Segundo Tessalonicenses


Esboço:
I. A Igreja em Tessalônica
II. Autoria, Autenticidade e Relação com I Tessalonicenses
III. Data e Proveniência
IV. Motivos e Propósitos
V. Temas Centrais
VI. Conteúdo
Posto que as duas epístolas aos Tessalonicenses foram escritas na mesma época, em geral dotadas de muito do mesmo conteúdo, o presente artigo não pode ser reputado completo sem a leitura do artigo sobre a primeira epístola aos Tessalonicenses, devendo ser considerado apenas como um suplemento. O leitor é levado a lembrar-se das afirmações introdutórias que tratam sobre as várias epístolas da coletânea paulina, procurando situar essas duas epístolas entre as mesmas no que concerne tanto à sequência cronológica como no tocante à sua autenticidade. Deve-se notar que, com a exceção possível da epístola aos Gálatas, essas duas epístolas são os escritos mais antigos do apóstolo Paulo, o que também faz delas os livros mais antigos do próprio NT.
I.   A Igreja em Tessalônica
Este tema é igualmente a primeira questão a ser discutida na introdução à primeira epístola aos Tessalonicenses. O estado geral daquela comunidade cristã continuava estacionado, pois certamente Paulo escreveu esta segunda carta pouco tempo depois da primeira, quando ainda se achava em Corinto, onde passou dezoito meses. Todavia, a julgar pelo conteúdo desta segunda epístola, pode-se perceber que certos problemas, em vez de tenderem para a solução, se tomaram mais graves. Por exemplo, os “ociosos” e “desregrados”, que procuravam viver às custas da igreja local ou de seus parentes, não procurando emprego, desculpando-se de sua indolência em face da proximidade do segundo advento de Cristo, o que tomaria desnecessário o trabalho – se tinham tomado ainda mais desordeiros. Por conseguinte, foi mister que Paulo os censurasse ainda mais severamente do que fizera na primeira epístola, tendo chegado a ordenar à igreja local que negasse comunhão com aqueles elementos. Mui provavelmente, aquela gente começara a viver de forma tão desordenada que tinha revertido às suas antigas bebedeiras e boêmias pagãs, além de outros pecados de excessos. (Comparar isso com I Tes. 4:11 e ss, e com II Tes. 3:10 e ss, para que se note a diferença nas atitudes, que haviam piorado). Mas aquela comunidade cristã continuava mantendo vívido interesse pelo segundo advento de Cristo para breve. Entretanto, parece que alguns de seus membros tinham pervertido esse ensinamento apostólico, dizendo que tal acontecimento já ocorrera, ou que era de se esperar para dentro de um período excessivamente curto. E isso, evidentemente, provocara alguma agitação na igreja de Tessalônica. Paulo, pois, escreveu esta segunda epístola aos Tessalonicenses a fim de acalmar as águas agitadas.
Talvez o ponto mais importante a notar, no tocante à igreja de Tessalônica, em face dessas duas epístolas de Paulo, seja a teoria exposta por Adolph Hamack (“Das Problem des zweiten Thessalonicherbriefs” Berling: George Reijer, 1910). Essa teoria estipula que a primeira dessas epístolas foi dirigida, principalmente, ao ramo gentílico da igreja, ao passo que a segunda foi escrita à seção judaica. As narrativas de Atos 17:1,2,4 e 18:4 mostram-nos que havia, realmente, um grupo judaico. Essa teoria foi proposta a fim de explicar algumas dificuldades atinentes à teoria, sendo abordada com maior amplitude na seção seguinte a esta introdução. Se essa teoria está ao lado da verdade, ficaria provado o fato de que aquela comunidade cristã se compunha de dois elementos bem distintos, e também que o elemento judaico tinha considerável poder, por ser numericamente forte. Por outro lado, a falta total do problema “legalista” (que era uma praga em Corinto, em Roma e na Galácia), e que provocara as longas explicações paulinas sobre a doutrina da justificação pela fé, além de várias reprimendas contra seus oponentes, parece sugerir-nos que o elemento judaico na comunidade cristã de Tessalônica era pequeno e essencialmente destituído de influência, a menos, naturalmente, que aqueles judeus convertidos tivessem ficado inteiramente convencidos sobre a veracidade da doutrina de Paulo. Porém, isso não é muito provável, pois em nenhuma outra localidade Paulo conseguiu conquistar para seus pontos de vista, mui facilmente, os judeus, depois de muitos anos de lealdade às tradições judaicas.
