Quem eram os Gálatas, para Quem Paulo Escreveu?


O termo Galácia (ver Gál. 1:2) ê por si mesmo ambíguo, porque, nos tempos antigos, essa palavra era usada para indicar duas regiões distintas. Tal uso continuava ambíguo nos tempos de Paulo. Esse vocábulo podia denotar a «Galácia» étnica, no centro da Ásia Menor; ou podia denotar a província romana da «Galácia», — de maiores dimensões geográfi­cas. Se a epístola de Paulo aos Gálatas foi enviada à Galácia étnica, nas regiões situadas mais no extremo norte, então precisamos supor que Paulo visitou essa região conforme os indícios existentes em Atos 16:6 e 18:23, ou pelo menos, conforme fica subentendido por uma ou por outra dessas referências bíblicas. Na realidade, entretanto, não há qualquer evidência sólida de que o apóstolo Paulo tenha jamais visitado essa área do extremo norte, e muito menos que tenha fundado igrejas cristãs ali. Por outro lado, contamos com provas abundantes de que ele visitou a área mais ao sul da província da Galácia, onde também estabeleceu igrejas locais, isto é, nas regiões de Listra, Icônio, Derbe e Antioquia da Pisídia (Turquia moderna) conforme o relato histórico de Atos 13:14—14:23, onde Paulo e Barnabé tanto estiveram ativos, durante a chamada «primeira viagem missio­nária». Todas essas localidades ficavam situadas ao sul da província romana chamada Galácia. Porém, os «gálatas» que ali habitavam não eram idênticos aos «gálatas» étnicos, os quais eram descendentes das tribos gaulesas que tinham vindo estabelecer-se naquele território; antes, os leitores de Paulo, habitando naquela província romana da Galácia, eram naturalmente chamados de «gálatas», ainda que não pertencessem à raça dos gauleses. Na realidade, pertenciam às raças dos frígios e dos licaônios. Não obstante, da mesma maneira que hoje em dia o grupo misto dos ingleses, gauleses e escoceses são chamados de britânicos, assim também, aquela gente do sul da Galácia era conhecida pelo nome de gálatas.
A distância entre as duas regiões, segundo nossos conceitos modernos, não foi grande, sendo não mais do que 500 quilômetros. Mas nos tempos antigos, esta distancia representava muitos dias de viagem árdua.
Missão de Paulo na Galácia (Atos 13:13—14:28).
As igrejas cristãs fundadas quando da primeira jornada missionária, portanto, mui provavelmente são aquelas referidas como «…da Galácia…» em Gál. 1:2. E posto que essas igrejas ficavam situadas na região que se tomou conhecida por «Galácia do Sul», pode-se supor que a epístola que Paulo escreveu aos Gálatas visava os crentes da Galácia do Sul. Mas havia também a chamada «Galácia do Norte», cujas principais cidades eram Ancira, Pessino e Távium. Durante o primeiro quarto do séc. III A.C., uma tribo nortista de gauleses invadiu a Ásia Menor, assaltando e pilhando, até que o rei Átalo, de Pérgamo, os confinou em um território que havia em um planalto das regiões nortistas. Esse território passou a chamar-se «Galácia», devido à sua população gaulesa. Alguns estudiosos têm pensado que a epístola de Paulo aos Gálatas foi escrita realmente para eles, formando assim a chamada «teoria da Galácia do Norte».
Abaixo narramos a história abreviada da formação das cidades visitadas durante essa viagem missionária (a primeira do apóstolo Paulo).
O rei gaulês Amintas, favorecido por César Augusto, pouco antes dos fins do século I A.C., adquiriu um vasto território, que incluía a Galácia propriamente dita, parte da Frigia, a Licaônia, a Pisídia, a Panfília e a Cilicia ocidental. Por ocasião de sua morte, em 25 A.C., todo o seu reino caiu sob o poder dos romanos. Subseqüentemente, a Panfília foi constituída como uma província em separado. E ao tempo da primeira viagem missionária de Paulo, a Cilicia ocidental e parte da Licaônia formavam o reino de «Antíoco», ao passo que o restante daquelas regiões acima mencionadas se tornou parte da província romana que se chamou «Galácia Maior». Assim sucedeu que as igrejas cristãs fundadas nas cidades de Antioquia da Pisídia, Listra, Derbe e Icônio, embora ficassem ao sul da Galácia propriamente dita, contudo se encontravam dentro da província romana do mesmo nome. Assim sendo, apesar dessa área ser ocupada por várias raças, em diversos estágios sociais e condições políticas, contudo, — todos esses habitantes eram denominados gálatas. Um número crescente de intérpretes acredita que a epístola paulina aos Gálatas foi escrita para essas igrejas da região do sul da Galácia, a província romana desse nome, e não às hipotéticas igrejas da região do norte, sobre as quais não existe nenhum registro histórico neotestamentário que ateste a sua fundação. A teoria que vem sendo abraçada por esse número crescente de estudiosos se chama de teoria da Galácia do Sul.
