Cronicas I e II


1. Declaração Geral
I e II Crônicas são livros históricos do Antigo Testamento, contidos na terceira e última divisão do cânon hebraico (que vide), os Escritos e os Hagiógrafos (que vide). Originalmente, esses livros formavam um único volume. Esses livros narram desde Adão até Ciro (538 A.C.), dando atenção especial a Davi (que vide) e aos reis subsequentes de Judá. Essas obras têm sinais de ser uma revisão de livros anteriores e canônicos do Antigo Testamento, sobretudo com base em I e II Samuel e I e II Reis (que vide), de acordo com os interesses e ideias do autor. O autor exibe um interesse especial pelo templo de Jerusalém (que vide), com sua adoração e ritos. Ele também demonstrou um interesse especial pela doutrina da retribuição divina. A tradição judaica atribui a obra desses dois livros a Esdras (que vide); mas muitos eruditos modernos supõem que os mesmos pertencem a um período posterior, isto é, à primeira metade do século III A.C., de autoria do mesmo autor que escreveu os livros de Esdras e Neemias (que vide). Se Esdras viveu na primeira metade do século IV A.C., entretanto, não é impossível que ele tivesse sido, realmente, o autor sagrado. Além de usar os livros canônicos históricos como fontes informativas (Gênesis a II Reis), parece que outras fontes também foram usadas. O valor especial dos livros de Crônicas reside nas explicações e avaliações feitas pelo autor sagrado acerca das ideias e instituições do judaísmo de sua época. Alguns estudiosos supõem que esses livros são suplementares, escritos no espírito dos escritos sacerdotais, P.(S.), embora representam um estágio posterior dos mesmos. Ver o artigo sobre as fontes informativas do Pentateuco.
2.    O Titulo. O titulo «Crônicas» foi usado pela primeira vez já nos fins do século IV D.C., em seu equivalente latino,.por Jerônimo(qlte vide). A LXX, a versão grega do Antigo Testamento, compilada no século II A.C., emprega o nome Paralipomena, que significa «coisas omitidas», a saber, omitidas de outros livros do Antigo Testamento, e que o autor sagrado desejava suprir. O nome hebraico desses livros é Dibre Hayamim, que significa «anais» ou «história». Nas Bíblias grega e latina e na maioria dos idiomas hebraicos, os livros de Crônicas aparecem entre os livros de Reis e de Esdras, ou entre os livros de Esdras e Neemias. Porém, na Bíblia hebraica, aparecem no fim dessa coletânea. Originalmente, eles eram um único volume. A divisão retrocede até à LXX, o que não foi adotado na Bíblia hebraica senão já na Idade Média. Entretanto, não há qualquer evidência de que, originalmente, os livros de Crônicas e Esdras-Neemias formavam um único volume.
3.    Autoria. A tradição judaica atribui os livros de Crônicas a Esdras, ao escriba que é personagem nos livros de Esdras e Neemias (Êsd. 7:6). A tradição talmúdica (Baba Bathra 15a) confirma essa opinião. O trecho de II Macabeus 2:13-15 indica que Neemias reuniu uma extensa biblioteca (que vide), a qual, provavelmente, esteve à disposição de Esdras, para usá-la como fonte informativa. O relato de Esdras- Neemias cobre aproximadamente o primeiro século do estado judeu restaurado, após o retorno do exílio babilónico em 539 A.C., aludindo, principalmente, às atividades de Esdras e Neemias, após uma breve narrativa sobre o retorno dos judeus e a reconstrução do templo de Jerusalém, Ê bem provável que Esdras tenha sido o autor de ambos esses livros. Também é possível que ele tenha sentido que um relato atualizado da história de Israel seria útil para conscientizar a sua geração sobre a importância do templo e da tradição judaica em geral. Os livros de Crônicas, segundo parece, resultam desse desejo.
O elo entre o final dos livros de Crônicas e o começo do livro de Esdras, bem como a similaridade de ponto de vista desses livros, sugere que eles formam uma unidade; e isso, por sua vez, sugere uma autoria única. Adições de natureza histórica, muito tardias para Esdras, podem ser explicadas como obra de escribas posteriores, os quais atualizaram os livros. Assim, nas genealogias, em I Crô. 3:19-25, os nomes dos descendentes de Zorobabel, até à sexta geração (na LXX, até à décima primeira geração), e a lista dos sumos sacerdotes, em Nee. 12:22, continuam até Jadua que, conforme Josefo explica, viveu na época de Alexandre, o Grande, tendo falecido em 333 Á.C., o que ultrapassa à época de Esdras, pelo qUe deve representar essas adições às quais acabamos de nos referir. Em favor da autoria de Esdras temos igualmente o fato de que nenhum dentre os demais nomes sugeridos adaptasse tão bem aos fatos, como um todo, como o nome de Esdras.