II.   Autoria, Autenticidade e Relação com I Tessalonicenses
A primeira epístola aos Tessalonicenses tem sido aceita de modo virtualmente universal, e em todos os séculos, como livro de autoria paulina. E essa aceitação também era conferida a esta segunda epístola aos Tessalonicenses, até os tempos modernos, quando várias dificuldades foram levantadas pelos estudiosos, as quais são expostas em forma de esboço, como segue:
A. Para começar, temos de considerar o problema mais difícil de todos, a ênfase escatológica dessas duas epístolas. O trecho de I Tes. 4:13 e ss declara que a Parousia (vide), isto é, a segunda vinda de Cristo (ver I Tessalonicenses 4:15), era esperada para breve, se não para imediatamente, sem quaisquer sinais precedentes, Mas a passagem de II Tes. 2:1-12 declara, de forma igualmente enfática, que aquele dia não seria cumprido imediatamente, mas antes, que seria precedido por vários sinais e acontecimentos, como, por exemplo, o aparecimento do Anticristo. Pelo menos superficialmente, esses dois ensinos são claramente contraditórios. E apesar desta segunda epístola aos Tessalonicenses assim mesmo indicar que o segundo advento de Cristo é para breve, pois o “mistério da iniquidade” é visto como algo que já opera, todavia, essa vinda não pode ser encarada como “iminente”. E diversos métodos têm sido empregados para explicar essa diferença sobre pontos de vista escatológicos, conforme a apresentação dessas duas epístolas, a saber:
1.   Talvez a explanação mais popular da Igreja evangélica de hoje em dia consista em dizer que a primeira epístola aos Tessalonicenses aborde a questão do “arrebatamento da Igreja”, que seria realmente iminente, não requerendo qualquer sinal antecedente, ao passo que na segunda dessas epístolas, o “segundo advento de Cristo, em glória”, a fim de julgar, estaria em foco, o qual seria precedido por diversos sinais, incluindo o período da tribulação e a vinda do Anticristo. A dificuldade com esse ponto de vista é que o exame dos termos usados em ambas as epístolas são idênticos, e que a única diferença se dá dentro do elemento do “tempo”, isto é, se a segunda vinda de Cristo deve ser reputada como iminente ou não. A passagem de II Tes. 3:2 usa as palavras dia de Cristo, que é uma expressão comum para indicar a “parousia”, aplicada por toda a parte para indicar a expectação dos crentes. (Ver Fil. 1:10 e 2:17, por exemplo). A passagem de I Tes. 5:2 usa a expressão “dia do Senhor”. Poderíamos esperar que essa expressão fosse usada para aludir ao dia do juízo, pois, no AT, ela é seguidamente usada com esse significado. No entanto, quando examinamos essas expressões, como o dia de Cristo (ver Fil. 1:10), “dia de Jesus Cristo” (ver Fil. 1:6) e “dia do Senhor” (ver II Tes. 2:2), percebemos que elas foram utilizadas como expressões sinônimas. Além disso, pode-se observar o modo de usar a expressão “dia”, nos capítulos quarto e quinto da primeira epístola aos Tessalonicenses, onde não se nota qualquer distinção no que esse dia se aplica aos crentes ou aos incrédulos, quanto ao “período de tempo” em que o mesmo ocorrerá, a despeito das imensas diferenças de seus “efeitos”. Um mesmo dia apanhará alguns sonolentos e outros despertos. Na verdade, a distinção quanto ao “tempos” surgiu na mente dos estudiosos nos últimos cento e cinquenta anos. A questão inteira é discutida com abundância de detalhes, com argumentos favoráveis e contrários, nas notas expositivas em I Tes. 4:15 no NTI. (Ver o artigo sobre a Parousia). Pode-se asseverar, portanto, que a distinção entre o “arrebatamento da Igreja” e a “segunda vinda de Cristo”, como explicação para as diferenças sobre pontos escatológicos, entre a primeira e a segunda epístola aos Tessalonicenses, não é muito adequada. (Ver o artigo sobre Dia do Senhor).
2.   Outros eruditos supõem que a primeira epístola aos Tessalonicenses tenha sido escrita para a porção gentílica da Igreja, e que a segunda dessas epístolas tenha sido escrita para a porção judaica. Porém, mesmo admitindo ser isso uma verdade – embora não haja real motivo para aceitar tal idéia – o problema de por que Paulo teria ensinado uma escatologia para os gentios e outra para os judeus permanece um mistério. Que não havia problemas legalistas na comunidade cristã de Tessalônica é prova suficiente de que a divisão judaica ali existente era pequena e relativamente destituída de poder de influência.
