Texto Grego do livro de Atos


Não existe outro livro, em todo o N.T., que exiba tão numerosas e importantes variantes, nos manuscri­tos gregos existentes, bem como nas versões, como o livro de Atos dos Apóstolos. Podem-se distinguir dois níveis diferentes de texto:
1.  O chamado texto neutro (conforme se acha nos manuscritos papiros A, B, Aleph, versões Vulgata, Peshitta siríaca e nos escritos dos pais gregos da igreja Clemente de Alexandria, Orígenes e Crisóstomo), também denominado «alexandrino» (por não ser demonstração de preferências e aberrações «locais», o que explica o seu apodo «neutro» ou alexandrino, porque preserva a tradição alexandrina, que geral­mente é reconhecida como «mais» original do que as demais tradições). O termo que mais se tem preferido, para indicar esse tipo de texto, é «alexandrino», apesar de «neutro» ser a designação mais antiga.
2.   O texto ocidental (que inclui o codex D, as antigas versões latinas e siríacas, e citações feitas pelos pais ocidentais da igreja, como Irineu, Tertuliano, Cipriano e Agostinho, o qual representa um texto mais longo, com variantes nas seguintes passagens: Atos 1:2,5; 4:18; 5:15,18,39; 6:10; 7:24; 8:24,37,39; 9:4,5,7,8; 10:25; 11:2,17,27,28; 12:10,23; 13:33,43; 14:2,7; 15:2,5,20; 16:4,35,39; 17:15; 18:21,27; 19:1,9,15; 21:16,25; 23:15,23,24,27; 24:6- 8,10,24,27; 25:24,25; 27:1; 28:16,19,29,31).
Essas variantes (que não aparecem no tipo de texto «neutro» e que podem ser examinadas nas referências dadas no parágrafo acima, são tão numerosas que alguns eruditos têm pensado que o livro original de Atos circulou em duas edições—talvez ambas as edições lançadas por Lucas, ou uma como edição posterior à outra. Nesse caso, os estudiosos têm defendido o tipo de texto «alexandrino» como o mais primitivo, mas outros têm dado suas preferências ao tipo de texto «ocidental». Friedrick Wilhelm Blass era de opinião que a versão original de Lucas se assemelhava mais ao tipo de texto «ocidental», e que uma edição do mesmo, após ter passado pelas mãos da comunidade cristã de Roma, circulou francamente a partir daquele centro. Porém, Lucas teria enviado igualmente uma outra versão, revisada por ele mesmo, um tanto mais breve, a qual seria a versão «alexandrina», que esse autor designou como «alfa». As outras versões ele chamou de «beta» e «ocidental». (Ver Acta).
Essa teoria, entretanto, não tem sido bem acolhida pelos críticos textuais. Pois não é muito provável que um autor fizesse a revisão de seu livro, reduzindo as suas informações históricas, eliminando importantes descrições ou incidentes interessantes. O ponto de vista defendido pela maioria dos críticos modernos, portanto, é que a edição «ocidental» do livro de Atos na realidade é o tipo neutro revisado, corrigido e expandido por algum escritor de tempos bem remotos, ou por editores que possuíam conhecimento específico de elementos geográficos ou outros, que circundam os acontecimentos ali descritos. Parte dessa revisão «ocidental» visa efeitos de harmoniza­ção, como se vê em Atos 9:5,6 (uma expansão do texto comum), e foi tomada de empréstimo do trecho de Atos 22:10; como também as passagens de Atos 26:14 e 13:33, que são a simples adição da citação baseada em Sal. 2:7,8. O trecho de Atos 18:27 pode ter sido um empréstimo feito da passagem de I Cor. 16:12. Outras adições visam conferir maior exatidão quanto às questões de tempos e datas, como Atos 1:5, sobre o Pentecoste; Atos 5:21, que fala em «levantando-se cedo» e Atos 12:1, que diz «que pertenciam à igreja na Judéia». Mas há variantes que parecem ter sido feitas por motivo de mera alteração de estilo. Essas formas de variantes subentendem que a revisão «alexandrina» do texto é a mais primitiva.
O texto chamado ocidental, apesar de ocupar posição secundária, na realidade fornece-nos algumas informações históricas autênticas, muito interessan­tes, como os «sete degraus», em Atos 12:10; ou como os prisioneiros de «Trogílio», em Atos 20:15 («Trogílio» era uma localização geográfica) que foram entregues pelo centurião ao «stratopedarch».

Nenhum comentário: