Reis I e II


I. Caracterização Geral
Os livros de I e II Reis, que formavam um único livro de acordo com o cânon hebreu, são livros históricos do Antigo Testamento, incluídos entre os profetas anteriores (que vide) ou seja, os livros de Josué até II Reis, que se seguem ao Pentateuco. Esses livros narram a história de Israel desde a conquista da terra de Canaã (século XIII A.C.) até & queda de Jerusalém, em 586 A.C. A história sempre foi importante para os hebreus. Nesses livros há um autêntico material histórico, conforme admitem até mesmo os mais liberais eruditos. Os livros de I e II Reis fornecem-nos a história de Israel desde os últimos dias de Davi e da ascensão de Salomão (cerca de 970 A.C.); até o aprisionamento do rei Jeoaquim, em uma prisão na Babilônia, por Amel-Marduque, em cerca de 561 A.C. Muitos estudiosos crêem que esses livros, conforme os temos atualmente, incorporam duas edições, a primeira das quais teria sido publicada em cerca de 600 A.C., escrita por um historiador deuteronômico e a segunda, que conteria material suplementar, relativo principalmente à nação do norte, Israel, que teria sido produzida cerca de cinqüenta anos mais tarde (ver sobre Data, abaixo). Esses livros mencionam várias fontes informativas, pelo que o autor sagrado, mesmo que tenha sido contemporâneo de alguns dos eventos historiados, foi, essencialmente, um compilador. Ver abaixo, sobre as Fontes Informativas. Os historiadores respeitam esses livros canônicos como obras sérias, embora supondo alguns que ali há um certo colorido, com propósitos pessoais e teológicos. Por serem complementares do livro de Deuteronômio, eles expõem os grandes ideais da doutrina deuteronômica, como a centralização de toda a adoração sacrificial no templo de Jerusalém, ou como a doutrina da retribuição divina segundo os feitos humanos, bons ou maus.
Esses livros recebem seu nome devido à palavra inicial, no texto hebraico, do livro de I Reis,wehammelek, isto é, «e o rei», bem como devido ao fato de que essa porção das Escrituras trata principalmente da descrição dos feitos e do caráter dos monarcas de Israel e de Judá.
II. Antigas formas Desses Livros
Na Bíblia em hebraico, esses dois livros formavam um único volume, ou rolo. A divisão do livro em dois, ocorreu na Septuaginta, por razões práticas. O hebraico, que era escrito somente com as consoantes, ocupa muito menos espaço do que o grego, que tem vogais como letras separadas. Quando esse livro foi traduzido para o grego, pois, ocupava tanto espaço que não era prático deixá-lo sob a forma de um só rolo ou volume. Por isso, foi dividido em duas porções. A divisão não apareceu na Bíblia hebraica senão quando Bomberg imprimiu a Bíblia! hebraica, em Veneza, em 1516-1517. Essa divisão também apareceu na Vulgata Latina impressa. Na Vulgata Latina e na Septuaginta, os livros de I e II Samuel, I e II Reis são tratados como uma história contínua, pelo que ali temos os livros de I, II, III e IV Reis. Embora a divisão entre I e II Reis seja totalmente arbitrária, tem sido preservada nas versões das línguas vernáculas. Essa arbitrária divisão corta bem pelo meio a narrativa sobre o reinado de Acazias. O primeiro capítulo de II Reis termina a narrativa sobre o seu governo. Ainda mais estranho é que a história do profeta Elias, e a unção de Eliseu, aparecem em I Reis; mas o final dramático do ministério de Elias aparece em II Reis.
III. Autoria
A tradição judaica piedosa, segundo é refletida no Talmude (Baba Bathra 14b) diz que Jeremias foi o autor desses livros. Essa idéia é defendida por alguns estudiosos com base no fato de que parte desse livro (II Reis 25:27-30; atribuída por alguns a um outro autor, que teria começado a escrever em II Reis 23:26) poderia ter sido escrita por Jeremias, para nada dizermos sobre a primeira porção, porquanto a tradição judaica afirma que Nabucodonosor levou esse profeta para a Babilônia, depois que aquele monarca conquistou o Egito, em 568 A.C. Na Babilônia, conforme prossegue a história, Jeremias morreu quando já tinha mais de noventa anos de idade. Segundo esse ponto de vista, a compilação em duas porções fica justificada (ver sobre Fontes, quarto ponto). E a avançada idade de Jeremias teria sido suficiente para satisfazer a cronologia envolvida. Naturalmente, precisamos depender da tradição, a fim de encontrar apoio para essa posição. E muitos duvidam da precisão dessa tradição. Por esse motivo, outros eruditos opinam que houve dois distintos autores-compiladores, defensores das tradições teológicas do livro de Deuteronômio, pelo que foram chamados de autores deuteronômicos.
