Jesus Histórico


1.   A Criação de Problemas
A critica moderna tem criado o problema do Jesus histórico, em contraste com o Jesus teológico (celestial ou metafísico). Essa atividade, quando atinge proporções radicais, faz o Jesus teológico reduzir-se a  uma invenção do cristianismo, além de assegurar-nos que essa atividade foi tão radical que nos é praticamente impossível descobrir como Jesus era, realmente, com base nos documentos bíblicos que atualmente possuímos. Em nosso artigo sobre Jesus, seção I,Identificação, damos os principais pontos de vista históricos, considerando o que deveríamos pensar sobre Jesus. O ponto f., Liberal,fornece*nos algumas coisas que se relacionam ao presente artigo, visto que os chamados eruditos liberais é que tem levantado e discutido a questão do Jesus histórico, em contraste com o Jesus teológico.
2.   Obras Clássicas
O problema do «Jesus histórico» foi levantado,de  forma gráfica, por Albert Schweitzer, em sua obra clássica, The Quest of the Historical Jesus, «A inquirição pelo Jesus Histórico». Parte dessa obra alicerçou-se sobre o trabalho de Herman SamuelReimarus (1694—1768), mestre de idiomas orientais em Hamburgo, na Alemanha. Esse estudioso procurou distinguir o que Jesus realmente teria dito, daquilo que os apóstolos escreveram subsequentemente. De acordo com essa obra, Jesus julgava ser o Messias dos judeus; mas, após a sua morte, seus apóstolos transformaram-no em uma figura celestial, e o seu tencionado reino terreno foi por eles guindado à posição do reino celeste de Deus. Reimarus, segundo sabemos, era influenciado pelo deísmoinglês (vide), e sob hipótese alguma não era um intérprete preconcebido. O deísmo supõe que as leis naturais cuidam das coisas, e que Deus é pordemais transcendental para imiscuir-se na história humana em qualquer sentido direto. Por conseguinte, o elemento miraculoso, por exemplo, não é interpretado pelo deísmo como dotado de bases históricas.
3.   Obras dos Racionalistas
As obras desses homens foram seguidas por vários livros acerca da vida de Jesus, e cujo intuito era eliminar o elemento miraculoso, atribuindo qualquer declaração mais admirável sobre Jesus aos seus apóstolos, como criações deles. O racionalismo, pois, estava trabalhando a pleno vapor, e os homens expressavam ali uma fé meramente racional. Eles perderam o contato com a experiência humana mística, de acordo com a qual ocorrem coisas realmente admiráveis, supondo que somente porque não tinham qualquer experiência incomum, essas experiências, na verdade, não existiam. Essa atitude nem é histórica e nem é científica.
David Friedrich Strauss (1808—1874) muito falava sobre os mitos existentes nos evangelhos, em seu livro Vida de Jesus, e isso se tornou uma posição popular, em alguns círculos liberais. Deveríamos reconhecer as contribuições de tais homens, porquanto foram eles que elaboraram estudos no campo da historicidade, não se ocupando com a mera teologia dogmática. Eles deixaram sua contribuição, apesar de suas respostas negativas, que dificilmente reconhecem Jesus como a grande figura que ele, indubitavelmente, foi. Nosso padrão nunca deveria ser «aquilo que esperamos» que possa acontecer. A vida de Jesus demonstrou que, constantemente, ele fazia o que os homens não esperavam que ele fosse capaz de fazer. Foi precisamente por esse motivo que ele deixou marcas imortais sobre a existência humana. Dificilmente poderíamos atribuir esse fato somente aos ensinamen­tos de Jesus. Antes, ele foi uma poderosa figura, que realmente realizou aquilo que os escritores dos evangelhos disseram que ele fez. Por que motivo duvidaríamos disso? Os homens, em nossos próprios dias, estão repetindo os milagres de Jesus!
