Propósito da Carta aos Romanos


1. Podemos estar certos de que os poderosos argumentos de Paulo sobre a justificação pela fé, nos capítulos primeiro a quinto da epístola aos Romanos, não eram de natureza meramente informativa e didática. Também eram de fundo apologético. Em outras palavras, ele fazia oposição aos judaizantes que atuavam na cidade de Roma, os quais sentiam obrigação ante as leis cerimoniais mosaicas, bem como ante o conceito de salvação através de obras, formalidades e ritos religiosos. Já tivemos ocasião de notar, na seção V deste artigo, qual era o provável caráter judaico da igreja cristã de Roma, e seria apenas natural esperarmos que ali agissem alguns elementos de tendências judaizantes, não menos do que nas igrejas da Galácia.
2. O apóstolo Paulo tencionava fazer trabalho missionário no ocidente, começando o mesmo por uma visita a Roma, e daí estendendo sua jornada até à Espanha e territórios adjacentes. E desejava o encorajamento dado pelos crentes de Roma, bem como qualquer ajuda que fossem capazes de prestar-lhe. (Ver Rom. 15:24).
3. Na igreja de Roma tinham surgido dificuldades de natureza doutrinária e prática, — e Paulo estava ciente desses problemas. Alguns dos membros gentios da mesma abusavam da liberdade cristã, participando de alimentos oferecidos a ídolos e fazendo outras coisas perniciosas, que eram especial¬mente ofensivas para o segmento judaico daquela igreja. (Ver os capítulos décimo quarto e décimo quinto).
4. Havia muitas indagações, entre os primitivos cristãos de origem judaica, acerca da posição da nação de Israel aos olhos de Deus, bem como sobre a validade das promessas feitas aos patriarcas, agora que a nação judaica havia rejeitado o Messias, o Senhor Jesus. Tal rejeição significava que os judeus seriam repelidos irrevogavelmente por Deus? Por essa razão é que encontramos os esclarecimentos dados por Paulo, nos capítulos nono a décimo primeiro desta epístola, o que forma a explicação mais completa sobre esse assunto.
5. A epístola aos Romanos também é de natureza didática, pois nem tudo o que Paulo escreveu visou dar solução a algum problema. Seus estudos completos sobre a doutrina da graça e da fé (capítulos primeiro a quinto), seu estudo sobre a vida piedosa, sob a graça de Deus (capítulo sexto), seu tratamento sobre o matrimônio (capítulo sétimo), e sua seção prática geral, sobre a moral e a conduta cristãs (capítulos décimo segundo a décimo quinto), têm por propósito ensinar, informar e iluminar, e não meramente resolver determinados problemas. Acima de todas as suas demais epístolas, Paulo escreveu aos Romanos a fim de fazer uma exposição ordeira e completa das mais importantes verdades cristãs.
6. Paulo apresentou novas revelações, novas idéias e novos profundos conceitos, como a doutrina da transformação dos crentes segundo a imagem de Cristo e a herança que possuem nele (capítulo oitavo), o que também nos mostra que um dos principais propósitos do apóstolo dos gentios era o de informar aquela igreja sobre seu elevado destino. Ver este conceito também em II Cor. 3:18, I Cor. 15:49, e em Efésios 1:23, 3:19. Portanto, apesar de Paulo talvez ter escrito esta epístola aos Romanos a fim de dar solução a certos problemas, reunindo facções em luta (especialmente em torno do problema legalista), ele ainda encontrou forças suficientes, a essa altura de seu ministério, para compor uma obra escrita que com razão, pode ser denominada de «epístola», e não somente uma carta informal, porquanto sua intenção foi a de produzir uma missiva didática, que expusesse, em pinceladas largas, as características mais distintivas da fé cristã.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interessante, assuntos divididos e muito bem explicados, estão se parabéns .