A linguagem usada por Isaías, por Jeremias e pelo autor do livro de Deuteronômio assemelha-se à dos livros de Reis, por conterem um tipo comum de admoestação, de exortação, de reprimenda e de encorajamento, reiterando os mesmos grandes temas da centralização da adoração, no templo de Jerusalém, e da doutrina da retribuição divina, juntamente com uma rígida avaliação espiritual das personagens descritas nesses escritos. Os eventos ali registrados cobrem um período de quatrocentos anos; mas sabemos, com base nas fontes informativas usadas, que tudo foi um trabalho de compilação, em sua maior parte, e que o autor sagrado foi contemporâneo apenas de uma pequena parte dos eventos registrados. Mesmo que Jeremias não tenha sido o autor, é perfeitamente possível que, pelo menos, uma parte dos eventos tenha ocorrido durante a vida do autor sagrado. Provavelmente esse autor foi um profeta, o que se reflete no espírito profético com que esses livros foram escritos. Em cada geração do povo de Israel, parece que os profetas mostraram-se ativos, sempre intervindo na política da nação, e não apenas no culto religioso de Israel. Houve um número muito maior de profetas que escreveram narrativas, do que aqueles cujos livros foram incluídos no cânon hebreu. Ver os comentários sobreFontes, quarto ponto.
IV. Fontes
Com base em informes nos próprios livros de Reis, sabemos que a porção maior de I Reis (pelo presumível primeiro autor-compilador) dependeu pesadamente de fontes informativas já existentes:
1. O livro da história de Salomão (I Reis 11:41).
2. O livro da história dos reis de Israel (I Reis 14:19).
3. O livro da história dos reis de Judá (I Reis 14:29).
A primeira dessas obras era uma espécie de louvor a grandes homens, com o propósito de salientar a sabedoria, a magnificência e o resplendor do reinado de Salomão. Trata-se de algo similar às memórias dos reis persas. Todos os detalhes foram arranjados de tal modo que fazem os adversários de Salomão parecerem uns anões, em contraste com ele. As outras duas fontes informativas são mais históricas do que biográficas e elogiosas, provavelmente representando anais oficiais reais. Os hebreus sempre mostraram ser muito sensíveis para com a história, e esses anais fòram cuidadosamente compilados.
4.    Alguns eruditos propõem que os capítulos sexto a oitavo de I Reis constituam o reflexo de uma fonte informativa independente, provendo informações sobre a construção do templo de Jerusalém, sua forma de culto e sua dedicação, embora outros duvidem que isso corresponda à realidade dos fatos.
5.    Parece que o autor sagrado também tinha acesso a algum tipo de coleção de livros a respeito de Isaías, narrando sobretudo o tempo quando ele era amigo e conselheiro de certos reis (II Reis 18:13-20 e capitulo dezenove).
6.    A história do reino sobrevivente de Judá, mediante a soltura, no exílio, do rei Jeoaquim (II Reis 18 — 25) que se alicerçaria sobre uma fonte ou fontes informativas distintas, embora não identificadas. Grande parte dessa fonte deve ter sido constituída por narrativas de testemunhas pessoais, compiladas pelo próprio autor sagrado, ou por aqueles cujo material escrito foi aproveitado.