Os teólogos sistemáticos liberais, Albrecht Ritschl e Wilhelm Herrman, e o historiador liberal, Adolfvon Hamack, lançaram-se à tarefa de demonstrar a existência de certa distinção entre a história e a fé. Essa é uma tarefa dificílima, porque requer, basicamente, que o Jesus dos evangelhos seja substituído por uma figura humana na qual ainda podemos exercer fé, e cujo exemplo podemos seguir, mas que pouco ou nada tem a ver com a visão que os apóstolos tinham de Cristo. Todavia, indagamos por que motivo os apóstolos ter-se-iam dado ao trabalho de inventar e propagar uma figura que eles sabiam não corresponder à personagem de Jesus de Nazaré. A obra de Renan, Vida de Jesus, foi escrita praticamen­te com essa mesma atitude, como também o livro de J. R. Seeley, Ecce Homo, «Eis o Homem». Schweitzer, entretanto, foi sábio o bastante para perceber que o Jesus inventado por aqueles homens era apenas uma visão idealista do que eles pensavam que o homem natural é capaz de realizar, e não um registro histórico válido do que Jesus, realmente, foi. Em outras palavras, aqueles homens fizeram exatamente aquilo que tinham acusado os apóstolos de terem feito: eles inventaram vários Jesus, de acordo com suas próprias imaginações. Tanto Schweitzer quanto outros críticos chegaram a crer que o Jesus idealizado no século XIX era um modelo religioso mais aceitável do que a figura do Jesus verdadeiro, ao qual não podiam aceitar porque, segundo eles, era por demais estranho a este mundo. Schweitzer enfatizava os elementos escatológicos da mensagem de Jesus, com prejuízo e obscurecimento de todos os demais elementos de seu ensino.
4.   O Cristo Histórico e o Jesus Histórico
Martin Kahler criticou violentamente o pressuposto fundamental de alguns eruditos, de que o Jesus histórico foi o Jesus real. Seu livro, publicado em 1892, intitulado, The So-CalledHistorical Jesus and the Historical Biblical Christ, «O Chamado Jesus Histórico e o Cristo Bíblico Histórico», contém o seu argumento essencial. Para ele, o que é histórico refere-se àquilo que podemos aprender através dos métodos seguidos pelos historiadores, os quais sempre podem ser defeituosos, ou, pelo menos, parcialmente errôneos. Por outro lado, uma pessoa ou aconteci­mento seria histórico por causa do poder e dos efeitos produzidos sobre os homens e sobre o futuro deles. Dadas as alternativas entre o chamado Jesus histórico, e o Cristo histórico,Kahler preferia este último. O Cristo histórico, segundo ele proclamava, é o Cristo real. Para ele, a busca pelo Jesus histórico não passaria de uma ruela sem saída, como tantas outras questões históricas. Ele chegava ao extremo de declarar que essa inquirição pode até mesmo obscurecer a nossa compreensão sobre o Cristo vivo. Ele cria que Jesus era diferente de nós quanto à espécie, e que todos os métodos que podem ser usados para revelá-lo têm sido e continuarão sendo fracos. Ademais, ele acreditava que numerosos erros penetraram nos relatos dos evangelhos, subservientes aos propósitos dos escritores sagrados. Em outras palavras, Kahler não respeitava esses autores como historiadores; e nem se sentia satisfeito diante daquilo que eles escreveram. Ele se preocupava muito mais com o evento e com a pessoa históricos que estabelecem reais diferenças nas vidas dos homens. O Cristo histórico transpareceria muito bem no N.T. sem precisar das armadilhas da historicidade.
5.   Critica da Forma
De acordo.com essa teoria, os evangelhos oferecem esboços de vários tipos, acerca de como Jesus falava e agia. Foi feita a tentativa para retraçar os tipos de atitudes mentais ou tipos de relatos que teriam explicado o registro dos evangelhos em forma escrita. Ver o artigo Crítica da Bíblia, quarto ponto, quanto a um estudo completo sobre essa questão. A nossa principal critica a essa posição é que essa maneira de interpretar a vida de Jesus, apesar de algum valor óbvio, é que, de acordo com ela, o intérprete se vê por demais envolvido em seu próprio subjetivismo, ao passo que os escritores dos evangelhos aparecem como exageradamente envolvidos na mecânica da transmis­são, e não no relato daquilo que, para eles era uma narrativa vívida e admirável. Além disso, essa posição também exagera as possibilidades de mitos, memórias imperfeitas e seleções preconcebidas de material, com vistas à promoção a interesses pessoais e da Igreja em geral, como se os escritores sagrados não tivessem nenhuma vontade de anunciar, admirados, aquilo que Jesus realmente disse e fez. Essa posição também negligencia a essência dos registros de testemunhas oculares de admiráveis ocorrências, que assinalam, de maneira forte e gráfica, a memória daqueles que falaram a esse respeito. Todos nós temos passado por experiências que «parecem que aconteceram ontem», visto que os eventos importantes e dramáticos conferem-nos uma memória vívida deles, para sempre. Ê a vida rotineira, de todos os dias, que se perde nos arquivos das memórias meramente triviais.
