Principais Temas da Escatologia do Antigo Testamento


1.    No Pentateuco não há, virtualmente, qualquer ideia sobre a vida para além da morte biológica, para as almas humanas. O Novo Testamento corrigiu a situação ao esclarecer que o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó (Êxo. 3:6) não é Deus de mortos, mas de vivos (Luc. 28:38). Isso significa que existem pessoas mortas no mais verdadeiro sentido da palavra. Porém, esse não é um discernimento que nos tenha sido dado pelos primeiros escritos do Antigo Testamento. O Pentateuco é um documento eminen­temente moral; mas a moralidade não estava alicerçada sobre as recompensas ou as punições esperadas para além da morte biológica.
2.   A Doutrina do Sheol e da Alma. Gradualmente, os hebreus começaram a tomar a posição de que há a continuação da vida para além da morte física. A princípio, essa vida do além-túmulo era considerada uma vida nebulosa; mas, posteriormente, o sheol foi dividido em compartimentos separados: o paraíso para as almas salvas e um lugar de duro julgamento, para as almas perdidas. Há um artigo detalhado sobre o hades, onde esse desenvolvimento é esboçado e descrito. Na antiga teologia judaica, até mesmo nos salmos (ver Sal. 88:10 ss e Isa. 39:28) o sheol não era visto como um lugar onde se pudessem ouvir louvores a Deus. Mas o trecho de Jõ 19:25 ss faz soar uma nota mais esperançosa. Assim faz, igualmente, o trecho de Salmos 139:8. Declarações mais explícitas ainda, sobre a expectação da vida após o túmulo, encontram-se em Eze. 37:11, embora possamos limitar a mesma à ressurreição nacional, e não à ressurreição pessoal. A ressurreição individual é explicitamente declarada em Dan. 12:2. Certos segmentos da sociedade judaica (como os saduceus) porém, nunca adotaram o ponto de vista mais otimista. No entanto, por muitos séculos, na filosofia e nas religiões orientais, a imortalidade da alma era uma doutrina muito ensinada e respeitada. Quanto a uma completa declaração sobre essas questões, ver os artigos sobre a Alma e sobre a Imortalidade, onde estão registradas crenças bíblicas e extrabíblicas.
Os trechos bíblicos que se manifestam em favor da existência e imortalidade da alma, incluem os seguintes: Sal’. 86:13; Pro. 15:24; Eze. 26:20; 32:21; Isa. 14:9,10; Ecl. 12:7; Jó. 32:8; Mat. 10:28; 17:1-4; Mar. 8:36,37; Luc. 16:19-31; 23:43; Atos 7:59; Fil. 1:21-23; II Cor. 5:8; 12:1-4; Heb. 12:23; I Ped. 3:18-20; 4:6; Apo. 6:9,10; 20:4.
3.   O Dia do Senhor. Esse é um tema escatológico muito comum no Antigo Testamento. Ver Amós 5:18-20. Esse conceito não é simples. Pode referir-se a alguma espécie de maciço e decisivo julgamento temporal, para dentro de pouco tempo, ou muito remoto; também pode falar sobre o reinado soberano de Deus sobre tudo (Sal. 93; 95 — 100). Pode haver uma espécie de expectação milenar, terrena (Isa. 11:9; Zac. 14:9). Aponta para quando Yahweh tiver de manifestar-se, como uma teofania (ver Zac. 14:3 ss). A idéia geral é que Deus manifesta-se de modo especial no julgamento, na salvação, no governo sobre todas as coisas, na sua majestade, nos eventos da natureza e nos principais acontecimentos da história da humanidade. As nações também participarão das bênçãos temporais e espirituais de Deus (como na salvação). Nisso consistirá o dia do Senhor (Isa. 54:3; Dan. 7:26; Isa. 45:14; 49:23). A própria natureza será visitada por Deus, em um dos seus dias (Isa. 2:12 ss; Isa. 13 e 14; Osé. 10:8; Joel 2 e 3; Amós 5:18; Zac. 1). O dia do juízo divino é referido como próximo, como ameaçador (Isa. 13:6; Joel 1:15; 2:1). Os estudiosos supõem que algumas dessas predições, pelo menos, incluem tanto os avisos sobre o julgamento temporal (como no caso de alguma nação invasora, ou como um cativeiro), como quanto sobre o julgamento espiritual da alma. Quanto ao Dia do Senhor, no contexto neotestamentário, ver o artigo desse nome.
4.    A Esperança Messiânica. O livramento ou salvação pertence ao Senhor (Sal. 3:8), e o livramento nacional ou pessoal vem da parte do Messias. Ele está relacionado a Deus e aos homens, por ser o Filho de Deus e o Filho do homem (Isa. 9:6 ss). A ele está prometido o domínio universal (Sal. 2). Desde os dias do oráculo de Natã, a esperança messiânica passou a girar em tomo da família de Davi (II Sal. 7:12-16). Esse conceito foi transportado para o Novo Testamen­to, onde aparece com frequência. Ver Mat. 1:1; 9:27; 21:9; Mar. 12:35; João 7:42; Rom. 1:3, etc. (Isa. 42:1-7; 49:1-6; 50:4-9; 52:13 — 53:12 são trechos que contêm os cânticos do Servo-Messias). O trecho de Lucas 2:32 cita Isaías 49:6, nessa conexão. Está em pauta uma luz para todas as nações. Ver o artigo sobre Jesus. A figura celestial do Messias, como o exaltado Filho do homem, aparece no trecho de Dan. 7:13,14.
5.   A Restauração de Israel. O trecho de Isa. 43:6 exprime essa esperança. Israel haveria de retomar dos exílios assírio e babilónico (ver os artigos a respeito), recebendo de volta uma grande glória. Os profetas do Antigo Testamento não contemplavam um grande período de tempo, antes disso acontecer. O Novo Testamento, conforme se vê, por exemplo, em Rom. 11:25-27, transfere isso para depois da era da Igreja, embora Paulo também não antecipasse qualquer longo período de tempo. Gradualmente, conforme o tempo se passava e essa predição não se cumpria, veio a tomar-se parte integrante de uma distante era messiânica, a era áurea. O retomo dos exilados, e então a formação do estado de Israel, em nossos próprios dias, após a Segunda Guerra Mundial, despertou novamente as expectações da restauração de Israel. Os trechos de Amós 9:11-15 e Isa. 43:2 ss, exprimem essa esperança; mas o elemento tempo é sempre incerto, dentro das predições bíblicas. Os estudiosos do Novo Testamento associam essa restauração ao milênio, ou mesmo ao estado eterno. Ver o artigo separado sobre o Milênio. Em Rom. 11:5 ss, Paulo aborda a teologia envolvida nessa doutrina.

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