Principais Temas da Escatologia do Novo Testamento


1.    Influências. O Novo Testamento não se desenvolveu em um vácuo. Buscou subsídios tanto no Antigo Testamento como nos livros apócrifos e pseudoepígrafos, quanto às suas ideias escatológicas. Isso foi amplamente ilustrado no artigo sobre I Enoque, sexta seção, o que é reiterado na introdução à quarta seção deste artigo. O Novo Testamento não foi o criador da tradição profética. Antes, foi apanhando informes onde os encontrou, levando-os avante. Também preservou o esboço geral, fazendo acréscimos que tomaram esse esboço mais cristológico. Além disso, acrescentou alguns conceitos impor­tantes, o que se evidencia na discussão abaixo.
2.    O Reino. Esse é um assunto extremamente complexo. Nos evangelhos sinópticos encontramos o reino político. Israel será restaurado, tendo o Messias como seu cabeça. Mas isso também inclui a ideia do reino entre os homens, porque o Rei estará entre eles. No evangelho de João, porém, o reino é um sinônimo virtual da salvação ou vida eterna, o que significa que esse conceito é ali totalmente espiritualizado. Em Romanos 14:17, o reino é um sinônimo virtual da atual espiritualidade cristã. Quanto a uma completa descrição dessa doutrina, ver o artigo sobre o Reino de Deus.
3.    O Apos-Vida. As teologias sistemáticas gostam de harmonizar todas as coisas, pedindo-nos que aceitemos que todos os autores sagrados ensinaram a mesma coisa. Porém, o Novo Testamento expõe certa variedade de pontos de vista sobre o que acontece aos homens após a morte biológica. O hades (correspon­dente ao sheol do Antigo Testamento) continua fazendo parte do estado intermediário. Os trechos de Apocalipse 11:7 e 17:8 apresentam o anticristo (que vede), que sairá do hades e voltará a este mundo a fim de realizar a sua missão diabólica. E o hades intermediário será lançado no inferno (lago do fogo) permanente, em Apocalipse 20:13. Mas, em contraste com isso, o trecho de I Ped. 3:8 —4:6 fala de uma missão misericordiosa no hades, de tal modo que seus malignos habitantes ainda podem chegar a crer e participar da própria vida de Deus, conforme diz, corajosamente, o trecho de I Pedro 4:6. Mas o trecho de Hebreus 9:27, ao fazer do juízo divino um ponto definitivo após a morte de um ser humano, não j apresenta tal concepção. O Novo Testamento antecipa um estado de existência da alma antes da I ressurreição, mostrando que um homem não deixa de existir quando perde o seu veiculo físico, o corpo. Ver Mat. 10:28; 17:1-4; Mar. 8:36,37; Luc. 16:19-31; 23:43; Atos 7:59; Fil. 1:21-23; II Cor. 5:8; 12:1-4; Heb. 12:23; I Ped. 3:18-20; 4:6; Apo. 6:9,10 e 20:4 quanto à sobrevivência da alma, tanto no caso dos justos como no caso dos ímpios. Além disso, a ressurreição é prometida como a restauração de um veiculo físico para a alma, embora um veiculo não material e glorioso, e não um corpo composto de átomos, como o nosso. Ver o artigo geral sobre a Ressurreição.
4.   O Julgamento Divino. Nesta enciclopédia, há um artigo separado sobre esse assunto. Novamente, o Novo Testamento não tem somente um ponto de vista. Um julgamento de terror e fogo, conforme é descrito nos escritos pseudoepígrafos, é preservado em algumas passagens do Novo Testamento. O Apocalipse é uma longa declaração nesse sentido, chegando ao seu ponto culminante no seu vigésimo capítulo. O julgamento é descrito nos termos mais aterrorizantes, e também aparece como eterno. Porém, a descida de Cristo ao hades (que vede) lança um grande raio de esperança nessa situação. Pode-se escapar do hades, antes do mesmo ser lançado no lago do fogo.
Precisamos reconhecer que essa também é uma antiga tradição que não teve começo no Novo Testamento. É um conceito alternativo do ponto de vista tradicional do hades, como um lugar permanentemente destituí­do de esperança. Ultrapassa a outra visão do hades. Ê uma visão mais sábia. É uma visão mais ampla. Harmoniza-se melhor com o amor de Deus, pelo que é mais razoável. O trecho de I Pedro 4:6 mostra que o juízo tem um sentido remediai, e não apenas retributivo. Há uma nobre realização a ser cumprida, porquanto Deus pode fazer certas coisas, por meio do julgamento, melhor do que através de outro meio qualquer. O julgamento divino será uma expressão do amor de Deus, e não de ódio. Será um dedo da amorosa mão de Deus. Contudo, poderá perdurar por longo tempo, no tocante a cada indivíduo. Perdurará o tempo que for necessário, e não mais.
