O homem e suas Naturezas


HOMEM CARNAL
Paulo divide em três claras distinções os tipos de homens: 1. o homem carnal (I Cor. 3:1); 2. O homem espiritual (I Cor. 3:1); e 3. o homem natural (I Cor. 2:14). Apresento artigos separados sobre cada um desses tipos, pelo que neste artigo, não entro em detalhes, exceto no caso do homem carnal, que é o assunto que tenho em mãos. O homem natural, por sua vez, é o homem que ainda não foi regenerado. Esse é o homem que pertence à antiga natureza terrena. Ele é natural, e não espiritual. Ê o que permanece em seu estado natural, antes das operações do Espírito. O homem espiritual é aquele que já foi regenerado e que está vivendo de acordo com os princípios ditados pelo Espírito, ou seja, vitorioso sobre os antigos impulsos carnais. Ele obedece à mente do Espírito e anda em novidade de vida.
O homem carnal é uma espécie de meio-termo entre os dois primeiros. Realmente, converteu-se, pelo que entrou nos primeiros estágios da regeneração; mas continua sendo derrotado por seus próprios antigos impulsos. Esse é o homem que se encontra em estado de tensão e conflito espirituais, conforme se vê no sétimo capítulo de Romanos. Faz coisas que, realmente, não aprova; mas não possui a energia espiritual necessária para obter a vitória sobre suas debilidades e vícios. Portanto, tal crente mostra ser uma contradição, pois aprova e é afetado pelas realidades espirituais, mas é incapaz de subir acima do nível da carnalidade.
Em I Cor. 3:1, Paulo chamou os crentes de Corinto de carnais, ou seja, homens da carne, crentes controlados pela carne. É possível interpretar que esse adjetivo significa que as pessoas assim qualificadas são inteiramente destituídas do Espírito de Deus (se considerarmos tão-somente o sentido verbal), mas o contexto geral não nos permite tirar essa conclusão. Mui facilmente, entretanto, Paulo poderia estar querendo dar a entender que toda a sua suposta e apregoada espiritualidade, no exercício dos dons espirituais (que os crentes coríntios exibiam), era algo falso, fraudulento; porquanto, não dispor das qualidades morais de Cristo, e ao mesmo tempo, ser supostamente residência do Espírito de Deus, ao ponto de realizar feitos miraculosos, é uma aberrante contradição, é uma impossibilidade moral.
Elementos da Carnalidade:
1.     Embora certas pessoas se apresentem como espirituais, na verdade andam vendidas ao pecado, sendo escravas do princípio do pecado (Rom. 7:14).
2.   Tal pessoa é dotada de uma mente carnal, que está em conflito com Deus (Rom. 8:7).
3.      O homem carnal vive como se não fosse regenerado (I Cor. 3:3).
4.   O homem carnal é faccioso (I Cor. 3:4).
5.   O homem carnal tem vícios na sua vida, e ignora o cultivo das virtudes espirituais (Gál. 5:19 ss).
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HOMEM DA INIQUIDADE (DO PECADO)
Esse nome do futuro anticristo aparece em II Tes. 2:3. Na expressão «homem da iniquidade» encontramos um hebraísmo que fala daquilo que caracterizará esse homem, em sua natureza fundamental. Nessa expressão, contudo, a palavra «homem» tomou o lugar da palavra «filho». Tal uso, contudo, não se restringe ao idioma hebraico, pois outras línguas também contam com expressões similares. Em muitas conexões, tal expressão é bastante frequente nas páginas do Novo Testamento: filhos da desobediência (Efé. 2:2); filhos da ira (Efé. 2:3); filhos da luz(I Tes. 5:5). O anticristo poderia ter sido intitulado de filho do pecado, mas a expressão selecionada pelo Espírito e por Paulo foi mesmo «homem do pecado». O anticristo haverá de conduzir a humanidade à mais formidável e universal apostasia e rebelião contra o Senhor, porque ele é o próprio arquipecador, impelido pelo próprio arqui- inimigo, Satanás.
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HOMEM DE DUAS PALAVRAS
Somente em I Timóteo 3:8 encontramos a expressão «de uma só palavra». Isso reflete as palavras grega «mé dilágous», ou seja, «não de duas palavras». Isso refere-se à insinceridade ou duplicidade no falar. Em Pollux 2,118, esse vocábulo grego tem o sentido de «repetir», mas não é com esse sentido que a palavra é usada no Novo Testamento. O contexto desse trecho de I Timóteo são as qualificações para o diaconato. Um diácono não pode ser homem que diz uma coisa, mas quer dizer outra. Também não pode ser quem diz uma coisa para alguém, e outra coisa para outrem. O termo latino bilinguis tem a ideia de «hipócrita», e essa é a essência do sentido do termo grego ditogos,, quando usado no Novo Testamento.
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HOMEM ESPIRITUAL
Ver o artigo separado sobre Homem Novo, que é outra maneira de falar acerca do homem espiritual. Ver também os artigos intitulados Homem Carnal e Homem Natural. Encontramos aqui uma tríplice classificação: homem natural; homem espiritual e homem carnal. Damos artigos com todos esses três títulos.
Segundo o uso paulino, o homem espiritual é aquele que é experiente e aprovado na vida espiritual, sendo pessoa espiritualmente madura, embora não impecável; mas sua vida é vitoriosa sobre o pecado, e ele não é praticante de vícios. Pelo contrário, tal crente cultiva as virtudes espirituais, as quais se manifestam claramente em sua vida (Gál. 5:22 ss). Ele também possui a mente do Espírito, ou mente de Cristo, sendo governado por essa mentalidade (II Cor. 2:16). E também anda de acordo com a lei do Espírito (Rom. 8:2,4). Ê dotado de compreensão e sabedoria espirituais (Col. 1:9). Ele se utiliza dos meios espirituais de desenvolvimento, como o estudo dos documentos espirituais, a oração, a meditação, a prática da lei do amor e a realização de boas obras. Ê um homem santificado, visto que a santificação é o solo onde cresce o desenvolvimento espiritual. Também há o toque místico em sua vida, mediante a iluminação (vide) e o uso dos dons espirituais. Ver o artigo geral sobre a Espiritualidade. Esse artigo fornece muitos detalhes quanto as qualidades próprias de um crente verdadeiramente espiritual.
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HOMEM  INTERIOR
No grego, eso antropon, «homem interior». Essa expressão está ligada a várias significações. A alma pode estar em vista, com base na ideia de que ela reside no corpo físico. E isso a contrasta com o corpo que lhe serve de capa externa, sendo o verdadeiro indivíduo, o homem real. Mesmo sem usar a expressão, Paulo diz algo parecido, em II Cor. 5. Nós estamos no tabernáculo do corpo; e esse «nós» é equivalente ao homem interior. O trecho de Ma. 23:27 ss envolve uma alusão moral. Há aquelas pessoas que, pelo lado externo, parecem atrativas, como os túmulos caiados. Porém, internamente, estão repletas de corrupção, parecendo-se com lobos vorazes, disfarçados, contudo, em pele de ovelha.
Quando Davi foi escolhido para ser ungido por Samuel como futuro rei de Israel, ele foi qualificado, em contraste com outros, porque Deus examinou o seu coração e viu ali qualidades que agradavam ao Senhor. Ver I Sam. 16:7.
Em Efésios 3:16, o homem interior é a pessoa real, a entidade espiritual que é fortalecida com poder, por meio do Espírito Santo. Nessa referência também está incluída a mente, o intelecto, o que faz desse versículo um paralelo parcial com Rom. 12:2, onde se lê que deveríamos ser transformados mediante a renovação de nossa mente. O homem interior também é o homem moral essencial, ou seja, a natureza moral que precisa ser transformada pelo poder do Espírito, segundo se vê em Mat. 5:48; Rom. 7:22 e Gál. 5:22,23. O homem interior também corresponde à natureza emotiva de cada pessoa, que deveria ser controlada pelos princípios espirituais, conforme se aprende em Col. 3:2.
As naturezas interna e externa do homem (II Cor. 4:16) se referem ao corpo físico (a natureza externa) e ao espírito (a natureza interna).
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HOMEM NATURAL
I    Cor. 2:14: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
A palavra aqui traduzida por «natural», se fosse mais literalmente traduzida seria «psíquico», isto é, controlado pela «alma». Paulo se utiliza aqui da forma adjetivada da palavra grega «psyche», que usualmente é usada nas páginas do N.T. para indicar a porção «imaterial» do ser humano, e que foi o vocábulo usualmente empregado por Platão. Essa palavra grega, todavia, não precisa significar necessariamente isso; pois também pode ter certa variedade de significados, conforme se vê abaixo:
1.    Pode significar o princípio vital da existência, sem qualquer alusão à porção imaterial do homem.
2.    Pode significar a «vida terrena», sem qualquer tentativa de descrever a natureza metafísica do homem. (Ver Mat. 6:25; Luc. 12:22 e ss; Atos 20:24,27).
3.    Pode significar a alma imortal do homem. (Ver Luciano, Dial. Mort., 17.2; Josefo, Antiq. 6.332; Atos 2:27; Sal. 16:10). Dessa maneira é que Platão usualmente empregava esse termo grego. (Ver Platão, Edon, 28p, 80a).
4.   Pode significar a sede ou centro da vida interior do homem, incluindo os seus desejos, as suas emoções, etc., mas sem qualquer tentativa de descrever metafisicamente o homem. (Ver Bar. 2:18b; Apo. 18:14; Heb. 12:3 e Isa. 58:3,5).