Após a passagem de trezentos anos, esse agrupa­mento romano de províncias foi abandonado, e o nome «Galácia» reverteu à porção norte daquela província, e o sentido mais lato do termo (que também incluíra as cidades do sul) foi esquecido. Os arqueólogos, especialmente Sir William M. Ramsy, é que têm — relembrado — ao mundo da erudição bíblica do antigo uso da palavra Galácia, o que emprestou plausibilidade à opinião que a epístola paulina aos Gálatas foi realmente enviada para as igrejas cristãs dessas cidades do «sul», as quais são mencionadas como igrejas fundadas por Paulo durante sua primeira viagem missionária, contrarian­do a opinião mais antiga, que pensava que Paulo escrevera a epístola aos Gálatas para os celtas ou gauleses que habitavam na região mais ao norte, na Galácia do Norte.
Ora, tudo isso simplifica em muito a harmonização entre os registros da epístola aos Gálatas e os registros históricos do livro de Atos; porquanto, neste último livro, encontramos a narração da fundação das igrejas de Antioquia da Pisidia, Derbe, Listra e Icônio, ao passo que nada se sabe quanto à fundação de igrejas na Galácia do Norte.
As igrejas fundadas por Paulo na Galáda formam um quarto agrupamento de igrejas cristãs, paralela­mente às igrejas existentes na Macedônia, na Acaia e na Ásia Menor. Lucas nos fornece o esboço histórico da fundação de todos esses grupos de igrejas locais. Porém, se as igrejas para as quais Paulo escreveu sua epístola aos Gálatas estavam situadas ao norte, então contamos apenas com três alusões possíveis a esse trabalho missionário de Paulo. (Ver Atos 16:6; 18:23 e 19:1). E seria realmente de estranhar que Lucas não tivesse sabido ou não houvesse desenvolvido essa porção tão importante do ministério de Paulo. Por outro lado, se os gálatas para quem Paulo escreveu sua epístola eram aqueles da Galácia do Sul, então Lucas registrou para nós uma narração pormenoriza­da sobre esse importante labor paulino.
Ora, sabemos que as cidades de Antioquia da Pisidia, Derbe, Listra e Icônio contavam com avantajadas colônias judaicas, o que bastaria para ter criado o problema com o legalismo, que tanto preocupou o apóstolo Paulo e que o motivou a escrever sua carta aos Gálatas. — Esse problema surgiu quando convertidos vindos do judaísmo, daquelas áreas, penetrando nas igrejas cristãs, mas sendo ainda mais judeus do que cristãos, queriam impor aos demais os seus antigos preconceitos relativos ao cerimonial judaico e seus pontos de vista legalistas. (Ver o artigo sobre o legalismo). Outros- sim, havia pouca ou nenhuma população judaica no platô nortista ocupado pelos celtas, isto é, na Galácia do Norte, sendo extremamente difícil que tivessem surgido problemas com o legalismo judaico naquelas regiões nortistas.
A aceitação da teoria chamada «Galácia do Sul» nos capacita a aceitar uma data anterior para a escrita da epistola aos Gálatas, talvez tão cedo como 49 D.C. Essa epístola mui provavelmente foi escrita de Antioquia, quando Paulo para ali retomou, depois de sua primeira viagem missionária, e antes da realização do concílio de Jerusalém, historiado no décimo quinto capitulo do livro de Atos. Assim, o problema legalista da «Galácia» faria parte do problema geral que envolveu em parte a cidade de Antioquia da Síria. (Ver Atos 15:1,2). Paulo permaneceu por algum tempo em Antioquia da Síria, conforme ficamos sabendo em Atos 14:28; e ao receber notícias de como as igrejas que ele havia fundado durante a sua primeira viagem missionária haviam sido assediadas pelos legalistas, ele se sentiu impelido a escrever-lhes a epístola chamada «aos Gálatas». Além disso, Paulo teve de subir a Jerusalém, procurando dar solução ao conflito com os legalistas. Por essa razão, não podendo visitar pessoalmente os crentes da Galácia, enviou-lhes essa epístola. (Ver Gál. 4:20). Mais tarde, entretanto, visitou realmente aqueles crentes da Galácia, tendo-lhes transmitido as decisões a que se chegou durante o concilio, conforme se lê no décimo quinto capítulo do livro de Atos. O décimo sexto capítulo desse livro, portanto, historia uma outra visita de Paulo à Galácia. (No que tange a uma discussão acerca das «epístolas de Paulo», no que elas se relacionam umas às outras, quanto à sua ordem cronológica, e onde também se ventilam pontos como conteúdo geral, autenticidade, etc., ver o artigo sobre Romanos, seção II).

4 comentários:

Unknown disse...

O que faziam os Galatas a ponto de o Paulo escrever-lhes esta cartas concretamente o versículos 7 do capitulo 5 ?

Unknown disse...

Quais eram os problemas da igreja de Galatas

Unknown disse...

Na prática, Paulo estava em defesa do evangelho da graça que estava sendo descaracterizado ante a um posicionamento legalista tradicional.

Anônimo disse...

A chave desse entendimento é o cap 4
No passado, assim como os israelitas, aquele povo adoravam deuses( anjos caídos) achando ser o verdadeiro Criador !! Ainda estão assim até hoje....