5.    O Inferno. O hades poderá ser revertido; mas, poderá ser revertido depois da Parousia? Haverá qualquer esperança para as almas perdidas, apôs a parousia? Penso que sim. O trecho de Efésios 1:9,10 refere-se à vontade de Deus a longo prazo, isto é, o mistério de sua vontade. Ali Paulo revela, pela primeira vez (doutra sorte, não estaria descrevendo um mistério, que vede) que, finalmente, todas as coisas terão em Cristo o seu centro e ele será tudo para todos. Ele haverá de tomar-se todas as coisas para todos os homens. Ele será o centro de toda a criação, finalmente. Coisa alguma poderá escapar ao escopo de sua missão benevolente. Ã minha frente está uma enciclopédia que supõe que o julgamento no inferno será justo, porque não será mera vingança contra uma pessoa, meramente por causa daquilo que ela praticou de errado, estando no seu corpo físico. Antes, o autor da mesma quer-nos fazer acreditar que as pessoas confinadas no inferno continuarão em sua revolta, aumentando seus pecados e sua rebeldia, e, assim sendo, o julgamento delas será sempre mais justo, mesmo porque os pecadores estão ficando cada vez piores. O mesmo autor supõe que Satanás prefere reinar ali como rei, — em vez de ocupar posição meramente subordinada, em algum outro lugar. E, também opina que, durante a vida física de cada indivíduo, ele escolhe o seu caráter, um caráter que nunca mais pode ser mudado. De acordo com a escolha de cada um, assim continuará ele a agir. Se aqueles que estiverem no hades não se sentirem felizes com a sua sorte, também não aspirarão chegar ao céu, porquanto isso seria contrário ao caráter deles. No entanto, tudo isso é contra a mensagem do primeiro capítulo da epístola aos Efésios, onde Deus altera o caráter de todos os homens, de tal modo que encontrem em Cristo a sua grande razão para existirem. Esse texto sagrado ensina certa unidade, a saber, aquela em que todos os homens tomar-se-ão um em Cristo.
6.   O Mistério da Vontade de Deusa Restauração. Quando Deus revelou-nos uma certa doutrina nova acerca das últimas coisas, chamou-a de mistério, como se estivesse dizendo: «Isto é o que Deus fará, finalmente». Essa revelação olha para além de tudo quanto fora anteriormente ensinado acerca do estado final do homem. O trecho de Efésios 1:9,10 contém esse mistério. Esse mistério refere-se à restauração e à unidade final de todas as coisas, em tomo de Cristo. O julgamento desempenhará certo papel necessário para se chegar a esse resultado porquanto, em seu amor, Deus castiga os homens e faz com que o busquem. Deus não castiga aos homens a fim de fixá-los em seu caráter maligno. Bem pelo contrário. O trecho de Efésios 4:8 ss mostra-nos que a descida de Cristo ao hades teve o mesmo propósito que a sua ascensão, ou seja, fazer dele tudo para todos, para ele «encher todas as coisas». O estado de juízo poderá perdurar por um longo tempo para muitas pessoas, porquanto é muito difícil convencê-las. Porém, a missão de Cristo transformará todos os homens, finalmente, mas não no mesmo grau e nem da mesma maneira. Ver sobre Mistério da Vontade de Deus.
8.    A Redenção. Os eleitos chegarão a participar da imagem e da natureza de Cristo, o nosso Irmão mais velho (Rom. 8:29), Eles vão sendo transformados de um estágio de glória para outro, interminavelmente, porquanto não podemos imaginar que haverá estagnação no estado eterno. O alvo final é a participação na própria natureza divina (Col. 2:10; II Ped. 1:4). Essa glória será muito maior do que a dos restaurados (todos; os outros homens). Mas a missão de Cristo é que realizará ambos esses nobres propósitos universais. Ver o artigo separado sobre Divindade, Participação dos Homens na. Ver também sobre a Restauração, no tocante a um artigo detalhado sobre esse assunto.

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