Nascimento Virginal de Jesus


I.     Palavras Envolvidas
No Hebraico: Almah
Essa palavra hebraica significa, necessariamente, «virgem», conforme alguns insistem? Essa pergunta desperta prontamente a segunda reação, mencionada na introdução. Nesse ponto, os intérpretes conseguem responder tanto com um «sim» quanto com um «não», ou então, com um «sim e não».
O que dizem as fontes informativas? As definições léxicas dão os seguintes sentidos possíveis: uma jovem, uma donzela, uma virgem. O significado básico da palavra parece ser «coberta», «velada», uma referência óbvia ao costume oriental das mulheres cobrirem o rosto com um véu. Ora, o sentido básico de «velada» nada tem a ver em favor ou contra a idéia de virgindade. Diz a Zondervan Encyclopedia: «Não há qualquer evidência definida de que esse termo indique especificamente virgem, nunca tocada por homem». Mas essa mesma obra insiste em que esse termo pode significar virgem, quando o contexto assim o exige.
Unger salienta que uma outra palavra hebraica, bethulah(ver Gên. 24:16; Lev. 21:13; Deu. 22:14,23, 28, além de outros trechos), é o vocábulo que significa «virgem», especificamente. Não obstante, a palavra hebraica almahtambém pode significar tal coisa, embora fosse, usualmente, empregada para indicar qualquer mulher jovem em idade de casamento. Contudo, para Unger, quando a palavra é usada no controvertido texto de Isaías 7:14, deve significar «virgem», visto que Mateus assim a inteipretou. Unger acrescenta que o Espírito Santo selecionou a palavra almah,e não bethulah, porque o profeta precisava de uma palavra que significasse «virgem», mas que também tivesse o sentido de «donzela em idade de casamento».
Uma outra verdade que não devemos perder de vista nessa discussão é a seguinte:
Dentro da cultura hebréia, esperava-se que qualquer mulher jovem e solteira fosse virgem, pelo que também almahera palavra que podia ser usada largamente com esse sentido, embora esse não fosse o seu significado preciso. Por semelhante modo, no Brasil, a palavra portuguesa «moça», embora não signifique necessariamente «virgem», mas apenas «jovem», pode ser usada no sentido _de «virgem», em contraste com a palavra «mulher». É evidente que o termo hebraico almah era usado nesse sentido. Mas, o que o próprio Isaías quis dizer? Isso será discutido sob o segundo ponto, Várias Interpretações Sobre Isaías 7:14.
Um fato significativo. Não nos deveríamos esquecer de que a Septuaginta (tradução do Antigo Testamento para o grego, feita por judeus) usa a palavra grega párthenos, na tradução de almah. Ora, no grego, párthenos é a palavra específica para «virgem». Isso mostra-nos que pelo menos alguns judeus, da época de antes de Cristo, pensavam que a palavra almah, em Isaías 7:14, significasse «virgem». Porém, para sermos justos, deve-se dizer que isso ainda não resolve a questão se o próprio Isaías tencionava^ dizer «virgem», naquele texto, conforme mostraremos no segundo ponto, mais abaixo.
2.  No Grego: Párthenos
Quanto a isso, o problema é mais simples. Pois párthenos é a palavra grega padrão para «virgem». Todavia, o léxico grego clássico de Foilett mostra-nos que assim como almah,esse vocábulo não era usado exclusivamente no sentido de «virgem», porquanto também podia significar apenas «donzela» ou «mulher solteira». Mas, se alguém pesquisar no idioma grego, em busca de uma palavra que signifique, especifica­mente, «virgem», então encontrará párthenos.
É verdade que, ocasionalmente, a Septuaginta usa essa palavra para aludir a alguma jovem que não era mais virgem (por exemplo, em Gên. 34:3), porém, isso em nada detrata do uso geral do termo. Por outro lado, o Novo Testamento emprega essa palavra grega exclusivamente para indicar virgindade, normalmente de mulheres, embora também de homens (ver Apo. 14:4), embora nessa referência devamos compreender metaforicamente o termo, indicando «pureza moral».
Cabe aqui a cautela feita por Robertson, que disse que as palavras, por si mesmas, são muito plásticas, pelo que deveríamos dar atenção ao sentido que elas transmitem, e não tanto o que elas querem dizer isoladamente. Esse é um conselho digno de ser atendido, embora não devamos exagerar.
O sentido fundamental da palavra grega párthenos é «posta de lado», «separada», supostamente de qualquer contacto sexual com homens. E o uso feito por Mateus enfatizou ainda mais o caráter ímpar da virgindade de Maria, ao usar também o artigo definido, «a virgem», e não meramente alguma virgem. E os contextos dos evangelhos de Mateus e de Lucas salientam esse caráter impar, por estarmos então abordando a missão do Messias, o que inclui a sua origem singular como ser humano.
II.    Várias Interpretações sobre Isalas 7:14
O mero estudo de vocábulos não resolve a questão, pois os próprios mestres judeus, para nada dizermos sobre intérpretes posteriores, viam certa variedade de sentidos possíveis em Isaías 7:14. Os parágrafos abaixo apresentam asidéias principais:
1.   Alguns dizem que a interpretação de Isaías 7:14 deve ser restringida às suas circunstâncias históricas. O filho prometido era Ezequias, filho de Acaz e sua esposa (a mulher em questão). Nesse caso, almah teria o sentido de «mulher jovem». Ou então, se insistirmos que a tradução deveria ser «virgem», o que se deve presumir é que, quando houve a profecia, a mulher em questão ainda era virgem. Entretanto, essa interpretação tem sido rejeitada, especialmente se houver a insistência em traduzir almah como «virgem», visto que os cálculos históricos indicam que Ezequias já teria cerca de treze anos de idade quando essa passagem foi escrita.
2.    Aferrando-se estritamente a interpretações históricas, alguns intérpretes judeus supunham que a alusão da passagem era a um filho do próprio Isaías, que em breve nasceria. Nesse caso, a mulher (uma jovem, e não uma virgem) seria a própria esposa de Isaías. Ou então, como uma variante, uma outra mulher (e essa uma virgem, na ocasião) estaria em pauta, que haveria de se casar no futuro com Isaías. Essa jovem mulher teria um filho, o que serviria de sinal para Acaz e sua corte.
3.    Uma outra variação de interpretação histórica é aquela que diz que a mulher em foco seria uma jovem que fazia parte do harém de Acaz; e que um filho que nasceria dessa mulher seria o sinal oferecido pelo profeta. Esse filho, ao tornar-sehomem, seria um testemunho contra a iniquidade do povo de Israel e uma advertência de que o julgamento sobreviria.
Razões apresentadas pelos intérpretes em prol de uma estrita interpretação histórica, em qualquer de suas formas variantes:
a.   A cidade de Jerusalém estava sob ataque. Acaz, em vez de confiar no Senhor quanto ao livramento, tendia por depositar confiança em alguma aliança com qualquer potência pagã estrangeira. Todavia, Deus tinha o poder de preservar a linhagem de Davi, pelo que daria um «sinal» acerca disso, a saber, nasceria um filho que, ao tornar-se homem, seria um grande poder espiritual. Tal nascimento podia ser chamado de sinal porque essa circunstância proveria os meios através do qual operaria a providência divina. E, visto que estavam sendo resolvidas circunstâncias locais, o sinal teria uma aplicação meramente local e imediata.
b.    Não seria lógico supormos que o nascimento do Messias, muitos séculos ainda no futuro, poderia servir de «sinal» para Acaz, no tocante a algum perigo que ele e a nação de Israel estivessem enfrentando nos dias desse rei.
c.   O nascimento virginal do Messias é idéia insuflada em Isaías 7:14, com base em Mateus 1:23, embora tal aplicação jamais tenha sido concebida pelo próprio Isaías. Se o próprio Isaías tivesse concebido tal noção, tão sui generis, a respeito do Messias, por certo que, em algum outro trecho, ele teria ao menos mencionado a mesma.
d.    A interpretação miraculosa de Isaías 7:14 é tipicamente cristã. Não há quaisquer indícios, nos escritos rabínicos, de que essa interpretação tivesse sido antecipada. Igualmente, se essas idéias tivessem sido vinculadas a esse texto de Isaías, então foram esquecidas muito antes do primeiro século cristão.
e.   O uso de textos de prova, por parte dos primitivos cristãos, era notoriamente lasso. Esses textos eramselecionados mais com base na conveniên­cia das palavras do que com base em qualquer consideração sobre o sentido e uso originais dos textos. Isso significa que muitas profecias reputadas messiânicas na realidade não eram tais, originalmen­te. Os autores do Novo Testamento, porém, escolheram textos que se ajustavam convenientemente ao que queriam dizer, mas, com frequência, ignorando o sentido e o contexto originais das passagens escolhidas. Autores como Robertson admitem tudo isso quando escrevem coisas como:«…não é mister concluir que o próprio Isaías tinha em mente o nascimento sobrenatural de Jesus. Não devemos dizer que aidéia do nascimento virginal procedeu de fontes judaicas».
4.   Outros intérpretes insistem sobre um estrito sentido profético do trecho de Isaías 7:14, acreditando que o Messias haveria de preencher todos os requisitos da passagem. Em outras palavras, a preservação da linhagem davídica, por meio do Messias, era o sinal dado a Acaz, embora o cumprimento desse sinal ainda jazesse no futuro distante para aquele monarca. De acordo com essa interpretação, a profecia tinha pouca ou mesmo nenhuma aplicação imediata aos dias de Acaz.
Razões apresentadas em favor de uma estrita interpretação profética:
a.   O livro de Isaías muito tem a dizer sobre o Messias. E a linguagem usada pelo profeta é tão elevada que dificilmente suas declarações podem ser aplicadas a qualquer personagem do Antigo Testa­mento. Como poderíamos pensar que a «profecia sobre o Emanuel», que temos diante de nós, não é messiânica? É verdade que os intérpretes judeus da Idade Média não viam esse texto como messiânico; mas isso em nada diminui o fato de que «Deus garantiu a perpetuidade do trono de Davi, na pessoa do Messias, o descendente de Davi (II Sam. 7:16; conferir os Salmos 89:35-37; 132:11)».
b.    Outras profecias messiânicas, no livro de Isaías, como é óbvio, vão além do contexto histórico em que foram registradas, como Isa. 9:6 ss e 53:1 ss. Não é necessário supormos que o próprio Isaías tivesse consciência do longo tempo que se passaria até o
cumprimento dessas profecias. Isso é assim porque os profetas operavam sob várias limitações impostas do alto, ao ponto deles inquirirem e investigarem o significado de suas declarações (ver I Ped. 1:10), porquanto havia o empecilho de um conhecimento parcial e de visões limitadas.
c.    Nenhuma personagem histórica se levantou nos dias de Acaz que ao menos pudesse começar a cumprir o que Isaías esperava do Messias; pelo que ou a profecia é messiânica, ou então, falhou.
5.   O Meio-Termo. Toda profecia bíblica tem um cumprimento a curto prazo e um cumprimento a longo prazo. Assim, Deus teria cumprido o seu propósito histórico no nascimento de algum filho (nãc identificado), mas que serviu de mero símbolo do Messias vindouro. Essa interpretação combina os elementos históricos e proféticos. Nos dias de Acaz, Jerusalém seria livrada das mãos do rei da Siria e de Israel, mediante a intervenção dos assírios. Mas a intervenção maior esperaria pelo nascimento do Messias.
III. Propósito de Mateus  ao Usar o Texto de Isaias
1.    A primeira coisa que Mateus fez em seu evangelho foi vincular Jesus, o Cristo, com Israel, em sua história passada e em suas aspirações, apresen­tando uma genealogia detalhada de Jesus Cristo. Com base nisso ele incorporou muitas profecias do Antigo Testamento em seu evangelho. Mateus estava demonstrando que Jesus era o Messias e o Libertadorde Israel, que estava sendo esperado.
2.    Mediante o relato sobre o nascimento virginal, Mateus estava demonstrando o caráter único e sem-par de Jesus. Isso prova que ele estava qualificado para ser o Messias.
3.    Jesus veio através da linhagem de Davi. A sua genealogia mostra isso, o que era um dos requisitos que envolviam o Messias genuíno. Mas ele também ultrapassava a todos os demais membros da linhagem de Davi (conforme convinha ao Messias); e o seu nascimento virginal serviu de prova desse fato. Ele era «Emanuel», ou seja, «Deusconosco». Isso ensina-nos a encarnação. A encarnação fala sobre a preexistência. Esses conceitos criam uma teologia segundo a qual o nascimento virginal era algo esperado, porquanto o Messias seria uma personagem que não era apenas homem, e, sim, o Deus-homem.
4.  Na antiga nação de Israel as virgens eram tratadas com profundo respeito. Elas vestiam, distintivamente, vestes longas (ver II Sam. 13:18,19), e mereciam consideração toda especial (Amós 8:13). A virgem simbolizava a inviolabilidade política de Israel (Isa. 37:22; contrastar com Jer. 14:17 e 31:4)… A virgindade também simboliza o povo de Deus, como aqueles que estavam sinceramente comprometi­dos com ele (Isa. 62:4,5; II Cor. 11:2; contrastar com Eze. 23:3,8; Jer. 18:13). Tudo isso nos faz lembrar da idéia de «singularidade», e o nascimento virginal de Jesus Cristo deve ser visto por esse ângulo.
IV.   Nascimento Virginal em Lucas. 1:27
Lucas 1:27: a uma virgem desposada com um varão cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.
A uma virgem desposada. O fato de que a doutrina do nascimento virginal de Jesus evidentemente não fazia parte do primitivo kerygna (pregação) de certos setores da igreja primitiva, especialmente aqueles representados nas epistolas de Paulo, nas epístolas universais, no livro de Atos e nos outros evangelhos, com exceção dos de Mateus e de Lucas, tem provocado sérias reflexões da parte de muitos eruditos. Entretanto, é um erro supor que tais passagens, como as de Luc. 2:27,33,41,43,48, se por um lado apresentam José como pai de Jesus, realmente .estão em contradição com o ousado pronunciamento do nascimento virginal de Jesus, que a continuação da narrativa dá claramente a entender. Esse ensino fica implícito no comentário editorial sobre Luc. 3:23 (como se cuidava). Um antigo ms latino, b, omite o vs. 34; e alguns têm pensado que isso é que representa fielmente o evangelho original de Lucas, mas mesmo assim, o texto em geral apóia bem o ensino do nascimento virginal. Alguns também sustentam, sem qualquer evidência textual, que o vs. 23 do cap. 3 também foi uma interpolação muito antiga. Mas no tocante a isso somos forçados a dizer que faltam evidências textuais em apoio a essa asseveração, da maneira mais absoluta, e somente um preconceito arraigado pode tentar arrancar do evangelho de Lucas a narrativa do nascimento virginal de Jesus. A história do nascimento virginal certamente já circulava antes da escrita dos evangelhos de Mateus e de Lucas, e esses evangelhos meramente tiraram proveito de uma tradição verdadeira, incluindo-a entre os seus relatos.
A significação mais profunda dessa doutrina é denatureza teológica. Deus entrou na vida humana por intermédio de uma virgem pura, e o descendente dela é o Cristo. Lucas escreveu em contraste com o pano de fundo dos mestres cismáticos e heréticos do trecho de Atos20:28-30. Os docetistas ensinavam contraria­mente à autêntica humanidade de Cristo, e desde os tempos em que foram escritos os evangelhos de Mateus e Lucas, continuando até os dias de Inácio e os autores do Credo dos Apóstolos, a doutrina do — nascimento virginal — de Jesus vinha sendo usada como resposta aos hereges. E essa resposta é que Jesus foi verdadeiro homem, possuidor de humanidade autêntica e perfeita. Embora tendo nascido de uma virgem, convinha que Jesus «…em todas as cousas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericor­dioso e fiel sumo sacerdote nas cousas referentes a Deus, e para fazer propiciação pelos pecados do povo» (Heb. 2:17). Quanto aos pontos de vista diversos acerca dessa doutrina, ver a discussão abaixo.
A palavra grega parthenos, traduzida por «virgem», neste versículo, pela maioria das traduções, significa realmente «virgem», tanto no grego clássico como no grego helenístico. Outros salientam com razão, entretanto, que pode significar meramente uma donzela ou mulher jovem. Assim é que as traduções WM, GD e PH dizem «maiden», «girl». Não obstante, os contextos de Mat. 1:18-25 e de Lucas 1:27—2:7, ensinam inquestionavelmente a doutrina do nasci­mento virginal. Por conseguinte, quase todos os estudiosos, liberais ou conservadores, concordam em que o N.T., nessas passagens, ensina essa doutrina, embora nem por isso todos os eruditos creiam que essa tenha sido a verdade. Posto que se admite que os contextos nos evangelhos de Mateus e Lucas ensinam o nascimento virginal, todas as traduções teriam sido mais exatas se tivessem traduzido «virgem», em vez de «donzela» nesses trechos, sem importar o que a palavra possa significar em outros contextos.
Os argumentos referentes a essa doutrina são muitos e variegados, e preenchem muitas páginas de obras teológicas e outras, que tratam do N.T.
V.  A Controvérsia Iiberal-Consevadora Sobre o Nascimento Virginal de Jesus
Os estudiosos liberais dizem:
1.      Os escritores do Novo Testamento e a teologia cristã posterior criaram um Jesus teológico que dificilmente pode ser identificado com o Jesus histórico. A lenda do nascimento virginal é um dos elementos das invenções cristãs.
2.    Havia estórias similares, nos mitos gregos e latinos, sobre «heróis» que teriam nascido de mulheres mediante a intervenção direta de algum deus ou semideus. Esses mitos simbolizam as aspirações dos povos, pelo que são destituídos de qualquer base científica.
3.    A vida incomum de Jesus tornou-se o núcleo em redor do qual muitas lendas foram inventadas. Como foi que Jesus viveu daquela maneira? Os antigos tentaram dar resposta a essa pergunta mediante suas estórias sobre o nascimento virginal de Jesus.
4.     Nem mesmo na Igreja cristã primitiva a lenda do nascimento virginal era universalmente conhecida. Paulo nada disse a respeito, pelo que ele era um dos que desconheciam a estória. E nem pensava que fosse verdadeira, visto que nem se deu ao trabalho de mencioná-la. O evangelho de João também não contém a estória, a despeito do fato de que contém uma elevadíssima cristologia. E Marcos, o evangelho original, também não menciona essa doutrina o que também não aparece nos escritos de qualquer dos outros autores neotestamentários, excetuando Lucas e Mateus.
Os estudiosos conservadores declaram:
1.    O Novo Testamento é ou não é uma revelação divina, e, em consequência, é ou não é a nossa regra de fé e prática. Em caso positivo, os dois relatos evangélicos que narram claramente o nascimento virginal de Jesus devem ser aceitos como parte da revelação bíblica, tornando-se assim mandatórios.
2.    Negar essa doutrina, claramente ensinada em dois livros bíblicos, mediante decisão arbitrária (subjetiva),permite a negação de qualquer outra doutrina que os homens não apreciem, de acordo com o capricho de cada um. Isso põe em perigo toda a autoridade das Sagradas Escrituras.
3.     Na natureza há exemplos de «partenogênese»(nascimento virginal), em formas inferiores de vida. Contudo, esse é um argumento rejeitado por alguns eruditos conservadores. Seja como for, não podemos pensar que um nascimento miraculoso esteja fora do alcance do poder de Deus. A crença teísta requer a aceitação da possibilidade do nascimento virginal de Jesus, visto que isso é ensinado na Bíblia.
4.   É verdade que somente dois livros do Novo Testamento contêm essa narrativa. Acerca disso, poderíamos tecer as seguintes considerações:
a.  A unidade das Sagradas Escrituras, como revelação de Deus, não requer mais do que duas, ou mesmo mais do que uma clara menção a alguma doutrina, para que fique estabelecida a veracidade dessa doutrina.
b.   É fato notável que os dois livros bíblicos que aludem ao nascimento virginal de Jesus Cristo sejam os mesmos que se referem à virgindade de Maria, quando ficou grávida. O evangelho de Marcos não fala sobre o nascimento de Jesus, pelo que ali também não se deve esperar qualquer menção a essa doutrina. O elevadíssimo conceito paulino de Cristo mui naturalmente envolve, potencialmente, a doutrina do seu nascimento virginal. E a doutrina paulina da encarnação, apesar de não exigir menção ao nascimento virginal, certamente não o contradiz, mas antes, leva-nos nessadireção.
c.  Paulo conhecia pessoalmente a Lucas (foram companheiros de viagens missionárias), e certamente estava familiarizado com o seu evangelho, e, por conseguinte, com o seu relato do nascimento virginal de Cristo. Ele pode ter pensado que a explanação lucana a, respeito era adequada, não precisando qualquer elaboração a respeito em suas epístolas. Podemos pfesumir que Paulo aceitava a doutrina do nascimento virginal de Jesus, em vista de sua associação histórica íntima com Lucas, além do fato ie que jamais combateu essa doutrina, o que, sem dúvida, teria feito, se discordasse dela.
Conclusão
No tocante aos vocábulos originais envolvidos, coisa alguma pode ser provada com base no termo hebraico empregado por Isaías, almah. Porém, o uso que Mateus fez do termo grego correspondente, párthe- nos, mostra para nós o propósito da profecia de Isaías a longo prazo. Não é preciso supormos que Isaías tenha antecipado o pleno significado de sua própria profecia. Entre as várias interpretações de Isaías7:14, a quinta parece ser a mais aceitável (ver acima).
A associação feita por Mateus entre Jesus Cristo e as profecias do Antigo Testamento é plenamente justificada, histórica e profeticamente. Apesar de desconhecermos por que motivo somente dois livros do Novo Testamento mencionam o nascimento virginal de Jesus Cristo, precisamos respeitar o conhecimento que os primitivos cristãos tinham acerca dessa realidade, o que explica as conclusões a que eles chegaram. Antes da Igreja cristã ter de abordar questões cristológicas debatidas ela não envidou qualquer grande esforço para promover o relato sobre o nascimento virginal, o que, sem dúvida, esclarece por que alguns elementos da Igreja primitiva não tinham conhecimento ou não manifestaram conhecer a história. Mas essa circunstância sob hipótese alguma pode provar que o nascimento virginal de Jesus Cristo seja uma falsificação.

Um comentário:

Frankmar Corrêa disse...

Creio que Jesus nasceu de uma Mulher Virgem que era Maria.
creio que os Relatos nos Evangelhos de Mateus e Lucas são Verdadeiros.