4.    Data. Esdras retomou a Jerusalém em 457 A.C. O templo de Jerusalém foi reconstruído em 520-515 A.C., mas a lassidão geral prevalecia no tocante à observância apropriada das instituições judaicas. Portanto, Esdras anelava por melhorar a situação. Neemias retornou à Palestina em 444 A.C., e, novamente, em 432 A.C., como governador do novel estado judaico, provendo a liderança necessária no tocante à reconstrução das muralhas da cidade. Provavelmente, foi durante esse período de ajustamento e reorientação que Esdras escreveu os dois livros de Crônicas. O arqueólogo W.F. Albright defendeu a autoria de Esdras, datando a escrita desses livros entre 400 e 350 A.C. Porém, alguns estudiosos pensam em uma data tão tardia quanto 250 A.C., supondo que escribas posteriores fizeram uma compilação, incluindo algum material que, obviamente, dizia respeito a um período posterior ao de Esdras. Porém-, esse material pode ser justificado como adições feitas por escribas posteriores, com o intuito de atualizar a obra.
5.    Autenticidade Histórica. O autor sagrado aventura-se a incluir material ainda não contido nos livros canônicos anteriores do Antigo Testamento. Os críticos têm posto em dúvida a historicidade desse material adicional. Todavia, W.F. Albright dá-nos a seguinte garantia: «Os livros de Crônicas contêm grande quantidade dematerial que aborda a história de Judá, e que não se encontra nos livros dos Reis e… o valor histórico desse material original está sendo confirmado pelas descobertas arqueológicas» (Bulle- tin Am. School of Oriental Research 100, 1945, pág. 18). É verdade que o autor sagrado usou muitas fontes informativas (ver o ponto sexto, abaixo), mas parece que ele se mostrou cuidadoso na seleção que fez. Acresça-se a isso que é bom lembrar que os hebreus eram muito sensíveis à história, e que pelo menos desde 1000 A.C. em diante, os relatos apresentados por ele têm sido achados bastante exatos.
6.   Fontes Informativas Literárias. O próprio autor sagrado refere-se a vários escritos que contêm novas informações sobre a história de Israel; e, apesar de não afirmar especificamente que se utilizou deles, isso é o que se pode deduzir. Os livros de Crônicas distinguem-se por serem as obras do Antigo Testamento que mais alusões fazem a fontes externas aos livros sagrados.
Muitas dessas fontes informativas estão agora perdidas.
As Fontes Informativas:
1.    Registros oficiais, talvez existentes na biblioteca de Neemias, incluindo outros livros do Antigo Testamento:
a. A história do Rei Davi (I Crô. 27:24).
b. Os livros canônicos dos Reis (II Crô. 16:11; 25:26; 27:7; 28:26; 32:27; 35:27 e 36:8).
c. O livro da história dos reis (II Crô. 24:27).
d. A prescrição de Davi, rei de Israel, e a de Salomão, seu filho (II Crô. 35:4).
2.    Escritos e registros proféticos:
a.    Samuel (I Cro. 29:29).
b.    Natã (I CrÔ. 29:29 e II Crô. 9:29).
c.    Gade (I CrÔ. 21:9).
d.    ido (II Cro. 9:29; 12:15 e 13:22).
e.    Aías (II Crô. 9:29).
f.    Semaías (II CrÔ. 20:34).
g.    Jeú, filho de Hanani (II Crô. 12:15).
h.    Isaías (II CrÔ. 26:22; 32:32).
i.    Hozai (II CrÔ. 33:19).
3.   Diversas outras fontes, listas genealógicas e documentos oficiais (II Crô. 32:10-15); as cartas de Senaqueribe (II Crô. 32:10-15); as palavras.de Asafe e Davi (II Crô. 29:30); o documento com planos para a construção do templo de Jerusalém (I Crô. 28:19). Essas fontes informativas não são, necessariamente, todas elas, documentos separados. Além dos escritos canônicos do Antigo Testamento, que contêm a essência da mensagem dos profetas, também há um número regular de escritos que lhes são semelhantes, mas que nunca fizeram parte do cânon do Antigo Testamento.
