Primeiro Tessalonicenses


Esboço:
I. A Igreja em Tessalônica
II. Autoria
III. Data e Proveniência
IV. Motivo e Propósitos
V. Temas Centrais
VI. Conteúdo
VII. Bibliografia
Ver comentários sobre o corpus paulinus no artigo sobre Romanos, primeiros parágrafos da seção II. Normalmente, tem-se pensado ser correto situar I e II Tessalonicenses no início da tabela cronológica da coletânea paulina; mas existem bons argumentos para que situemos a epístola aos Gálatas nessa posição, porquanto é quase certo que ela foi escrita antes do concílio de Jerusalém, talvez tão cedo quanto 48 d.C. (Ver o artigo sobre Gálatas). Pelo menos I e II Tessalonicenses são anteriores a muitas outras epístolas; e mesmo que não tivessem sido os primeiros livros sagrados escritos de Paulo, devem ter sido grafadas depois de Gálatas, que foi a primeira de todas as epístolas paulinas. Portanto, podemos propor a seguinte ordem das epístolas paulinas, com suas datas respectivas: 1. Gálatas, em cerca de 48 d.C. I e II Tessalonicenses, em 50-51 d.C. 3. Então o grupo formado por Colossenses, Efésios e Filemom, em cerca de 54 d.C. 4. Após, I e II Coríntios e Romanos, em 54 – 57 d.C. (embora alguns estudiosos situem esse grupo tão cedo quanto 52 d.C.) 5. Filipenses, pois, caberia dentro do período do primeiro aprisionamento, c. de 61 a 63 d.C. 6. E as epístolas pastorais, isto é, I Timóteo, Tito e II Timóteo, nessa ordem, caberiam dentro do período geral do “segundo aprisionamento”, em 65-68 d. C.
I.  A Igreja em Tessalônica
A história da fundação da comunidade cristã de Tessalônica se acha em Atos 17:1-14. Paulo fundou essa igreja durante aquilo que chamamos de sua “segunda viagem missionária”, tendo partido precipitadamente de Tessalônica, talvez no verão do ano 50 d.C., após ter conquistado certo número de convertidos. Em Tessalônica, Paulo, Timóteo e Silas sofreram severas perseguições da parte dos judeus incrédulos e, debaixo de pressão, foram forçados a abandonar a cidade. Dali partiram para Beréia; depois, para Atenas. Mas a retirada precipitada dos obreiros do Evangelho deixou os membros da igreja de Tessalônica um tanto menos alicerçados nos ensinamentos cristãos, especialmente no que concerne às questões escatológicas, o que não podia satisfazer ao apóstolo dos gentios. Dessa circunstância, portanto, é que surgiu a necessidade desta epístola, porquanto também os problemas surgiram na comunidade cristã de Tessalônica assim que partiram dali os pregadores cristãos.
No trabalho evangelístico ali desenvolvido, Paulo fora acompanhado por Timóteo e Silas, e a epístola escrita aos Tessalonicenses mostra que todos os três apresentam a saudação, como aqueles que a enviavam; portanto, provavelmente “…esta epístola foi escrita não muito depois da partida do grupo evangelizador, O grupo viera de Filipos para Tessalônica, pois em Filipos já haviam sido acossados por várias perseguições. No entanto, chegaram com bom ânimo, dispostos a trabalhar, não demorando muito para que contassem com um pequeno grupo de convertidos, também em Tessalônica”.
Durante o período de evangelização em Tessalônica, o grupo se sustentou através de um trabalho manual árduo (ver I Tes. 2:9 e II Tes. 3:7b-8). (No tocante ao trabalho de Paulo como fabricante de tendas, ver as notas expositivas no NTI em Atos 18:3). Aquela área não gozava de economia tranquila, tendo a sua população passado por um período recente de fome; e a vida ali não era fácil. Mas Paulo não exigiu dos convertidos, como também nunca exigiu de quaisquer outros, o sustento financeiro, embora seja esse o direito dos ministros do Evangelho (ver ICor. 9:7-12,14). Todavia, Paulo e seus companheiros foram ajudados, em duas ocasiões, enquanto se encontravam em Tessalônica (ver Fil. 4:16); e a epístola aos Filipenses é, essencialmente, uma carta de agradecimento por isso. Tessalônica ficava cerca de cento e sessenta quilômetros de distância de Filipos, na Via Inácia, que corria diretamente para oeste, de Tessalônica para Pela, a capital e cidade provincial da terceira divisão daquela província, o que significa que as comunicações entre esses dois centros eram boas.