3.   Além disso, poderíamos supor que o próprio Paulo tenha mudado de maneira de pensar, ou que talvez tivesse duas opiniões ao mesmo tempo, hesitando entre uma e outra; ou então, poderiam ter-lhe sido dadas algumas
revelações adicionais sobre o Anticristo, depois que escreveu a primeira epístola aos Tessalonicenses, o que modificou suas opiniões sobre a iminência do retomo de Cristo. Se não admitirmos tal modificação, então, simplesmente, ficamos abraçados com um mistério sobre por que ele expôs dois pontos de vista diferentes para a mesma comunidade cristã.
4.   Há intérpretes que simplesmente veem uma solução na ideia de que algum discípulo de Paulo ou um cristão de séculos posteriores compôs em seu nome a segunda epístola aos Tessalonicenses, em um período da história quando os crentes começaram a perceber que a vinda de Cristo não ocorreria “imediatamente”; e assim esta segunda epístola teve por intuito corrigir o ponto de vista da primeira. Alguns crentes provavelmente começaram a pensar que a outorga do Espírito Santo, o alter ego de Cristo, fora, realmente, a vinda prometida.
5.   A solução mais satisfatória, porém, para vários estudiosos que se aferram à autoria paulina desta segunda epístola aos Tessalonicenses é que nada há de tão estranho assim em um autor sagrado defender duas opiniões aparentemente contraditórias, expressando uma delas numa oportunidade, para em seguida, oferecendo-se ocasião para tanto, começar a expor a outra opinião, também por razões adequadas.
6.   Para mim existe uma explicação ainda mais provável do que qualquer daquelas apresentadas acima. Luz do Velho Testamento: É claro, nas escrituras do V.T., que diversos profetas apresentam a primeira e a segunda vindas de Cristo sem qualquer distinção cronológica. Eles não compreenderam que estavam descrevendo dois acontecimentos. O avanço do processo histórico-espiritual e o cristianismo trouxeram o conhecimento de que o plano de Deus incluiria dois adventos. Paulo, estando longe do tempo do Segundo Advento, não tinha uma compreensão muito exata sobre os aspectos cronológicos daquele acontecimento futuro. Pode ser, então, que a vinda de Cristo para a Igreja, e a vinda para julgar o mundo, foram separadas por algum tempo, sem que as escrituras do Novo Testamento fizessem isto muito claro. Paulo, portanto, podia esperar o  arrebatamento da Igreja como se fosse sem sinais. Mas esta esperança foi um sentimento, não um dogma. Os cristãos do primeiro século, de modo geral, compartilharam este sentimento. I Tes. descreve o sentimento de iminência. II Tes. tem informação mais exata que assume a forma de um dogma. A informação é que a Igreja deve enfrentar o Anticristo. Naturalmente, isto quer dizer que certos sinais devem anteceder a vinda de Cristo para a Igreja (o arrebatamento). II Tes. e Apocalipse mostram que a Igreja deve enfrentar o Anticristo e, portanto, passar pelo menos parte da Grande Tribulação. Se a vinda de Cristo para a Igreja acontecer antes daquela para julgar, então a Igreja pode ser arrebatada antes dos sete anos tradicionais da tribulação. Mas a própria tribulação, quase certamente, durará bem mais do que estes sete anos, provavelmente 40 anos, o número místico e simbólico de provação. Os sete anos constituirão uma parte dos quarenta, e terão uma aplicação especial para a nação de Israel.
A substância do meu argumento é, então, que em I Tes. Paulo antecipava o arrebatamento da Igreja sem sinais, portanto, potencial e iminentemente. Mas esta esperança foi um sentimento, não um dogma. Em II Tes., Paulo demonstra um conhecimento mais avançado. A Igreja deve enfrentar o Anticristo. Este conhecimento torna-se um dogma. O Apocalipse confirma a verdade do dogma.