7.   Motivos e Propósito. Esdras já vinha atuando ativamente em Jerusalém, como mestre da lei, por mais de uma década, antes que Neemias chegasse como governador, em 444 A.C. A obra de Neemias renovou os interesses espirituais do povo judeu, o que pode ter sido aproveitado por Esdras como a ocasião apropriada para reforçar esse avanço, pondo em dia os escritos históricos de Israel. Se o povo judeu adquirisse maior orgulho a respeito de sua história e de suas tradições religiosas, sentir-se-ia mais fortalecido em uma época de renovação. Alianças foram renovadas, as festas religiosas foram celebradas (Nee. 8-10). O livro não declara especificamente o  seu propósito; mas, com base em seu conteúdo, podemos obter uma boa ideia sobre esse propósito. G autor sagrado não queria meramente repetir a história. Ele não apresentou fatos, deixando muitos deles sem serem mencionados. Porém, por detrás dessa sua nova narração da história, ele tinha um certo propósito teológico e filosófico. Por exemplo, ao descrever o reinado de Davi, ele demonstrou a supremacia militar e os interesses religiosos desse grande rei de Israel. Ele relatou, com abundância de detalhes, as coisas que Davi realizou, como se estivesse dizendo obviamente ao povo: «É chegado o tempo de restaurar as coisas, em consonância com o estilo davídico». Ele retratou Salomão sob luzes favoráveis, visto que foi Salomão quem construiu o templo de Jerusalém. Sem dúvida é significativo que a apostasia de Salomão, tão cuidadosamente delineada no décimo primeiro capítulo de 1  Reis, seja inteiramente omitida nas Crônicas. É que o autor sagrado queria projetar um exemplo positivo, que pudesse ser seguido; e ele não queria obscurecer esse ponto, narrando os aspectos negativos do relato. E o autor sagrado usou do mesmo esquema ao relatar os atos de outros reis. As virtudes deles foram enfatizadas, para que pudessem servir de bons exemplos.
8. Filosofia e Teologia. A fim de transmitir a sua mensagem, o autor sagrado teve a inspiração de apresentar pontos de vista e propósitos específicos. Ele tinha uma certa filosofia a comunicar.
a.    A lei da colheita segundo a semeadura. Deus ocupa-se da retribuição, de uma maneira ativa. A história não é algo que meramente acontece. Há uma reconhecida relação entre causas e efeitos, e essas causas e efeitos estão baseados em condições morais. O vigésimo primeiro capítulo de II Reis, que é a base de II Crônicas 33, diz muita coisa má a respeito de Manassés. Porém, nas mãos do autor sagrado dos livros de Crônicas, esses atos errados não foram relatados, porquanto isso seria incompatível com o longo e pacífico reinado de Manassés. E ele também teve o cuidado de narrar o exílio e o arrependimento de Manassés, mostrando como ele retornou a Israel a fim de levar uma vida caracterizada pela piedade (II Crô. 33:1113).
b.    A questão da autoridade. A fim de que a vontade de Deus seja cumprida entre o povo, é mister que haja uma autoridade apropriada, estabelecida entre os homens, com líderes legítimos. Os primeiros 405 versículos dos livros de Crônicas enfatizam esse tema.
c.    O Davidismo. Davi é o grande herói que o autor sagrado pinta com cores brilhantes, a fim de que ele pudesse ser o grande exemplo heróico para o povo judeu seguir. As questões éticas sempre foram importantes. O autor sagrado diz que Davi traçou planos cuidadosos para a construção do templo, algo que não é revelado em outras fontes informativas. No entanto, isso era importante para o propósito do autor sagrado. Ele precisava de exemplos claros sobre o uso apropriado do templo e de seus rituais. Davi e Salomão servem de exemplo sobre a preocupação apropriada a respeito dessas coisas. Precisamos estar interessados em cumprir a vontade de Deus.
d. Uma ênfase exclusiva. Os lances mais antigos do Antigo Testamento, como a história dos patriarcas, o êxodo, a conquista da Palestina, etc., quase não são mencionados. Isso se harmoniza com o propósito do autor sagrado de salientar o templo de Jerusalém. Por essa razão, a sua narrativa não é proporcional, e, quanto a esse aspecto, deixou de ser história, para tornar-se muito mais uma crônica. Poderíamos chamar essa narrativa de história selecionada, compilada para servir a um propósito religioso e prático. Alguns eruditos fazem objeção a essa distorção, acusando o autor sagrado de ter querido reescrever a história. Porém, parece melhor supormos que essa porção do livro não tinha o propósito específico de ser história, no seu sentido comum. Há porções dos livros de Crônicas que são mais tratados religiosos, historicamente baseados.
