era menino, e depois um homem fraco, e o poder caiu nas
mãos dum grande estadista, o cardeal Richelieu que resolveu aumentar o
poder do rei e quebrar a força política dos huguenotes. Estes mais uma vez
pegaram em armas, e, apesar do auxílio da Inglaterra, a fortaleza deles foi
tomada, e os protestantes perderam seu poder político para sempre, mas
continuaram com certa liberdade religiosa até o tempo de Luiz XIV. Este
rei, instigado pelos jesuítas, desencadeou uma grande perseguição contra
seus súditos protestantes. Ele resolveu que todos deviam aceitar a religião
católica, e a fim de alcançar este objetivo, mandou soldados brutais entrar
pelas casas dos protestantes e "convertê-los" à força. Esta perseguição é
chamada "as dragonadas", porque os soldados eram do regimento dos
"dragões". As "conversões" por meio destes "missionários" não produziam
bastante resultado, e o rei mandou o célebre Fenelon, (depois Arcebispo de
Cambrai) para "converter" os "heréticos". Fenelon, embora fiel servo da
Igreja Romana, era homem santo e piedoso. Era venerado pela sua retidão
e santidade, e converteu alguns à sua religião. Recusou fazer qualquer
tentativa até que os soldados fossem retirados, porque não cria na força
para este fim. Mas o serviço não lhe era congenial, I e ele o deixou. 0 edito
de Nantes fora revogado, tirando I toda a liberdade religiosa do povo.
Fenelon depois foi tutor do neto do rei, e seu ensino deu bom resultado na
vida do rapaz, que antes era vicioso. Mais tarde Fenelon foi influenciado
pelo ensino duma mulher célebre, chamada Madame Guyon, cujas obras
foram traduzidas em diversas línguas e ainda hoje são lidas,
principalmente por protestantes.
Os ensinos desta senhora são baseados nas Escrituras, porque ela
estudava a Bíblia e passava diariamente muito tempo em oração. Era
crente verdadeira e gastou seu tempo, quando viúva, em boas obras,
ensinando a muitas mulheres as verdades da Bíblia. Converteu muitas
almas a Cristo. Continuava católica, embora não ligasse importância às
cerimônias da igreja. Foi acusada de heresia porque suas doutrinas
aproximavam-se das dos protestantes, e foi lançada na infame Bastilha,
onde passou muitos anos. Fenelon defendeu as doutrinas dela, e um bispo
bem conhecido na história, chamado Bossuet, capelão do rei, atacou essas
doutrinas. Uma grande batalha literária foi travada entre estes dois
campeões. Embora Fenelon defendesse suas doutrinas com firmeza, o
poder secular estava com Bossuet, e Fenelon foi expulso da corte e proibido
de sair da sua diocese. Era venerado por quase todos, e até os inimigos da
França durante as guerras manifestaram seu respeito pelo arcebispo.
Podemos considerar Fenelon e Madame Guyon como semelhantes a "os
vencedores" de Tiatira.
A Igreja Romana não era digna deles, e por isso os perseguia.
Voltemos aos pobres huguenotes, entregues mais e mais à vontade dos
soldados brutais. Milhares deles fugiram para a Holanda, Suíça, Alemanha
e Inglaterra. Os filhos foram tirados aos pais e enviados aos conventos, a
fim de serem educados como católicos. Tão grande foi o número dos que
fugiram que o comércio e a indústria da França ficaram parcialmente
paralisados; os huguenotes eram os mais inteligentes e industriosos
homens no reino. Ê calculado em 400.000 os que fugiram do país, e
representavam uma grande proporção naquele período. O rei mandou
sentinelas para vigiarem as fronteiras, e, navios para policiarem os mares.
Foi em vão, porque embora alguns fossem apanhados e presos, a saída dos
huguenotes continuou. Os capitães dos navios ingleses ajudaram os
fugitivos, que saíram escondidos nos porões e até em barris vazios entre as
cargas de vinho. Os países vizinhos protestantes receberam esta gente de
braços abertos, e lucraram muito porque trouxeram suas indústrias para
esses que os protegeram. A França jamais recuperou esta grande perda de
muitos do seu povo, e das suas indústrias. Na Inglaterra os huguenotes
fundaram diversas indústrias, como as de ferro, louça, e renda, que têm
trazido muito lucro ao país. Hoje há milhares de pessoas na Inglaterra, que
são descendentes dos huguenotes. Alguns ainda seguem o mesmo ofício
dos seus antepassados que fugiram da França, e outros têm alcançado
posições altas no Estado.
A perseguição continuou impiedosa até o rei julgar que convertera
todos os "hereges". Mas muitos que não podiam escapar do país fugiram
para o interior entre os camponeses das montanhas chamadas as Cevenes.
Alguns tomaram armas e acharam um jovem capitão de 21 anos chamado
Cavalier. O rei enviou exércitos com generais para debelar este movimento,
mas Cavalier e seus camponeses derrotaram esses contingentes. Os
generais, para atemorizar os rebeldes, cometeram atrocidades, mas
Cavalier respondeu com represálias terríveis. O rei então mandou o
Marechal Villars, que convidou Cavalier para uma conferência e ofereceulhe
uma grande recompensa em dinheiro e a posição de coronel no seu
exército. O jovem capitão aceitou a oferta e foi para as guerras francesas
com alguns dos seus fiéis seguidores, mas os outros os chamaram de
traidores. Finalmente este extraordinário homem
foi a Inglaterra onde alcançou a posição de general e governador da
Ilha de Jersey, na Mancha. A guerra serviu somente para desmoralizar os
crentes. O rei pensava que vencera a luta, e que não existiam mais
protestantes em seu reino, mas no ano da sua morte os huguenotes
convocaram uma conferência de pastores para reformar a igreja, dando-lhe
o título de A Igreja no Deserto. Esta igreja cresceu, mas funcionava longe
das grandes cidades. Depois da morte do rei Luiz XVI, havia mais liberdade
e menos perseguição. Durante o tempo da Revolução Francesa e no
"Reinado de Terror", que se seguiu, diversos pastores sofreram morte pela
guilhotina. Napoleão Bonaparte concedeu a liberdade e reconheceu a Igreja
protestante, mas ligada ao Estado, e paga pelos fundos nacionais. No
século XIX esta igreja foi dividida, e os mais fiéis separaram-se do Estado.
Hoje há liberdade religiosa na França, e a República reconhece todas as
religiões como iguais. O povo geralmente continua católico, mas os
intelectuais são muitas vezes ateus. Os ensinos do célebre ateu Voltaire
estavam em voga durante o século XVII e ainda têm adeptos. Durante o
século XIX houve tantas mudanças no governo que produziram uma
fraqueza política. O país foi invadido três vezes em 70 anos pelos alemães,
e muito sofreu em conseqüência disso. Os evangélicos fazem bom serviço, e
têm sido ajudados por seus irmãos da Inglaterra e da Suíça.

ALEMANHA

Os alemães sempre foram um povo viril e inteligente, mas a fraqueza
política do país era devida ao fato de até no século passado estar dividido
em estados independentes: reinos, ducados, e eleitorados, possuindo o
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imperador um poder restrito. Ele era eleito pela "Dieta", que era uma
conferência dos chefes dos vários estados. Ao tempo da Reforma, Carlos V
era imperador. Era também rei da Espanha e dos Países Baixos, e um
homem prudente e ambicioso. De todo o coração queria castigar Martinho
Lutero pela pusadia em se opor ao papa. Felizmente os estados eram
independentes e seus governadores ciosos dos seus direitos.
Lutero morava na Saxônia, e o Eleitor Frederico apoiava o
reformador. A Reforma espalhou-se para outros Estados, mas muitos
estados alemães conservaram-se católicos. As vezes a Reforma e a vida dos
reformadores pareciam estar em perigo, mas Deus guardava o seu povo, e
as invejas e contendas políticas serviam para conservar a fé e a vida dos
reformadores.
Lutero era conservador, e queria, tanto quanto possível conservar da
antiga religião certas cerimônias, vestimentas, etc, que considerava como a
casca para conservar as novas doutrinas. A Igreja Luterana na Alemanha
era ligada ao Estado e controlada pelo governo secular. Em outros países a
mesma igreja é governada por bispos. Uma separação entre a Igreja e o
mundo nunca entrou no pensamento dos reformadores principais em
qualquer país, muito menos na Alemanha: Lutero era mais um grande
pregador do que um cuidadoso teólogo. Como outros reformadores,
emergindo das trevas e superstições da Igreja de Roma, ele recebeu a luz
gradualmente, e seus escritos mostraram um certo progresso no seu
entendimento das Escrituras. Uma grande dificuldade surgiu quando
Lutero morreu, devido ao fato de um partido na Igreja Luterana querer
aderir rigorosamente às crenças e escritos do Reformador, embora em
alguns pontos não fosse muito claro o que ele cria.
Depois da morte de Lutero, e durante o século seguinte, houve
muitas contendas a fim de obter-se uniformidade no ritual da Igreja
Luterana, e para fazê-la mais conforme aos credos das igrejas de outros
países. O fanatismo dos padres luteranos pelo seu ritual e pormenores de
doutrinas sem importância prejudicou a espiritualidade da igreja. Depressa
a Igreja Luterana entrou no estado descrito na carta a Sardo (Ap 3.1): "Tens
nome de que vives, e estás morto". De vez em quando Deus levantava
testemunhas no meio deste estado morto. Uma destas foi Jacó Spener, um
fiel pregador, e outros foram associados com ele. Toda a sua vida foi
atacada pelos teólogos e padres luteranos. A alcunha "Pietistas" (piedosos)
foi dada a estas testemunhas, porque pregavam contra os prazeres
mundanos e levianos, e praticavam o que pregavam. Outro homem de Deus
foi Augusto Hermann Franck. Ele fundou um orfanato na cidade de Hale
no ano de 1691, um posto médico para os pobres, e uma sociedade bíblica.
Mais tarde o conde de Zinzendorf começou seu grande serviço. Pertencia a
uma família rica, nobre e piedosa. Seu padrinho foi Jacó Spener, e cresceu
com o conhecimento do Evangelho. Mas quando era jovem crente, o conde
visitava as cidades da Europa (como muitos ricos costumavam fazer, a fim
de completar a sua educação) e chegou a Dusseldorf, e, entrando numa
galeria de arte, ficou muito impressionado com uma pintura de Cristo
crucificado feita no século anterior, e com as seguintes palavras embaixo:
"Tudo isto Eu fiz por ti! - Que fazes tu por mim?" Isto produziu uma crise
na vida de Zinzendorf, e voltou para casa com desejo ardente de servir ao
Senhor. O conde interessava-se pelos crentes na Morávia perseguidos pelos
governadores da Áustria. Muitos eram descendentes dos seguidores de
João Huss: outros elementos foram espalhados pela perseguição no tempo
da Reforma. 0 conde convidou alguns para sua propriedade para fazer uma
aldeia modelo, onde houvesse liberdade. No princípio havia brigas e
contendas. Séculos de perseguição tornaram estes crentes como fanáticos
em defesa de suas doutrinas, e confundiram as questões sem importância
com doutrinas fundamentais. Alguns concluíram que o bom Conde era
mesmo a "Besta" do Apocalipse, e foram visitá-lo para anunciar-lhe este
descobrimento. Zinzendorf tratou-os com muita paciência e consideração e,
depois de muito ensino, tudo foi harmonizado, e em vez de contenderem, os
moravianos começaram a se amarem uns aos outros e a trabalharem
juntos. O Conde, com sua família, morava com eles, dando assim bom
exemplo de vida cristã em casa. Os moravianos tomaram o nome de
"Irmãos Unidos". Zinzendorf queria que eles se associassem à Igreja
Luterana e aceitassem seu ritual, mas os irmãos não queriam, e a sua
congregação tomou uma forma mais calvinista. Os irmãos tornaram-se em
uma sociedade missionária, e muitos deles foram evangelizar como
missionários pioneiros em diversas partes do mundo. As despesas eram
pagas pelo conde, até que veio a ficar empobrecido.
Zinzendorf também foi perseguido pelas autoridades da Igreja
Luterana, mas sofreu tudo com paciência. Foi banido de Saxônia pelas
autoridades durante algum tempo, mas sua liberdade depois foi
restaurada, e até pediram-lhe que arranjasse mais aldeias modelos como a
de Hernhut, onde morava. João Wesley encontrou os missionários
moravianos em viagem para a América, e ficou impressionado com o
procedimento deste povo, especialmente com a calma que eles mostraram
durante uma tempestade. No seu regresso à Inglaterra, Wesley assistiu às
reuniões dos moravianos em Londres, e ali foi convertido. Wesley visitou
Hernhut, a aldeia dos Irmãos Unidos na Alemanha e ficou muito
impressionado; mas mais tarde encontrando alguns deles com idéias
extravagantes, separou-se deste povo. A doutrina principal que os dividiu
foi a da predestinação, pois Zinzendorf era calvinista e Wesley armeniano.
Um grande pregador contemporâneo de Zinzendorf foi Hochmann von
Hochenau. Sua pregação produziu uma revivificação e muita gente foi
convertida, e foi iniciado um movimento espiritual chamado "A Sociedade
de Filadélfia". Espalhou-se para outros países e "igrejas de Filadélfia" foram
fundadas em muitos lugares, separadas da Igreja estabelecida. A pregação
de Hochmann foi o meio da conversão de um jovem estudante chamado
Hoffmann, que tornou-se um grande pregador do evangelho, e foi usado na
conversão de Gerhard Tersteegen, um escritor de muitos hinos na língua
alemã.
A Alemanha sofreu terrivelmente na guerra dos "Trinta Anos", no
século XVII (1618-1648) e muito do seu território foi devastado. No século
seguinte, as lutas de Frederico, o Grande, chamadas a "Guerra dos Sete
Anos", produziram muitos sofrimentos e privações. Durante o século XVIII,
o ateísmo espalhava-se pela Alemanha, e o Rei da Prússia (Frederico, o
Grande) era amigo de Voltaire, cujos escritos espalhavam sua impiedade.
No século seguinte, as guerras de Napoleão impediram o progresso da
Alemanha, porque o imperador da França dominava o país. No século XIX,
os vários estados da Alemanha ficaram unidos, e o Rei da Prússia foi
declarado imperador da Alemanha. Os alemães têm feito grande progresso
na indústria, no comércio e na ciência. As leis e a administração eram
justas, sem a corrupção que desmoraliza muitos outros países.
Durante a Segunda Grande Guerra, o mundo todo e os melhores
elementos na Alemanha protestaram contra a injustiça e a brutalidade da
perseguição dos judeus e de alemães que não concordavam com o sistema
de opressão. O espírito militar era muito forte na Alemanha, confundindose
com o patriotismo, e a Igreja Luterana não manifestou poder espiritual
para combater esse espírito militarista. A tentativa de Adolfo Hitler de
converter a Igreja às suas idéias pagas produziu resistência da parte de
muitos pastores e do povo fiel. Alguns sofreram até a morte para manter o
testemunho do Evangelho. A guerra começada no ano 1939 produziu muita
miséria no mundo, especialmente na própria Alemanha.