Apesar de que Tessalônica contava com numerosa população judaica, contudo, a igreja primitiva dali se compunha principalmente de pagãos que tinham abandonado os ídolos para abraçarem a fé cristã. Os trechos de I Tes. 1:9; 2:14,16; 4:5,9,10; 11 Tes. 2:13,14 demonstram isso. As passagens de Atos 17:1,2,4 e 18:4 mostram-nos que também alguns poucos judeus creram no Senhor, acompanhados por um numeroso grupo de gregos, além de muitas mulheres das melhores classes sociais. Isso despertou o ciúme e a inveja dos judeus incrédulos, que, finalmente, se lançaram em severa perseguição contra Paulo, contra seus colegas de evangelismo e contra a comunidade crista em geral. A severidade dessa perseguição, pois, forçou o apóstolo a abandonar a cidade muito antes do que tinha planejado.
Não sabemos dizer por quanto tempo Paulo ficou em Tessalônica. A narrativa do livro de Atos nos dá a impressão de que o período foi curtíssimo (cerca de três semanas); mas o fato de que houvera tempo de Paulo se ocupar de seu ofício (ver I Tes. 2:9), e também de receber donativos dos crentes filipenses por duas vezes (ver Fil. 4:16), mostra-nos que sua permanência ali deve ter coberto pelo menos alguns meses. Pode-se observar em tudo isso, como em muitos incidentes similares, que a cronologia lucana, no livro de Atos, não tem o intuito de ser exata; além do que faltam muitos detalhes, que podem ser supridos mais acuradamente pelas próprias epístolas de Paulo. É que Lucas não fora testemunha ocular de muitos dos acontecimentos das viagens missionárias de Paulo, tendo de depender de fontes informativas que lhe davam informes abreviados, os quais não serviam para registrar dados cronológicos exatos.
Outro bom exemplo sobre isso é a viagem feita por Timóteo, de Atenas para Tessalônica, sobre o que ficamos sabendo em 1 Tes.3:1-8. Foi em face do relatório um tanto adverso de Timóteo que esta epístola foi escrita para os crentes tessalonicenses, onde Paulo recomenda que permaneçam firmes em Cristo, mas onde, por semelhante modo, procurou solucionar alguns problemas que tinham surgido na igreja local, acerca do que Timóteo informara o apóstolo. No entanto, o livro de Atos omite tudo isso. Com base nesse livro, poderíamos tão-somente supor que Timóteo e Silas foram deixados primeiramente em Beréia, enquanto Paulo partiu para Atenas, e que, mais tarde, ajuntaram-se a ele em Atenas, mas sem qualquer idéia de uma viagem paralela a Tessalônica. (Ver Atos 17:14-16). (Ver o artigo sobre Tessalônica).
II.  Autoria
Os quatro grandes livros paulinos clássicos, que todos acolhem como autênticos, são Gálatas, Romanos, I e II Coríntios. Após essas epístolas temos Colossenses, Filipenses, Filemom e I Tessalonicenses, como quase indubitavelmente paulinas. F.C. Baur supunha que esta primeira epístola aos Tessalonicenses tenha sido escrita por algum discípulo de Paulo, com o propósito de reviver o interesse pela doutrina da “parousia” ou segundo advento de Cristo; e que esse discípulo atribuiu a autoria da mesma a Paulo, para emprestar-lhe maior autoridade. Mas isso tem sido reputado como uma curiosidade da história da crítica textual, que não é levada a sério pela vasta maioria dos eruditos. A própria epístola tem em seu subtítulo os nomes de Paulo, Silvano (Silas) e Timóteo; porque esses três haviam sido os fundadores daquela igreja, e continuavam juntos quando a epístola foi escrita, embora Paulo fosse o autor real da mesma. Nada existe na própria epístola, como conteúdo, estilo ou vocabulário, que nos sugira autoria não paulina. Por isso mesmo, sua autenticidade tem sido tão geralmente reconhecida, nos tempos antigos e modernos, que se torna supérflua qualquer discussão detalhada a respeito. A segunda epístola aos Tessalonicenses, por outro lado, encerra algumas coisas difíceis de explicar, sobretudo à base de certas doutrinas escatológicas que não parecem concordar com os pontos de vista gerais do apóstolo dos gentios. (Ver o artigo sobre Tessalonicenses, Segunda Epístola de Paulo aos, sob o título Autoria).
