Proveniências e Destino do Evangelho de João


Estes pontos, igualmente, têm de ser deixados na dúvida, tal como sucede à questão da autoria. Abaixo damos as idéias mais comuns. Quanto ao lugar em que teria sido escrito o evangelho de João, quatro localidades têm sido sugeridas, a saber: Jerusalém, Antioquia, Êfeso e Alexandria.
1. Aqueles que defendem Jerusalém como o lugar onde foi composto este evangelho, contam com o apoio do fato de que o próprio evangelho revela bom conhecimento, por parte de seu autor acerca dos costumes judaicos, do templo e das situações topográficas de Jerusalém e das circunvizinhanças, (ver b. 2, sob «autor»>). A aparente similaridade dos chamados Manuscritos do mar Morto (vide), encontrados  numa antiga comunidade dos essênios, em comparação comJoão, — pelo menos poderia sugerir uma origem palestiniana para o mesmo.
2.    No que diz respeito à origem em Antioquia da Síria para este evangelho, alguns estudiosos têm apelado para a grande semelhança entre o pensamento e a fraseologia do evangelho de João e as epístolas de Inácio, bispo de Antioquia, e também com as Odes de Salomão, que foram escritas no idioma siríaco, e parecem ter-se originado em Antioquia da Síria. Confirmando ainda mais essa idéia, existe um fragmento, em siríaco, do comentário de Efrem, sobre o Diatessaron de Taciano, que diz: «João escreveu aquele (evangelho), em Antioquia, porquanto permaneceu no país até os tempos de Trajano». Não temos meio algum de comprovar a exatidão dessa informação, porquanto não sabemos qual a sua origem final.
3.    A tradição mais constante e vigorosa tem vinculado este evangelho à cidade de Êfeso, sem importar se João o escreveu ou não, ou se é da lavra de um grupo de discípulos de João, ou se foi um só autor ou diversos autores que publicaram o livro, sob a autoridade apostólica de João. O argumento principal em prol dessa tradição é o próprio conteúdo do livro. As idéias, os discursos, a elevada teologia que emprega a técnica do salão de conferências, tudo parece indicar Éfeso como a localidade em foco. A tradição também vincula o apóstolo João com essa cidade. O evangelho põe ênfase especial no fato de subordinar João Batista, no que se mostra paralelo ao trecho de Atos 17:24—19:7; e isso, segundo alguns pensam, mostra ter havido certa conexão com Éfeso. «Seja como for, a esmagadora maioria dos críticos está acostumada a chamar esse escrito de o ‘evangelho efésio’. E essa hipótese tem a seu favor um poderoso fator: não há rival mais forte». (Morton Scott Enslin, The Literature of the Christian Movement, Harper and Brothers, Nova Iorque, pág. 451, 1956). A história eclesiástica também se mostra uniforme ao testificar que o apóstolo João mudou-se para a Àsia Menor, passando a superintender as igrejas dali, e foi então banido para a ilha de Patmos durante o reinado de Domiciano (81—96 D.C.), e finalmente morreu em Éfeso, com cerca de noventa, cem ou mesmo cento e vinte anos de idade (durante o reinado de Trajano — ver Eusébio, História Eclesiástica XXX. 18:23).
4.    Alexandria, Sabemos que este evangelho de João exerceu poderosa atração sobre os gnósticos de Alexandria, e que o mesmo tem marcantes afinidades com certos pensamentos e a linguagem que se encontram nos escritos herméticos (um tipo de misticismo especulativo que prevaleceu no Egito e em outros lugares do mundo antigo, que supostamente teria sido dado por um sábio endeusado, chamado Hermes Trismegisto, isto é, «três vezes o maior»). Este evangelho também demonstra similaridades com os escritos neoplatônidOs de Filo de Alexandria. Não obstante, não há qualquer tradição sólida que vincule este evangelho com Alexandria, como, por outro lado, se verifica com Éfeso; e essa é a razão por que a teoria não tem alcançado aceitação generalizada.
Destino
O conteúdo do próprio evangelho de João indica para quem foi o mesmo escrito: a. Trata-se de uma apologia cristã de caráter geral, e o trecho de João 20:31 ilustra para quem foi escrito, onde se lê: «Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome». Sim, este livro foi escrito para todos os que creem, para outorgar-lhes a certeza da fé; porém, também tem finalidades evangelísticas, para servir de instrumento para convicção dos ímpios.
Seu capítulo inicial, que dá ênfase especial à doutrina do Logos, tem por intuito combater todas as formas de gnosticismo, especialmente prevalentes nas igrejas gentílicas e que, mui provavelmente, se mostravam mais virulentas nas igrejas cristãs da Asia Menor.

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