INGLATERRA

O reinado da rainha Isabel trouxe tranqüilidade e liberdade à
Inglaterra, e firmou a religião protestante no país. Entre os protestantes
havia dois partidos: o povo que queria manter certas formas e vestimentas
da Igreja católica, e os puritanos que queriam um culto mais simples e
espiritual. A rainha era favorável tanto quanto possível às cerimônias da
Igreja católica, e desprezava os puritanos. Por isso a Igreja Anglicana tem
conservado certas vestimentas. A sua liturgia é uma forma episcopal onde
os bispos são como nobres, tendo domínio sobre a herança de Deus. Os
prelados tornaram-se perseguidores dos puritanos no século seguinte, e
inimigos da pregação do Evangelho no século XVIII. A rainha não era cruel
como sua irmã Maria se mostrara, mas não tinha qualquer sinal de fé
cristã. A derrota e destruição da "Invencível Armada" de Filipe da Espanha,
firmou o reino contra o catolicismo.
O século seguinte viu a Escócia e a Inglaterra unidas sob o mesmo
soberano. O herdeiro, depois de Isabel, ao trono da Inglaterra, era o rei
Tiago da Escócia. No ano 1603 Isabel morreu, e Tiago I foi declarado rei da
Inglaterra, Escócia e Irlanda. O nome da nova família real era "Stuart", e
houve quatro reis dessa família. Todos eles procuravam exaltar o poder real
acima do Estado e da Igreja, e perseguiram todos os que não queriam
conformar-se com o ritual da Igreja Anglicana. Somente durante onze anos
de protetorado, o povo gozou ampla liberdade, tanto na Inglaterra como na
Escócia. A Escócia sofreu especialmente da família Stuart, que odiava o
sistema presbiteriano, onde o rei era considerado somente um membro e
não a "cabeça", como na Igreja Anglicana. Nesta igreja o rei nomeava os
bispos, e os bispos os ministros, e assim tudo era submisso à vontade do
rei. Os reis pensavam que o soberano possuía direitos que vinham de
Deus, e portanto não tinha de dar conta a mais ninguém.
A loucura e a teimosia do segundo rei desta dinastia, Carlos I,
custou-lhe a cabeça, depois de uma guerra civil entre o rei e o povo, em
favor da liberdade. O ditador, Oliver Cromwell, concedeu liberdade
religiosa, mas o povo gozou esta bênção apenas onze anos, pois o filho de
Carlos I voltou e é conhecido como Carlos II. Era homem devasso e sem
honra ou princípios. Uma das primeiras leis promulgadas foi chamada
"ATO DE UNIFORMIDADE", que obrigou a todos a pertencerem à Igreja
Anglicana e proibiu reuniões religiosas de outra denominação. 2.000 dos
melhores ministros da Igreja Anglicana foram enxotados das suas
paróquias e proibidos de voltar para perto das antigas congregações.
Durante este período, João Bunyan, por ter pregado ao ar livre, e em casas
particulares, foi condenado a doze anos de cadeia. Outro pregador
dissidente era Ricardo Baxter, que foi, repetidamente, processado, multado
e preso por ter pregado, e por ter escrito livros que não agradaram os
prelados. Era homem santo e liberal, e odiava a intolerância religiosa. Um
livro que escreveu chamado "O Descanso Eterno dos Santos" é lido ainda
hoje, e tem sido uma bênção para muitas pessoas durante quase três
séculos: Pelos meados do século XVII, apareceu um movimento cristão que
existe até hoje, chamada os "Quákers (Tremedores) ou a "Sociedade dos
Amigos". O fundador foi Jorge Fox, um crente fervoroso, mas ele por vezes
fez muitas extravagâncias, entrando nas igrejas anglicanas e estorvando os
ministros.
Fox passou diversos períodos na cadeia. Outros homens de mais
educação ajuntaram-se ao movimento sendo um deles Guilherme Penn. o
fundador da Pensilvânia, agora um dos Estados da América do Norte. Os
adeptos dessa denominação deram muita atenção às operações do Espírito
Santo, doutrinas pouco entendidas na igreja reformada. Protestaram
contra as cerimônias e o ritualismo; e nas suas reuniões costumavam
sentar-se por muito tempo em silêncio, esperando a direção do Espírito
Santo. Os Quákers vestiam-se com muita simplicidade, recusaram jurar
nos tribunais de justiça, ou tomar armas até para se defenderem. Não
usavam o batismo nem a Santa Ceia, porque diziam que hoje o
cristianismo é todo espiritual. Esta gente, sendo considerada fanática, foi
perseguida, e as cadeias encheram-se de pessoas acusadas de terem
freqüentado reuniões, ou terem recusado jurar, e cerca de 12.000 quá-kers
estavam presos durante um certo período. Quando soltos, voltaram às suas
reuniões abertamente, e deixaram a polícia levá-los à cadeia novamente.
Jorge Fox não era bem educado, mas Guilherme Penn era filho dum almirante
distinto, e defendeu-se com coragem nos tribunais. O rei devia a seu
pai muito dinheiro, e quando este morreu, para liquidar a dívida, Carlos II
concedeu ao filho Guilherme um vasto território na América do Norte,
então colônia inglesa. Penn foi para ali e fundou uma colônia modelo, fazendo
aliança com os índios, aliança essa que nunca foi desonrada, e
assim ganhou o respeito dos indígenas. O rei deu a esta colônia o nome de
Pensilvânia, e Penn fundou a capital, chamando-a Filadélfia, agora uma
das cidades principais dos Estados Unidos. Os quákers foram muito
perseguidos em outras colônias inglesas, pelos puritanos, homens que
fugiram da perseguição dos prelados da Inglaterra. Os quákers mais tarde,
quando veio a liberdade na Inglaterra, foram conhecidos pela sua
filantropia, e depois trabalharam na Inglaterra e nos Estados Unidos pela
abolição da escravatura. Nestes últimos anos os quákers têm diminuído
muito, e a maior parte deles tem deixado as verdades cristãs fundamentais.
Há ainda um pequeno grupo deles que são fundamentais.
No ano de 1621 um grupo de puritanos embarcou num navio
chamado o "Mayflower" para formar uma colônia na América do Norte, a
fim de fugir à perseguição na Inglaterra e gozar a liberdade no outro lado
do oceano. Sofreram muitas aflições, doenças, privações, morticínios pelos
índios, mas perseveraram, e aumentaram pela emigração da Inglaterra
durante sessenta anos, e as colônias americanas foram bem povoadas,
formando a base da República agora tão poderosa, chamada Os Estados
Unidos.
O último rei da Casa de Stuart, Tiago II, era católico, teimoso e
fanático, embora jurasse manter a religião protestante e a liberdade do
povo, queria introduzir a religião católica. Depois de quatro anos de aflição,
o povo convidou o seu genro, Guilherme de Orange, de Holanda, para substituir
seu sogro, e este fugiu para a França. Guilherme e sua esposa Maria
eram muito bons soberanos e concede ram liberdade religiosa, que tem
sido mantida desde essa data (1689).
Mas a liberdade não produziu espiritualidade. Ao contrário, no século
XVIII o estado espiritual da Inglaterra piorou gravemente. Era igual à
condição da igreja em Sardo: um nome para viver, mas morta. O povo
estava embrutecido, os ministros da Igreja Anglicana não cumpriam os
seus deveres, e muitos gastavam seu tempo caçando e jogando, e alguns
eram bêbados. As denominações eram espiritualmente mortas e sem poder,
e a maior parte caiu em heresia.
Mas Deus felizmente não deixou sua igreja assim. Levantou os irmãos
Wesley, Jorge Whitefield, Rowland Hill e outros, que pregavam ao ar livre e
produziram uma revivificação espiritual. Foi então fundada a Igreja
Metodista, e outro resultado foi uma mudança na moral do povo. A diferença
produzida pela revivificação, dizem alguns historiadores, evitou a
repetição na Inglaterra do desastre que se deu na França chamado o
"Reinado de Terror". Ao princípio João e Carlos Wesley e Jorge Whitefield
eram perseguidos pelos bispos e padres anglicanos. A pregação ao ar livre
foi considerada uma extravagância religiosa. Milhares de pessoas
assistiram a essas pregações, e muitos foram convertidos. Wesley também
organizou uma multidão de pregadores leigos, que pregaram com bom
êxito. Jorge Whitefield foi ajudado pela condessa de Huntingdon, que
edificou salões em diversas partes da Inglaterra, e pagou o ordenado de
muitos ministros para pregarem o Evangelho. Muitos desses salões existem
até hoje.
Este despertamento desenvolveu-se no século XIX quando foram
estabelecidas diversas sociedades bíblicas e sociedades missionárias. Havia
também grande interesse pelo texto da Bíblia, e pelos manuscritos antigos
dos quais foram descobertas traduções mais exatas que foram traduzidos.
Escavações na Mesopotâmia, na Babilônia e no Egito trouxeram à luz
escritos confirmando histórias bíblicas. Também certas verdades foram
estudadas, como as profecias do Velho Testamento e a vinda do Senhor. O
espírito sectário, que dominava em todas as classes de crentes, despertava
a consciência de muitos, e resultou em mais comunhão fraternal na Igreja.
A rainha Vitória começou a reinar no ano de 1847, e reinou mais de 60
anos. Sendo cristã, e com idéias elevadas, ela fez uma limpeza na corte, e
elevou o nível social e público, começando com os ministros de Estado até
a administração da justiça. Se um ministro de Estado, embora de grande
capacidade, tivesse uma mancha no seu caráter moral, seu nome era
riscado da lista. A justiça agora estava ao alcance dos mais pobres, e não
favorecia os ricos.
No ano 1859 houve uma revivificação no Norte da Irlanda e no Norte
da Escócia, e a Inglaterra sentiu seu efeito. Durante dez anos em seguida
houve uma grande onda de evangelização no país, e muitos foram
convertidos. Poucos anos depois veio o evangelista D. L. Moody da América
do Norte para suas campanhas de pregações, e com ele Sankey, o cantor
evangélico. Visitaram todas as cidades principais nos três reinos, e
milhares foram convertidos. Nos maiores salões das cidades não cabia a
metade do povo que queria assistir às suas pregações. Moody era homem
humilde e de família pobre e pouco educado, com sotaque americano, mas
pregava com grande poder. Durante os anos que seguiram a estas
campanhas, nasceram muitas sociedades de evangelização entre crianças,
marinheiros, soldados, pescadores, empregados nas estradas de ferro, e
políticos, para impressão e distribuição de tratados evangelísticos. Os
trabalhos missionários desenvolveram-se e novas sociedades foram
instaladas. Tudo parecia semelhante à Igreja em Filadélfia. A porta estava
aberta para o Evangelho em quase todo o mundo: "Uma porta que se abre e
ninguém fecha". O grande pregador batista Spurgeon (chamado o "príncipe
dos pregadores") durante mais de 30 anos pregava todos os domingos a
milhares de pessoas em Londres, e seus sermões são lidos até hoje.
Mas, enquanto o Espírito de Deus fazia estas maravilhas, o inimigo
não dormia, apanhando semente de joio e começando a sua sementeira.
Seus servos eram como os fariseus e saduceus. Os primeiros estavam
representados na Inglaterra por um forte partido de ritualistas, que
queriam fazer a Igreja Anglicana igual à Igreja Católica. Os "saduceus"
criticavam as Escrituras, e a crítica à Palavra de Deus tem crescido
gradualmente. Um célebre cientista chamado Carlos Darwin, inventou a
teoria da "Evolução". Baseando suas teorias sobre certos fatos científicos.
Ele negou a obra do Criador do universo, dizendo que o homem é
descendente de animais, sendo o macaco o nosso parente mais chegado,
tendo havido entre este animal e o homem um elo que agora falta.
Durante muitos anos os cientistas tem procurado em vão algumas
evidências da existência desse "elo", que deve ser meio homem e meio
macaco. Muitos cientistas têm abandonado esta teoria, mas infelizmente foi
adotada pelos professores dos seminários para treinar ministros para os
púlpitos de várias denominações.
A teoria da evolução foi adaptada ao ensino bíblico, e o resultado
disso hoje em dia é que uma boa parte desses ministros são "modernistas",
negando a inspiração da Palavra de Deus. O efeito na vida do povo é triste.
Embora a pregação do Evangelho ainda atraia o povo, a Inglaterra em geral
é quase como uma nação paga, e é calculado que somente 20% assiste a
qualquer culto. E destes 20% a maior parte são modernistas. Embora a
Inglaterra tenha alguma parte no serviço missionário do mundo, este é
apoiado por uma pequena percentagem do povo. O estado espiritual é como
o de Laodicéia. O Evangelho produziu, e ainda existe no país, um alto nível
de responsabilidade e honestidade na administração das leis, da justiça, e
foram instituídos muitos benefícios, tais como proteção aos velhos, aos
fracos, aos desempregados, e as leis protetoras nas indústrias. O comércio
é praticado com elevada moral, mas o povo em geral é muito indiferente às
coisas de Deus. O domingo agora é quase tão profano como no Continente.
Riquezas, prazeres, esportes, conforto, luxo, têm tomado o lugar da
piedade. Deus está agora retirando do país muitas destas vantagens, e o
povo foi bastante castigado na Segunda Guerra Mundial.

ESCÓCIA

A Reforma efetuou mais transformação na Escócia do que em
qualquer outro país. Primeiro, porque o país estava numa condição
deplorável, e porque a Reforma na Escócia foi mais completa. Esse país era
pobre, e com um clima ingrato e um solo pouco fértil. No Norte o povo era
quase selvagem. É montanhoso, e os habitantes, chamados "highlanders",
eram divididos em tribos chamadas clãs, e eram muito fiéis à tribo e ao seu
chefe. Havia constantes brigas com outras tribos, e travavam batalhas até
a morte com seus inimigos. No Sul, na fronteira com a Inglaterra, muitas
famílias eram compostas de bandidos e ladrões, que roubavam as fazendas
e até as aldeias e cidades do Norte da Inglaterra, fazendo sistematicamente
"raids" em bandos, queimando tudo que não podiam carregar. Levavam o
despojo, gado, cavalos e carneiros para seu país. Os exércitos ingleses
entraram na Escócia e tomaram vingança pelos roubos, mas os "raids"
continuaram. Entre estas famílias escocesas havia também brigas ou
vendetas de uma geração para outra. Entre as clãs do Norte, quando um
membro de uma família encontrava-se com o membro de uma família
inimiga, era dever de ambos brigarem até a morte.
Os nobres ou fidalgos escoceses eram ferozes e cruéis. A opressão e a
injustiça campeavam por toda a parte. De vez em quando havia um rei que
governava bem, mas muitos deles encontraram morte violenta. Sendo que
os reis menores (os regentes) ou abusavam do seu poder, ou eram fracos
demais. A igreja romana possuía a maior parte das propriedades e não
pagava imposto algum, e os frades eram geralmente preguiçosos e cheios
de vícios. O martírio de Patrício Hamilton e Jorge Wishart aumentou o ódio
do povo aos padres e bispos, e muitos nobres receberam o Evangelho. João
Knox foi preso depois da morte de Wishart e serviu nas galés da França
como um forçado. Foi libertado por influência do rei Eduardo VI, da
Inglaterra, que era protestante.
Depois Knox passou uns anos com Calvino, em Genebra, e aprendeu
ali suas idéias sobre o governo da igreja. Voltou, finalmente, no ano de
1559, à Escócia, e achou que a Reforma fizera muito progresso, mas havia
luta entre os protestantes e a Regente, que era viúva do último rei (e mãe
da rainha Maria da Escócia), morava na França, por se ter casado com o rei
daquele país. A rainha-mãe era da família De Guise (francesa), e uma
católica fanática. Ela determinou acabar com a Reforma por todos os meios
ao seu alcance. Convidou um exército francês para exterminar a Reforma,
porque os protestantes estavam destruindo os ídolos nas igrejas,
acompanhados por fidalgos armados com seus soldados. Os fidalgos
enviaram uma carta à rainha Isabel da Inglaterra, pedindo um exército
inglês para ajudá-los. A rainha atendeu e mandou navios de guerra e um
exército. Depois de uma luta feroz, os ingleses e escoceses obrigaram os
franceses a capitular e voltar à França. A rainha-mãe (a regente) morreu
por esta ocasião, e os reformadores tomaram conta do reino. Foi convocada
a primeira "Assembléia Geral" da Escócia. Nesta assembléia ficou resolvido
formar-se a igreja nacional reformada da Escócia. Não reconheceram o
soberano (como na Inglaterra) como "Cabeça da Igreja", mas a Igreja da
Escócia tomou uma forma presbiteriana. Ficou resolvido acabar de vez com
tudo que era da Inglaterra romana na nova forma da Igreja da Escócia, e as
doutrinas eram aproximadas às de Calvino. Resolveram que toda paróquia
devia possuir uma escola e um ministro, e a Bíblia estaria aberta a todos.
No princípio havia dificuldades, por falta de ministros instruídos, e
muitas aldeias tinham de ficar contentes com um estudante.
Superintendentes viajavam dum lugar para outro fiscalizando o progresso
do serviço religioso. Durante a primeira geração houve queixas contra
ministros ou seminaristas porque, às vezes, frades ou padres da igreja católica
prestavam esse serviço. Na Assembléia ficou resolvido apropriar-se a
nação de todas as propriedades e riquezas da Igreja Romana, formando um
fundo eclesiástico para pagar o ordenado dos ministros superintendentes,
seminaristas, professores de escolas, e despesas das escolas, e também
para sustentar frades e freiras enxotados dos conventos que eram velhos
demais para ganhar a vida. Infelizmente alguns dos fidalgos roubaram as
propriedades eclesiásticas, e toda a riqueza não foi para o fundo da nova
Igreja. Foi instituído na Escócia um sistema de educação gratuita, para
crianças de ambos os sexos, (isto séculos antes de outros países
protestantes adotarem essa medida) e a educação da Escócia, durante
séculos, foi a mais adiantada do mundo.
A rainha Maria da Escócia voltou no ano de 1561. Era viúva porque o
rei da França, seu marido, morrera. Maria fora enviada à França menina, e
educada ali na corte mais corrupta da Europa. Ela queria que os escoceses
voltassem à religião católica, mas era tarde demais. Na face da terra não
existia um povo que mais odiasse a Igreja Romana do que os escoceses. A
rainha era hábil, sutil, e sem escrúpulo. Casou de novo e seu único filho,
Tiago, tornou-se depois rei da Inglaterra e da Escócia, unindo assim os dois
reinos. Felizmente, a mãe não criou seu próprio filho, sendo ele entregue a
um fidalgo chamado Mar, para ser educado como protestante.
Maria foi cúmplice no assassínio do seu segundo marido e logo depois
casou-se com o homem que foi culpado deste crime. Os escoceses então
pegaram em armas e avançaram contra a Rainha e seu novo marido.
Ambos foram obrigados a fugir, mas em direções diferentes; o marido fugiu
para a Dinamarca, e a rainha para a Inglaterra, entregando-se à sua prima
Isabel. Durante os 19 anos de sua estada na Inglaterra, ela conspirou
constantemente contra a rainha; e finalmente os ministros do Estado
aconselharam a sua execução, e ela foi degolada. Seu filho Tiago fora declarado
rei da Escócia quando sua mãe fugira. Quando Isabel morreu,
Tiago foi declarado rei da Inglaterra, Escócia e Irlanda. Quando Tiago
chegou à Inglaterra, gostou muito do sistema episcopal porque ele mesmo
era "cabeça", e assim podia apontar bispos obedientes. Queria introduzir o
mesmo sistema na Escócia, mas era impossível. Seu filho Carlos I, homem
muito mais teimoso e menos sábio, mandou que a liturgia anglicana fosse
lida na Igreja de S. Giles em Edimburgo, capital da Escócia. Nessa ocasião,
uma mulher lançou uma cadeira à cabeça do padre, e este foi obrigado a
fugir da ira dos escoceses, e nunca mais voltou. O rei então invadiu a
Escócia com um exército, mas encontrando um exército mais poderoso na
fronteira, ficou numa posição muito crítica para discutir o assunto, e
voltou desistindo do intento. Os ingleses ficaram muito satisfeitos também
porque odiavam o arcebispo Laud, que aconselhou ao rei tal coisa.
Finalmente este prelado foi executado.
Querendo Carlos I atentar contra a liberdade do povo inglês, rebentou
a guerra civil, que terminou com a execução do rei. Infelizmente, os
escoceses convidaram seu filho, que professou ser presbiteriano, para
governar a Escócia. Um convite de que mais tarde o povo teve muita razão
para se arrepender. O Protetor da Inglaterra, Oliver Crom-well, invadiu a
Escócia e venceu seus exércitos obrigando o príncipe Carlos a fugir. Oliver
Cromwell mandou seus generais para governar a Escócia, e foram dez anos
de governo justo, de paz e liberdade. Eis o testemunho dum historiador
desse tempo (1650-1660): "Eu creio verdadeiramente que houve mais
almas convertidas a Cristo durante este período, do que durante qualquer
outro tempo desde a Reforma, mesmo sendo um período três vezes maior.
Toda paróquia tinha um ministro, toda aldeia uma escola, e quase toda
família possuía uma Bíblia, e na maior parte do país, todas as crianças de
idade escolar sabiam ler". Este testemunho foi escrito um século depois da
Reforma. Não havia no mundo país mais adiantado no século XVII nem no
século XVIII.
Mas a liberdade religiosa teve pouca duração. No ano de 1660 o
príncipe Carlos voltou, e foi declarado rei com o nome de Carlos II (de "duas
faces" dizem os escoceses). Carlos mostrou sua ingratidão aos escoceses
que tinham vertido seu sangue para mantê-lo no trono. Fez leis severas
contra os presbiterianos. Quase todos os pastores foram enxotados e
homens ignorantes e, às vezes, sem caráter, preencheram seus lugares. A
lei exigia que todos os membros assistissem nos domingos aos serviços na
igreja, e os novos padres mandavam a lista dos ausentes para as au-
toridades. A pena de ausência era prisão ou multa. Os escoceses então
reuniram-se secretamente nas montanhas e bosques e ali os velhos
pastores pregavam, e celebravam também a Santa Ceia. Tais reuniões,
chamadas "Conventículos", eram contra a lei, e soldados foram enviados
para dispersar o povo que os assistia. Esses soldados prendiam e por vezes
matavam aqueles que apanhavam. Ás cadeias ficaram cheias, e os
pregadores, quando apanhados, eram enforcados ou degolados.
Durante um destes conventículos os soldados atacaram a multidão, e
uns homens armados defenderam-se. Este ,sucesso da parte dos
"Covernanters" (como se chamava os escoceses presbiterianos) não deu
bom resultado, porque os atacantes depois foram vencidos, e centenas
foram fuzilados ou enforcados. O governador mais cruel desses tempos foi
o Duque de York, irmão do rei, e depois Tiago II. Era católico, e gostava de
inventar e presenciar torturas bárbaras. Quando foi feito rei, a opressão
piorou, mas felizmente durou somente quatro anos, pois Tiago foi obrigado
a fugir para a França, e o rei Guilherme de Orange (holandês) subiu ao
trono, e sempre depois disso a Escócia tem gozado plena liberdade
religiosa. Muitos dos que haviam fugido para a Holanda voltaram à pátria.
Durante o século XVTCI a vida social e religiosa não desceu tanto na
Escócia como na Inglaterra. João Howard, o célebre filantropista e
reformador das prisões, escrevendo no ano 1779, disse: "Há poucos presos
na Escócia. Em parte é devido aos costumes alcançados pelo cuidado que
os pais e ministros têm em instruir a nova geração. No Sul da Escócia é
raro encontrar-se uma pessoa que não saiba ler e escrever. Era
considerado um escândalo se uma pessoa não possuíse a Bíblia, que era
sempre lida nas escolas paroquiais".
A pregação de Whitefield foi muito abençoada neste século. João
Wesley também visitou a Escócia diversas vezes e ficou admirado com a
atenção do povo à sua pregação, e o decoro observado durante as reuniões.
Wesley não teve, porém, o bom êxito de Whitefield. Talvez fosse isso devido
ao fato de que este pregador era mais chegado à doutrina calvinista do que
aquele, porque os Wesleianos eram mais discípulos de Armínio do que de
Calvino. Foi esta diferença que causou a separação entre os grandes
pregadores.
Durante o século XVIQ o espírito de um evangelismo agressivo quase
desaparecera na Escócia. Ao fim desse século dois irmãos, Roberto e Tiago
Haldane, foram convertidos e dedicaram suas vidas ao Evangelho, viajando
e pregando. Os ministros presbiterianos se opuseram a este movimento, e
um ato foi decretado na Assembléia em 1799, proibindo o uso dos púlpitos
presbiterianos a leigos ou a ministros de outras igrejas. Os irmãos Haldane
eram proprietários com bastantes recursos e continuavam seu trabalho
fundando escolas dominicais. O célebre Dr. Tomás Chalmers era um
pregador eloqüente e poderoso, e animou os evangélicos no país, e era líder
da seção evangélica na igreja escocesa. Depois o Dr. Chalmers chefiou o
movimento separatista que formou a Igreja Livre da Escócia. A revivificação
de evangelismo na Escócia no princípio do século XLX foi motivo da
formação de diversas sociedades missionárias.
Em 1843 a Igreja Presbiteriana foi dividida: muitos separaram-se da
Igreja estabelecida formando a "Free Kirk" (I-greja Livre) em protesto contra
a intervenção do poder secular no governo e conduta da Igreja. Os chefes
do movimento separatista eram evangélicos, mas seus colégios em pouco
tempo escolheram professores com idéias críticas das Escrituras. Um
grupo dos ortodoxos dividiram-se da "Free Kirk", formando um corpo
separado.
Havia lugares remotos das cidades grandes, no Norte da Escócia,
onde o povo continuava meio-selvagem. A re-vivificação de 1859 alcançou
estes lugares. Os pescadores no Norte e no Nordeste até as ilhas de
Shetland eram homens embrutecidos. As aldeias à beira-mar estavam
cheias de tabernas onde era vendido o "Whisky" (aguardente) e era onde os
pescadores faziam seus negócios. As casas eram choupanas pobres e sujas,
o povo gastava o seu dinheiro nas tabernas e os pescadores levavam
aguardente nos barcos de pescar. A transformação feita no povo nesse ano
parece até incrível. As causas e os costumes mudaram depressa. O efeito
perdurou por muito tempo. Hoje os turistas vão de propósito visitar as
aldeias-modelos dos pescadores. Uma aldeia, por exemplo, que antes da
revivifica-ção possuía onze tabernas no meio da pobreza, agora não possui
nem tabernas, nem cinema, nem cadeia, e as casas são modelos de asseio.
O vício é desconhecido ali, e não há necessidade de polícia.
A Escócia tem produzido muitos dos melhores missionários pioneiros,
como Robert Moffat, David Livingstone, Dr. Kalley, João Paton, James
Chalmers e F. S. Arnot. A indústria, o comércio e a agricultura têm trazido
prosperidade à Escócia, mas não espiritualidade. Dois grandes inimigos
têm feito bastante estrago: o "Whisky" em casa, e o modernismo na igreja.
O domingo na Escócia era guardado como o dia do Senhor. Hoje em dia
todos os bons costumes então existentes estão mudando para pior, e o
domingo é mais e mais profanado. O número dos que assistem aos serviços
religiosos está diminuindo rapidamente, e o estado espiritual do povo
torna-se laodiceano.