6.   A Autenticidade dos Relatos Sobre Milagres
Esses milagres são bem modernos, e não antigos.
Fazem parte da experiência humana, embora não ocorram a todos os instantes. Alguns eruditos têm intelectualizado e provincializado a fé cristã. O que não se ajusta ao racionalismo deles é automaticamen­te rejeitado. E as racionalizações deles alicerçam-se sobre as suas experiências religiosas limitadas e provinciais. Muitos homens têm experimentado o que é incomum e miraculoso. Isso faz parte das experiências humanas místicas, tanto quanto as questões intelectuais e a manipulação das mesmas. A vida humana não é apenas intelecto e racionalidade; envolve, igualmente, o que é místico. A experiência humana é muito variegada e admirável. Não é histórico negar o elemento miraculoso na vida humana, negá-lo é anti-histórico e anticientífico.
«É impossível eliminar a maioria dos relatos de milagres, nos evangelhos, como se fossem meros acréscimos posteriores às narrativas. Ê verdade que alguns desses relatos exibem um estágio de desenvol­vimento avançado, nas tradições, mais do que outros relatos—alguns deles são muito mais circunstanciais e pormenorizados, e contêm referências laterais a questões posteriores. Entretanto, refletem um mesmo e único caráter, por parte Daquele que os realizou, e isso serve de principal sinal de autoridade e poder desses relatos» (AM). Ver o artigo separado intituladoMilagres.
7.    Karl Barth: Teologia Dialética
Karl Barth salientava ainda mais que Kahler, a ideia do Cristo da fé (o Cristo histórico). O seu comentário sobre a epístola aos Romanos, em certo sentido, foi uma revolta contra o liberalismo teológico. Ele ensinou uma teologia de crise ou teologia dialética,que exalta a Palavra de Deus como uma manifestação daquilo que é radicalmente diferente do homem, que se tornou humanamente conhecido na pessoa de Jesus Cristo. Ele ensinava que os evangelhos são meras tentativas hesitantes de revelar o que é o Totalmente Outro. Barth acreditava qué os estudiosos liberais têm ido longe demais em sua humanização da fé cristã e do Cristo anunciado pela fé cristã e, assim sendo, passou a convocar os homens de volta à autoridade da revelação bíblica como base da fé que aceita a verdade sem racionalizações. Ele ensinava que a fé religiosa necessariamente envolve paradoxos (vide), visto que todos os meios de tentar revelar o Totalmente Outro fracassam, até certo ponto. Para ele, a polaridade é um princípio muito importante. Ver o artigo intitulado Polaridade. As teologias sistemáticas geralmente negligenciam um pólo e enfatizam somente o outro pólo. Isso pode ser visto no fato de que o calvinismo esquece-se ou distorce os versículos que aludem ao livre-arbítrio humano, ao passo que o arminianismo negligencia ou distorce os versículos que aludem à soberania de Deus. Outrossim, há a Infinita Palavra de Deus, a verdadeira Palavra de Deus, acerca da qual qualquer documento sagrado escrito é um mero reflexo. Ver os artigos separados sobre Barth, Karl; Dialética, Teologia da; Polarida­de; Paradoxo; Neo-ortodoxia. Karl Barth enfatizava a Palavra que nos chega por meio da Bíblia, e acreditava que ela requer uma fé inquestionável de nossa parte, bem como perfeita obediência, sem as contradições das atividades racionalistas dos homens.