O cânon do NT, em seus primeiros passos, mais ou menos pela metade do segundo século da era cristã, já continha esta epístola. O cânon mais primitivo consistia de cerca de dez das epístolas paulinas e dos quatro evangelhos. (Ver o artigo separado sobre Cânon).
III.   Data e Proveniência
Em contraste com outras epístolas paulinas, não é difícil determinar a data da escrita desta epístola (embora se admita pequena margem de erro). É mister associá-la às circunstâncias registradas em I Tes. 11:7, em vinculação com Atos 17:13-16 e com o começo do décimo oitavo capítulo desse livro. É provável que no começo do verão de 50 d.C., ou mesmo antes, Paulo e seus companheiros tenham deixado Tessalônica apressadamente, sob a pressão dos perseguidores. A comunidade cristã dali não fora ainda bem firmada. O grupo evangelizador dirigiu-se a Beréia, e dali partiu para Atenas. Paulo enviou Timóteo de volta a Tessalônica (ver I Tes. 3:1-7), enquanto ele mesmo gostaria de tê-lo feito; mas foi impedido de retornar. (Ver I Tes. 2:18). A alusão de Paulo à “Acaia”, em I Tes. 1:7, indica que ele se encontrava naquela região quando escreveu esta epístola (isto é, achava-se em Corinto, uma das principais cidades do território). Timóteo foi ajuntar-se a Paulo em Corinto, trazendo-lhe o relatório das circunstâncias adversas em Tessalônica, o que motivou a escrita desta epístola. Podemos julgar, pois que esta epístola foi escrita em Corinto, em cerca do fim de 50 d. C. ou começo de 51 d.C. se excetuarmos a epístola aos Gálatas, pois, essa foi a primeira de todas as epístolas do NT. Há boas evidências de que Paulo chegou em Corinto na primavera de 50 d.C,, ou um pouco mais tarde, e que esta epístola aos Tessalonicenses foi escrita pouco depois. As evidências arqueológicas dizem-nos quando Gálio apareceu em Corinto. Relacionando a sua chegada à permanência de Paulo na cidade (ver Atos 18:12) podemos obter uma data relativamente segura para essa questão, a única data diretamente firmada pela arqueologia para os acontecimentos do livro de Atos.
IV.   Motivo e Propósitos
O que dizemos acima indica, de maneira regularmente clara, qual o motivo que ocasionou esta epístola. A retirada apressada de Paulo de Tessalônica não lhe permitiu firmar a comunidade cristã dali conforme ele desejava fazê-lo. Paulo havia ensinado àqueles crentes algumas doutrinas, incluindo a doutrina da “parousia” ou segundo advento de Cristo; e isso criara entre os tessalonicenses um vívido interesse. Também lhes ensinara algo sobre a ética cristã; mas não houvera tempo de desviá-los completamente dos vícios pagãos. Portanto, muito ainda havia a ser feito quanto a esse ensino. Não sendo capaz de ir pessoalmente a Tessalônica, Paulo enviou Timóteo para ver como aqueles crentes estariam progredindo. E se sentiu muito animado pelas notícias que Timóteo lhe trouxe na volta; talvez estivessem se conduzindo melhor do que ele esperava, sob tão duras circunstâncias. Mas os tessalonicenses crentes estavam sendo vítimas das perseguições, e isso provocou ansiedade no apóstolo, pois temia que se desviassem de Cristo em meio às dificuldades prementes. Ouvindo, pois, o relatório trazido por Timóteo, tendo tomado conhecimento da situação dos tessalonicenses, de suas vitórias e fraquezas, Paulo escreveu a epístola.
Esta epístola procura consolar os crentes de Tessalônica na tribulação; procura, igualmente, modificar seus pontos de vista sobre a lassidão nas questões sexuais; procura também instruí-los acerca da realidade e do significado da parousia ou segunda vinda de Cristo, além de procurar fornecer-lhes instruções morais sobre assuntos gerais, para que pudessem viver de uma maneira digna de sua vocação cristã.