SUÍÇA

A Reforma na Suíça tem uma importância especial. Zwínglio foi um
dos primeiros reformadores a pregar o
Evangelho, mas quem influiu no caráter da Reforma na Europa mais
do que ele foi João Calvino. A Suíça era uma república, constituída de
estados, chamados "cantões", cada um com governo independente, mais
livre ainda do que os Estados do Brasil ou dos da América do Norte. Sendo
uma democracia, o governo da igreja tomou forma democrática também. Na
Inglaterra ou nos países que adotaram a forma luterana, a igreja era
episcopal, ou governada por bispos. Esta forma era uma adaptação do
sistema romanista. Os bispos eram a aristocracia da igreja, e governavam
os sacerdotes e o povo. Zwínglio adotou o sistema presbiteriano, que foi
mais tarde desenvolvido por Calvino, e copiado na França, Holanda,
Escócia, e no Palatinado (dois estados de Alemanha). Os ministros e um
número de presbíteros escolhidos pelo povo governavam a igreja. Lutero e
os reformadores ingleses queriam reter, tanto quanto possível, os costumes
antigos da Igreja Romana, purificados dos erros e corrupções, continuando
também com suas vestimentas e uma liturgia modificada. A Reforma na
Suíça foi uma limpeza completa, porque ali os reformadores não tinham
respeito nenhum para com os costumes antigos da Igreja Romana.
Também o ensino de Calvino influía muito nas igrejas reformadas que
adotaram seu sistema de governo. Este ensino espalhou-se na Inglaterra
entre os puritanos e nas colônias da América do Norte. A doutrina especial
de Calvino, hoje chamada "calvinismo", era a da eleição ou predestinação,
na qual o reformador pôs muita ênfase. Calvino em sua luta com os
romanistas, em vista da tendência da igreja romana de atribuir a salvação
da alma aos esforços humanos, frisou a soberania de Deus. Alguns dos
seus seguidores levaram estas doutrinas ao extremo, quase negando a
responsabilidade humana. A justa inferência de tais ensinos seria que
Deus é o autor do pecado, e a oferta de salvação aos pecadores não é de
boa fé, porque a maioria não pode aceitá-la por Deus ter predestinado essa
maioria à condenação, e somente os eleitos, à salvação. No princípio foram
os teólogos católicos que se opuseram às doutrinas de Calvino, mas, no fim
do século XVI, um teólogo protestante chamado Tiago Armínio (1590-1609)
começou a ensinar doutrina oposta ao calvinismo; sua doutrina é chamada
"arminiana".
Embora seus seguidores mais tarde também levassem sua doutrina
ao extremo, ela tinha moderação, e servia de antídoto às doutrinas
extremas do calvinismo. Hoje em dia tais doutrinas ainda são discutidas,
mais a maior parte dos crentes reconhece que a graça soberana de Deus e
a vontade livre dos homens são como os dois trilhos de uma estrada de
ferro, paralelos, não precisando de reconciliação. Mas na Holanda alguns
dos seguidores de Armínio sofreram terríveis perseguições, e a contenda
tem revivido diversas vezes, notavelmente no tempo de João Wesley. Foi
esta questão que dividiu Wesley de Whitefield e do Conde Zinzendorf, e no
mesmo século houve muita polêmica entre estes e outros teólogos.
Devemos mencionar outra contenda no século XVI. Enquanto
Zwínglio pregava em Zurique, diversos pastores eruditos e piedosos
queriam voltar às práticas primitivas, separando a Igreja do Estado, e
recusando batizar as crianças, dizendo que somente pessoas convertidas
deviam ser batizadas. Zwínglio se opôs a este povo, e as autoridades de
Zurique perseguiram todos os que adotaram tais idéias. Devido ao seu
ensino e prática, estes foram chamados "a-nabatistas" e mais tarde
"batistas". Naquele tempo era considerado crime horrível recusar-se a
batizar crianças e rebatizar adultos que já haviam recebido o rito na infância.
E o imperador da Alemanha, um religioso fanático, mandou queimar
ou afogar muitos que praticavam.tais "crimes". E na própria Zurique
protestante, os chefes batistas, homens eruditos e piedosos recebiam
muitas vezes como castigo da sua pregação o afogamento. Há quem acuse
Zwínglio de haver, por omissão, consentido nessa perseguição desumana.
A verdade é que ele não empregou sua grande influência para impedir
castigos tão injustos como os usados pela Igreja Romana. Muitos
anabatistas foram expulsos da Suíça. Infelizmente, depois da morte dos
seus chefes, alguns anabatistas adotaram práticas extravagantes. Na
Alemanha, ajuntando-se aos camponeses, por motivos políticos, fizeram a
revolta chamada a "Guerra dos camponeses". Este movimento foi
condenado por Lutero, e o exército deles foi derrotado e castigado com
brutalidade.
Outros anabatistas numa cidade chamada Munster, enxotaram todos
os cidadãos que não aceitaram suas idéias; proclamaram João Leiden seu
prefeito e praticaram crueldades e até poligamia. Nesse tempo, a cidade deles
foi tomada pelo exército do bispo. Estas extravagâncias deixaram um
estigma em todo o movimento.
De tudo isso, se vê que as atrocidades cometidas pela Inquisição da
Igreja Romana durante séculos influíram em alguns que saíram do
catolicismo para ingressarem na Reforma, pois muitas vezes se tratava de
convencidos, que apenas mudavam de religião, e não de verdadeiramente
convertidos ao Evangelho, ou nascidos de novo.
Um homem chamado Meno Simonis, no ano de 1537, ajuntou-se a
esse grupo fanatizado, e a sua piedade e moderação impediram que eles
praticassem excessos. Meno morava na Holanda, mas devido a uma forte
perseguição foi obrigado a fugir para Fresemburgo, em Holstein, onde o
Conde Alefeld o protegeu, com muitos dos seus seguidores, que eram
chamados menonitas.
Alguns se recusaram a tomar armas e participar nas guerras, ou
jurar nos tribunais de justiça. Muitos deles viviam no Norte da Alemanha, e
no século XVIII uma colônia de menonitas mudou-se para a Rússia,
convidada pela imperatriz Catarina, que prometeu-lhes isenção do serviço
militar. Ainda hoje seus descendentes vivem ali.
No tempo da Reforma, os anabatistas não queriam tomar parte na
política nem no governo do país, dizendo que a Igreja é um corpo separado
do mundo, do Estado e da política. Mas Lutero, Zwínglio, Calvino, Knox e
outros reformadores, ligaram a Igreja ao Estado. No sistema episcopal, o
Estado dominava a igreja, e no sistema presbiteriano, as autoridades da
igreja é que dominavam o Estado. Deve-se admitir que a influência pessoal
destes mencionados reformadores fosse boa, porque aconselharam reformas
nas leis e melhor constituição do país, mas a aliança da Igreja e o
Estado tem introduzido muitos males na Igreja. João Calvino cria na
necessidade do novo nascimento, mas tratou a todos os cidadãos de
Genebra como membros da Igreja e sujeitos à sua disciplina. Pessoas sem
piedade nem santidade foram obrigadas a conformar-se com as regras
estreitas da Igreja Calvinista. A liberdade de consciência não era entendida
por esses reformadores, e Calvino tem sido muito censurado pela morte de
Miguel Serveto, que foi queimado vivo em praça pública, por ter negado a
doutrina da Trindade, pois Calvino não empregou sua influência para
salvar-lhe a vida, deixando-se levar pelo fanatismo da época, embora
procurasse, debalde, mudar a forma de execução do fogo para a espada. É
verdade que esses fatos lamentáveis da época da Refprma foram atos
isolados, em nada comparáveis às dezenas de milhares de pessoas que
foram queimadas, trucidadas pela Igreja de Roma durante séculos.
Calvino morreu no ano de 1564, e seu amigo Teodoro Beza tomou seu
lugar, e continuou pregando em Genebra até a sua morte no ano de 1605.
Havia diferenças entre os pareceres de Calvino e Zwínglio, mas eles
chegaram a um acordo chamado "Confissão Helvética", em 1566. Depois da
morte de Calvino, a igreja de Roma fez um grande esforço para restaurar
na Suíça a fé antiga, à força e por propaganda. O Duque de Sabóia era
governador de cantão perto da cidade de Genebra e fez uma tentativa para
tomar a cidade à força, mas foi rechaçado. A igreja de Roma nomeou como
bispo de Genebra o celebre Francisco de Sales, que embora não pudesse
pregar na cidade, pregou no cantão vizinho de Chabelais, e "converteu"
milhares de adeptos forçados do calvinismo. Todavia, o bispo era notável
pela sua piedade e oratória e depois da sua morte foi canonizado pelo Papa.
O bispo ergueu uma grande cruz quase à porta da cidade, mas não ganhou
autoridade dentro de Genebra.
Durante os séculos XVII e XVIII houve muitas contendas entre
católicos e protestantes. Os estados protestantes lucraram muito durante a
perseguição dos huguenotes, que fugiram da França e acharam abrigo na
Suíça.
O século XVIII foi marcado na Suíça, como em diversos países, por
uma decadência espiritual. Um escritor contemporâneo disse: "O domingo é
encerrado com divertimentos, e os pastores tomam parte deles com o seu
rebanho. Embora haja ainda conservado decência e sobriedade de
costumes, o poder do Evangelho é pouco demonstrado entre os ministros e
o povo. O ateu Rousseau, com suas opiniões destrutivas, e Voltaire, seu
sutil rival, propagavam na vizinhança e especialmente em Genebra, o
veneno do seu ceticismo. Há dúvida se ainda resta um professor ou pastor
em Genebra que siga a Calvino em princípio e em prática. As convulsões,
sob o nome de liberdade, têm aumentado a apostasia geral. Em toda a
Suíça o mesmo espírito prevalece, embora não sem muitíssimas exceções
felizes da infelicidade geral".
Nos princípios do século XIX houve um avivamento espiritual.
Roberto Haldane, um escocês, pregou em Genebra, e diversos estudantes
de teologia receberam uma grande bênção espiritual; como Malan, Teodoro
Monod, e Merle d'Aubigné, que vieram a ser pregadores notáveis, havendo o
último escrito a "História da Reforma" obra traduzida em diversas línguas.
Mais tarde J. N. Darby visitou a Suíça várias vezes, pregando no Cantão de
Vaud e em Genebra com muita aceitação.
Hoje Genebra tem uma Sociedade Bíblica, seminários para treinar
evangelistas e missionários. Como em todos os países, o modernismo está
ali ganhando terreno, mas ainda existe uma grande corrente que aceita as
antigas verdades bíblicas.