B. O próprio caráter da segunda epístola aos Tessalonicenses, em seu segundo capítulo, tem deixado os intérpretes perplexos, levando alguns deles a duvidar da autoria paulina. A forma de abordar a questão do Anticristo se destaca como absolutamente sui generis nos escritos de Paulo. Entretanto, a maioria dos eruditos rejeita a ideia de “interpolação”, porquanto tal capítulo se encaixa perfeitamente dentro da epístola, fazendo parte integral da mesma, e não sendo uma excrescência. E possível, a despeito disso, que certas doutrinas, até mesmo doutrinas importantes, pudessem encontrar caminho apenas uma vez para o interior de um grupo de epístolas, as quais, afinal de contas, foram apenas algumas dentre muitas. Pelo menos não há razão por que isso não poderia ter acontecido. As passagens de I João 2:18 e ss, e II João 7 mostram-nos que a tradição sobre o Anticristo já existia na Igreja primitiva. Alguns elementos da Igreja primitiva pensavam que Nero seria o Anticristo; e muitos deles, mesmo depois da morte daquele imperador romano, imaginavam que o Anticristo seria o Nero redivivo, ponto de vista esse defendido por alguns até hoje. Outros explicam a presença dessa seção do segundo capítulo da presente epístola como um pequeno apocalipse cristão, mas não composto por Paulo e, sim, apenas incorporado nesta sua epístola, e que encerrava algum pensamento contraditório com o daquele apóstolo, expresso em sua primeira epístola aos Tessalonicenses. Todavia, isso não passa de conjetura – provavelmente incorreta.
C.  Para alguns eruditos, a evidência forte, contrária à autoria paulina, não consiste nos problemas escatológicos, mas antes, na extrema semelhança de estilo e de linguagem entre a primeira e a segunda epístolas aos Tessalonicenses. Pois essas cartas são por demais parecidas em seu conteúdo, a ponto de despertar suspeita, excetuando o caso do pequeno apocalipse, constituído pelo segundo capítulo desta segunda epístola. Isso poderia indicar que um autor posterior copiou grandes porções daquela primeira epístola, ficando assim produzida uma epístola que é quase uma duplicata daquela; mas esse autor desconhecido teria acrescentado o que é agora o segundo capítulo desta segunda epístola e que versa sobre a segunda vinda de Cristo, a fim de contrabalançar a ideia da iminência de seu retomo. E aqueles que aceitam esse argumento como veraz salientam que a duplicação é quase sempre verbal, embora lhe falte algo, a saber, o calor normal e a afeição das expressões de Paulo. Assim teria sido criada uma “imitação”, com algumas modificações vitais, feitas por razões dogmáticas, e talvez em adaptação aos sentimentos cristãos de um período posterior, no tocante ao elemento do “tempo” da “parousia”, ou segundo advento de Cristo. Naturalmente, isso se dá no caso de todas as cartas forjadas, que com frequência incorporam porções extensas de escritos genuínos conhecidos do autor verdadeiro, para facilitar a imitação. (Ver Laodicenses, Epístola aos. Essa epístola forjada contém muitos elementos da epístola aos Filipenses, tendo sido ainda incorporadas ideias que aparecem em outros escritos paulinos, que nos são bem conhecidos, não passando de uma carta obviamente forjada).
Mas a diferença de tom tem sido explicada com base na teoria de que a primeira epístola aos Tessalonicenses foi dirigida à Igreja cristã gentílica, ao passo que a segunda epístola do mesmo nome foi dirigida à seção judaica da Igreja. Mas essa teoria não oferece solução adequada, pois por que razão Paulo seria tão obviamente caloroso para com os crentes gentios, e frio para com os crentes judeus, de uma única comunidade cristã? Além disso, a grande semelhança entre uma e outra dessas epístolas pode ser melhor explicada pelo pensamento de que Paulo empregou tipos estereotipados de expressão, visto que escrevia novamente para o mesmo grupo e já que falava sobre o mesmo assunto, com esclarecimentos mais profundos. Não é de admirar, pois, que tivesse usado as mesmas formas de expressão. Se o que dissemos no fim deste parágrafo é verdade, então ficaria demonstrado, pelo menos, que um grande autor ou um grande pregador, pode cair no mau estilo das repetições cansativas.
D.   Finalmente, tem sido salientado por alguns eruditos que as fortes tentativas de afirmação de genuinidade, conforme se vê em II Tes. 2:2,15, onde “epístolas anteriores” do apóstolo Paulo são mencionadas, vinculando esta àquelas, ou como o trecho de II Tes. 3:17, que é uma afirmação direta da autoria paulina, são tentativas artificiais e exageradas; e isso sob a alegação de que Paulo não tinha razão alguma para mostrar-se tão “apologético” acerca dessa questão, ante os crentes de Tessalônica. Portanto, esses críticos consideram essas tentativas de autenticação como esforços feitos, por algum escritor posterior, que teria escrito em nome de Paulo, e que queria que sua epístola fosse aceita mais facilmente com base na reconhecida autoridade daquele apóstolo. No entanto, há eruditos que veem nessas tentativas exatamente sinais da autoria paulina, pois, se tais tentativas não fossem genuínas, facilmente teriam sido reconhecidas como artificiais pelos seus primeiros leitores.