Os Profetas e seus livros. As diversas fontes informativas por detrás dos livros dos Reis dizem-nos aquilo que também nos é dito em outras fontes, ou seja, que houve uma grande atividade de crônica em Israel, com o envolvimento de vários profetas, de cujos escritos o Antigo Testamento é apenas uma representação parcial. Sabe-se da existência de vários livros de profetas, como: a. Crônicas registradas por Samuel, o vidente (I Crô. 29:29). b. Crônicas de Gade, o vidente (I Crô. 29:29). c. Livro da história de Natã, o profeta (II Crô. 9:29). d. A profecia de Aias, o silonita (II Crô. 9:29). e. Livro da história de Ido, o vidente (II Crô. 12:15). f. Livro da história de Semaías, o profeta (II Crô. 12:15). g. História do profeta Ido (II Crô. 13:22). h. Os atos de Uzias, escritos pelo profeta Isaías (II Crô. 26:22).
V. Data
Como é óbvio, todo o material tomado por empréstimo foi escrito antes de ter sido usado na compilação que há nos livros dos Reis. Como uma unidade, a data não pode ser anterior a 562 A.C., quando, ao que sabemos, Jeoaquim foi liberado de sua prisão, na Babilônia (II Reis 25:27-30). Esse informe histórico fala sobre os favores que lhe foram prestados no fim de sua vida, pelo que o autor sagrado estava escrevendo alguns anos após a soltura de Jeoaquim. Ê possível que a compilação final tenha ocorrido em cerca de 550 A.C. Entretanto, esse dado pode ter sido adicionado a uma composição escrita anterior. Ê possível que a porção maior desse livro tenha sido escrita durante o cativeiro babilónico (que vide) ou seja, entre 587 e 538 A.C. Alguns estudiosos, porém, pensam que devemos pensar em uma data apôs a morte de Josias (609-600 A.C.), pois supõem que o autor sagrado foi o primeiro a. usar o material histórico derivado do recém-descoberto livro de Deuteronômio, que, ao que se presume, apareceu em 621 À.C. A lei, sem-par, do santuário central, que figura no décimo segundo capitulo do Deuteronômio, supostamente seria o principio avaliador dos reis, conforme é salientado nos livros dos Reis. Esses eruditos também afirmam que um segundo escritor deuteronomista acrescentou a narrativa sobre a liberação do rei Jeoaquim, que seria a seção de II Reis 25:27-30. Essas teorias, porém, não passam de especulações, não havendo maneira histórica, digna de confiança, que nos permita confirmá-las ou rejeitá-las.
VI.    Providencia
Já pudemos notar que os livros dos Reis estão intimamente relacionados às atividades literárias dos profetas hebreus. Tendo sido esse o caso é provável que esses livros tenham sido escritos em uma das cidades onde essa atividade tinha lugar. Os centros proféticos estavam localizados nas áreas fronteiriças, entre as nações de Israel, ao norte, e Judá, ao sul. Lugares como Betei, Gilgal e Mizpa eram centros de ensino, nos dias de Samuel (I Sam. 7:16). Essas cidades, além de Jericó, eram centros dessa natureza, nos dias de Elias e Eliseu. As duas capitais, Samaria (de Israel, ao norte) e Jerusalém (de Judá, ao sul) ficavam cerca de sessenta e cinco quilômetros uma da outra, e as cidades das áreas fronteiriças eram suficientemente distantes para que um profeta pudesse expressar suas idéias, mas não tão distantes que não tivesse informações exatas sobre o que estava ocorrendo em ambas as capitais. Portanto, uma das cidades acima mencionadas pode ter sido o local da compiláção de nossos livros de Reis. Entretanto, um lugar como a cidade da Babilônia também conta com pontos em seu favor, se os livros dos Reis foram escritos durante o cativeiro babilónico.