9.    Canonicidade. Desde que se completou o cânon do Antigo Testamento ou Bíblia hebraica (que vide), os livros de Crônicas foram incluídos. Esses livros foram incluídos por Josefo dentro dos vinte e dois livros de que consistia o cânon hebreu. Mas então a arrumação dos livros era outra, e esse número correspondia aos nossos mesmos trinta e nove livros. Segundo se pode depreender de seus escritos, parece que Josefo acreditava que o cânon do Antigo Testamento completou-se por volta de 400 A.C. Os livros de Crônicas ficavam dentro da classe dos Escritos, a terceira divisão do cânon hebraico. Aparecem em último lugar dentro da coletânea da Bíblia hebraica original; mas isso parece estar de acordo com um arranjo histórico, não servindo de indicação de prioridade canônica. Quanto a maiores detalhes sobre a questão ver o artigo sobre o Cânon do Antigo Testamento.
10.    Alguns Problemas:
a.    A questão da data e da autoria é criada pelo problema que cerca o trecho de: I Crô. 3:19-24, bem comò a lista dos sumos sacerdotes, em Neemias 12:22. Ambas as passagens ultrapassam da época de Esdras. Podemos encarar isso como indicação de que os livros foram escritos após a época de Esdras ou então como indicação de que a obra original foi expandida por escribas posteriores. Ver a discussão sob Data e sobre Autoria.
b.    Alguns críticos não se satisfazem com a implicação dos livros de Crônicas de que Davi fez todos os planos relativos ao templo de Jerusalém e estabeleceu as guildas de cantores. Esses supõem que isso promove uma espécie de davidismo, segundo o qual Davi seria manipulado como uma espécie de herói, a fim de inspirar o povo a interessar-se pelo templo e seu ritual. Porém, o arqueólogo W. F. Albright descobriu evidências em prol da assertiva de que essas guildas musicais não somente remontam aos dias de Davi, mas até mesmo aos tempos dos cananeus, muito antes da época de Davi (The Old Testament and Archeology, conforme citado por Alleman e Flack, em Old Testament Commentary, pág. 63). E há fontes informativas egípcias que se referem a músicos cananeus durante o segundo milênio A.C.; e os fundadores das guildas musicais, nos registros do Antigo Testamento, têm nomes cananeus.
c.    Novos informes históricos. Nos pontos onde os livros de Crônicas vão além da história canônica do Antigo Testamento, têm sido levantadas algumas
11. Conteúdo:
I. Genealogias de Adão a Saul - I Crô. 1:1-9:44.
1. De Adão a Noé, 1:1-4.
2. Dos filhos de Noé a Jacó e Esaú, 1:5-54. 3. Os filhos de Jacó, 2:1-9:44.
a.    Judá, a linhagem real, 2:1-4:23.
b.    Outras tribos, 4:24-8:40.
c.    Levi, 6:1-81.
d. Oficiais do templo, 9:1-34.
e. Saul, 9:35-44.
II.    Davi, o Grande Exemplo — I Crô. 10:1-29:30.
1.    Morte de Saul, 10:1-14.
2.    A captura de Sião e os guerreiros de Davi, 11:1; 12:40.
3.    Davi como rei, 13:1-22:1.
4.    Contribuição de Davi para o templo, 22:1-29:30.
III.    História de Sáomão — II Crô. 1: 1-9:31.
1.    Sua prosperidade, 1:1-17.
2.    Construção do templo, 2:1-7:22.
3.    Sua obra e sua morte, 8:1-9:31.
IV.    Os Reis de Judá — 10:1-36:23.
1. De Reoboão a Zedequias, 10:1-36:21.
2. O decreto de Ciro, o exílio e o retomo, 36:22,23.

Nenhum comentário: