Teoria do Duplo Aspecto (Monismo; Dualismo Aparente)


Spinosa. Para ele, o real manifesta-se como extensão (res extensa), ao que chamamos de matéria. Mas também manifesta-se como mente (res cogitans). Logo, o corpo físico e a mente são atributos do real. São modalidades de uma única energia.
«Se substância-Deus-natureza é algo absolutamente infinito, deveria ser caracterizado por um número infinito de atributos. Spinoza descobriu apenas dois atributos: pensamento e extensão. Contudo, ele supunha que esses dois atributos podem ser aplicados a tudo quanto há na realidade, pelo que, em certo sentido, estão em toda parte».
Não haveria verdadeira interação entre a extensão e o pensamento. E também, não haveria substâncias separadas. Haveria apenas modos de manifestação do real. O real (Deus) programou-os para que sejam paralelos em todas as coisas, e a interação entre essas duas coisas é apenas aparente. Para cada evento material, haveria um evento mental paralelo; para cada evento mental, haveria um evento físico paralelo. E concordam entre si porque expressam o mesmo real, embora não interajam como substâncias separadas. Esse ponto de vista, como é evidente, leva a um determinismo absoluto. A realidade não poderia ser diferente do que é, visto que todas as coisas estão em Deus e são de Deus, absoluta e imutavelmente.
Uma pessoa è uma energia dotada de modos de expressão mental e física; mas esses modos não são inerentemente diferentes um do outro, e nem são independentes.
Uma Possível Teoria Científica do Duplo Aspecto. Podemos abandonar com segurança o panteísmo, embora preservando a ideia do duplo aspecto. Imaginemos que a matéria é tão lata em suas manifestações que inclua aquilo que chamamos de mental e de físico. A alma pode ser atômica, de algum modo, embora ainda não compreendamos de que maneira. Pode ser capaz de uma existência separada, embora atômica, como se dá com a matéria. Ou, então, o átomo não é a base de tudo, embora seja um modo ou manifestação de energia psíquica, energia essa que é mais básica. A energia psíquica, por sua vez, pode ser um modo ou manifestação da Mente divina. Nesse caso teríamos uma cadeia formada pela Mente divina, pela energia psíquica, e por uma concentração de energia psíquica, o átomo. De acordo com a primeira teoria, expressamos o materialismo, mas um materialismo tão amplo que inclui aquilo que atualmente chamamos de espírito. De acordo com a segunda teoria, expressamos o idealismo, mas um idealismo tão abrangente que inclui o que agora chamamos de matéria. Seja como for, mente e corpo não seriam fundamentalmente diferentes. Todavia, em consonância com essa teoria, há uma genuína interação, e não uma interação programada, como se vê no panteísmo de Spinoza. Contudo, a interação dar-se-ia entre dois modos da mesma substância.
A Teologia Mórmon:
A doutrina dos mórmons afasta-se dos ensinamen­tos do cristianismo bíblico quanto a alguns pontos vitais. Filosoficamente, podemos classificar a ideia mórmon da realidade como um materialismo pluralista. Apesar deles crerem que alma e corpo são coisas diferentes, para todos os propósitos práticos, a alma compor-se-ia de matéria refinada. «O espirito ocupa espaço, tem localização, e, pelo menos em princípio, não é totalmente diferente da matéria em seu caráter» . O que dissemos sobre a alma, também pode ser dito sobre Deus. Ele tem uma localização temporal e espacial, e a sua essência é descrita em termos do que é material, e não em termos do que é imaterial.
Sendo essa a posição do mormonismo, no tocante ao problema corpo-mente podemos falar segundo foi dito acima. Ao materialismo é conferida uma definição tão ampla que inclui aquilo que normal­mente denominamos de espírito. O” mormonismo, pois, reflete essa teoria filosófica particular, quanto ao problema corpo-mente.
N.B. — A teoria do duplo aspecto de Spinoza, que é uma teoria panteísta, é um paralelismo. Não admite uma real interação entre supostas essências distintas e separadas. Porém, as demais formas da teoria do duplo aspecto, apesar de insistirem sobre a existência de uma única substância, ainda assim ensinam uma verdadeira interação entre os modos de manifestação dessa substância única. Consequentemente, elas envolvem um dualismo prático, mas um monismo teórico.
Avaliação e Criticas:
1.    Sua teoria da identidade de todas as coisas em uma só essência, como é claro, não passa de uma especulação metafísica, estando, pelo menos por enquanto, fora de nossos meios de investigação.
2.   Sua eliminação da substância não-material pode ser ilusória. Há algumas coisas significativas que podem ser ditas em favor do dualismo.
3.    Dentro da tradição filosófica e religiosa, a ideia chamada unidade da verdade poderia favorecer a teoria do duplo aspecto. Os homens tendem por dividir e dissecar. Visto que temos aparentes eventos mentais e eventos fisicos, falamos em termos de matéria e de espírito. Mas a verdade da questão pode ser uma unidade inerente. Nesse caso, matéria e espírito seriam, na verdade, modos de expressão de uma e a mesma coisa, coisa essa mais básica que seus dois modos. As definições atuais da matéria e do espirito podem tornar-se absolutas, uma vez que o nosso conhecimento progrida até o ponto em que sejamos capazes de definir, com maior precisão, o real. Essa definição pode afastar-se completamente do conceito que o átomo é a base da realidade. Ou poderá demonstrar propriedades inesperadas do átomo, capazes de explicar aquilo que antes se chamava espírito.
4.       A filosofia grega começou pela busca da compreensão do um, o elemento básico e subjacente que sustentaria todas as coisas. Não podemos ter certeza se Tales de Mileto e os outros filósofos milesianos estavam falando em termos materialistas ou em termos pampsiquistas. No caso da teoria do duplo aspecto, somos deixados com o mesmo dilema. As pesquisas futuras talvez consigam solucionar esse dilema, mostrando-nos que essa abordagem não era a verdadeira vereda.

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