Em sua forma adjetivada, sobretudo quando esse termo é contrastado com o vocábulo «espiritual», que é o caso aqui encontrado, pode significar simplesmen­te aquilo que é «físico», que é «não espiritual*, que é natural. Em I Cor. 15:44a há uma referência ao «corpo físico», em contraste com o corpo espiritual. Também se pode examinar I Cor. 15:46. E, no trecho de Jud. 19 essa palavra é usada como sinônimo de «mundano».
Por igual modo, poder-se-ia conceber que essa palavra indique os crentes «carnais», aqueles a quem Paulo aqui repreendia, os membros do «partido intelectual», que dava excessiva importância, à sabedoria humana. Esse sentido pode ser percebido se levarmos em conta apenas o mundo, e não o contraste com os crentes «espirituais». Porém, isso não é muito provável quando consideramos que no primeiro versículo do terceiro capítulo, da primeira epístola aos Coríntios, encontramos outro vocábulo para indicar esses irmãos na fé, a saber, a palavra «carnais», que é tradução do termo grego «sarkikoi». Também precisamos notar que esse mesmo versículo exige que falemos de um homem natural, e não meramente de um homem carnal. Portanto, encontramos aqui a menção de três classes de indivíduos:
1.   O homem «natural» (no grego, psuchixos), que é o indivíduo em estado natural, sem o Espirito de Deus, o homem ainda não regenerado.
2.   O homem «espiritual» (no grego, pneumatikos), que é o homem regenerado. Paulo não fazia distinção, no décimo quarto versículo, entre esses e os «experimentados» ou espiritualmente maduros.
3.   Então, em I Cor. 3:1, aparece o homem «carnal» (no grego, sarkinos), que é o crente que ainda não é maduro, espiritualmente falando.
Devemos observar que o homem «natural» não é aqui equivalente ao homem «carnal»; e Paulo também não estava identificando esses homens riãò-regenera­dos com aqueles envolvidos em várias modalidades de pecados e corrupções. Dizia simplesmente que eles, os «naturais», não têm o Espírito de Deus, não conheceram ainda a «regeneração», e, portanto, desconhecem a iluminação espiritual que tem sido salientada nesta passagem, como propriedade dos remidos. Tais homens pensam que as realidades do Espírito de Deus são «…loucura…» ou insensatez. E, com essa descrição, Paulo retorna às descrições que fazia de tais pessoas, conforme se lê em I Cor. 1:18,19,23 e 2:6. O homem «natural» é descrito como alguém que não é «capaz» de discernir as realidades do Espírito Santo. Já quanto ao crente «carnal» precisamos dizer que embora sua visão espiritual talvez esteja obscurecida, não podemos dizer que ele «não pode» compreender as realidades espirituais. Portanto, está aqui em foco o homem «natural», e não o crente «carnal».
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HOMEM NOVO
O «novo homem», referido em Ef. 4:24, é o homem regenerado, moldado segundo a imagem moral e metafísica do Filho de Deus, o que significa que ele está se tomando participante da natureza divina (ver I       Ped. 1:4), de acordo com a imagem do Filho de Deus (Rom. 8:29). Isso é produzido pela atuação do Espírito Santo, que passa de um estágio de glória para outro, em um processo interminável (II Cor. 3:18). Dessa forma, chegaremos a participar da plenitude do Pai (em sua natureza e atributos, segundo se vê em Efé. 3:19), e conforme ela transparece desde agora no Filho (Col. 2:10). A Igreja, coletivamente falando, é o novo homem. O novo homem, no caso de cada crente individual, é produzido mediante a regeneração (vide), embora isso não seja um ato realizado de uma vez por todas. Tem começo na conversão, mas atingirá uma fase interminável e crescente por ocasião da glorificação (vide).
Em Col. 3:10 encontramos a metáfora de nos revestirmos do novo homem como se o mesmo fosse uma roupa nova, que transforma aquela pessoa, substituindo a antiga roupa corrupta, da carnalidade. Ver também Efé. 4:24. Em I Cor. 5:17 é declarado que aqueles que estão em Cristo são uma nova criação, o que expressa a mesma doutrina, posto que através de palavras diferentes. E o trecho de Gál. 6:15 exprime quão inadequados para isso são os ritos e as cerimônias. O que é essencial é que alguém seja uma nova criatura, renascida, regenerada, que passou pela renovação espiritual. Coletivamente falando, os judeus e os gentios são um novo homem em Cristo.
A doutrina do novo homem afirma que há necessidade de uma absoluta e completa transforma­ção espiritual no ser humano. Nisso, a alma passa de seu antigo estado de degradação e passa a fazer parte da família de Deus, chegando a compartilhar da própria natureza e dos atributos de Deus. Como é óbvio, essa é uma operação divina, pelo que requer a atuação da graça de Deus, embora só se torne eficaz mediante a cooperação da vontade humana. Ver Fil. 2:12,13.

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