E.   Quando se trata de cartas tão curtas como I Tes. é fácil cair na armadilha de exagero sobre questões de estilo, conteúdo e vocabulário, fazendo mais de tais coisas do que uma quantidade tão pequena de matéria permite. Acreditamos que certos eruditos têm visto demais numa quantidade de matéria tão pequena, e seus argumentos contra a autoria paulina não são convincentes.
A despeito das dificuldades, a maioria dos estudiosos modernos continua defendendo a autoria paulina desta segunda epístola aos Tessalonicenses; e esta Enciclopédia trata essa epístola como um dos escritos genuínos de Paulo.
III.   Data e Proveniência
(Quanto a esse particular, ver uma discussão sobre a mesma questão, na seção III do artigo à primeira epístola aos Tessalonicenses). A maioria dos eruditos acredita que a data não pode ser fixada em muito depois da primeira epístola àquela comunidade, e que ambas foram escritas em Corinto, pelas razões aludidas nas notas referidas. Entretanto, alguns estudiosos têm chegado à estranha conclusão de que a segunda epístola aos Tessalonicenses foi escrita antes da primeira, tendo sido enviada àquela comunidade de Beréia, antes da viagem de Paulo para Atenas, e daí para Corinto. Entretanto, esse ponto de vista tem recebido pouquíssima atenção, sendo algo altamente conjectural, com pouca evidência sólida em seu favor. E muito difícil entendermos o trecho de II Tes. 2:1-12, exceto como tentativa de “corrigir” determinadas ideias que a comunidade cristã de Tessalônica chegou a ter, por causa da primeira epístola aos Tessalonicenses, a qual não foi bem entendida, sobretudo em seu estudo sobre a “parousia” ou segundo advento de Cristo. As referências de II Tes. 2:2 e 13 parecem referir-se ao retomo àquela primeira epístola. Além disso, a exposição acerca dos desordenados, em II Tes. 3:10 e ss, parece ser um ponto mais avançado na menção do mesmo problema, feito em I Tes. 4: 11, problema esse que, aparentemente, se tomara ainda mais crítico desde que fora escrita aquela primeira epístola. Estamos aqui manuseando os escritos mais antigos do apóstolo dos gentios, e também os escritos mais antigos de todo o NT, com a exceção única e possível da epístola aos Gálatas. Provavelmente a primeira e a segunda epístola aos Tessalonicenses podem ser datadas em cerca do ano 50 d.C., isto é, cerca de vinte anos passados da cena da crucificação e da ressurreição do Senhor Jesus Cristo.
IV.   Motivos e Propósitos
(Quanto ao material do pano de fundo sobre este particular, ver a exposição sobre o mesmo tema, na seção IV da primeira epístola aos Tessalonicenses). Após ter sido enviada a primeira epístola aos Tessalonicenses, cujo intuito foi o de corrigir certas ideias errôneas, bem como alguma conduta imprópria da parte de certos crentes tessalonicenses, Paulo continuou a receber, em Corinto, relatórios perturbadores acerca das condições daquela comunidade cristã. A questão da “parousia” ou dia do Senhor (a sua segunda vinda), continuava a ser tema intensamente referido, mas do qual alguns abusavam ou expunham pontos de vista errôneos. É bem provável que alguns daqueles crentes tivessem começado a dizer que o retorno de Cristo já ocorrera, podendo ser talvez identificado com o dom do Espírito; mas outros persistiam em exagerar sobre sua iminência, recusando-se a trabalhar e vivendo às expensas da igreja ou de seus parentes, além de se comportarem de forma desordenada. É verdade que aqueles crentes tessalonicenses tinham sido bem instruídos acerca dessa questão escatológica (ver o trecho de 1 Tes. 5:1,2; e ver igualmente II Tes. 2:5); mas as ideias errôneas persistiam, mesmo depois de haver sido recebida a primeira epístola aos Tessalonicenses. Por isso é que Paulo escreveu a presente segunda epístola aos Tessalonicenses, a fim de aclarar certos pontos expressos na primeira, dizendo ele que o dia de Cristo ainda não ocorrera, e que, apesar do retorno de Cristo ser para “breve” (provavelmente Paulo retinha a ideia que isso ocorreria estando ele mesmo ainda vivo na carne), não seria esse advento para “já”, pelo que também todos os crentes deveriam continuar a trabalhar normalmente. Foi também em face disso que Paulo incorporou a importante seção acerca do Anticristo, porquanto considerava o aparecimento do iníquo como um acontecimento necessário para antes do aparecimento do “dia de Cristo”. (Ver a seção II deste artigo, quanto a uma discussão sobre as dificuldades da suposta “contradição”, criadas pela primeira epístola aos Tessalonicenses, e por causa do que alguns eruditos têm chegado a duvidar da autoria paulina desta segunda epístola aos Tessalonicenses. Ver também os trechos de II Tes. 2:l-12e3:10ess, acerca de evidências em favor desses “motivos” da escrita desta segunda epístola).