HOLANDA E BÉLGICA

A Holanda e a Bélgica são países que têm sido unidos sob o mesmo
governo, e separados por diversas vezes. São chamados Países Baixos
devido à pouco altitude de seus terrenos.
Já vimos como na luta contra a tirania de Felipe II, os Países Baixos
obtiveram sua independência. Guilherme de Orange (chamado também
Guilherme, o Taciturno) era holandês, e o povo protestante. A maioria do
povo belga era católica e de outra raça, e não queria Guilherme como seu
príncipe, preferindo o velho regime; algumas províncias aceitaram o rei da
Espanha, e duas convidaram um príncipe francês, o Duque d'Anjou.
Finalmente este príncipe retirou-se, e as duas províncias foram
restauradas ao rei da Espanha, e assim sacrificaram seu progresso e
prosperidade. Milhares de seus habitantes, os mais progressistas e inteligentes,
fugiram da Inquisição para habitarem na Holanda. Todo o
comércio ficou paralisado nas cidades principais, e o capim crescia nas
ruas. A Bélgica não prosperou até o século XIX, foi um campo de batalha
em diversas guerras entre as potências vizinhas.
Depois da queda de Napoleão, que havia conquistado os Países
Baixos, a Bélgica e a Holanda foram unidas, e começou um tempo de
prosperidade para eles. Surgiram tantas questões entre os dois países,
devido às diferenças de idéias, língua e religião, que a Bélgica acabou por
revoltar-se e escolher como rei um príncipe alemão que foi coroado com o
nome de Leopoldo I. Este rei era protestante, e sob a sua direção, o país
prosperava rapidamente, e continuou seu progresso durante o século XIX.
A história da Holanda é muito diferente. A prosperidade começou logo
depois de obtida a sua independência. Os holandeses são excelentes
marinheiros, e fundaram diversas colônias no além-mar, e suas indústrias
e comércio interno prosperaram. Na cidade de Leiden, uma universidade foi
fundada no ano 1575. Os primeiros professores eram homens piedosos e
moderados e ensinavam o valor da tolerância, mas geralmente os ministros
calvinistas se opuseram a tais inovações, sustentando que o país devia ter
somente uma religião. Um dos estudantes desta universidade era Tiago
Armínio. Depois passou ele algum tempo em Genebra com Teodoro Beza
(sucessor de Calvino). Armínio era homem liberal, tolerante e piedoso, e
muito contra os princípios rígidos de uma uniformidade forçada. Não era
contencioso, mas possuía mente clara e lógica. Um dos seus princípios era
que a providência ou governo de Deus, embora soberana, é exercida em
harmonia com a natureza das criaturas governadas, isto é: a soberania de
Deus é exercitada numa maneira compatível com a liberdade do homem.
Quando Armínio morreu, a Holanda foi dividida em dois sistemas
religiosos, os calvinistas e os seguidores de Armínio, que foram chamados
"os remonstrantes". O primeiro ministro do estado, chamado
Oldenbarnevedt, deu seu apoio aos "remonstrantes". O príncipe Maurício
de Orange, querendo debelar o movimento, mandou prender e processar os
aderentes. Dois chefes foram condenados à prisão perpétua, um foi o
célebre Hugo Grotio. Outro, o grande estadista Oldenbarnevedt, foi
degolado em 1619. Este ministro de estado fez mais do que qualquer outro
para a libertação da pátria, estabelecendo também justiça, paz e
prosperidade durante 30 anos. Grotio era doutor em direito pela
Universidade de Leiden, e um dos homens mais eruditos na Europa.
Depois de muitos anos na prisão, pelo auxílio da sua esposa, Grotio
escapou da fortaleza onde estava preso. A julgar por estes fatos, podemos
entender que a liberdade de consciência e a tolerância não eram ali
apreciadas nos séculos XVI e XVII.
Embora a Holanda tenha sofrido com guerras, a igreja ali tem gozado
liberdade e tranqüilidade, mas, como as demais igrejas protestantes
nacionais, seu estado durante os séculos XVIII e XIX era semelhante ao da
igreja de Sardo, descrita no Apocalipse. Atualmente (1941) o país está sofrendo
sob a tirania dura de Hitler. A boa rainha junto com o governo,
fugiu para a Inglaterra, onde aguarda o dia de voltar à sua pátria, isto é,
quando o país for liberto dos seus opressores.

ITÁLIA

Dos séculos XV a XIX, a Itália esteve dividida em diversos estados,
ducados, repúblicas, e reinos. No centro havia os estados da igreja,
governados pelo papa, sendo a cidade de Roma a capital. A corrupção nos
estados do papa era medonha. A maioria dos papas procurava constituir
seus parentes como príncipes nos estados vizinhos. Nos últimos quarenta
anos deste século (XV) o crime político aumentou consideravelmente. De
vez em quando papas honestos e sinceros eram eleitos, e procuravam reformar
o estado de corrupção que existia, mas estes eram desprezados por
todos, e quando morriam as condições imorais voltavam ainda piores. Os
príncipes secretamente assassinavam seus rivais. Os papas eram ímpios,
levavam vida escandalosa, e alguns deles eram verdadeiros monstros de
iniqüidade. O pior deles foi Alexandre VI, da família Borgia, cujos filhos
eram o terror de Roma. A República de Florença foi governada por um
monge chamado Girolamo Savonarola, que pela vida santa e pregação que
apresentava produziu uma reforma na república, mas sua vida e pregação
(embora um católico verdadeiro) era uma repreensão à vida e à iniqüidade
do papa, e Alexandre tratou logo de processá-lo, e Savonarola foi
condenado e queimado em praça pública em 1498.
Daí por diante a Itália tornou-se um campo de batalha dos exércitos
espanhóis, franceses e alemães. No ano de 1527, Roma foi tomada, o papa
preso no castelo, e a cidade saqueada por 30.000 soldados. Durante os 340
anos que se seguiram após o saque de Roma, a Itália foi repartida por
países estrangeiros e sua história é uma série de guerras entre as famílias
reais dos Habsburgos e dos Bourbons.
No Estado de Piemont, no Norte, existiam colônias de crentes
primitivos chamados Valdenses (ou Vaudois). Estes eram os descendentes
dos seguidores de Pedro Waldo, um negociante rico de Lyon, na França,
que sendo convertido, deixou seu negócio para pregar o Evangelho (1170).
Seus seguidores, sendo perseguidos, fugiram das cidades e esconderam-se
nos vales entre os Alpes, e séculos depois foram achados na província do
Oriente, da França. Estes crentes espalharam-se na Itália, procurando
evangelizar os italianos, mormente o povo mais humilde, mas quando veio
a perseguição voltaram para as montanhas.
Os pastores deste povo chamavam-se "barbas", e ouvindo acerca das
novas doutrinas da Reforma enviaram dois deles: Jorge Morei e Pedro
Masson a Basiléia para visitar o reformador Oecolâmpade, a fim de conferir
suas doutrinas. Achavam que havia muito em comum entre os Waldenses e
os reformadores, embora existissem também certas diferenças. Depois, o
pregador Guilherme Farei foi convidado a assistir a uma conferência com
os representantes dos Waldenses. A esta conferência assistiram anciões
das igrejas da Itália, não somente do Norte, mas também do Sul, e crentes
da França, Alemanha e Boêmia. Entre eles havia alguns nobres da Itália,
que tomaram parte na discussão. Farei era o pregador principal; ele era um
homem eloqüente e espiritual. Nessa reunião, ficou resolvido fazer uma
melhor tradução da Bíblia na língua francesa. Esta obra foi feita por um
crente francês chamado Olivetan.
A igreja de Roma fez muitas tentativas de apagar a voz do Evangelho,
perseguindo os crentes e mandando exércitos para exterminá-los, mas essa
luz nunca foi completamente apagada.
O povo protestante da Inglaterra tem mostrado seu interesse e
simpatia para com os Waldenses desde o tempo do Protetor Oliver
Cromwell. Havendo no ano 1650 uma grande perseguição, o Protetor
interessou-se em favor do povo perseguido, de tal modo que seus inimigos
foram obrigados a desistir da perseguição. O poeta Milton descreveu num
poema os sofrimentos dos Waldenses durante esse tempo, e uma grande
coleta foi levantada no país para ajudá-los, e o dinheiro enviado aos que
tanto sofriam. No reinado da rainha Ana da Inglaterra, um subsídio foi
mandado pelo governo britânico para ajudar os pastores Waldenses, e
continuou até o tempo de Napoleão. No ano de 1823 um ministro anglicano
visitou os vales de Piemont e escreveu um livro contando sua experiência
entre os Waldenses. O livro foi lido por um coronel do exército inglês
chamado Beckwith. Este, não tendo mais serviço no exército, resolveu
dedicar o resto da sua vida em promover o bem-estar da igreja Waldense.
Durante 35 anos, Beckwith trabalhou entre esse povo, estabelecendo 120
escolas; ele edificou uma igreja em Turim, capital de Piemont, no ano de
1849. Uma missão inglesa ainda funciona nessa zona.
O domínio francês, no tempo de Napoleão, trouxe mais liberdade à
Itália, mas não trouxe mais luz evangélica. Durante cinqüenta anos depois
da queda de Napoleão, a história da Itália era uma luta entre a tirania dos
governadores austríacos no Norte; do papa no Centro, e dos reis de Nápoles
(da família dos Burbons) no Sul. Tirania, corrupção e opressão reinavam
em toda a parte. Os homens que faziam qualquer propaganda em favor da
liberdade eram metidos em prisões, sem processo, ou foram mortos.
É provável que os estados papais fossem o pior e o mais corrupto
lugar que o mundo jamais viu. Um homem que, mais do que outro
qualquer, ajudou a libertação do país, foi Giussepe Garibaldi. Serviu, na
sua mocidade, na Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do sul (Brasil) e
casou-se com uma brasileira - Anita Garibaldi - que o animou na sua
tarefa na Itália. Os exércitos do rei de Nápoles fugiram diante de Garibaldi
e seus "camisas vermelhas", e Vitor Emannuel, rei de Sardenha, ajudado
pelo exército francês, venceu os austríacos. Finalmente tomaram Roma, e
os estados da igreja, e toda a Itália foi unida num reino, e o papa retirou-se
para o Vaticano, perdendo assim o seu poder temporal, onde ele e seus
predecessores governaram tão mal. Durante estas lutas, existiam grupos
de crentes italianos, mas a maior parte deles era gente humilde.
No princípio do século XIX, o grande duque de Tosca-na, um dos
estados do Norte da Itália, convidou o Conde Guicciardini para organizar
um sistema superior de educação. O Conde, em busca de bons livros para
esse fim, achou uma Vulgata (Bíblia em Latim) na sua biblioteca, e
começou a estudá-la, mas ficou espantado quando observou que seu
ensino não confirmava o da igreja romana. Nesta altura, o conde, certo dia,
viu um seu criado lendo um livro, que se apressou em esconder quando
recebeu seu patrão. O conde perguntou-lhe que era o que lia. 0 criado
pediu-lhe então que não o traísse, e mostrou-lhe a Bíblia em italiano. O
conde pediu ao servo que subisse a um quarto de seu palácio a fim de eles
juntos estudarem o livro. Guicciardini foi convertido desta maneira, e
achando grupos de crentes, que eram pessoas humildes, reuniu-se a eles.
No ano 1851, foi promulgada uma lei, instigada pelos jesuítas, proibindo
tais reuniões e o Conde foi obrigado a sair da sua pátria, e ir para a
Inglaterra, onde gozava da comunhão dos crentes. Ele foi o meio da
conversão de um seu patrício de nome Rosseti. Quando veio a liberdade, no
ano de 1871, Guicciardini voltou à Itália, pregou e ensinou até a sua morte.
Desde o dia em que o papa perdeu seu poder temporal, e retirou-se como
"prisioneiro do Vaticano", o país tem-se desenvolvido. Nesse tempo o papa
achou consolo na declaração do Sínodo do Vaticano acerca de sua
infalibilidade que foi anunciada no ano de 1870, e aceita pela Igreja
Romana como uma das suas doutrinas. Essa igreja ainda procura impedir
a evangelização no país, mas uma lei sobre religião, embora com certas
restrições, garante essa liberdade.
A primeira Grande Guerra, que terminou em 1918, deixou a Itália
muito abatida, embora com mais território. O país tem-se desenvolvido,
mas, infelizmente, numa direção militar em desacordo com o caráter do
povo italiano, e agora (1941) o país está envolvido em outra guerra, que é
capaz de enfraquecer a Itália consideravelmente.

