Por favor, não interprete minha preocupação de forma errada. Não é à inovação em si que eu me oponho. Reconheço que os estilos de adoração estão em constante mudança. Também reconheço que, se um Puritano do século XVII entrasse na Grace Community Church (a igreja que pastoreio), é bem provável que ele ficaria chocado ao ouvir nossa música, e, provavelmente, espantado ao ver homens e mulheres sentados juntos, e talvez perturbado ao ver que utilizamos aparelhos de som para falar à igreja. Spurgeon não gostaria de nosso órgão. Porém, não sou favorável a uma igreja estagnada. Não sou preso a este ou àquele estilo de música ou liturgia. Essas coisas, em si mesmas, não são questões abordadas nas Escrituras. Nem ouso pensar que minhas preferências em tais assuntos superam o gosto dos outros. Não alimento qualquer desejo de fabricar regras arbitrárias a fim de governarem o que é aceitável ou não nos cultos da igreja. Fazer isso seria a própria essência do legalismo.
Minha contenda é contra uma filosofia que relega a Deus e à sua Palavra um papel secundário na igreja. Creio que colocar o entretenimento acima da pregação bíblica e da adoração no culto da igreja é contrário às Escrituras. Oponho-me àqueles que acreditam que as habilidades humanas podem conquistar pessoas para o reino de Deus com maior eficácia do que o Deus soberano. Essa filosofia abriu as portas da igreja para o mundanismo.
“Não me envergonho do evangelho”, disse o apóstolo Paulo (Rm1.16). Infelizmente, “com vergonha do evangelho” parece uma descrição, a cada dia mais exata, de algumas das mais conhecidas e influentes igrejas de nossa época.
Vejo paralelos impressionantes entre o que hoje está acontecendo nas igrejas e o que aconteceu há um século. Quanto mais leio a respeito daquela época, tanto mais me convenço de que estamos vendo a história se repetir. Nos capítulos deste livro, salientarei características do evangelicalismo do final do século passado que correspondem às questões contemporâneas. Desejo concentrar minhas atenções em um episódio da vida de Spurgeon que se tomou conhecido como “A Controvérsia do Declínio”. Por isso farei constantes citações dos escritos de Spurgeon a respeito dessa controvérsia.
Tenho pelo menos duas coisas em comum com Charles Spurgeon: ambos nascemos no dia 19 de junho; e, como eu, ele pastoreou uma mesma igreja durante quase todo seu ministério. Quanto mais leio seus escritos e suas pregações, tanto mais sinto um espírito análogo.
Entretanto, em hipótese alguma me vejo como um homem igual a Spurgeon. Com certeza, na história do idioma inglês jamais surgiu qualquer outro pregador com a mesma capacidade para falar, a mesma habilidade em pregar a mensagem divina com autoridade, a mesma paixão pela verdade e o mesmo domínio da arte de pregar, aliado a um conhecimento tão profundo de teologia. Ele também foi um pastor por excelência, possuidor de uma capacidade inata para liderar. Pastoreando em épocas turbulentas, enchia seu auditório, com capacidade para 5.500 pessoas, várias vezes por semana. A apreciação que seu próprio rebanho lhe votava manteve-se inalterada até a sua morte. Eu me assento aos pés dele, e não ao lado dele.
Com certeza, não desejo suscitar o tipo de contenda que Spurgeon suscitou na Controvérsia do Declínio. O próprio Spurgeon culpou a controvérsia por sua morte. Ao viajar para a Riviera francesa, para um descanso, em 1891, ele disse a amigos: “Essa controvérsia está mematando”.7 Três meses depois, veio, da França, a notícia que Spurgeon havia morrido. Ele não procurou a briga. Mas, ao recusar-se a comprometer o que ele cria serem convicções bíblicas, não pôde evitar a controvérsia que resultou.
Controvérsia, para mim, é algo repugnante. Aqueles que meconhecem pessoalmente afirmarão que não gosto de qualquer tipo de disputa. Por outro lado, há um fogo que reside em meu ser constrangendo-me a falar abertamente sobre as minhas convicções bíblicas. Não posso ficar quieto quando há tanto em jogo.
É com essa atitude que ofereço este livro. Espero que ninguém o considere como um ataque a qualquer pessoa ou ministério em particular. Ele não é. Trata-se de um apelo à igreja como um todo em questões de princípio, não de personalidades. Embora sabendo que haverá discórdia generalizada com relação a maior parte do que escrevi, procurei escrever sem ser ofensivo.
Há questões a respeito das quais muitas pessoas têm convicções profundas. Quando tais questões são abordadas — em especial, quando as opiniões são apresentadas sem rodeios — as pessoas, às vezes, ficam zangadas. Eu não escrevo manifestando zanga; e solicito a meus leitores que recebam esta obra no mesmo espírito com o qual a escrevi.
Minha oração é que este livro estimule e desafie a sua maneira de pensar, de tal forma a impelir você às Escrituras “para ver se ascousas” são, “de fato, assim” (At 17.11). Oro para que o Senhor livre Sua igreja do mesmo tipo de deslizamento, ladeira abaixo, o qual levou a igreja ao mundanismo e à incredulidade e exauriu seu vigor espiritual há cem anos.
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