“Parece (com base em II Tes. 3: 11) que todas essas questões haviam sido relatadas ao apóstolo, oralmente, por alguns daqueles que, na época, iam a Tessalônica e voltavam (ver 1 Tes. 1:7,9 e II Tes. 1:4), ou então da parte do portador desconhecido da primeira epístola aos Tessalonicenses (comparar com 1 Tes. 1:1 e 3:6), ou mesmo mediante uma carta recebida por eles (conforme é sugerido por James E, Frame). Não estamos certos acerca do canal ou canais informativos; mas as condições e as necessidades propriamente ditas são perfeitamente claras”. (Bailey, na introdução ao seu comentário sobre esta segunda epístola aos Tessalonicenses).
V.   Temas Centrais
A intensa ênfase escatológica prossegue, destacando-se sobretudo a volta de Cristo para breve, embora agora seja antecedida por certos acontecimentos, que servem de sinais, deixando assim de ser absolutamente iminente. A esse quadro profético é acrescentado o “pequeno apocalipse”, constante do trecho de II Tes. 2:1-12, que na realidade forma o tema central desta segunda epístola inteira. A ênfase sobre a necessidade de “santificação” continua; pois aqueles crentes viviam em meio a uma sociedade pagã, precisando eles ser constantemente relembrados acerca dessa particularidade. (Comparar os trechos de I Tes . 4:3 e II Tes. 2:13 entre si). Lemos agora que a santificação é o meio de salvação, porquanto a salvação realmente se vai concretizando através da santificação. Sim, pois ninguém verá ao Senhor Deus sem a “santidade” (ver Heb. 12:14); e isso como uma possessão real do indivíduo, e não meramente como questão “forense”. A ênfase sobre a ética prática, mediante o amor, tem prosseguimento (ver II Tes. 3:1-5); em seguida, a fortíssima reprimenda contra os “ociosos” e “desordeiros” (ver 11 Tes. 3:6 e ss) desenvolve o mesmo tema que é mencionado na passagem de I Tes. 4:11 e ss. O tema do “consolo debaixo das perseguições” é o tema da introdução, o que também se verifica no caso da primeira epístola aos Tessalonicenses. (Comparar II Tes. 1:4 e ss, com 1 Tes. 1:6,7 e 3:3 e ss). O fortíssimo tom apologético que transparece na primeira dessas epístolas, onde Paulo se defende de certas críticas que faziam a ele na comunidade cristã de Tessalônica, entretanto, se faz ausente nesta segunda epístola.
VI.  Conteúdo
I. Saudações (1:1,2)
II. Ação de Graças e Encorajamento (1:3-12)
1. Elogio à fé, ao amor e à constância (1:3,4)
2. Juízo de Deus contra os perseguidores e ímpios (l:5-7a)
3. Aparousia (l:7b-10)
4. Oração de Paulo por eles (1:11,12)
III. O Anticristo e os Eventos Anteriores à Parousia (2:1-17)
1. Repreensão contra os falsos ensinos (2:1-3 a)
2. Descrição sobre o Anticristo (2:3b-10)
3. Castigo dos que amam o erro (2:11,12)
4. Ação de graças pela chamada divina dos tessalonicenses (2:13-15)
5. Oração em prol da constância deles (2:16,17)
IV. Instruções e Oração Final (3:1-18)
1. Pedido de orações da parte deles (3:1,2)
2. Confiança de Paulo neles (3:3-5)
3. Severa advertência aos ociosos e desordenados (3:6- 15)
V. Bênção (3:16-18)

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