Ocasionalismo (Dualismo sem Interação)


Reagindo contra o dualismo de Descartes (com interação), os ocasionalistas procuraram criar uma teoria que não requeresse qualquer interação entre os elementos mental e físico do homem. Em primeiro lugar, precisamos afirmar que eles consideravam esses elementos reais, pertencentes a substâncias diferentes. Todavia, simplesmente não conseguiam conceber como substâncias de naturezas diversas poderiam reagir entre si. Assim, duas explicações diferentes são dadas à questão, conforme mostramos abaixo. Mas, antes disso, consideremos uma definição básica.
Visto que não conseguiam conceber como duas substâncias diferentes (mental e material) podem encontrar um meio para interagirem, eles abandonaram a idéia da interação, substituindo-a por uma espécie de sistema telefônico celeste. No momento mesmo em que o corpo é estimulado e precisa comunicar-se com a mente, envia uma mensagem a Deus, e Deus, instantaneamente, transfere essa mensagem para a mente. No momento mesmo em que a mente é estimulada, e precisa comunicar-se com o corpo, envia uma mensagem a Deus, do que resulta a mesma coisa que no caso anterior. Usando o exemplo que dei sobre encontrar um leão na floresta, ficamos com o seguinte quadro. A mente avalia o perigo representado pelo leão, ao corpo físico, e rapidamente envia uma mensagem a Deus. Deus, fielmente, transfere essa mensagem para os músculos da perna — e eis que saio correndo.
Geulincx de Antuérpia, professor de filosofia e medicina, e Nicolau Malebranche, um filósofo francês, foram os principais exponentes do ocasiona- lisiro. Eles consideravam a matéria como passiva, incapaz de produzir ou interagir com os processos mentais. Existem mentes finitas, que se movimentam em Deus, sendo naturalmente sintonizadas por ele, — e que têm afinidade com a Mente divina. O nosso conhecimento, assim sendo, sempre consiste na participação do conhecimento que Deus tem das coisas. A alma do homem possui liberdade e força, mas todas as operações que digam respeito ao corpo físico, precisam ser mediadas através da Mente divina(16).
Avaliação e Críticas:
1.      Se Deus é a única causa, então ele deve ser a causa do mal. Malebranche explicava o mal como resultante da queda do homem no pecado; mas se o pensamento conduz ao pecado (conforme a doutrina padrão afirma), então, esse pensamento e o pecado resultante precisam ser mediados por Deus. Reco­nhecendo seu dilema, Malebranche asseverou que o mal, quando contemplado universalmente (isto é, do ponto de vista divino, que é o mais elevado e o único correto), deve ser visto como um bem. Em outras palavras, no sentido mais estrito, o mal não existe, ou, então, Deus não se envolveria diretamente em sua perpetuação. O ocasionalismo, pois, é moralmente deficiente, pelo menos do ponto de vista cristão ordinário.
2.     O ocasionalismo não é um sistema econômico. Força Deus a envolver-se em todo pensamento e ato humano (e, presumivelmente, animal). £ difícil perceber como Deus serviria de sistema telefônico, para receber e transmitir chamadas telefônicas. A teoria é por demais absurda para ser aceita, sendo, difícil ver o raciocínio capaz de redimir a teoria dessa tremenda fraqueza.
3.    Essa ideia ignora aquilo que parece ser a expe- riência humana comum. Temos corpos; temos mentes. Estes interagem constantemente, a despeito do fato (te que somos incapazes de explicar como isso opera. É melhor tentarmos descobrir aquele como (que conta com o apoio de algumas evidências e descrições) do que inventar ideias extravagantes, que servem apenas para afastar-nos ainda mais da verdade dos fatos.
4.     A eliminação de causas secundárias parece ser uma maneira barata de sair de uma situação embara­çosa que nos poupa da necessidade de fazer investigações frutíferas.

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