Entre outras coisas, também parece que, na ausência de Paulo, alguns elementos haviam procurado solapar a influência de Paulo em Tessalônica (ver I Tes. 2:15-18); e essa atividade pode ser atribuída a adversários judeus do apóstolo. Assim sendo, o próprio Paulo assegurou-lhes que ele desejara retomar a Tessalônica e que não os estava negligenciando, mas que fora impedido por Satanás em seu propósito, através de circunstâncias fora de seu controle. Por conseguinte, enviou-lhes a Timóteo, para substituí-lo. (Ver I Tes. 3:1 e ss). O tom “apologético” desta epístola transparece especialmente em I Tes. 2:12, onde Paulo se defende de várias acusações, como se ele fosse insincero e usasse de palavras de lisonja a fim de obter suas finalidades, como se ele fosse mercenário e impuro. Essas serão sempre as formas de acusação que os inimigos assacam contra os pregadores do Evangelho, esperando destruí-los, juntamente com sua influência. Paulo nega a verdade de qualquer dessas coisas; e apresentar sua negativa foi um dos propósitos motivadores desta epístola. Paulo apela para a memória dos crentes tessalonicenses acerca de tudo quanto ele e seus companheiros tinham feito entre eles, a fim de refutar tais acusações.
V.   Temas Centrais
Paulo queria se defender de falsas acusações (ver I Tes. 1:9 e 2:1-13). Também queria encorajar aos crentes tessalonicenses sob a perseguição (ver 1 Tes. 2:14-16), assegurando-lhes que também vinha sendo perseguido. E queria instruí-los acerca de questões morais, mormente aquelas que se relacionam ao sexo e seu uso apropriado.
Os pagãos rejeitavam aqueles costumes dotados de mentalidade judaica, devido à sua lassidão sobre todas as questões acima, não sendo tarefa fácil fazer aqueles que vinham do paganismo adotar um ponto de vista sério sobre os pecados de natureza sexual. A maioria dos pagãos nada via de errado nas relações sexuais anteriores ao matrimônio; e apesar de que o adultério era condenado entre eles, mesmo assim era comumente praticado. Além disso, havia perversões comuns entre eles, como o homossexualismo, o que não era condenado em termos bem definidos, nem mesmo pelos melhores filósofos e moralistas pagãos. O trecho de Rom. 1: 18 até o fim, nos fornece um vívido quadro sobre o estado aviltado da moralidade pagã. Paulo, pois, exortou aos crentes tessalonicenses que buscassem uma santificação sincera. Além disso, os crentes de Tessalônica haviam compreendido mal a natureza e a significação da parousia ou segunda vinda de Cristo. Alguns deles pensavam que aqueles que tinham morrido, não tendo podido resistir até o retomo de Cristo, haviam desaparecido para sempre. E Paulo teve de mostrar-lhes que a segunda vinda de Cristo envolverá a ressurreição de todos os remidos, que nenhuma vida crente se perderá, mas antes, que todos os discípulos de Cristo obterão novo significado e nova estatura espiritual naquela oportunidade. (Ver I Tes. 4:13-18). Com base na doutrina da segunda vinda de Cristo, os crentes tessalonicenses são convocados a não “dormir”, como os outros, os quais praticam obras próprias das trevas, visto que eram filhos da luz e que estavam aguardando a grande Luz dos Céus, a saber, Cristo Jesus. Desse pensamento, pois, Paulo faz depender todas as suas instruções finais sobre a moralidade. (Ver 1 Tes. 4:4-28).
Esta epístola se reveste de tom altamente pessoal, pois satisfaz as necessidades locais. Por isso mesmo, não inclui grandes e elevadas declarações doutrinárias paulinas, como a justificação pela fé, por exemplo, com o apoio de textos extraídos das páginas do AT, principalmente porque o antigo problema do legalismo ainda não chegara a perturbar os crentes tessalonicenses.
VI. Conteúdo
I. Saudação (1: 1)
II. Ação de Graças e Defesa (1:2-3:13)
1. Ação de graças pela fé e constância deles
2. Trabalho de Paulo e conduta recente (2:1 -12)
3. Ação de graças pelo progresso do evangelho em Tessalônica (2:13-16)
4. Desejo de revisitar os tessalonicenses (2:17-20)
5. Timóteo lhes seria enviado (3:1-10)
6. Oração de Paulo quanto a eles (3:11-13)
III. Exortações e Instruções (4:1-5:28)
1. Pureza e amor (4:1-12)
2. A parousia e sua significação (4:13- 18)
3. Subitaneidade da vinda do Senhor (5: 1 – 11)
4. Ética prática (5: 12-22)
5. Oração pela igreja (5:23,24)
IV. Saudações e Bênção Final (5:25-28)

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