VII.    Motivos e Propósito
O autor da suposta primeira edição dos livros dos Reis era admirador do rei Josias, o modelo perfeito de rei aos moldes deuteronômicos. Ele também se entusiasmava diante da grandeza de Salomão, pelo que lançou mão da fonte que descrevia os resplendores do reinado salomônico. Porém, os livros dos Reis não estão interessados em meros registros históricos. Há ali tentativas para avaliar a espiritualidade dos reis envolvidos, e, nessa avaliação, projetar aos leitores o tipo de lideres espirituais que convêm ao povo. A espiritualidade sofreu um retrocesso, diante da divisão em duas nações, Israel e Judá. A correta adoração era aquela que se efetuava no templo de Jerusalém. As divisões e hostilidades entre os homens servem como empecilhos aos propósitos divinos, felizmente transponiveis. Os homens têm de pagar um preço por causa disso, porquanto Deus é um rígido avaliador e juiz das ações humanas. O propósito do autor sagrado é claramente revelado em I Reis 2:3,4, nas instruções finais dadas por Davi a Salomão: «Guarda os preceitos do Senhor teu Deus, para andares nos seus caminhos, para guardares os seus estatutos, e os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus testemunhos, como está escrito na lei de Moisés, para que prosperes em tudo quanto fizeres, e por onde quer que fores; para que o Senhor confirme a palavra que falou de mim…»
Há um só Deus, como também um único santuário. Todos os homens são responsáveis diante de Deus. A lei da colheita segundo a semeadura haverá de prevalecer. As vidas dos homens provam esses fatos. Contudo, a misericórdia divina e o destino da alma têm prosseguimento. A narrativa da soltura de Jeoaquim não deve ser considerada um mero apêndice. Antes, é uma nota de esperança. Deus, embora muito severo em seus juízos, nunca abandonou o seu povo. Ele exilou o seu povo em razão de seus pecados; mas não deixou de restaurá-los. A linha davidica não fora finalmente rejeitada. A história da redenção tinha prosseguimento.
VIII.    Cronologia
O leitor poderá consultar o artigo sobre a Cronologia do Antigo Testamento, Ali fica demonstrado que as cronologias antigas não tinham a finalidade de serem exatas, historicamente falando. Havia outras forças por detrás delas. Em primeiro lugar, há simetria. Anos foram adicionados ou subtraídos, a fim de emprestar simetria às listas cronológicas. Em segundo lugar, interesses pessoais, crenças, etc., podem ter alterado as listas. Um indivíduo ímpio, assim sendo, era eliminado de uma lista por razão de sua iniquidade. Em terceiro lugar, as cronologias, tal como as genealogias, eram apenas representativas, e não absolutas. Especificamente, no que diz respeito aos livros dos Reis, o período da monarquia dividida é apresentada juntamente com um cuidadoso sistema de referências cruzadas, entre os reis de Judá e de Israel. Apesar disso, evidentemente está em operação a atividade simetrista, porquanto a soma dos anos de governo dos reis de Israel, em um dado período, não corresponde à soma dos anos de governo dos reis de Judá, durante o mesmo período. O período desde a subida ao trono de Reoboão até à morte de Azarias aparece como noventa e cinco anos, mas o período correspondente em Israel, de Jeroboão até à morte de Jorão, aparece como noventa e oito anos. Além disso, o total de anos de governo desde Atalias até o sexto ano do reinado de Ezequias é de cento e sessenta e cinco anos; mas, o mesmo período em Israel, de Jeú até à queda de Samaria, aparece como cento e quarenta e três anos e sete meses. Parte dessa discrepância pode ser explicada pela contagem de parte de anos como se fossem anos inteiros. Também há o problema da co-regência, onde pai e filhos compartilhavam do trono por certo número de anos, embora esses anos fossem subsequentemente alistados em separado, nos cálculos cronológicos. Ver os casos de Davi e Salomão (I Reis 1:34,35) e de Azarias e Jotão (II Reis 15:5).
A isso podemos acrescentar o problema do uso de dois tipos de calendário em Israel, o civil e o religioso, que eram diferentes um do outro. Ver sobre o artigo Calendário, onde damos um gráfico sobre o calendário judaico, ilustrando a questão. Várias obras descrevem em detalhes as razões possíveis dessas discrepâncias cronológicas, sendo fácil negligenciarmos a mais grave dessas razões, a saber, que os antigos autores simplesmente não se preocupavam com cronologias exatas, conforme os modernos historiadores fazem, pelo que nenhum exame e manipulação podem explicar as coisas que aparecem nessas genealogias bíblicas. O artigo sobre Cronologia ilustra abundantemente essa declaração.
Seja como for, as listas e as datas dos reis de Israel e de Judá, incluindo as comparações entre essas listas, aparecem no artigo sobre a Cronologia, em seu quinto ponto, Períodos Bíblicos Específicos, f. Da fundação do Templo de Salomão até à sua Destruição.