8.    Rudolf Boltmann: a Demitização
A sua publicação, intitulada O Novo Testamento e a Mitologia (1941) provocou grande agitação no mundo bíblico e teológico. De acordo com ele, os escritores do Novo Testamento tentaram retratar como eles entendiam as suas próprias existências, em vez de retratarem objetivamente a realidade. Isso posto, no Novo Testamento, temos um grande âmago de mitos que fala sobre realidades religiosas, mas que, com frequência, é não*histórico ou mesmocontra-histórico. A história ficaria em segundo plano, -e os ensinamentos religiosos seriam apresentados por meios simbólicos. As tentativas humanas de falar acerca de Deus seriam expressas por meio de mitos e representações. Esses mitos tratariam da relevância do evangelho, mas de uma maneira tal que fica sacrificada a sua historicidade essencial. Assim sendo, precisamos examinar os mitos, reconhecê-los naquilo que eles são e, desse modo, obter algum discernimento quanto à historicidade, embora os resultados, ainda assim, sejam pobres. Quanto a detalhes sobre essas questões, ver os artigos separados sobre Bultmann, Rudolf e Demitização.Bultmann descobriu que qualquer inquirição verdadeira para descrever o Jesus histórico é impossível, e até mesmo ilegítima. Contudo, ele acreditava que importantes coisas acerca da obra e da pessoa de Jesus podem ser conhecidas por nós. Isso viria através da kerygma, «pregação» ou «mensagem», similar a Palavra de Barth, mas nunca através da pesquisa histórica. Ele renunciou à pesquisa do século XIX, que procurava definir a personalidade de Jesus, conferindo-lhe descrições psicológicas. Pois, apesar de podermos determinar certos fatos básicos sobre a sua história (sem entrarmos em detalhes, o que só nos envolveria no erro), essa atividade não é muito importante. O que realmente importa é a sua kerygma, a mensagem, a Palavra de Cristo.
9.    A Nova Inquirição pelo Jesus Histórico
Os eruditos do século XX têm frisado acontinuida­de entre o Jesus da história e o Cristo da tradição. O que havia em Jesus que levou a Igreja cristã a considerá-lo o Cristo? Ernst Kasemann, em sua preleção intitulada O Problema do Jesus Histórico(1953), e Gunther Bomkamm, em seu livro, Jesus de Nazaré, embora apresentando estudos tão diferentes entre si, concordaram pelo menos quanto a dois pontos: a. É quase impossível escrever uma verdadei­ravida histórica de Jesus. b. Por outro lado, é fatal à fé religiosa permitir que o ceticismo nos leve a desencorajar-nos totalmente do interesse pelo Jesus terreno, uma posição da qual Bultmann chegou bem perto. Deveríamos continuar interessados no Jesus que viveu na terra, investigando os aspectos históricos dos evangelhos e a base da fé cristã. As duas obras mencionadas não expõem novas idéias, sobre o que mais sabemos sobre o Jesus histórico, mas tão somente tentam manter abertas as portas para o interesse e a pesquisa, o que é um novo ponto de vista, em comparação com o que pensava Bultmann. Parte dessa nova inquirição consiste na ênfase posta não sobre nomes, lugares, harmonia de eventos particula­res, etc., e, sim, sobre o significadodas ocorrências, ainda que talvez tenham sido apresentadas por escrito de modo incorreto. A atenção é enfocada sobre a tarefa a que Jesus se entregou, a sua personalidade, e o que essas coisas deveriam significar para nós. Essa nova inquirição, na verdade, é uma espécie de retomo à inquirição original, que trocou o Jesus idealista dos liberais (inventado por eruditos do século XIX) pelo Jesus existencial, inventado por Bultmann, e que os seus estudantes e discípulos continuaram tentando descrever.
