Samuel I e II


I. Nome
Nossos livros de I e 11 Samuel, no cânon hebraico, aparecem como um único volume. Isso é provado pela nota marginal, ao lado de I Sam. 28.24, que diz que ali se encontra “a metade do livro”. Naturalmente essa nota posta à margem não aparece em nossa versão portuguesa. O nome do livro deriva-se de uma das três personagens principais da obra, o profeta Samuel. Ele aparece, com proeminência, nos primeiros quinze capítulos de I Samuel.
E, mesmo depois que a história passa a gravitar em torno, primeiramente, de Saul, então, de Saul e Davi, e, finalmente, de Davi apenas, Samuel continua aparecendo como uma das três personagens principais do relato, até a sua morte (ver I Sam. 25.1), inter-relacionando-se com Saul e Davi. De fato, Samuel continua a desempenhar importante papel no livro de 1 Samuel. O trecho de I Sam. 28.20 é a última menção a esse grande profeta de Deus. Interessante é observar que o nome de Samuel nunca aparece no livro de II Samuel. Isso se repete em ambos os livros de Reis. Mas o seu nome reaparece em I Crô. 6.28; 9.22; 11.3; 26.28; 29.29; II Crô. 35.18; Sal. 99.6 e Jer. 15.1 (no restante do Antigo Testamento); e também em Atos 3.24; 13.20 e Heb. 11.32 (no Novo Testamento). Seu nome, figura por um total de 136 vezes em toda a Bíblia, das quais 125 vezes em I Samuel. Esse nome significa “ouvido por Deus”.
Samuel era levita, filho de Elcana e Ana (ver a respeito desses nomes no Dicionário). Nasceu em Ramataim-Zofim, no território montanhoso de Efraim. Foi o último dos juizes e o primeiro dos profetas (depois de Moisés), uma categoria de servos de Deus que, quanto ao Antigo Testamento, prosseguiu até Malaquias, e, na verdade, até João Batista, o precursor do Senhor Jesus.
II. Caracterização Gerais
Como já dissemos, o cânon hebreu tinha um único livro de Samuel, que nós conhecemos como I e II Samuel. Foi na Septuaginta que, pela primeira vez, apareceu a divisão em dois livros, quando eles foram chamados “Livros dos Reinos” (no grego, bibloi basileiõn a e b). Foi na mesma ocasião que os livros que chamamos de I e II Reis apareceram como “Livros dos Reinos III e IV”, visto que o conteúdo desses dois últimos continha o relato iniciado em I e II Samuel.
Jerônimo, por sua vez, afixou o título “Livros dos Reis” (no latim, Libri Regum) a esses novos quatro livros. Foi também ele quem modificou o título “Reinos” para “Reis”. E, finalmente, com o tempo, a Vulgata Latina conferiu o nome “Samuel”, aos dois primeiros desses quatro livros.
Os livros de Samuel, pois, historiam a transição do povo de Israel da teocracia para a monarquia. A teocracia, que indica o governo de Deus sobre o povo de Israel, mediante homens divinamente escolhidos, como Moisés, Josué e os juizes, foi iniciada no livro de Êxodo; instaurada na Terra Prometida, quando da conquista sob a liderança de Josué, e teve continuidade até os dias do próprio Samuel, que atuava como o agente escolhido por Deus para representar a teocracia. Isto posto, há um vínculo inegável entre os livros de Moisés, Josué, Juizes, Rute e I e II Samuel, como se fossem elos de uma corrente. Na verdade, a corrente prossegue nos livros de Reis e de Crônicas, dentro dos quais também devemos incluir os livros proféticos pró-exílicos, os livros dos profetas pós-exílicos e, finalmente, livros como Esdras, Neemias e Ester, Os livros poéticos (Jó a Cantares de Salomão), embora também nos propiciem alguns informes históricos, têm o seu material englobado nos primeiros livros bíblicos que mencionamos, que constituem o Pentateuco, os Livros Históricos e os Livros Proféticos (ver a respeito no Dicionário). Todavia, os livros de Samuel assinalam um período histórico todo especial na vida da nação de Israel: o período do surgimento da monarquia, com Saul e Davi. Organizacionalmente, a nação galgou um degrau na evolução de sua história; espiritualmente, porém, houve algum retrocesso, que só será anulado por ocasião da segunda vinda do Senhor Jesus. Todavia, como o Senhor nunca é frustrado em Seus planos eternos, a monarquia, afinal, acabou contribuindo para que o palco fosse armado para a primeira e a segunda vinda do Senhor Jesus; porquanto Cristo, quanto à carne, é descendente de Davi, o segundo e mais importante dos monarcas da nação de Israel.
III. Autoria
Os próprios livros históricos da Bíblia nos fornecem algumas indicações sobre a autoria de I e II Samuel. Lê-se em I Sam. 10.25: “Declarou Samuel ao povo o direito do reino, escreveu-o num livro, e o pôs perante o Senhor”. E também somos informados em I Crô. 29.29: “Os atos, pois, do rei Davi, assim os primeiros como os últimos, eis que estão escritos nas crônicas, registrados por Samuel, o vidente, nas crônicas do profeta Nata e nas crônicas de Gade, o vidente”. Esses trechos bíblicos dão-nos a entender que, pelo menos em parte, Samuel é um dos autores do âmago da narrativa de I Samuel e também que Natã e Gade, que viveram na geração seguinte à de Samuel, tiveram participação nessa obra. Que outros autores dos livros de Samuel (I e II) possam ter participado já não passa de especulação, pois a Bíblia faz total silêncio a respeito. A autoria dos livros de Samuel, pelo menos em parte, é confirmada pelo Talmude (ver Baba Bathra 14), que diz que esse profeta escreveu os livros de Samuel. É claro que Samuel não pode ter sido o autor da obra inteira (I e II Samuel, segundo o nosso cânon), porque ele morreu quando Saul ainda era rei; assim Samuel não pode ter acompanhado nem mesmo o começo do reinado de Davi, com cujo governo se ocupa o livro de II Samuel, embora possa ter sido autor do âmago inicial de I Samuel.
A composição dos livros de I e II Samuel, por isso mesmo, tem dado margem a diversas teorias:
a.    A alta crítica oferece mais de urna opinião acerca da origem dos livros de Samuel. Eles falam em contradições “óbvias”, relatos duplicados e outras evidências de múltipla autoria. Para eles, essa múltipla autoria explicaria tais problemas, criados no decorrer de muito tempo, em que os autores envolvidos tanto teriam apelado para informes históricos dignos de confiança quanto para informes meramente orais e tradicionais. Outros estudiosos da alta crítica acham que grande parte de Deuteronômio a Reis foi reescrita entre 621 e 550 a.C., e que esses compiladores foram os responsáveis pela composição final de I e II Samuel.
b.    A maioria dos estudiosos acredita que I e II Samuel se formaram pela mistura de várias fontes informativas, que seriam duas ou três. Eissfeldt vincula os livros de I e II Samuel às fontes informativas J.E e L, as duas primeiras da teoria J.E.D.P.(S.), e L sendo uma criação dele, para denominar informantes “leigos”. Todos os estudiosos que apelam para essa teoria pensam que os livros bíblicos, de Gênesis até Reis, tiveram por base essas supostas fontes informativas. A suposta fonte informativa L representaria opiniões populares, sem interesses teológicos, mas com a atenção concentrada na arca da aliança.