IX.    Cânon
Provemos um artigo sobre o assunto, no caso do Antigo e do Novo Testamentos, onde oferecemos detalhes. A questão é complexa, porquanto, em nosso cânon sagrado, há livros, de ambos os Testamentos, que por muito tempo não foram universalmente aceitos. Porém, no que tange aos livros dos Reis, que, originalmente, eram apenas um rolo ou livro o cânon hebraico nunca os omitiu. De acordo com Josefo, o cânon dos judeus ficou completo por volta de 400 A.C., composto de vinte e dois livros, que correspondem exatamente aos trinta e nove livros do Antigo Testamento de edição protestante, ainda que a ordem desses livros não seja a mesma na Bíblia hebraica e na Bíblia cristã. Para os hebreus, o livro dos Reis faz parte dos escritos dos profetas. Nos arranjos posteriores, porém, os nossos livros dos Reis aparecem entre os livros históricos.
X. Conteúdo e Mensagem
1.    Salomão, o Rei (I Reis 1:1 — 11:43)
a.    Subida ao trono (1:1-53)
b.    Recomendações de Davi (2:1-46)
c.    Casamento e sabedoria (í:l-28)
d.    Sua administração 4:1-34)
e.    Suas atividades como construtor (5:1 — 8:66)
f.    Sua prosperidade e esplendor (9:1 — 10:29)
g.    Sua apostasia (11:1-43)
2.    Reinados comparativos de reis em Israel e em
Judá (I Reis 12:1— II Reis 17:41)
a.    Reoboão-Josafá (I Reis 12 — 22)
b.    Jeorão-Acaz (II Reis 8 — 16)
c.    Ezequias-Amom (II Reis 18-21)
d.    Josias-Zedequias (II Reis 22 — 25)
3.    Reis de Judá, apôs a queda de Samaria, até à queda de Jerusalém (II Reis 18:1 — 25:26)
a.    Ezequias (18:1 — 20:21)
b.    Manassés (21:1-18)
c.    Amom (21:19-26)
d.    Josias (22:1 — 23:30)
e.    Jeoacaz (23:31-35)
f.    Joaquim (23:36 — 24:7)
g.    Jeoaquim (24:7-17 e 25:27-30)
h.    Zedequias (24:18 —25:26).
Julgamentos de Valor e História.
O autor sagrado não temia fazer julgamentos de valores. Mostrou-se sempre cônscio das operações de Deus entre os homens, bem como da responsabilidade dos homens diante de Deus. Os principais aspectos de sua mensagem são bons para qualquer época. Há um só Deus. Deus é severo e inflexível em relação ao pecado. Para o autor sagrado, devemos ter uma visão teísta de Deus, um Deus que galardoa e castiga. Deus é imanente em sua criação. Ver o artigo sobre o Teísmo, em contraste com o Deísmo (que vide). O pecado é uma questão séria, que resulta em desastre para a alma, conforme a história dos livros dos Reis o demonstra. A comunidade dos homens é considerada responsável, e não apenas o indivíduo. Há misericórdia divina e restauração, porquanto Deus está esperando para acolher àqueles que se voltam para ele de todo o coração, de toda a alma (I Reis 8:48). O cativeiro foi revertido por meio do retomo.
As realizações religiosas dos reis parecem mais importantes, para o autor sagrado, do que seus feitos políticos e militares. Dois desses reis, Onri e Jeroboão II, que obtiveram o maior sucesso econômico e político, merecem breves comentários apenas. Os historiadores seculares, porém, ter-se-iam demorado mais sobre esses dois. Mas o autor dos livros dos Reis não se interessou muito com eles. A Acabe e seus filhos foram dedicadas várias páginas, não porque foram bons, como reis ou como homens, mas por causa de seus conflitos com Elias e Eliseu. E o autor sagrado anelava por contar essa história com pormenores. Reis como Josafá, Ezequias e Josias recebem descrições entusiasmadas, porquanto lideraram movimentos de reforma religiosa. Teologicamente falando, esses livros complementam a narrativa da história de Israel, sob a orientação divina, conforme vemos nos livros de Êxodo, Josué, Juizes e I e II Samuel. O autor sagrado deve ter sido um profeta-historiador, e o resultado de seus esforços foi uma história de forte cunho religioso.

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