10.    Contradição Inglesa ao Ceticismo Alemão
Quase tudo quanto ocorreu antes, nesse campo, reflete aspectos do ceticismo alemão, que se manifesta de diferentes modos. Todos estão prontos a admitir a erudição detalhada e notável dos eruditos alemães. Porém, eles são caracterizados por um pronunciado ceticismo. Os eruditos ingleses, como um todo, embora não totalmente divorciados dessa atitude, não aceitaram em grande extensão, várias formas da abordagem germânica, como, por exem­plo,& crítica de forma. Além disso, os ingleses têm-se mostrado mais otimistas acerca da possibilidade de se obter (ou de já se ter obtido) um conhecimento genuíno a respeito do Jesus histórico. Por certo, isso nos faz pensar em uma disposição racial, o que se reflete nas igrejas evangélicas estabelecidas na Alemanha e na Inglaterra. A Igreja Anglicana nunca acompanhou até muito longe o liberalismo alemão (com algumas notáveis exceções), e nem jamais favoreceu o fundamentalismo radical. Ela prefere seguir um curso intermediário entre esses extremos, tendo demonstrado uma notável tolerância para com outros grupos cristãos e seus pontos de vista, sem sentir a responsabilidade de concordar com este ou aquele grupo.
11.    A importância do Relato dos Evangelhos
Embora aquilo que os harmonistas têm feito algumas vezes tenha chegado às raias do ridículo, é inútil tentar divorciar o Cristo histórico do Jesus histórico, como alguns têm feito. Isso alicerça-sesobre a ausência de fé, supondo que simplesmente porque alguém não experimentou pessoalmente o que é miraculoso, então é que o miraculoso não existe. A história da religião, antiga e moderna, bem como a experiência humana no campo do misticismo, demonstram que o miraculoso é uma realidade, a despeito das distorções, fraudes e errôneas interpreta­ções a que os homens o têm sujeitado. Também não deveríamos permitir que a falta de entendimento dos homens, sobre a natureza de Cristo, obscureça o fato de que o Logos estava em Jesus, e saiu a realizar maravilhas extraordinárias. Isso transparece com clareza nos registros dos evangelhos, e foi confirmado por inúmeras testemunhas. Eis a razão pela qual os antigos (e também os modernos) encontram tanta dificuldade para explicar a pessoa de Jesus Cristo. Ele era, realmente, diferente de nós, pois, do contrário, não haveria qualquer dificuldade na tentativa de explicá-lo. Ver o artigo sobre Jesus, seção I, Identificação, que mostra os variegados meios que têm sido empregados para explicar o que Jesus era e fez. Porém, o problema real não consiste em saber se ele fez o que fez e era o que disse que era. O evangelho informa-nos fidedignamente sobre essas coisas. O problema real consiste em explicar o como.Isso nos envolve em uma pesada teologia, e a cristologia (vide) é o resultado dessa atividade.
12.   A Realidade do Elemento Miraculoso
Em primeiro lugar, deveríamos entender que o verdadeiro milagre é a própria pessoa de Jesus, e não tanto o que ele fazia. Pois o que ele fazia resultava daquilo que ele era. Assim, nossa primeira investiga­ção deveria girar em torno da pessoa de Cristo, e não em tomo de suas realizações. Em segundo lugar, importa reconhecermos a realidade de suas admirá­veis obras. Pessoas bem informadas sabem que, em algum lugar, agora mesmo, muitas coisas miraculosas estão acontecendo. Os céticos, porém, nunca acredi­tam, sem importar o que suceda. Para eles, nenhuma evidência é suficiente. Existe o que se poderia chamar de mente fechada, que não crê sob hipótese alguma. Agostinho salientou que o ceticismo leva os homens às reais trevas espirituais, impossibilitando assim a fé. Os eruditos, envolvidos em seu intelectualismo,têm feito muitas contribuições que nos beneficiam em nosso conhecimento e em nossa maneira de viver. Porém, as pesquisas eruditas podem ser efetuadas em uma atmosfera distante da vida religiosa de todos os dias. Há muita coisa, na tradição mística, que fala em favor da verdadeira espiritualidade, e que se manifesta naquilo que é miraculoso. Ver sobreMisticismo. Milagres estão ocorrendo a cada dia. Nesta enciclopédia há um artigo sobre Satya Sai Baba, um homem que está duplicando milagres feitos por Cristo. Disse Satya Sai Baba: «Não há como a ciência poder investigar-me». Julgo que há nisso uma verdade que se aplica, supremamente, a Jesus Cristo. Os homens caem no ceticismo quando se defrontam com mistérios para os quais não há lugar em seus sistemas mentais. Todavia, deveríamos lembrar que o elemento miraculoso não serve de prova da veracidade de posições teológicas, pois esse elemento aparece nos mais variegados círculos, religiões e lugares. Todavia, o elemento miraculoso demonstra que precisamos de maiores definições sobre a vida do que aquelas que nos são oferecidas pelos céticos e incrédulos.