c.    Bentzen expressa dúvidas se as fontes Js E realmente prosseguem nos livros de I e II Samuel. Albright nega explicitamente a validade das fontes informativas J e E quanto aos livros de Samuel. De fato, ele pensava que nenhuma teoria baseada em supostas fontes informativas poderia ser formada no tocante aos livros de Samuel.
d.    Segai, que também rejeitava a hipótese de tais fontes informativas documentárias, prefere pensar na combinação de duas narrativas independentes acerca de Davi. A primeira delas seria uma boa biografia; e a segunda era mais lendária quanto à sua natureza. A isso teriam sido acrescentados relatos independentes sobre a arca, sobre Saul e sobre o profeta Samuel.
e.    A escola tradicional histórica enfatiza que teria havido ciclos de sagas em torno das vicissitudes sofridas pela arca da aliança, a respeito dos quais se criaram crônicas históricas um tanto desconexas entre si. Alguns membros dessa escola adiam a fase escrita dos livros de Samuel até os tempos pós-exílios.
f.    A maioria dos críticos pensa que os livros de Samuel refletem tanto fontes informativas exatas quanto meras tradições orais, pelo que seu valor histórico flutuaria muito. Muitos deles creem que os relatos fragmentares sobre Davi, de I Sam. 16 a II Sam. 8, não passam de uma novela histórica, com o propósito de glorificar Davi. Essas narrativas teriam sólida base histórica, mas com muitos adornos fantasiosos. Por outra parte, o material de II Sam. 8—20 consistiria, juntamente com os livros de I e II Reis, em “narrativas de sucessão ao trono”. Muitos críticos dão mais valor histórico a essa porção de Samuel (II Sam. 9— 20) do que a todo o restante do livro. O quadro formado pelos críticos torna-se extremamente complicado quando eles supõem ter havido um propósito “político” nos livros I e II Samuel e de I e II Reis. Quanto às complexas idéias desse grupo, queremos destacar apenas que eles pensam que os trechos de I Sam. 15 a II Sam. 8 representam uma “apologia” da dinastia davídica, em tudo superior à dinastia de Saul.
Preferimos ficar com a ideia de que o âmago dos livros de I  e II Samuel consiste nas crônicas históricas de Samuel, Natã e Gade. E, então, algum autor-compilador-editor, para nós desconhecido, formou a obra com base nos escritos daqueles três, utilizando-se também do “Livro dos Justos” (ver II Sam. 1.18), uma fonte informativa histórica que ele sem dúvida, usou, pois isso ele próprio mencionou. O trabalho desse compilador talvez explique como pode ter havido uma transição suave de episódio para episódio e de seção para seção nos livros de Samuel, conferindo- lhes assim a inequívoca unidade. Por trás desses livros há um propósito único (ver a seção V,Propósito), e eles foram escritos em uma linguagem uniforme.
IV. Data
A questão da data dos livros de I e II Samuel depende, em muito, da questão de sua autoria. Assim, se Samuel, Natã e Gade foram os autores essenciais, então esses dois livros foram escritos durante os dias do reinado de Davi, ou imediatamente depois. Todavia, os estudiosos pensam que certas porções da obra, particularizando 11 Sam. 9—20, teriam sido escritas no século X a.C., ao passo que outras porções são atribuídas por eles a períodos posteriores, que se estenderiam até depois do exílio babilônio.
Mas, se a ideia de “apologia” davídica tiver de ser aceita (ver anteriormente), então, pode-se argumentar em favor de uma data anterior para aqueles capítulos. E isso porque a necessidade de tal defesa da dinastia davídica seria uma imposição nos dias do próprio Davi e nos dias de Salomão, mas especialmente durante os primeiros anos do governo de Davi, quando seu trono estava seriamente ameaçado, de sorte que apenas a tribo de Judá o aceitava como rei, ao passo que as demais tribos permaneciam em compasso de espera. Ver  II  Sam. 2.1 — 4.12. Em I Sam. 27.6 lemos que “Ziclague pertence aos reis de Judá, até o dia de hoje”. Isso pode indicar ou que o livro de Samuel foi escrito durante os dias da monarquia dividida, isto é, após Salomão, ou então que essas palavras foram inseridas posteriormente.
Os eruditos conservadores fazem variar a data dos livros de Samuel desde 970 a.C. (pouco depois da época de Davi) até 722 a.C. (época em que a cidade de Samaria foi destruída pelos assírios e começou o exílio de Israel, nação do norte). Todavia, a ausência de qualquer referência à queda de Samaria provê um extremo temporal seguro. Os livros de Samuel não podem ter sido escritos após a queda de Samaria. Doutra sorte, haveria alguma alusão a esse acontecimento, por demais importante para ter sido esquecido por um autor- compilador, caso, porventura, já tivesse ocorrido.
V.    Propósito
Os livros de Samuel, como já dissemos, foram escritos para apresentar uma narrativa conexa dos eventos que cercaram a instauração da monarquia em Israel, Esses livros historiam tanto a carreira do último dos juízes, que também foi o primeiro (depois de Moisés) da tonga série de profetas, Samuel, quanto os acontecimentos que circundaram a vida de Saul e Davi, os dois primeiros reis de Israel. Portanto, os livros de Samuel assinalam um período crítico de transição. É com toda a razão que os livros se chamam I e II Samuel, porque o papel desempenhado por esse profeta de Deus é crucial para a correta compreensão tanto da instauração da monarquia quanto do desenvolvimento do oficio profético no Antigo Testamento, que terminou com a figura fulgurante de João Batista, precursor do Senhor Jesus. Foi Samuel, o agente da teocracia, quem deu legitimidade à dinastia davídica, diante dos olhos um tanto duvidosos de toda a nação de Israel.
As lições morais e espirituais que derivamos das experiências pessoais de Samuel, de Saul e de Davi também se revestem de importância capital. Um ponto a destacar, nessas lições, é a atitude de desobediência a Yahweh, por parte de Saul. Isso o condenou aos olhos do Senhor, que o rejeitou como rei. Esse é um dos pontos altos da narrativa. visto que rejeitaste a palavra do Senhor, já ele te rejeitou a ti, para que não sejais rei sobre Israel” (I Sam. 15.26). Outra dessas lições foi a queda de Davi, no caso de Bate-Seba, que quase lhe custou a coroa e a vida (ver II Sam.
11.1—12.25). Contudo, a despeito de seus graves defeitos, Davi era o escolhido e ungido do Senhor, pelo que a sua dinastia foi firmada. O Senhor estabeleceu com Davi o chamado pacto davídico (ver II Sam. 7.1-29). De acordo com os termos desse pacto, o Messias procederia da casa de Davi consoante as palavras do Senhor, através do profeta Natã: “Quando teus dias se cumprirem, e descansares com teus pais, então farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino” (II Sam. 7.12,13).
Acrescente-se a isso que os livros de Samuel fornecem um excelente pano de fundo para alguns dos salmos. E, finalmente, vários fatos importantes acerca da cidade de Jerusalém são esclarecidos no livro. O propósito dos livros de Samuel é, pois, multifacetado.
VI.    Estado do Texto
O texto hebraico tradicional, representado pelo texto massorêtico, mostra-se estranhamente defeituoso no que concerne a I e II Samuel. Há mesmo casos nos quais as emendas são imperiosas, por motivo de textos muito mal preservados. Para exemplificar, temos I Sam. 13.1, que omite o número de “anos”, ao descrever a idade de Saul. Nossa versão portuguesa, juntamente com outras, atrapalha ainda mais a passagem. A tradução emendada diz, conforme a NIV: “Saul tinha trinta anos de idade quando se tomou rei; e reinou em Israel por quarenta e dois anos”. Entretanto, a nossa versão portuguesa diz: “Um ano reinara Saul em Israel. No segundo ano do seu reinado sobre o povo…”.
Permanecem desconhecidas as razões pelas quais o texto massorêtico sobre os livros de Samuel apresenta maior número de dificuldades do que o texto de qualquer outro livro do Antigo Testamento. Há estudiosos, como Archer, que sugerem que o texto oficial, formulado durante o período intertestamental, dependeu de uma antiga cópia, desgastada pelo uso ou mesmo atacada por insetos. E os massoretas teriam reproduzido fielmente o texto “oficial”. Outros, como Segai, creem que os livros de Samuel foram negligenciados em face da competição feita pelos livros mais populares de Crônicas. Por ser menos lido, o texto de Samuel, de alguma maneira, veio a sofrer de corrupções várias.
Interessante é que fragmentos do manuscrito dos livros de Samuel, entre os chamados Manuscritos do Mar Morto, sobre os quais se baseou a tradução da Septuaginta (ver a respeito ambos os termos no Dicionário), mostram-se superiores à tradição massorética. Cross tem estudado várias passagens nas quais o material das cavernas de Qumran se assemelha muito com a Septuaginta, sobretudo o códex B. Isso indica que os tradutores dessa versão do Antigo Testamento para o grego manusearam o texto hebraico com extrema fidelidade, pelo que seriam mais dignos de confiança do que o foram até bem pouco tempo, entre os estudiosos. Pelo menos nos dois livros de Samuel, a versão da Septuaginta reveste-se de grande valor na determinação do verdadeiro texto de muitas passagens problemáticas.
Albright opinou que as cópias mais antigas de Samuel, entre o material encontrado nas cavernas de Qumran, exibem superioridade tanto em relação ao texto hebraico massorêtico quanto em relação ao texto da Septuaginta. Os estudiosos estão preparando uma edição melhorada do texto de I e II Samuel, com base nesses achados de Qumran. Esperemos, pois, por essa edição!
VII. Problemas Especiais
Os críticos geralmente apontam para três problemas especiais existentes nos livros de Samuel: a. relatos duplicados; b. a identidade de quem matou Golias; e c. dificuldades em tomo da feiticeira de En-Dor. No tocante ao primeiro desses problemas, os estudiosos encontram discrepâncias e contradições no texto dos livros de Samuel. De acordo com eles, as descrições dos mesmos eventos, de duas maneiras diversas, deixam-nos “entrever” o uso de diferentes fontes informativas, ou então a existência de relatos paralelos, o que revelaria, no mínimo, a mão de mais de um autor do livro. Ver a terceira seção, sobre Autoria, anteriormente. Exemplos de duplicação seriam os seguintes: Por duas vezes Saul é feito rei, por duas vezes, igualmente, Davi foi apresentado a Saul; e por duas vezes os habitantes de Zife informaram a Saul acerca do local onde Davi se ocultava. Além desses casos, eles falam em várias outras duplicações. Mas, em cada um dos casos apresentados, sempre se pode encontrar uma explicação satisfatória, o que reduz a nada esses problemas especiais, criados pelos críticos.
Assim, os eventos que cercam as duas “coroações” de Saul foram acontecimentos diferentes um do outro. Na primeira ocasião, Saul foi escolhido mediante o lançamento de sortes e, então, foi apresentado ao povo.
Porém, alguns “filhos de Belial” (I Sam. 10.27) mostraram dúvidas quanto à sua capacidade de governar a nação, e recusaram-se a reconhecê-lo. No capítulo 11 de I Samuel, Saul liderou o exército de Israel a obter uma vitória decisiva sobre os amonitas, e Samuel reuniu o povo em Gilgal, a fim de que renovassem o “reino” (I Sam. 11.14). Então todo o povoproclamou Saul como seu rei (vs. 15), em meio a grandes demonstrações de regozijo e unidade. As palavras “proclamaram a Saul seu rei” nao aparecem no capítulo 10; e a referência à renovação ou confirmação do reino deixa entendido que Saul havia sido previamente designado como rei.
Davi foi inicialmente apresentado a Saul (ver I Sam. 16.21). Na oportunidade, Saul recebeu-o como músico e armeiro, e o jovem Davi foi contratado para acalmar, com sua música, o perturbado monarca. Mas, depois que Davi retornou do campo de batalha, onde matara o gigante Golias, Saul indagou: “De quem é filho este jovem, Abner?” (I Sam. 17.55). Mas Abner não sabia dizê-lo. Há aqueles que interpretam isso como se Saul houvesse esquecido o nome de Davi. Notemos, porém, que a dúvida não estava sobre a identidade de Davi e, sim, de seu pai. O rei repetiu a pergunta diretamente a Davi: “De quem és filho, jovem?”. E Davi, havendo entendido que Saul não perguntava por seu próprio nome (de Davi) e, sim, pelo nome de seu pai, respondeu: “Filho de teu servo Jessé, belemita” (I Sam. 17.56 -58). Como vemos, novamente, a falta de atenção levou alguns eruditos a imaginar que Davi precisou ser apresentado por duas vezes a Saul, o que teria sido realmente estranho, para dizer o mínimo.
A indagação de Saul acerca do pai de Davi fica ainda bem compreendida em face de I Sam. 17.25-27, onde o rei prometera que o homem que matasse o gigante Golias nâo pagaria os impostos da casa de seu pai. Para que Saul cumprisse a promessa, era mister saber o nome do pai de Davi, que abatera ao atrevido gigante. A promessa dizia: “A quem o (ao gigante) matar, o rei cumulará de grande riqueza, e lhe dará por mulher a filha, e à casa de seu pai isentará de impostos em Israel” (vs. 25). Lembremo-nos de que, naquele período de sua vida, Davi ainda não era o famoso rei Davi e, sim, apenas um jovem cortesão, músico, proveniente de uma família que até então não havia alcançado notoriedade em Israel. Também poderíamos argumentar que a mente do rei estava tremendamente perturbada, por permissão de Deus, o que também pode ter contribuído para o seu esquecimento quanto ao nome do pai de Davi. Além disso, 1 Sam. 18.2 afirma que Saul, depois que Davi matou a Golias, não lhe permitiu retornar à casa paterna, sugerindo uma diferença em sua maneira de tratar o jovem, o que deve ser entendido em confronto com I Sam. 17.15.
Os dois episódios que envolveram os zifitas são também superficialmente semelhantes. Nos capítulos 23 e 26 de I Samuel, os habitantes de Zife levaram ao conhecimento de Saul informações sobre o paradeiro de Davi. Os dois eventos, porém, envolvem circunstâncias muito diferentes, em períodos diferentes, embora o local envolvido, como esconderijo de Davi, fosse o mesmo: o outeiro de Haquilá. Um caso similar a esse foi o de Abraão, que apresentou Sara como sua irmã, por duas vezes, nos capítulos 12 e 20 do livro de Gênesis. Mas os críticos não argumentam que ali houve duplicação de narrativas, em face de fontes informativas diferentes! A impressão que se tem é de que os críticos, querendo fazer prevalecer sua opinião sobre as origens de diversos livros antigos da Bíblia, criam hipóteses que depois não são capazes de consubstanciar.
Conforme dissemos anteriormente, outro problema especial criado pelos intérpretes gira em tomo da pergunta: “Quem, realmente, matou Golias?”. Certos críticos pensam que houve uma versão mais popular do feito, segundo a qual o matador do gigante teria sido Elanã. Entretanto, na verdade, Elanã (de acordo com II Sam. 21.19) é quem teria abatido o gigante. Mas, posteriormente, o feito teria sido transferido para Davi, a fim de tomá-lo uma figura heróica, capaz de ocupar o trono de Israel. Essa suposição, contudo, esbarra com dificuldades intransponíveis. Se Davi não tivesse matado Golias, como explicar o intenso ciúme de Saul? E como explicar o cântico triunfal, que atribuiu, imediatamente em seguida, o triunfo a Davi (ver I Sam. 18,7)? Essa suposta dificuldade teria sido prontamente dirimida mediante a atenção ao trecho de I Crô. 20:5, onde se lê:”… e Elanã, filho de Jair, feriu a Lami, irmão de Golias, o geteu, cuja lança tinha a haste como eixo de tecelão”. Isto posto, Davi matou Golias, e Elanã matou Lami, irmão de Golias. Não há nenhuma duplicação de relatos. Evidentemertte, houve um erro primitivo de transcrição em II Sam. 21.19, onde se lê: “… e Elanã, filho de Jaaré-Oregim, o belemita, feriu Golias, o geteu, cuja lança tinha a haste como eixo do tecelão”. Mas essa passagem, quando comparada com aquela outra, de I Crônicas, fica esclarecida O que houve não foi a repetição de relatos, na qual em um deles Davi teria sido o matador de Golias, e, em outro, o matador teria sido Elanã. O que, realmente, houve, foi um erro primitivo de transcrição.
E acerca da feiticeira de En-Dor? Sobre o que objetam os críticos? Alguns declaram que, em face de certas proibições bíblicas, o contato de vivos com os mortos não pode ter acontecido. Tudo teria sido apenas um fenômeno psicológico, talvez fruto da condição perturbada de Saul. Um ponto de vista mais conservador admite que Deus permitiu que Saul visse uma forma semelhante a Samuel, embora tudo não passasse de uma visão, e não do corpo ou do espírito real daquele profeta. Entretanto, a explicação mais certa e óbvia é aquela que reconhece que Samuel realmente apareceu a Saul em forma visível, e que o profeta já morto realmente comunicou-se com Saul. O relato está no capítulo 28 de I Samuel. A médium de En-Dor, diante da pergunta de Saul: “Não temas; que vês?”, replicou: “Vejo um deus que sobe da terra” (vs. 13). Sabemos que os médiuns espíritas e outros realmente se comunicam com espíritos dos lugares tenebrosos. Isso é ensinado desde o livro de Gênesis, no caso dos magos do Egito. Esses médiuns, porém, não têm normalmente contato com espíritos remidos. Portanto, Deus deve ter intervindo, permitindo o aparecimento de Samuel à vidente de En-Dor. Isso surpreendeu à mulher, que gritou.
Que os mortos podem aparecer aos vivos, vê-se no caso de Moisés e Elias, que apareceram juntamente com o Senhor Jesus, quando de sua transfiguração, diante de três de seus discípulos: Pedro, Tiago e João (ver Mat. 17.1-8; Mar. 9.14-29 e Luc. 9.3743). Esse episódio, juntamente com o do aparecimento de Samuel após a sua morte, por intermediação da médium de En-Dor, incidentalmente prova a existência consciente dos espíritos humanos que daqui partiram, por força da morte biológica, além de ser um fortíssimo apoio à doutrina da imortalidade da alma! Por conseguinte, toda essa objeção à aparição de Samuel à feiticeira de En-Dor, e ao recado que ele deu a Saul, baseia-se naquela razão que foi dada pelo Senhor Jesus aos saduceus: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mat. 22.29).
VIII. Teologia do Livro
Embora a ênfase principal dos dois livros de Samuel seja histórica, e nâo-teológica, vários capítulos contêm importantes doutrinas, que nos são ensinadas de maneira inequívoca. Três são as lições teológicas destacadas nos livros de Samuel:
A.    A Vontade Soberana de Deus. Muitos estudiosos ficaram perplexos diante da atitude de Deus em relação ao estabelecimento da monarquia em Israel. Indícios suficientes indicam que Deus não ficou satisfeito com o fato de que os israelitas rejeitaram o governo teocrático. Ver I Sam. 8.7, onde se lê: “Disse o Senhor a Samuel: Atende à voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te rejeitaram a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre eles”. Mesmo assim, o homem de Deus tentou dissuadir o povo de desejar um rei; mas a maioria esmagadora do povo mostrou-se inflexível na exigência de ter um monarca que os conduzisse às batalhas conforme sucedia aos povos em derredor. Por outro lado, antes mesmo de Saul haver sido ungido rei, Deus prometeu abençoá-lo e usá-lo para livrar seu povo dos inimigos, segundo se aprende em I Sam. 9.16: “Amanhã a estas horas te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo da mão dos filisteus; porque atentei para o meu povo, pois o seu clamor chegou a mim”. É evidente que devemos traçar uma distinção entre a vontade diretiva e a vontade permissiva de Deus. Assim, o desejo que os israelitas tiveram de um rei foi um desejo pecaminoso, mas o Senhor Deus contornou isso, permitindo que, ainda assim, o povo fosse abençoado.
Outro aspecto da vontade de Deus diz respeito à questão da predestinação em relação à responsabilidade humana. Depois que Saul já era rei de Israel fazia algum tempo, ele desobedeceu a Deus, oferecendo um sacrifício, privilégio reservado exclusivamente ao sacerdócio. Samuel repreendeu-o severamente por isso, anunciando que Saul havia perdido o direito de ser cabeça de uma dinastia reinante duradoura. No dizer de Samuel: “Procedeste nesciamente em não guardar o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou; pois teria agora o Senhor confirmado o teu reino sobre Israel para sempre” (I Sam. 13.13). Mas, em vez disso, por causa desse ato de precipitação e rebeldia de Saul, o Senhor transferiu a liderança do reino a outro, a saber, Davi.
É evidente que o pecado de Saul pode ser apontado como a causa da perda de seus direitos dinásticos. No entanto, desde os dias do patriarca Jacó, estava profetizado que o “cetro não se arredará de Judá” (Gên. 49.10). A tribo governante sobre o povo de Israel seria a tribo de Judá, à qual pertencia Davi, e não a tribo de Benjamim, à qual pertencia Saul. Isto posto, o cumprimento dessa predição do Espírito de Deus, por intermédio de Jacó, não exigia a desqualificação de Saul? Por outra parte, vemos que Samuel não consolou Saul, dizendo-lhe: “O pecado que cometeste não foi uma falta tua, e tinha mesmo que acontecer”. Pelo contrário, Saul não foi desculpado por sua desobediência, mas foi severamente julgado. Isto posto, naturalmente, Deus tanto previu esse acontecimento quanto cuidou para que ele realmente se efetuasse; mas a responsabilidade humana permaneceu sendo um fato, e Saul foi julgado culpado, apesar de seu ato ter sido previsto desde há muito.
B.    A Doutrina do Pecado. Os livros de I e II Samuel ilustram, em vivas cores, a pecaminosidade do coração humano e os inevitáveis maus resultados do pecado. Líderes piedosos de Israel, como Eli, Davi e Samuel, não acertaram sempre, pois suas falhas também são salientadas no relato bíblico. O que é de admirar, entretanto, é que esses três homens tiveram filhos que foram rebeldes contra o Senhor. Na qualidade de pais, os três enfrentaram tremendas dificuldades para encaminhar seus filhos na senda da retidão. Assim, os filhos de Eli furtavam os sacrifícios trazidos pelo povo, blasfemavam contra Deus e cometiam fornicação, e isso no papel de sacerdotes do Senhor. Ver I Sam. 2.13-17,22; 3.13. Não admira que eles tenham sido mortos pelos filisteus. O trágico, na história de Samuel, é que foi justamente por causa dos delitos de seus filhos que o povo de Israel chegou a exigir que lhes fosse dado um monarca (I Sam. 8.5).
Saul começou seu govemo como homem humilde, que recebia orientação do Espírito de Deus. No entanto, à medida que seu govemo avançava no tempo, ele passou a rebelar-se contra o Senhor, até que terminou sob a influência de espíritos malignos e foi atacado por acessos de inveja e fúria que nos fazem pensar em demência precoce, ou coisa pior. Sua queda moral e espiritual foi tão vertiginosa que ele acabou apelando para a médium de En-Dor! Para quem chegara a receber instruções diretas da parte de Deus, isso foi como ser precipitado do céu ao inferno! Deus não mais lhe respondia. Lemos em I Sam. 28.6: “Consultou Saul o Senhor, porém este não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas”. Por isso, em seu desvario, desesperado, Saul perguntou onde poderia encontrar uma médium que consultasse aos mortos. Quando aconteceu a batalha dos israelitas com os filisteus, estes conseguiram cercar Saul e seus três filhos, seu escudeiro e todos os homens de guerra que estavam em sua companhia!
A experiência pecaminosa de Davi provê-nos uma triste instrução, que tem aspectos positivos e negativos. O grande rei Davi era homem segundo o coração de Deus. Mas, em um momento de falta de vigilância, deixou-se arrastar pela tentação, tendo-se envolvido em adultério secreto e homicídio cometido sob as circunstâncias mais covardes e agravantes. E isso depois de ter exibido por anos a fio grande fé e devoção ao Senhor. Todavia, tendo Davi finalmente reconhecido seus graves pecados, foi espiritualmente restaurado (ver II Sam. 12.13). O Senhor
o perdoou e deu continuidade à benção a ele prometida, demonstrando-lhe, assim, grande graça e misericórdia. Entretanto, um aspecto que não podemos esquecer da lição que esses incidentes nos ensinam é que, apesar da confissão sincera de Davi — e de haver sido ele perdoado —, ele precisou sofrer as inevitáveis consequências penais do pecado. O filhinho dele e de Bate-Seba acabou morrendo ainda tenro infante. Amon, primogênito de Davi, imitou-o e cometeu incesto com suameio-irmã, Tamar. Isso precipitou a vingança de Absalão, que terminou, traiçoeiramente, tirando a vida de Amom. E houve várias outras tragédias na família, como a da revolta de Absalão, que violentou as mulheres de seu pai e acabou sendo morto com três dardos que lhe transpassaram o coração, estando ele preso pelos longos cabelos, enroscados em um galho de árvore pendurado cerca de um metro acima do solo.
Apesar desses pontos extremamente negativos na vida de Davi e de seus familiares mais diretos, ainda assim o Senhor muito o abençoou, assim como o seu reinado, em Sua incalculável misericórdia. Deus também recuperou Bate-Seba, culpada com Davi de adultério. E o Senhor até abençoou a Salomão, outro filho que, mais tarde, Davi e Bate-Seba tiveram, escolhendo-o para ser o sucessor de seu pai no trono de Israel.
C. O Pacto Davídico. Este é um dos mais importantes pactos estabelecidos por Deus, em todo o Antigo Testamento. Deus firmou esse pacto com Davi (ver II Sam. 7.1-29), ampliando ainda mais as provisões do pacto abraâmico, que encontramos no livro de Gênesis. A Davi foi prometida uma linhagem permanente, um trono firme e um reino perpétuo. O direito de governar Israel sempre caberia a um de seus descendentes, promessa que antecipa e garante o reinado eterno do Senhor Jesus Cristo, o Filho maior de Davi. A fidelidade e o amor constante de Deus por Seu servo Davi podem ser vistos no fato de que Ele o perdoou graciosamente de seu grave pecado duplo: adultério e homicídio. Não admira, pois, que Davi se tenha regozijado diante da promessa divina feita à sua casa. As “últimas palavras” de Davi, que encontramos em II Sam. 23.1 ss., referem-se a essa aliança eterna. Ver no Dicionário o artigo sobre os Pactos.
Um ponto deveras tocante nos livros de I e II Samuel foi a profunda e fiel amizade que se estabeleceu entre Davi e Jônatas(ver a respeito no Dicionário), filho de Saul. A amizade entre eles ilustra a responsabilidade daqueles que se compactuam de alguma maneira. Jônatas não traiu a seu amigo, Davi, em momento algum, até o último dia de sua vida, embora tivesse todas as razões para compartilhar da inveja e hostilidade que seu pai, Saul, nutria por Davi. E Davi também não se mostrou menos leal a seu amigo Jônatas. Depois que se tomou rei, Davi cuidou zelosamente do bem-estar de um filho aleijado de seu amigo Jônatas, Mefibosete (ver II Sam. 9.1-13). Em uma época sangrenta e violenta como foi a de Davi, é grato encontrarmos uma amizade como essa entre Davi e Jônatas, que redime muito daquilo que nos provoca repulsa, quando consideramos a selvageria própria do período. Os homens são fruto do meio em que vivem. Davi era um bom filho de sua época histórica, mas ele mostrou ser um homem sensível, amigo fiel, artista, poeta, músico, embora também um gênio militar, muitas vezes sangüinário e cruel. A personalidade de Davi era tão cativante que todos os israelitas, até hoje, têm como um de seus mais caros ídolos um governante como Davi.
IX. Conteúdo e Cronologia
Conforme dissemos na segunda seção, Caracterização Geral, a Bíblia dos hebreus tinha um único livro de Samuel, que englobava o que conhecemos como I e II Samuel. A divisão apareceu, inicialmente, na Septuaginta (a tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego, terminada cerca de 200 anos antes da eclosão do cristianismo). Mas, que há uma unidade e continuação ininterrupta na narrativa, pode-se ver claramente nas passagens sumariadoras: I Sam. 14 e II Sam. 8, que destacaremos a seguir, no decurso dos comentários sobre cada ponto importante do esboço do conteúdo. Essas passagens dão-nos as chaves para uma boa compreensão sobre a estrutura de I e II Samuel. Isto posto, nosso esboço de conteúdo não observará essa divisão literária em I e II Samuel, mas exibirá as vinculações óbvias entre um livro e outro, como se não houvesse dois livros de Samuel.
A.    Samuel (1.1—7.17)
1.    Seu nascimento (1.1 -28)
2.    O Cântico de Ana, mãe de Samuel (2.1-10)
3.    O sacerdote Eli e seus filhos (2.11-36) -
4.    Chamada de Samuel (3.1-21)
5.    A arca da aliança é tomada (4.1 -22)
6.    A arca naFilístia(5.1-12)
7.    Devolução da arca(6.1—7.1)
8.    Exortação ao arrependimento (7.2-17)
B.    Samuel eSaul (8.\—15.35)
1.    O fim da teocracia (8.1 -22)
2.    Saul e Samuel encontram-se (9.1-24)
3.    Saul ungido rei (9.25—10.27)
4.    Primeiras vitórias de Saul (11.1-11)
5.    Saul é proclamado rei (11.12-15)
6.    Samuel resigna o cargo de juiz (12.1-25)
7.    Temeridade de Saul e sua reprovação (13.1-15“)
8.    Vitória sobre os filisteus (13.15b—14.52)
9.    Saul é rejeitado (15.1-35)
C.    Samuel Unge a Davi (16.1-13)
D.    Davi e Saul (16.14—II Sam. 1.27)
1.    Davi, o músico (16.14-23)
2.    Davi e Gol ias (17.1-58)
3.    Davi e Jônatas (18.1 -5)
4.    A inveja de Saul (18.6—19.24)
5.    Aliança entre Davi e Jônatas (20.1-43)
6.    Fuga de Davi (21.1—27.12)
7.    Saul e a médium de En-Dor (28.1-25)
8.    Davi e os filisteus (29.1—30.31)
9.    Morte de Saul (31.1-13)
10.    Davi lamenta por Saul e Jônatas (II Sam. 1.1-27)
E.    Davi Torna-se Rei (II Sam. 2.1 – 24.25)
1.    Sobre Judá (2.1-7)
2.    Oposição a Davi (2.8—4.12)
3.    Sobre todo o Israel (5.1-12)
4.    Feitos vários de Davi (5.13—10.19)
5.    pecado de Davi (11.1—12.31)
6.    Conseqüências temporais do pecado (13.1—19.10)
7.    Davi novamente em Jerusalém (19.11—20.22)
8.    Oficiais de Davi (20.23—21.22)
9.    Ação de graças de Davi (22.1-51)
10.    Ultimas palavras de Davi (23. 1 -7)
11.    Feitos dos maiores guerreiros de Davi (23.8-39)
12.    recenseamento (24.1-25)
Comentários sobre o item A) Samuel (1.1—7.17)
1.    Samuel nasceu como resposta graciosa de Deus às instantes orações de sua mãe, Ana. Até então, Ana tinha profunda tristeza por ser estéril. Fiel à sua promessa, Ana dedicou o filho, Samuel, já desmamado, ao Senhor.
2.    O cântico de gratidão de Ana. Seu salmo é chamado de “oração”. Em Sal. 72.20, os salmos de Davi também são chamados de “orações”.
3.    Os filhos de Eli eram pecaminosos. Lembremo-nos de João 1.12,13, que ensina que os “filhos de Deus não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem”. A responsabilidade diante de Deus é pessoal. Ver Eze. 18:1 ss., onde é estabelecido um principio básico: “a alma que pecar, essa morrerá”.
4.    O Espírito de Deus entra em contato real com o espírito humano. A experiência dos grandes homens de Deus confirma isso. O título posto acima do capítulo 3 de
I Samuel, em nossa versão portuguesa, diz “Deus fala com Samuel em sonhos”. Isso é um erro. Deus apareceu a Samuel; houve uma teofania (ver a respeito no Dicionário).
5.    Não somente a arca foi tomada, mas seu santuário, Silo, foi destruído. Isso foi um castigo divino, conforme se aprende em Jer. 6.9 e 7.12,26.0 quanto isso representou para o povo de Israel, pode-se depreender das palavras da nora de Eli: “Foi-se a glória de Israel, pois foi tomada a arca de Deu s” (vs. 22).
6.    Os filisteus não puderam saborear o gosto da tomada da arca. A mão do Senhor veio contra eles sob a forma de graves enfermidades. “Os homens que não morriam eram atingidos com os tumores; e o clamor da cidade (Asdode) subiu até o céu” (5.12).
7.    Não há que duvidar que houve o impulso de forças divinas ou angelicais sobre as vacas que puxavam o carro em que era devolvida a arca da aliança. A arca era apenas um objeto, mas um objeto sagrado que representava muito. Setenta israelitas morreram, por terem olhado o interior da arca. A pergunta dos habitantes de Bete-Semes faz- nos pensar: “Quem poderia estar perante o Senhor, este Deus santo?” (6.20).
8. Os israelitas seriam livrados da opressão filistéia caso se arrependessem. Essa era e sempre será a condição do livramento divino. Samuel entendia isso e exortou o povo ao arrependimento. E o povo se arrependeu: “Então os filhos de Israel tiraram dentre si os baalins e os astarotes, e serviram só ao Senhor» (7.4).
Comentários sobre o item B) Samuel e Saul (8.1— 1535):
1.    Findou-se um período importante no trato de Deus com o povo de Israel. O aviso de Samuel foi profético: “… naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvirá naquele dia” (8.18). Só haverá novamente a teocracia por ocasião da Segunda Vinda do Senhor Jesus, mas dessa vez sobre bases muito superiores, no milênio e no estado eterno. Os israelitas queriam ser iguais aos povos vizinhos. Eles não queriam um governo justo, mas um governo militarista: “… o nosso rei poderá governar-nos, sair adiante de nós, e fazer as nossas guerras” (8.20). Mas, no milênio, nâo haverá mais guerra, e as nações desaprenderão a arte bíblica. (Ver Isa. 2.4).
2.    O primeiro rei de Israel tinha muitas qualidades humanas, entre as quais é destacada sua beleza física: “… Saul, moço, e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro mais belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaía a todo o povo” (9.2). Era, porém, defeituoso quanto às qualidades morais e espirituais, conforme deixa claro toda a narrativa bíblica sobre ele.
3.    “… O Espírito de Deus se apossou de Saul, e ele profetizou no meio deles” (10.10). Alguma coisa tinha sucedido a Saul, mas não fora o novo nascimento. Isso deve ser entendido à luz de Heb. 6.4-8. A unção divina, pois, é uma realidade espiritual transformadora, mas não necessariamente salvadora.
4.    Um dos resultados da unção divina sobre Saul foi a sua nova habilidade militar. “E o Espírito de Deus se apossou de Saul, quando ouviu estas palavras, e acendeu- se sobremodo a sua ira” (11.6).
5.    Não temos aqui a repetição do relato sobre sua unção (ver 9.25— 10.27), mas sua aclamação como monarca, sua aceitação como rei por parte do povo. Ver a seção VII, Problemas Especiais, segundo parágrafo.
6.    Samuel terminou seu juizado de maneira vitoriosa e digna, embora triste por ter-se encerrado a teocracia. Notemos, porém, que ele não renunciou às suas funções proféticas; e nem mesmo poderia tê-lo feito, porquanto era caso escolhido por Deus para tanto, e os dons de Deus são sem arrependimento. Ver Rom. 11.29.
7.    A guerra de Saul foi gradativa. Primeiro ele foi reprovado por ter-se imiscuído em funções que não lhe cabiam, usurpando uma função sacerdotal. Contudo, Deus continuou dando vitórias a Israel, por meio de Saul e de Jônatas, seu príncipe herdeiro, que se mostrou um digno e honrado candidato à sucessão ao trono, quando seu pai fechasse os olhos. Mas a queda moral e espirtual de Saul prosseguiria, anulando todas as possibilidades futuras de Jônatas.
8.    O voto de Saul, muito precipitado, demonstra que ele já estava perdendo o contato com o Espírito de Deus. E a decisão popular, mais sábia que o voto impetuoso de Saul, salvou a vida de Jônatas (14.45).
9.    Repreendido por Samuel, Saul não deu o braço a torcer, e tentou justificar-se. As palavras de Samuel são uma lição para todas as questões: “Tem porventura o
Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como a idolatria e culto aídolos do lar… ” (15.22,23). Quando Saul buscou lugar de arrependimento, já era tarde. E Samuel sentenciou: “Visto que rejeitasse a palavra do Senhor, já ele te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel” (vs. 26). Um dos pontos cruciais do livro de Samuel acha-se no vs. 28: “O Senhor rasgou hoje de ti o reino de Israel, e deu ateu próximo, que é melhor do que tu”. O reino estava passando de Saul para Davi!
Comentários sobre o item C) Samuel Unge a Davi (16.1-13)
Saul era belo como nenhum outro jovem em Israel. Quando ia ungir a Davi, Samuel deve ter pensado que ungiria a um lindo moço. Mas Deus lhe ensinou uma grande lição, à qual todos devemos prestar atenção: “Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei (a Eliebe, irmão mais velho de Davi), porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração” (16.7). Ver também II Cor. 5.16.
Por que primeiro Saul teve de ser rei, e somente então Davi? Porque um dos princípios básicos espirituais é o que se aprende em I Cor. 15.46: “Mas não é primeiro o espiritual, e sim, o natural; depois o espiritual”.
Comentários sobre D) Davi e Saul (I Sam. 16.4—II Sam. 1.27)
1.    Agora, um espírito maligno perturbava Saul. Mas ele se aliviava ouvindo a harpa do jovem Davi. Os psicólogos reconhecem atualmente os efeitos benéficos ou maléficos da música. Lemos que houve profetas que profetizavam impelidos pela música. Ver I Sam. 10.5,6 e
II Reis 3.15. Mas também há música sensual e degradante. Há música que, embora não seja sacra, nem por isso é errada para um crente. Mas há música que, definitivamente, deveríamos evitar, A música mexe muito conosco, para melhor ou para pior!
2.    Golias confiava em seu gigantismo e em sua armadura. Davi confiava no seu Deus. Por isso, Davi replicou ao filisteu: “Tu vens contra mim com espada e com lança e com escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado” (17.45). Como é que o resultado daquela batalha singular poderia ter sido diferente? Os antigos, “… por meio da fé… puseram em fuga exércitos de estrangeiros…” (Heb. 11.33,34)!
3.    Jônatas amava a Davi “… como à sua própria alma” (18.3). Sem dúvida, existem almas gêmeas. A sincera e duradoura amizade de Jônatas deve ter sido um grande consolo para Davi, ao mesmo tempo que as perseguições de Saul eram-lhe extremamente molestas.
4.    A inveja rói a alma do invejoso e é extremamente desagradável para o invejado. Nada demovia Saul de suas suspeitas ciumentas, nem a intervenção de seus próprios filhos, Jônatas e Mical. Um momento crítico foi quando Saul intentou cravar Davi na parede com sua lança enquanto este dedilhava seu instrumento de música (19.10).
5.    Jônatas reconheceu que Davi era o escolhido do Senhor para ocupar o trono em lugar de seu pai, Saul. Jônatas, pois, mostrou grande abnegação. Por essa sua defesa em favor de Davi, quase Jônatas paga com a própria vida (20.33). A aliança entre Davi e Jônatas envolvia até mesmo os seus descendentes: “O Senhor seja para sempre entre mim e ti, e entre a minha descendência e a tua” (vs. 42).
6.    Um longo período muito perigoso para Davi. Há muitos episódios, e não podemos comentá-los separadamente. Para piorar a situação de Davi, foi durante esse tempo que Samuel morreu (25.1). Davi respeitava Saul, seu rei e seu sogro. Sua atitude para com Saul pode ser vista na observação que fez em certa ocasião: “O Senhor me guarde, de que eu estenda a mão contra o seu ungido…” (26.11). Saul estava fora de si. Reconhecia momentaneamente sua tola perseguição contra Davi, seu genro, mas o espírito maligno apossava-se dele, e ele voltava à carga contra Davi. Era uma fixação doentia!
7.    Deus abandonara a Saul, e Saul abandonara o Senhor. Não sabendo para onde se voltar em busca de socorro, com medo dos filisteus, Saul resolveu consultar uma médium espírita. Foi o ponto mais baixo de toda a sua carreira. Foi a gota que fez entornar o balde. Samuel mostrou a Saul que era o ponto terminal para o primeiro rei de Israel: “…amanhã tu e teus filhos estareis comigo…” (28.19).
8.    rei dos filisteus confiava em Davi. Mas os nobres filisteus, não, porque se lembravam: “Não é este aquele Davi, de quem uns aos outros respondiam, nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém, Davi os seus dez milhares?” (29.5). Para eles, Davi era dez vezes mais perigoso que Saul. No caso de divisão da presa, Davi mostrou sua sensibilidade social. Ele era homem justo e equânime: “…qual é a parte dos que desceram à peleja, tal será a parte dos que ficaram com a bagagem; receberão partes iguais” (30.24).
9.    Gravemente ferido, Saul acabou suicidando-se, atirando-se contra a própria espada (31.4). A batalha foi uma grande derrota para Israel. O rei, que começara seu govemo com vitórias sobre os inimigos em derredor, quarenta anos mais tarde amargou sua maior derrota, pagando com a própria vida! Tudo isso lhe sucedeu porque ele se afastou do Senhor, a ponto de ficar perturbado por espíritos malignos. Uma lição horrível, para todas as gerações!
10.    Só três dias depois Davi soube da morte de Saul e de seus três filhos. Não há certeza quanto às circunstâncias em que o amalequita deu o golpe de misericórdia em Saul. Mas, como todo o ungido do Senhor era “intocável”, o amalequita pagou com a própria vida por seu ato sacrílego (II Sam. 1.11 ss.). O lamento de Davi por Saul e Jônatas é comovente. Na lamentação de Davi há um estribilho, reiterado por três vezes: “Como caíram os valentes!”. Vêm-nos as lágrimas quando lemos acerca das palavras de Davi sobre Jônatas: “Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; tu eras amabilíssimo para comigo! Excepcional era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres” (II Sam, 1,26).
Comentários sobre o item E) Davi Torna-se Rei (II Sam.  2.1-24.25)
1.    Os judaítas foram os primeiros a reconhecer Davi como seu rei. As demais tribos ainda ficaram esperando por mais algum tempo. Ver II Sam. 2.1-7.
2.    Abner, capitão do exército do falecido Saul, encabeçava a oposição a Davi, e fez de Is-Bosete, filho de Saul, um rei rival, de tal modo que “somente a casa de Judá seguia a Davi” (2.10). Seguiu-se sangrenta batalha, em que os homens de Davi levaram a melhor (2.12-32). “Durou muito tempo a guerra entre a casa de Saul e a casa de Davi…” (3.1). Contudo, a casa de Davi fortalecia-se cada vez mais, até que Abner, comandante do exército partidário da casa de Saul, bandeou-se para o lado de Davi. O assassínio de Is-Bosete, por ex-partidários seus, foi um ato covarde e traiçoeiro (4.1-12).
3.    “Então todas as tribos de Israel vieram a Davi…” (5.1) e “ungiram a Davi, rei sobre Israel” (vs. 3). Quando Hirão, rei de Tiro, enviou mensageiros a Davi, este reconheceu que “… o Senhor o confirmara rei sobre Israel e exaltara o seu reino por amor do seu povo” (vs. 12).
4.    A primeira coisa que Davi fez foi tomar concubinas e mulheres, além de Ainoã e Abigail (ver 2,2; 3.2-5), Maaca, Hagite, Abital e Eglá. Em II Sam. 15.16 e 20.3, lemos que ele tinha “dez concubinas”. Davi obteve grandes vitórias militares contra os inimigos tradicionais de Israel, transportou a arca da aliança para Jerusalém e projetou a construção do templo. Um ponto importante no relato fica em II Sam. 8:15: “Reinou, pois, Davi sobre todo o Israel; julgava e fazia justiça a todo o seu povo”. Para isso é que ele fora levantado como rei, embora o povo pensasse mais em um heróico guerreiro como ideal da realeza. Um detalhe que mostra algo do caráter de Davi foi a sua bondade para com Mefibosete, filho de Jônatas e neto de Saul (9.1-13).
5.    Seu caso com Bate-Seba foi a maior mancha no caráter de Davi, que o transformou em um adúltero e assassino. Quando parecia que tudo conseguira ficar encoberto, eis que Natâ é enviado por Deus para desmascarar Davi (II Sam. 11.1 —12.15). Deus perdoou o pecado de Davi, mas a primeira consequência adversa foi a morte de seu filho com Bate-Seba (12.15 ss.). Todavia, Davi já se casara legalmente com a viúva Bate-Seba; e um segundo filho do casal foi Salomão, destinado por Deus a ser o próximo rei de Israel (24.25).
6.    Uma série de funestos acontecimentos atingiu Davi e seus familiares, como consequências temporais de seu pecado. Os capítulos 13 a 19 de II Samuel devem ser lidos com muita atenção. Mediante essas ocorrências, Deus deixou todo o Seu povo saber do pecado de Davi. O Senhor nunca se toma cúmplice dos pecados de ninguém. Uma das coisas que mais doeu a Davi foi a revolta e a morte de seu querido filho, Absalâo. Quase podemos ouvir os soluços do rei, enquanto ele clamava, desconsolado: “Meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!” (II Sam. 18.33).
7.    Davi voltou a Jerusalém, convidado pelos homens de Judá. “…mandaram dizer-lhe: Volta, ó rei, tu e todos os teus servos” (II Sam. 19.14). Houve reconciliações e protestos de fidelidade. O caso da sedição de Seba foi gravíssimo, fazendo a nação dividir-se em duas. Lemos em II Sam. 20.2: “Então todos os homens de Israel se separaram de Davi, e seguiram Seba, filho de Bicri; porém, os homens de Judá se apegaram ao seu rei…”.
8.    Davi organizou melhor o reino, com oficiais civis e militares. Entrando em batalha, Davi ficou “muito fatigado” (21.15). Que idade teria ele? Efeitos prematuros de muitas privações? Seja como for, não mais deixaram Davi sair em batalha: “… para que não apagues a lâmpada de Israel” (vs. 17). Ainda restavam gigantes, quando o reinado de Davi já se aproximava do fim. Os homens de Davi mataram quatro deles. Ver II Sam. 21.19, sobre o qual já tecemos comentários na seção sétima, Problemas Especiais, sexto parágrafo.
9.    Cronologicamente esta seção deveria estar no começo de II Samuel, porque o cântico celebra o livramento de Davi das perseguições de Saul (II Sam. 22.1).
10.    Davi compõe um poema, agradecendo pela “aliança eterna” estabelecida pelo Senhor Deus com ele. Ver a oitava seção, Teologia do Livro, no trecho O Pacto Davídico.
11.    Davi foi um grande homem que foi assessorado
por grandes homens, sobretudo no campo militar. A lista que aqui se encontra dos “valentes” de Davi inclui 37 nomes. Um trecho paralelo — I Crô. 11.11-41 — acrescenta mais 16 nomes, totalizando 53 heróis de guerra.
12. incidente do recenseamento mostra que o orgulho começara a tomar conta do coração do idoso rei Davi. O livro de
II Samuel termina com estas palavras positivas: o Senhor se tomou favorável para com a terra, e a praga cessou de sobre Israel” (II Sam. 24.25). O livro termina em uma nota de reconciliação e restauração. O governo justo de Davi, apesar de falhas, dentre delas algumas graves, no seu todo era aprovado pelo Senhor.
Cronologia:
Nos livros de I e II Samuel, há narrativas que nos permitem formular certa cronologia quanto aos episódios cobertos. Para exemplificar, ver I Sam. 6.1; 7.2; 8.1,5; 13.1;25.1;IISam. 2.10,11; 5.4,5; 14.28; 15.7.No entanto, os informes são insuficientes para que se possa formar uma cronologia precisa quanto à maioria dos eventos desse período da história de Israel. Com exceção das datas do nascimento de Davi e da duração de seu reinado, que são dados firmes (ver II Sam. 5.4,5), quase todas as demais datas têm de ser meras aproximações.
O problema textual que envolve a passagem de I Sam. 13.1, acerca da idade de Saul, quando ele se tomou monarca de Israel (ver a seção VI, Estado do Texto), contribui ainda mais “para essa falta de precisão cronológica, pelo menos quanto ao tempo de seu nascimento e ao começo de seu governo. Nenhuma informação nos é dada acerca do tempo do nascimento ou da morte de Samuel (ISam. 1.1 e 25.1). Porém, calcula-se que Samuel deve ter vivido desde os tempos de Sansão e de Obede, filho de Rute e Boaz, e avô de Davi. Todavia, é-nos indicado que ele já era homem bem avançado em anos quando os anciãos de Israel lhe pediram que ungisse um rei a Israel (ver I Sam. 8.1,5).
Um forte fator de incerteza cronológica é que o(s) autor(es) sagrado(s) nem sempre arranjou(aram) o material em estrita seqüência cronológica. Ao que tudo indica, por exemplo, II Sam. 7 deveria aparecer após as conquistas militares de Davi descritas em II Sam. 8.1 -14. A narrativa sobre a escassez que houve em Israel, por castigo divino, devido ao fato de que Saul violou um tratado estabelecido com os gibeonitas, o qual se acha em II Sam.
21.1-4, deveria aparecer antes do relato sobre a rebelião de Absalão, registrada em II Sam. 15—18. Em face dessa série de dificuldades, pois, oferecemos a seguir um quadro cronológico com datas aproximadas, alicerçado muito mais em deduções do que em informes bíblicos seguros:
Nascimento de Samuel (I Sam. 1.1105 a.C
Nascimento de Saul1080
Unção de Saul como rei (I Sam. 10.1)1050
Nascimento de Davi1040
Unção de Davi para ser o próximo rei
(ISam. 16.1-13)1025
Davi começa a reinar sobre Judá
(II Sam. 1.1; 2.1,4,11)1010
Davi começa a reinar sobre todo o Israel
(II Sam. 5)1003
As guerras de Davi (II Sam. 8.1-14)997-992
Nascimento de Salomão (II Sam. 12.23;
I Reis 3.7; 11,42)991
O recenseamento (II Sam. 24.1)980
Fim do governo de Davi
(II Sam. 5.4,5; I Reis 2.10,11)970

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