BOÊMIA, ÁUSTRIA, MORÁVIA E HUNGRIA

Desde o tempo da Reforma até 1918 estes países eram unidos
debaixo do governo do arquiduque da Áustria e, depois, do imperador desse
país. Esses arquiduques e imperadores eram da família dos Habsburgos; a
maior parte deles foram tiranos e perseguidores. Antes da Reforma, a
Boêmia era um reino independente e a Morávia uma dependência. Depois
da morte de João Huss, em 1415, os seus seguidores lutaram contra todo o
império alemão, que mandou diversos exércitos para suprimir os "hereges",
mas foram todos desbaratados pelos boêmios. Os hussitas, infelizmente,
eram divididos em dois partidos, um chamado "utraquistas" e o outro
"taboritas". Vendo o papa que os hussitas não podiam ser vencidos,
concordou em reconhecer os utraquistas como a igreja nacional de Boêmia,
concedendo a eles o cálix (proibido a outros católicos), na missa, que era a
única coisa que eles exigiram. Os taboritas queriam uma igreja separada de
Roma, e continuaram a luta. Em 1434 o exército dos taboritas foi
completamente derrotado e espalhado.
Havia porém, muitas pessoas entre este partido que desejavam
conservar o ensino espiritual de João Huss, as quais formaram sociedades
secretas que procuraram voltar para as virtudes da igreja primitiva. Uma
destas comunidades foi fundada numa aldeia da Boêmia chamada Kunwald,
e muitos uniram-se com eles, incluindo membros da igreja waldense.
A igreja nacional perseguiu este povo, que ficou espalhado mais uma vez.
Um dos pastores chamado Gregório foi torturado e outro foi queimado. Os
crentes, porém reuniram-se em outros lugares, e tomaram o nome de
"Unitas Fratum", (Irmãos Unidos) e resolveram separar-se da Igreja
Romana, mas declararam: "Não condenamos nem excluímos os que ficam
obedientes à Igreja Romana: como não excluímos os membros da igreja
grega ou da índia; assim também não condenamos os membros da Igreja
Romana".
Um desses foi consagrado bispo por um bispo da igreja dos
waldenses. Tomaram a Bíblia como seu único guia e autoridade, e
rejeitaram os ensinos da igreja Romana. Puseram muita ênfase quanto à
conduta cristã. O papa Alexandre VI persuadiu o rei da Boêmia de que esta
gente era um perigo para o seu trono. Em 1507 o edito de S. Tiago mandou
que todos os que não se reunissem com a Igreja Ultraquista, ou com a
Romana, que saíssem do país. Surgiu mais uma perseguição, mas
felizmente o rei da Boêmia morreu pouco tempo depois, e os católicos e
ultraquistas ocuparam-se com brigas, de modo que a perseguição
abrandou.
Os Irmãos Unidos ouviram com alegria a notícia da Reforma na Suíça
e na Alemanha. Mandaram representantes a Wittenburgo, onde morava
Lutero. Eles concordaram com as novas doutrinas, mas não gostaram
tanto do comportamento de muitos dos seguidores do reformador.
Em 1526 a família real da Boêmia terminou com a morte do último
soberano, e Fernandes, irmão do Imperador da Alemanha (Carlos V), da
família de Habsburgos, e Ar-quiduque da Áustria, foi proclamado rei da
Boêmia, Fernandes era católico fanático. Em 1546 rebentou uma guerra
entre a Liga dos Príncipes Protestantes e as potestades católicas, chefiadas
pelo imperador. Muitos dos nobres da Boêmia tomaram o lado dos
protestantes, mas foram vencidos na batalha de Muhlburgo (1547).
Fernandes voltou a Praga (capital da Boêmia) triunfante, executando
alguns dos nobres, e resolveu exterminar os Irmãos Unidos, mandando que
todos os que não assistissem à Igreja Nacional, ou à Romana, saíssem do
país. Milhares deixaram sua pátria, achando refúgio na Alemanha e alguns
na Polônia. Em 1556 Fernandes foi eleito Imperador da Alemanha, e deixou
o trono da Boêmia com seu filho Maximiano, o qual deu licença para os
Irmãos Unidos voltarem.
Durante os anos que se seguiram, a Bíblia, chamada "Bíblia Kralitz",
foi traduzida na língua tcheca (a língua falada na Boêmia). Quando o
Imperador precisava de dinheiro para sua campanha contra os turcos, a
Dieta da Boêmia exigiu, antes de fornecer o necessário dinheiro, que o edito
de S. Tiago fosse anulado, e que a liberdade religiosa fosse garantida. A
necessidade sendo urgente, um decreto chamado a "Carta Boêmia" foi
assinado concedendo essa liberdade. Em 1616 Fernandes II foi eleito rei da
Boêmia. Estava inteiramente debaixo da influência dos jesuítas. Embora
jurasse observar a Carta, começou logo a violá-la. Os nobres boêmios se
revoltaram, recusando reconhecer Fernandes como rei, e convidaram,
Frederico, Eleitor do Palatinado (um Estado alemão) para ser rei da Boêmia.
Este príncipe era protestante calvinista, e sua mãe era filha de
Guilherme, o silencioso, de Orange. O jovem eleitor casou-se com Isabel,
filha mais velha de Tiago I, rei da Inglaterra. Embora muito novo, Frederico
foi escolhido chefe da União Protestante, formada para proteger os estados
protestantes. Era homem de bons princípios e de caráter, mas não possuía
habilidade suficiente para chefiar a União, e todos seus esforços
terminaram em desastre.
Os príncipes católicos formaram a "Liga católica" para combater a
União, e o chefe da Liga era o Duque de Bavária. Infelizmente, Frederico
aceitou o trono da Boêmia e foi coroado no ano de 1619. Foi uma escolha
que trouxe resultados desastrosos, não somente a Frederico e à Boêmia
mas também à Europa. Não tinha o apoio dos outros príncipes
protestantes, como o eleitor da Saxônia, e o rei da Inglaterra. O
arqueduque d'Áustria foi eleito em 1619 Imperador da Alemanha, e rei da
Hungria, e declarou guerra contra Frederico e os boêmios, que considerava
como rebeldes. "Fernandes chamou Maximiliano, Duque da Bavária, e a
Liga Católica para ajudá-lo. O Duque mandou um exército entrar e
devastar o Palatinado, enquanto o general de Fernandes combatia contra a
Boêmia. Esta guerra é conhecida como a "Guerra dos trinta anos" devido ao
tempo que durou. Em 1620 Frederico e os boêmios foram completamente
desbaratados na Batalha de Monte Branco, perto de Praga. Frederico, com
sua esposa e família, foi obrigado a fugir. Tendo já perdido também sua
herança no palatinado, foi obrigado a fugir para a Holanda, onde morou até
sua morte, como um hóspede dos governadores do país.
A guerra dos Trinta Anos é dividida em três partes, a primeira e a
segunda foi por motivo religioso entre protestantes e católicos. Foi travada
com grande ferocidade, e o sofrimento do povo era terrível. Dizem que a
Alemanha sentiu seus efeitos durante um século. Os exércitos man-tiam-se
pelo roubo, tanto de amigos como de inimigos, devastando o terreno onde
lutavam. Fernandes e seus generais, Tilly e Vallenstein, foram quase
sempre vitoriosos na primeira fase. A segunda fase foi marcada com a
entrada de Gustavao Adolfo, rei da Suécia, campeão da fé protestante, com
um exército bem treinado e equipado. Foi o único exército que não roubou
o povo, sendo bem disciplinado e comportado. O aspecto da guerra mudou
depressa. Gustavo venceu os generais Tilly e Vallenstein, mas caiu morto
na batalha de Lutzen (1632). No ano de 1653 a França entrou na guerra,
ao lado da Suécia, e a guerra perdeu todo o aspecto religioso. Depois de
trinta anos de luta, Fernandes II fez as pazes, perdendo a França o estado
de Alsácia, e o filho de Frederico e Isabel voltaram para governar o seu
eleitorado. Esta guerra prolongada foi um desastre também para os Irmãos
Unidos. Fugiam para os países vizinhos onde podiam-se abrigar. Um bispo
deles chamado João Amos Comênio, continuou apascentando seu rebanho
secretamente na Morávia. Ele deu-lhes o nome "Semente Escondida", mas
são chamados também irmãos moravia-nos. Esta igreja foi composta de
taboritas, waldenses, e crentes da Alemanha, e foi desta igreja que o bom
Zinzendorf escolheu o grupo com que formou a sua sociedade em Hernhut
que depois mandou tantos missionários pioneiros para terras estrangeiras.
A família dos Habsburgos foi notável por sua tirania, perseguição
religiosa, e infelicidade com guerras e revoltas. Fez uma guerra contra os
turcos, a Guerra dos Sete Anos, no século XVIII, e depois uma guerra
prolongada contra Napoleão no princípio do século XIX, e mais tarde contra
a França e a Itália, e depois contra a Alemanha.
Depois da Grande Guerra de 1914-1918, a Hungria, a Boêmia, e a
Morávia e outras províncias, foram separadas da Áustria. A Boêmia
alcançou sua independência e com a Morávia formou a República da
Tchecoslováquia. Sendo um país industrial, e um povo inteligente e ativo
progrediu rapidamente em 20 anos. Infelizmente, no ano de 1938 caiu em
poder da Alemanha hitlerista, que tirou a sua liberdade, e procurou
destruir as suas instituições antigas. A Hungria também foi constituída
uma república depois da primeira Grande Guerra, mas não teve o mesmo
progresso que a Boêmia.
No século XVI a Hungria fez grandes esforços para ganhar mais
liberdade política, pois estava debaixo do calcanhar do Império da Áustria,
e obteve uma certa medida da independência. Desde a Reforma tem havido
crentes evangélicos na Áustria e na Hungria, mas a perseguição constante
reduziu o número. Na Hungria, Bulgária e Romênia há muitas
congregações de evangélicos chamados "Nazarenos". O fundador deste
movimento foi um ministro suíço, chamado Frohlich. Entrou como jovem
no ministério na Suíça, e, sendo convertido, começou a pregar o Evangelho,
muito contra o gosto dos seus superiores, que procuraram corrigir sua
teologia. Quando Frohlich recusou modificar sua pregação, foi expulso do
ministério no ano de 1818, mas continuou sua pregação como itinerante,
visitando outras partes da Suíça e Alemanha. Dois operários ambulantes
da Hungria, visitando a Suíça, ouviram Frohlich e foram convertidos.
Voltando a Budapeste, capital da Hungria, estes homens anunciaram as
Boas-Novas, e muitos foram atraídos. Uma congregação foi formada na
cidade e cresceu rapidamente, reunindo-se com regularidade. Um grupo
desta congregação saiu de Budapeste como missionários aos países
vizinhos e levaram o Evangelho até as fronteiras da Turquia. Tomaram o
nome "Nazarenos" por serem desprezados.

POLÔNIA

A Polônia era, no tempo da Reforma, um grande país, estendendo-se
do mar Báltico ao mar Negro, e incluindo a Ucrânia. Os poloneses são da
raça eslava, e receberam a religião católica no século X. Nos séculos
seguintes, a Polônia lutou constantemente contra seus inimigos, como as
hostes tartáricas do Oeste, que devastavam suas cidades e aldeias. Pelejou
também contra os prussianos, raça vizinha, então paga; e, ao norte, contra
os lituanos, povo feroz e selvagem. Os Cavaleiros Teutônicos vieram morar
perto a fim de converter estas raças pagas, e fazê-las cristãs por meio da
espada, mas sem bom êxito. A Ordem Teutônica foi formada durante as
cruzadas contra os maometanos na Palestina.
Terminadas essas guerras, os cavaleiros ficaram sem emprego. Não
tendo tido bom êxito com o evangelho da espada contra os pagãos,
começaram a brigar com os poloneses, que foram para eles um espinho
durante séculos. Os poloneses eram um povo guerreiro e, felizmente,
durante três ou quatro séculos foram governados por bons reis. O rei da
Lituânia aceitou a religião católica e persuadiu o seu povo a reconhecer o
papa. Os Cavaleiros Teutônicos então ficaram outra vez sem emprego e
tornaram-se negociantes e, finalmente desapareceram. A Lituânia e a
Polônia fizeram uma aliança para a sua própria defesa, e por vezes foram
governadas pelo mesmo rei. Infelizmente, a Polônia era muito difícil de
governar, e os reis possuíam um poder limitado. Depois da Reforma, o rei
era eleito por uma "Dieta" formada por pessoas das classes superiores: proprietários
e nobres. Os trabalhadores não possuíam direitos e eram quase
escravos dos proprietários. A Dieta quase sempre se recusava a dar o
dinheiro necessário ao rei para as suas guerras, e se o rei era eleito pela
Dieta, ela impunha tantas restrições ao rei, que era quase impossível governar.
Enquanto os povos de outros países pelejavam para obter ou
conservar sua liberdade contra reis tiranos, na Polônia os melhores reis
tinham a oposição do povo e eram impedidos pela constituição. A Polônia
era muito ligada à Hungria e à Boêmia, seus vizinhos, e tinham muita coisa
em comum. Depois da Reforma, a Polônia foi ameaçada pelos russos, no
Norte, e pelos turcos no Oriente. Os russos e tártaros devastaram a
Lituânia; e na Polônia reinava anarquia. O rei viu-se obrigado a transferir
sua autoridade à aristocracia incapaz, cuja única idéia era oprimir as classes
inferiores sem se interessar pelos negócios da pátria. A Dieta recusou
pagar os impostos necessários, e o rei esforçou-se de toda maneira
possível, mas em vão. Ele não podia ajudar os húngaros contra a invasão
dos turcos, nem impedir os russos de tomar as províncias uma após outra
do seu aliado lituano, nem as hostes dos tártaros de penetrar no seu
próprio território, roubando e devastando tudo, até o interior da Polônia. A
Hungria caiu em poder dos turcos e a Polônia estava ameaçada disso, mas
o rei não tinha dinheiro para pagar um exército mercenário. Contudo, usou
de toda diplomacia para evitar uma guerra contra os turcos.
No século XV alguns dos seguidores de João Huss entraram na
Polônia, mas um edito contra os "heréticos" impediu muitos protestantes
de entrarem no país. No tempo da Reforma, entrou, por um lado, o
luteranismo, e o calvinismo por outro, chegando-se a calcular que existia
meio milhão de protestantes, e outro meio milhão da Igreja Ortodoxa,
principalmente na Lituânia. Também os Irmãos Moravianos entraram, mas
foram depois banidos e passaram para a Prússia. Os protestantes deviam
seu bom êxito ao fato de muitos nobres favorecerem a sua causa. Em par-
te, a razão era política, devido à inveja e ao ódio desses à igreja católica,
que possuía tanta propriedade e riqueza, e estava isenta de impostos, o que
constituía um escândalo.
Os bispos eram levianos e muitos tinham uma vida viciosa. O ensino
era negligenciado e, como resultado, os filhos dos nobres eram mandados
às universidades de outros países, como a Alemanha, onde eram discutidas
as novas idéias da Reforma. O governo foi obrigado a tolerar a nova
religião, salvo as seitas que negavam a doutrina da Trindade. Na Dieta de
1558, os protestantes obtiveram maioria. Desde esta data sua causa
começou a declinar. Isto foi devido às brigas entre os seguidores de Lutero
e os de Calvino, e a propaganda dos jesuítas, que trouxe certa reação. A
história subseqüente da Polônia é triste. A Dieta continuou na sua tarefa
inglória de impedir toda a reforma política ou fornecer o dinheiro
necessário à manutenção da pátria. Uma decisão de Dieta tornando
impossível todo progresso era muito absurdo, mas foi mantida por ela com
uma teimosia extraordinária. Era que todas as leis precisavam ser
aprovadas por unanimidade.
Nestas circunstâncias, um homem ignorante ou perverso podia
estorvar todo o progresso, e a Dieta era composta de homens
ultraconservadores, e muitos deles estavam prontos para trair a sua
própria pátria, e a maioria era paga por outros países inimigos, como a
Rússia, a Áustria e a Prússia. Estes três países queriam arruinar e repartir
a Polônia, e assim davam dinheiro aos membros da Dieta para votar contra
toda medida de melhoramento do país. O resultado foi que a Polônia foi de
mal a pior, e os três países citados repartiram-na entre si. A primeira
divisão foi feita no ano de 1772, a segunda no ano de 1793, e finalmente o
resto da Polônia foi dividido em 1796. Assim perdeu a Polônia a sua
independência. A maior parte caiu nas mãos da Rússia. Os nobres que
tinham impedido todo o progresso durante muitos anos, saíram do país,
empregados no exército da Europa. Os trabalhadores que tinham sido
oprimidos durante séculos, ficaram tão aliviados que aceitaram o jugo dos
estrangeiros sem dificuldade. Mas havia uma classe, os moradores das
cidades, e os negociantes, que sentiram a opressão. A Grande Guerra
trouxe um alívio, e mais uma vez a Polônia foi restaurada pelos aliados,
tornando-se uma República, que fez algum progresso. Seu antigo inimigo, a
Alemanha, mais uma vez devastou esse país, ainda agora (1941) está
fazendo esforço para impossibilitar os poloneses de restaurar o país no
futuro.
Na Polônia como em toda a Europa central, há congregações de
crentes que se reúnem à maneira primitiva, para comunhão e
evangelização.