Um comentário:

Ivani Medina disse...

Somente na mente de crentes e em benefício da própria fé, a história da origem do cristianismo pode ser acolhida como se apresenta. É contada no Novo Testamento, e apenas nele existe. Portanto, nada há de científico no seu acatamento. Trata-se de um ato de imposição política.
Toda essa conversa de “Cornélio Tácito, respeitado historiador romano do primeiro século, escreveu: “O nome [cristão] deriva-se de Cristo, a quem o procurador Pôncio Pilatos executou no reinado de Tibério.” Suetônio e Plínio, o Jovem, outros escritores romanos daquela época, também se referiram a Cristo. Além disso, Flávio Josefo, historiador judeu do primeiro século, escreveu sobre Tiago, a quem identificou como “o irmão de Jesus, que era chamado Cristo”. Não vale meio centavo furado. Por quê?
Porque, inicialmente, nenhum dos primeiros apologistas cristãos se referiu a nenhuma dessas “provas” fabricadas posteriormente ou a partir do século IV. Por quê?
Porque o cristianismo surgiu no século II e a “história” contada e situada na Palestina no século I é pura invenção. Oh! Não pode ser! Pode sim. Lembra de que nos primórdios havia uma contenda entre os cristãos? Pois então, Uns queriam um Cristo espiritual e outros um Cristo de carne e osso, o “histórico”. Os primeiros aspiravam pelo aprimoramento espiritual do indivíduo na luta contra o judaísmo. Os segundos estavam determinados a vencer e subjugar o judaísmo. Para tanto necessitavam de uma ligação mais convincente com a cultura judaica. Mais por quê?
Porque nos primeiros séculos o proselitismo judaico avançava perigosamente sobre a cultura greco-romana e o número de convertidos plenos crescia de forma preocupante. A pressão de certa camada das classes altas pressionava o governo a tomar uma atitude e assim foi feito. O imperador Adriano (117-138) proibiu a circuncisão em todo o Império, um dos principais motivos da guerra contra os judeus, de 132.
A conversão ao judaísmo seguia passos obrigatórios que levavam tempo. No final do processo o prosélito era circuncidado e somente a partir daí era aceito como membro da nação de Israel. Isto significa que a aceitação dos pagãos, em especial gregos e romanos, pelo judaísmo era ampla e perigosa para a cultura dominante na época. Todavia, o sucessor de Adriano, Antonino Pio (138-161), relaxou um pouco as medidas antijudaicas, mas manteve a proibição da circuncisão sob pena de morte somente para não judeus. Daí uma legião de prosélitos incircuncisos, que jamais seria aceita na nação de Israel, recebe atenção de uma nova religião alegadamente surgida de uma seita judaica que havia abolido a circuncisão e a rigidez mosaica abrindo concorrência com o judaísmo real.
Detalhe: quem eram esses divulgadores ou propagandistas dessa nova religião?
Judeus reformistas insatisfeitos com o judaísmo tradicional? Não. Eram gregos na maioria e uns poucos latinos, os mais incomodados com o proselitismo judaico, a liderar tal iniciativa.
É só pensar um pouquinho: pelo teor das suas mensagens, Jesus, precisava ser judeu? Não. Por que os fariseus (defensores do judaísmo ortodoxo) foram tão esculachados pelos evangelhos e os judeus em geral pela história cristã? Por que a crucificação do personagem Jesus foi creditada aos malévolos judeus? Essa é uma história de ódio. Engana-se quem quiser. O Jesus histórico é uma invenção da ala vitoriosa do cristianismo primitivo na ânsia de submeter o judaísmo e a nossa cultura não quer que isto apareça se não ela se ferra. Pronto.