Vidas de Jesus


A vida de Jesus e a busca pela compreensão ao Jesus histórico e ao Cristo apresentado nas páginas da Bíblia têm produzido uma prodigiosa literatura em termos de volume. O propósito deste artigo é o de apresentar um breve esboço da literatura envolvida. Alguns poucos livros representantes são alistados:
1.  Os Evangelhos. Estão em foco os três evangelhossinópticos e o evangelho de João. Os evangelhos mesclam a história pessoal de Jesus com a sua mensagem. Ver o artigo acerca do Problema Sinóptico,bem como a introdução a cada evangelho. Não há razão alguma para supormos que os evangelhos não narraram essencialmente aquilo que Jesus foi e fez. A grande questão não é a da historicidade. Antes, consiste em como ele fez o que fez, ou seja, qual era a sua verdadeira natureza.
2.  O Diatessaron, a Harmonia dos Evangelhos deTaciano. A palavra grega diatessaron significa «através de quatro». Trata-se do exame dos quatro evangelhos, procurando pô-los em harmonia, uns com os outros, no tocante às suas apresentações da história da vida de Jesus. É impossível a produção de uma harmonia totalmente satisfatória, porquanto os escritores sagrados fizeram seleções dentre um número muito maior de ocorrências na vida de Jesus. «Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro…» (João 20:30). Contudo, essa atividade não é inútil, porquanto tem produzido excelentes resultados. Papias informa-nos que Marcos não alistou os eventos da vida de Jesus necessariamente em ordem cronológica. Ê mesmo provável que grande parte da seqüência histórica se tenha perdido para sempre. Isso não significa que o relato dos incidentes (ainda que nem sempre em sua ordem cronológica exata) não seja fidedigno, ou que tenha sido fraudulentamente narrado. Os grandes acontecimentos produzem um forte impacto sobre a mente humana. Assim, embora um grande número de anos se tenha passado entre os eventos da vida de Jesus e o registro, por escrito, desses eventos, a memória das testemunhas oculares não se embotouapreciavelmente. Por outra parte, o Senhor Jesus garantiu de antemão a assistência de seu Santo Espírito: «…mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito» (João 14:26).
3.  Durante os primeiros séculos do cristianismo, o cristianismo ortodoxo, ao que tudo indica, não sentiu qualquer necessidade de produzir um exame histórico da vida de Jesus. Por outra parte, houve muita teologia sistemática e muita teologia dogmática.
4.   A obra de Ludolf (falecido em 1377), Vita Christi, apresentava uma vida de Jesus que enfatizava opietismo medieval.
5.   Incrível é que a reforma protestante não tenha produzido livros individuais sobre a vida de Jesus. Mas, houve muitos comentários bíblicos que, naturalmente, incluíam esse tipo de material históri­co.
6.  Várias vidas de Cristo, produzidas por diferentes autores, foram publicadas por eruditos alemães, a partir do século XVIII, mas, apareceram em maior número no século XIX. Essa atividade foi feita em preparação e como parte da inquirição (ou negação) sobre o Jesus histórico. Gotthold Phraim Lessing(1729—1781) aplicou métodos críticos à fé cristã e aos documentos históricos do cristianismo. Léssingpublicou uma obra póstuma de Reimarus, intituladaSobre o Propósito de Jesus e de Seus Discípulos. Em contraste com a forte ênfase sobre o aspecto sobrenatural, esse livro procurava dar uma explicação puramente racionalista sobre as coisas registradas nos evangelhos. O elemento miraculoso foi posto em dúvida. H.E. Paulus (1828) deu continuação a esse tipo de exame. David F. Strauss tentou interpretar o relato sobre Jesus do ponto de vista mitológico (1835). Ele pensava que o conceito de mito provia uma síntese entre o sobrenatural e o racional. Entrementes, homens como Ewald e Neander (ver os artigos sobre eles) continuaram a defender o elemento miraculoso dos relatos bíblicos.
A obra de Renan, Vida de Jesus (1863), dependeu da obra e das idéias de Strauss e de F.C. Baur (1847). Estranhamente, ele eliminava o quarto evangelho, como se não tivesse qualquer valor histórico. Weisse(1838) e Wilke (1838) demonstraram a prioridade histórica do evangelho de Marcos. T. Kein produziu uma maciça obra sobre a vida de Jesus (1867—1872), onde o evangelho de Marcos e Q (vide) foram salientados como fontes históricas. — Esse foi o começo do desenvolvimento da discussão sobre oProblema Sinóptico (vide). O ceticismo e o racionalis-mo produziram um Jesus ideal, um homem agradável aos estudiosos do século XIX, de tendências racionalistas, que não tinha muita conexão real com o Jesus histórico. Albert Schweitzer percebeu quão fútilera essa atividade, embora tivesse exagerado os aspectos escatológicos da mensagem de Jesus (1901). Temos apresentado um esboço mais completo sobre essa questão, com ideias e esforços específicos envolvidos, no artigo sobre o Jesus Histórico.
7.   Obras Correntes sobre a Vida de Jesus. Essas obras modernas podem ser divididas em quatro categorias: a. Vidas harmonizadas, como a de David Smith, The Days of the Flesh (Os Dias da Carne) (1905). b. Vidas críticas, como as de S.J. Case (1927), M. Gogel (1933) e Charles Guignebert (1935). c.Estudos que rejeitam a possibilidade de uma recuperação histórica acurada da vida de Jesus, preferindo enfatizar a carreira e os ensinamentos de Cristo, procurando encontrar nisso alguma significa­ção: Wernle (1918), Debelius (1939) e C.C. McCown. Este último escreveu The Search for the Real Jesus (A Busca pelo Jesus Real) (1940). d. Os eruditos conservadores, naturalmente, formam uma quarta categoria, tendo eles produzido narrativas sobre a vida de Jesus, nas quais o elemento histórico dos evangelhos é aceito como fidedigno, e aquilo que ele disse e fez é aceito como vital para a fé e a prática cristãs.

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