PORTUGAL

No tempo da Reforma, Portugal rejeitou o Evangelho, preferindo a
Inquisição romana, e pagou caro por ter seguido o exemplo da Espanha.
Alianças entre as famílias reais influíram nesta decisão. O último rei
morreu sem família, e Filipe II da Espanha, sendo herdeiro do trono, entrou
em Portugal como rei. A religião católica e a Inquisição ficaram ainda mais
arraigadas no país (1580). Devido ao fato de Filipe estar em guerra
perpétua com a Holanda, e começar outra guerra com a Inglaterra,
Portugal viu-se obrigado a fechar seus portos ao comércio com estas
nações, as mais comerciais. Filipe deixou como herança para seu sucessor
a guerra com a Holanda, e este país aproveitou a oportunidade para invadir
o Brasil, tomando Pernambuco e estabelecendo ali uma colônia holandesa.
No ano de 1640 os portugueses revoltaram-se contra o jugo espanhol,
e proclamaram rei o Duque de Bragança (João IV). Este novo soberano
mostrou energia e prudência, e os holandeses foram obrigados a sair do
Brasil. Embora eles fossem calvinistas, não parece terem evangeliza-do os
brasileiros.
No ano de 1693 minas de ouro foram descobertas em Minas Gerais, e
o metal foi exportado para Portugal, tendo o rei João V o desperdiçado em
edifícios religiosos e de luxo. A coroa de Portugal nunca havia sido tão rica
como durante os primeiros 50 anos do século XVIII, mas o reino não
prosperou. Muito dinheiro foi emprestado ao papa e desperdiçado entre os
padres e as ordens religiosas. Felizmente o governo do Marquês de Pombal
(1750-1777) produziu um avivamento na indústria, no comércio, na
educação, e em todos os aspectos da vida. Depois do terremoto que destruiu
Lisboa, a capital, em 1755, foi edificada uma cidade melhor. A
Inquisição foi suprimida, e os jesuítas foram expulsos do país. E pena que
este grande estadista não fosse amigo do Evangelho e não substituísse
pelas Escrituras as abominações religiosas.
Quando o rei (José I) morreu e passou a reinar a sua filha Maria I,
então os jesuítas voltaram, e a rainha, que era uma religiosa fanática,
enlouqueceu, e a decadência de Portugal continuou. Eis o que escreveu um
historiador contemporâneo: "A igreja em Portugal é como um deserto árido.
Não tenho ouvido ou lido de qualquer esforço feito durante séculos para
introduzir um raio de verdade evangélica entre eles [os portugueses]. As
Escrituras são um livro selado, escondido e interdito. A superstição, a
imoralidade e a crueldade pairam sobre eles. Nenhum espírito reformador
ousa murmurar uma dúvida acerca dos dogmas absurdos, ou fazer
sugestão para reformar os piores abusos sacerdotais. Provavelmente
Portugal e suas colônias serão os derradeiros entre as nações a serem
salvos da ignorância, e libertados do jugo do papado... Havendo
contribuído tanto quanto qualquer outra parte para expulsar os jesuítas e
extinguir esta ordem, Portugal não tem subido acima dos seus velhos
preconceitos e submissão à imposição sacerdotal. Estou seguro disso, e é
espantoso ver com que profundo ódio e aborrecimento eles nos olham a nós
como hereges".
Veio a liberdade mais tarde quando Portugal obteve uma constituição
mais liberal, e recebeu depois diversos missionários para pregar no país.
Então a luz começou a dissipar as trevas, não só em Portugal, mas também
na sua antiga e principal colônia, agora independente, o Brasil. No
princípio, a luz veio de outras trevas, mas agora estes países estão sendo
evangelizados pelos seus próprios filhos. Há um fato impressionante em
relação à evangelização dos países que falam a língua portuguesa: é que
Deus preparou o instrumento principal, a chave de ouro para abrir a porta
de ferro que conduz à liberdade espiritual, com dois séculos de
antecedência, quando pôs no coração de João Ferreira de Almeida traduzir
a Bíblia em língua portuguesa. Esta obra gloriosa foi terminada no ano de
1670 em Batávia, capital onde o servo de Deus residia. O tradutor era
português nato, mas seu nome não está escrito em qualquer rol de honra
na sua pátria, e parece ser um nome desconhecido pela maioria de seus
patrícios, e dos brasileiros, mas é um nome querido (e deve sê-lo) de todos
os amantes da Palavra de Deus, que falam a língua portuguesa. Durante a
sua vida ele recebeu mais maldição do que louvor por ter preparado a boa
semente que futuramente iria produzir bom fruto. Depois de quase três
séculos, as terras onde se fala a língua portuguesa ainda estão brancas
para a ceifa. [Escrito em 1943].

NORUEGA, SUÉCIA E DINAMARCA

Estes três países são povoados pela raça germânica, e agora formam
três governos separados, cada um com seu rei e com sua constituição. Os
escandinavos são um povo robusto, inteligente e industrioso. No tempo da
Reforma, a igreja luterana-episcopal foi ali estabelecida, e continuam
protestantes até hoje. Devido à sua posição geográfica, a Escandinávia tem
gozado mais paz do que muitos países da Europa. O rei Gustavo Adolfo
resolveu ajudar a causa protestante que sofria muito na "Guerra dos Trinta
Anos", e passou à Alemanha com um exército forte e bem equipado,
fazendo pender bem depressa o fiel da balança em favor da "União
Protestante". A sua morte, na batalha de Lutzen, em 1632, foi um desastre,
mas os seus exércitos continuaram a luta.
Tem havido liberdade religiosa, e o povo é muito pacífico, notando-se
ali ausência de crimes. Na guerra atual, a Noruega e a Dinamarca foram
vítimas da agressão alemã, e estão sofrendo as conseqüências da invasão
germânica como outros países, e, como eles, anseiam ardentemente (1941)
mais uma vez, obter a sua liberdade.

IRLANDA

Na Irlanda a história religiosa é muito ligada com a política. Embora
nos séculos V, VI, e VII a Irlanda tivesse sido evangelizada e fosse chamada
a "Ilha dos santos", as trevas espirituais pairaram sobre essa mesma ilha
durante mil anos. A Reforma teve pouca influência no país. Os irlandeses
eram ignorantes e a maioria analfabeta e os proprietários mostraram pouco
interesse no bem-estar do povo em geral. Os irlandeses falam a língua
céltica, que servia de dificuldade para qualquer esforço missionário da
Inglaterra. Também durante certo período do século XVI, houve uma
rebelião no país contra a autoridade inglesa. Os reis protestantes da
Inglaterra queriam impor a religião anglicana na Irlanda, mas foi
impossível a não ser em certas cidades como Dublin, a capital. Guerras e
revoltas continuaram, e no reino de Tiago I, o governo resolveu fazer
experiência com uma província no Norte, chamada Ulster, plantando ali
uma grande colônia de ingleses e escoceses. Muitos presbiterianos foram
da Escócia, tomando posse de terreno da província. O rei Tiago mandou
que todos os sacerdotes católicos saíssem do país, mas foi impossível pôr
em execução esta lei injusta.
No ano 1641, os católicos levantaram-se contra os colonizadores
protestantes, e mataram milhares deles com muita barbaridade. Na
Inglaterra havia guerra civil, e as autoridades não podiam ajudar os
protestantes, mas os escoceses mandaram um exército para ajudar seus
patrícios. A guerra civil na Inglaterra terminou com a morte do rei, e o
general Oliver Cromwell levou também um exército à Irlanda no ano 1650,
e em pouco tempo o aspecto mudou. Cromwell agiu com muita severidade
em represália à morte dos protestantes pelos católicos irlandeses, e seu
nome ficou odiado na Irlanda. A campanha, porém, trouxe paz ao país,
embora não fizesse com que o povo da Irlanda amasse os protestantes.
Quando Tiago II fugiu da Inglaterra para a França, o rei Luiz XVI
prometeu ajudar seu hóspede real, e mandou um exército francês com
Tiago à Irlanda. Guilherme de Orange, o novo rei da Inglaterra, foi à Irlanda
e venceu os exércitos franceses e irlandeses. Era uma guerra entre protestantes
e católicos, e os franceses foram obrigados a deixar a Irlanda, e
os irlandeses foram subjugados.
Durante o século XVIII, João Wesley visitou a Irlanda muitas vezes,
viajando a cavalo em toda parte e pregando o Evangelho. Diversas
sociedades metodistas foram formadas em várias partes.
No fim desse século, rebentou outra revolta na Irlanda, mas os
rebeldes foram vencidos, e nessa ocasião muita clemência foi mostrada ao
povo que tomou parte na rebelião. Durante o século XIX o governo na
Inglaterra fez muitos esforços para satisfazer os irlandeses, mas todo
aquele século foi assinalado por crimes políticos, assassínios, e descontentamentos.
No ano de 1828 a Viscondessa Powerscour mantinha conferências em
seu palácio, perto da capital (Dublin) sobre assuntos bíblicos, mormente
sobre as profecias e a Segunda Vinda do Senhor. Um dos primeiros
expositores foi João Nelson Darby, um ministro na igreja Irlandesa, cargo
que deixou para ministrar a Palavra de Deus em diversos países. Outro
pregador independente, no princípio do século XIX, foi Gideão Ousely, que
viajava a cavalo e pregava mesmo a cavalo nas aldeias e cidades. Pertencia
a uma antiga família irlandesa de boa posição, mas associava-se com os
humildes camponeses, conversando sobre o Evangelho de maneira muito
simples. Um ministro evangélico independente chamado Thomas Kelly,
formou diversas congregações na Irlanda no princípio do mesmo século, e
escreveu muitos hinos que estão em uso geral na língua inglesa, e alguns
estão traduzidos em português.
No Norte, no Ulster protestante, no ano de 1859, houve uma
revivificação, e nessa ocasião centenas de pessoas foram convertidas entre
todas as classes. Houve manifestações físicas durante as reuniões, isto é,
pessoas caíram ao chão e perdiam os sentidos.
O Ulster é próspero, progressista, com indústrias e comércio sendo a
sua capital, Belfast, uma cidade de importância. 0 povo é muito leal ao
governo britânico, e a maior parte deles são protestantes fanáticos. O Sul
do país, com quatro províncias, é principalmente católico, sob o domínio
dos padres, sofre muito de pobreza, ignorância, preguiça, e um ódio
fanático contra o governo britânico. Ê justo dizer que estas condições têm
modificado e melhorado desde o afastamento do governo britânico do Eire.
Durante a grande guerra, os irlandeses fizeram uma insurreição contra o
governo. Depois da guerra, houve uma divisão, ficando o Ulster separada
das outras quatro províncias, que agora tem seu próprio governo e
presidente, mas os irlandeses não estão satisfeitos, porque o Ulster não
está sob o seu domínio: o Estado Livre é chamado Eire, e desde a separação
tem feito algum progresso.
GALES
Os galeses são descendentes de raças originais da Britânia, que
fugiram de povos de raças germânicas, invasoras do país nos séculos VI e
VII, cujos descendentes são os ingleses. O rei Eduardo I da Inglaterra
conquistou Gales (1282) e ao seu filho mais velho foi dado o título de
"Príncipe de Gales" título ainda dado ao filho mais velho dos reis britânicos
que o sucederam. A língua usada pelo povo é muito diferente da inglesa, e
até hoje muitos dos camponeses falam a língua indígena.
Durante a Reforma havia diversos estudantes galeses nas
universidades da Inglaterra (Oxford e Cambridge) que pertenciam ao
partido dos Reformadores e no reinado de Isabel a Bíblia foi traduzida para
a língua galesa. Em 1567 a tradução do Novo Testamento ficou concluída,
e 800 exemplares foram distribuídos nas diversas paróquias de Gales. O
livro de Oração também foi traduzido, e a igreja estabelecida era idêntica à
da Inglaterra. Bispos que falavam a língua galesa foram nomeados durante
o primeiro século da história da igreja anglicana, e depois somente ingleses,
que não sabiam a língua galesa é que foram escolhidos. A educação
do povo foi negligenciada até meados do século XVIII, e a maior parte era
analfabeta.
Nesse século XVIII, Griffiths Jones, ministro anglicano, instituiu um
sistema de educação, e de escolas, obtendo como resultado, antes da sua
morte, que uma terça parte do povo aprendeu a ler as Escrituras em sua
própria língua. Os bispos ingleses da Igreja Anglicana não manifestaram
interesse algum pela educação do povo, nem pelo serviço de Griffiths
Jones. Felizmente diversas pessoas ricas ajudaram bastante, fornecendo o
dinheiro necessário para esse fim. Durante este tempo houve uma
revivificação espiritual no país, devido à pregação de diversos ministros da
igreja galesa. Os principais pregadores foram Ho-well Harris, Daniel
Rowlands, Pedro Williams, e Williams Williams, sendo o último o autor de
muitos livros na língua inglesa. Eram pregadores eloqüentes e homens de
oração, e pregavam com poder extraordinário, havendo, às vezes,
manifestações físicas entre os ouvintes. Milhares de galeses se
converteram.
Outros pregadores continuaram o trabalho na geração seguinte, como
Christmas Evans, Henrique Rees e João Jones. Todos esses pertenciam à
igreja estabelecida, mas tiveram de formar uma sociedade metodista
calvinista. Queriam ficar ligados à igreja anglicana, mas, devido à oposição
dos bispos, alguns foram expulsos e outros deixaram essa igreja, e
continuaram pregando como dissidentes. Daniel Rowlands foi convertido
pela pregação de Griffiths Jones, e tornou-se amigo de Jorge Whitefield, o
célebre pregador inglês. Pregou com a mesma eloqüência, entusiasmo e
poder de Whitefield, mas na língua galesa. Foi enxotado da sua igreja pelo
seu bispo e edificou uma casa de oração onde assistia a toda a congregação
que outrora pertencera à igreja local, que ficou sem membros. Milhares de
pessoas vinham ouvir Rowlands pregar aos domingos, viajando até 20
léguas para assistirem às suas pregações. Um jovem que foi ouvir a sua
pregação foi Thomas Charles, um dos fundadores da Sociedade Bíblica
Britânica e Estrangeira. A pregação de Rowlands deixou uma impressão
extraordinária na alma de Charles, de que nunca se esqueceu.
Muitos dos metodistas galeses continuaram na igreja estabelecida.
Mas, finalmente, no ano 1811, separaram-se, formando uma denominação
independente. Os batistas também trabalharam em Gales, e fizeram muito
progresso. Chistmas Evans foi um dos seus pregadores mais conhecidos.
Um ministro evangélico célebre foi Thomas Charles (1755-1814), que
foi convertido ainda jovem pela pregação de Daniel Rowlands; mais tarde
foi ministro em Bala e tornou-se conhecido como Charles de Bala. Foi o
fundador das escolas dominicais em Gales. Uma escola dominical naquela
época era uma novidade. Ele é no entanto, mais lembrado como um dos
fundadores da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira.
A história desta Sociedade é bem conhecida: Uma menina filha de um
pobre lavrador de Gales, chamada Maria Jones, desejava ardentemente
possuir uma Bíblia, e durante alguns anos trabalhou para ajuntar o
dinheiro necessário para adquiri-la. Quando julgou possuir o suficiente, fez
uma viagem de 15 léguas a pé, e sozinha, a Bala, onde residia o sr. Charles
que vendia as bíblias. Chegando à casa deste bom homem, descobriu que
ele já vendera a última Bíblia que havia na língua galesa. Maria chorou
tanto e com tal desapontamento que o sr. Charles ficou comovido, dandolhe
uma Bíblia quando ouviu do esforço que ela fizera para possuir esse
tesouro. Depois, o sr. Charles foi a Londres e, convocando alguns amigos
evangélicos, contou-lhes o caso de Maria Jones, sugerindo a urgente necessidade
de formar uma Sociedade Bíblica para suprir o povo de Gales de
bíblias a preços baratos. Um dos amigos respondeu: "Certamente, sr.
Charles, uma Sociedade deve ser formada para este fim, mas se for para
Gales, por que não para o mundo todo?" Assim foi iniciada a grande Sociedade
Bíblica Britânica e Estrangeira, que tem ajudado a imprimir a
Palavra de Deus em mais de 700 línguas, e agora manda ao mundo
anualmente mais de onze milhões de porções das Escrituras.

RÚSSIA, FINLÂNDIA, ESTÔNIA, LETÔNIA, LITUÂNIA.

Até o tempo da primeira Grande Guerra, a Finlândia, a Estônia, a
Letônia, e a Lituânia eram incluídas no império da Rússia, sob a soberania
do Tsar (Imperador).
A Rússia recebeu o cristianismo de Constantinopla no décimo século,
e adotou a forma grega ortodoxa para a sua igreja. O Tsar levou o título de
supremo cabeça da Igreja na Rússia. Até o século XIX a Rússia tinha pouca
luz evangélica, mas todos pertenciam nominalmente à Igreja Ortodoxa. Os
papas (como se chamam ali os sacerdotes) eram quase tão ignorantes
quanto o povo, e a superstição reinava em toda a parte.
No princípio do século XIX, o Tsar era Alexandre I. Durante a invasão
de Napoleão (1812), à Rússia Alexandre mostrou sua fé em Deus, e
costumava assistir às reuniões de oração. Era um bom cristão e desejava
fazer bem ao seu povo, que era muito atrasado e ignorante, mas as idéias
conservadoras dos russos em geral impediram muito o progresso do
Evangelho. Membros da Sociedade dos Amigos (Quakers) visitaram a
Rússia e foram bem recebidos pelo Tsar, que sempre mostrou muita
amizade a esta denominação. Ele animou a leitura das Escrituras, e contou
que isso lhe fora um grande consolo durante suas dificuldades, mas
somente leu a Bíblia pela primeira vez quando tinha quase 40 anos de
idade. O Imperador concedeu todas as facilidades à Sociedade Bíblica
Britânica para propagar a Palavra de Deus em seu vasto domínio. A
Sociedade, enviou um agente chamado Melville, que dedicou 60 anos de
sua vida a divulgação das Escrituras na Rússia.
Quando Alexandre morreu, em 1825, sucedeu-o seu irmão Nicolau I,
que era reacionário, mas o filho deste, Alexandre II quando se tornou Tsar,
fez muitas reformas. Mais de 80% do povo trabalhava no campo e eram
"servos" ou escravos dos grandes proprietários. O Imperador terminou esta
servidão e proclamou a liberdade pessoal para todos. Liberdade política,
porém, não foi conhecida na Rússia, e havia pouca liberdade religiosa,
embora o espírito de liberalismo fosse sempre crescente. Alexandre II foi
assassinado em 1881, e seu filho Alexandre III continuou suprimindo as
liberdades, e perseguindo os dissidentes, como os batistas, stundistas e
judeus. Seu velho professor, chamado Pobedonostef, foi feito Procurador do
Santo Sínodo (o corpo governante da igreja russa) e era conhecido como um
grande perseguidor de todos os que não pertenciam à Igreja Ortodoxa.
Milhares deles foram enviados à Sibéria, onde morreram de frio ou de fome.
Na viagem para este exílio, foram levados na companhia dos piores
criminosos, com os braços e pés amarrados com pesadas correntes, e
tratados com mais brutalidade do que o gado. As prisões da Rússia eram
notáveis pelas suas péssimas condições. Muitos morreram de fome e pelas
brutalidades infligidas.
No ano de 1866, Lord Radstock, um nobre da Inglaterra, pregou na
capital (então Petrogrado) e dirigiu estudos bíblicos nas casas e palácios de
vários nobres russos, e muitos deles, de classe mais rica, foram
convertidos. Um destes, o coronel Pasckov, depois da sua conversão,
viajava pela Rússia, pregando o Evangelho nas prisões, hospitais e salões
ou casas particulares, e empregou sua fortuna na distribuição de bíblias e
tratados. Foi, enfim, proibido de pregar, mas continuou este serviço até que
foi banido da Rússia pelo "Santo" Sínodo; sendo então muitas das suas
propriedades confiscadas. Alexandre III queria na Rússia uma língua e uma
igreja, e procurou impor esta política nas suas dependências também,
como a Finlândia. Seu filho Nicolau II, que foi feito Tsar em 1894, era
homem fraco e estava sob a influência dos seus tios; prometeu reformas,
mas não cumpriu sua palavra, pois em 1893 foi publicado um decreto
mandando que os filhos dos stundistas fossem tirados dos pais e criados
por pessoas pertencentes à Igreja Ortodoxa. Havia perseguições aos judeus
e muito deles foram mortos.
0 espírito de liberalismo crescia, e havia organizações revolucionárias
formadas, mas o governo continuava a sua opressão. Os estrangeiros
porém tinham mais liberdade e até os menonitas (batistas alemães)
continuaram livremente. O Dr. Baedeker, da Inglaterra, obteve licença para
viajar para todas as partes da Rússia e da Sibéria, visitando as cadeias,
pregando o Evangelho e distribuindo a Palavra de Deus. Os batistas
receberam mais consideração do que os stundistas. A Igreja Batista era
mais organizada e o governo pensava que podia melhor fiscalizar ou vigiar
as suas atividades. Os stundistas não eram um corpo organizado. As
reuniões dos alemães na Rússia foram chamadas "Stunden" e o nome
"stundistas" foi dado por desprezo aos russos que se reuniam para a leitura
da Bíblia e oração. Estes grupos de crentes espalhavam-se por toda a parte
da Rússia, e cresciam apesar das perseguições. Os "menonitas" eram
descendentes dos alemães batistas que recusavam levar armas, e foram
convidados pela Imperatriz Catarina para animar o trabalho da lavoura na
Rússia no século XVIII. Foram proibidos de evangelizar os russos, mas a
Palavra de Deus desta fonte espalhava-se.
Em 1905 houve uma guerra entre a Rússia e o Japão, e a Rússia foi
derrotada, trazendo muita confusão ao governo. O povo clamou por
reformas e o Tsar viu-se obrigado a conceder liberdade de consciência e
culto, e o cruel Procurador foi demitido. Havia uma onda de entusiasmo, e
as reuniões de evangelização ficavam cheias de ouvintes. Esta liberdade
não durou muito tempo, porque o governo, recuperando mais uma vez o
seu poder, e sentindo-se mais seguro, cessou as concessões, e a
perseguição começou de novo.
No ano de 1914 rebentou a Grande Guerra. A Rússia entrou nela com
muita confiança, mas estava mal preparada, e devido à corrupção interna
que se apoderara de toda a sociedade, da política e dos oficiais do governo.
O Tsar no começo da guerra baniu sem processo, milhares de crentes,
pastores batistas e muitos políticos para a Sibéria, onde ficaram até a
revolução, que rebentou em 1917. Então os exilados voltaram. O
imperador, com seu governo, e a Igreja Ortodoxa na Rússia, caíram todos
juntos. O novo governo era comunista e ateísta. Os nobres e proprietários,
foram mortos ou tiveram de fugir, e milhares deles, criados na riqueza e no
luxo, foram obrigados a trabalhar em terras estrangeiras por uma pitança.
O imperador Nicolau, a imperatriz, suas filhas e o único filho, foram
fuzilados todos juntos. O governo comunista tem procurado extinguir todo
o sinal de cristianismo, perseguindo a religião grega, a católica e a
evangélica. Tem proibido a entrada da Bíblia no país. Entretanto, os
crentes continuaram secretamente com suas reuniões, e o governo não tem
podido extinguir a fé deles. A esperança agora (1941) é que a guerra atual
traga mais liberdade de culto aos crentes, e que as Escrituras mais uma
vez possam entrar na Rússia, para salvação e felicidade do seu povo.

FINLÂNDIA

O povo da Finlândia fora "convertido" ao cristianismo em 1157 pelo
rei da Suécia, que veio com um exército e um bispo (católico) conquistando
e depois batizando os finlandeses. O país ficou sujeito ao Governo da
Suécia, e seu rei Gustavo Adolfo fez muitas reformas e benefícios na Finlândia,
fundando escolas e edificando igrejas. Mais tarde, nas guerras entre
a Suécia e a Rússia, a Finlândia passou a pertencer à Rússia (1809).
Graças ao bom Imperador Alexandre I, os finlandeses mantiveram suas leis
e constituição, com certa independência, tendo muito mais liberdade
religiosa e política do que a mesma Rússia, mas os finlandeses eram mais
civilizados e mais bem educados do que os russos. Em 1899, o governo do
Tsar abrogava a constituição, e governava a Finlândia, ditatorialmente,
enchendo o país de espiões e da polícia russa. Esta condição durou até a
guerra entre a Rússia e o Japão em 1905, quando o Tsar se sentiu
obrigado a restaurar a liberdade, a esse país, devido a greve por parte dos
operários no país. Mas o Tsar não era sincero e gradualmente, procurava
sempre oprimir a Finlândia.
Depois da grande Guerra, a Finlândia foi separada e tornou-se
independente. Desde aquele tempo, o país progrediu rapidamente e o
Evangelho tem feito bom progresso. A igreja principal é ainda a Luterana,
mas outras denominações evangélicas trabalham ali também.

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