Motivos e Propósitos das Epístolas Pastorais


Há três impulsos primários que podem ser observados nas «epístolas pastorais», a saber: a. a necessidade de combater as heresias; b. a necessidade de encorajar a nomeação de homens espiritual e moralmente qualificados para o ministério, o que exigiu várias instruções sobre as qualificações desses homens; c. a necessidade de instrução no caminho da «piedade», que envolve a vida prática e moral. Nesse ponto, as epístolas pastorais ocupam terreno comum com todas as demais epistolas paulinas. Abaixo oferecemos considerações sobre cada um desses três pontos colimados.
A.  As Heresias:
Grande parte dessas epístolas visa direta ou indiretamente, refutar as doutrinas falsas e confundir os hereges. O autor sagrado, na sua intensidade de espírito, acumula epítetos adversos contra seus oponentes de diversas naturezas, dificultando assim a identificação das heresias específicas envolvidas. Parece quase certo que ele se opunha a mais de uma forma de heresia, o que explicaria a variedade do tratamento e a falta de ataque organizado e específico. O autor sagrado assediou homens maus, que propagavam doutrinas de demônios, apanhados nas armadilhas do diabo, enganadores que por sua vez eram enganados. Então, como se isso não fosse golpe suficientemente rude, ele amontoou contra seus adversários uma lista de vícios constante de dezoito terríveis itens, conforme se lê em II Tim. 3:2-5. Ê difícil imaginar qualquer povo religioso, que reivindi­que autoridade espiritual, baseada no nome de Cristo, envolvido nos defeitos e distorções sugeridos nessa lista. Podemos distinguir ali duas queixas gerais contra eles, a saber: — 1. estavam envolvidos em especulações, em discussões vãs, em conversas ímpias; 2. e isso encorajava-os à degradação moral, à destruição da consciência, à perversão da sinceridade (ver I Tim. 1:4,5; 1:9 e ss; II Tim. 3:1 e ís; II Tim. 4:3 e ss; Tito 2:2,7,12; 3:9 e ss). O autor sagrado chama por nome — alguns indivíduos, conforme se lê em I Tim. 1:20 e II Tim. 1:15.
A tentativa de amálgama de várias vigorosas crenças religiosas e ideias filosóficas daquela época, como o judaísmo, as religiões misteriosas, o misticismo oriental, o neoplatonismo, com algumas novas ideias produzidas pelo pensamento cristão, talvez arme o palco para grande variedade de combinações, algumas das quais penetraram na igreja cristã, exercendo influência sobre a mesma. Isso era apenas natural para os convertidos da época, provenientes de sociedades onde prevaleciam tais amálgamas, que naturalmente traziam consigo suas ideias distintivas favoritas, das quais não podiam desfazer-se imediatamente, e das quais talvez nunca se desfizeram, apesar de terem prestado sua lealdade a Cristo, como o Messias (no caso de judeus), ou como o Salvador e Senhor (no caso de gentios).
Acrescenta-se a isso o fato de que, naquela época, não havia a coletânea do N.T., que teria tido a função de prover autoridade e que teria limitado e restringido tais ideias, pelo menos até certo ponto. Na igreja cristã, a autoridade ainda dependia muito das tradições orais, e essas tradições não estavam igualmente distribuídas, estando sempre abertas a dúvidas. Duas forças principais vieram a exercer influência sobre o cristianismo: a. o judaísmo, em sua variedade helenista; e b. o mundo helenista pagão, permeado por várias religiões misteriosas e filosoficamente dominado pelo neoplatonismo, isto é, uma interpretação religiosa das ideias de Platão, de mistura com a metafísica dos estóicos. O próprio cris­tianismo era considerado, por muitos, como simples «heresia judaica». Nunca medrou abundantemente em solo judaico; mas, quando foi transplantado para o mundo helenista e pagão, propagou-se como um incêndio, ao ponto que, excetuando seus princípios éticos, virtualmente perdeu sua identificação judaica. Há grande verdade na afirmativa de Gealy (ibid., pág. 351), que «Embora a história nunca possa certificar-se nem mesmo em nossos dias, sobre qual proporção exata dos ingredientes judaicos e helenistas deve ser misturada higidamente em sua fé, seus líderes têm reconhecido que o cristianismo se propaga melhor quando nem judeus e nem gregos podem excluir um ao outro, quando certa tensão entre eles é mantida, mas quando o espirito ético e profético judaico é reconhecido». Até certo ponto, essas epistolas pastorais procuram conservar esse equilíbrio, pois o cristianismo não poderá nunca ser totalmente identificado como o judaísmo, mas também nunca poderá ser inteiramente separado do mesmo (ver I Tim. 1:7 e ss). Não obstante, a igreja cristã era um fenómeno essencialmente gentílico, embora não pudesse aceitar muitas contribuições culturais do mundo gentílico, que lhe eram adversas à saúde espiritual.
De maneira geral, pois, as heresias combatidas nas «epístolas pastorais» continham elementos judaicos e pagãos, de natureza principalmente gnóstica. Alguns intérpretes acreditam que o elemento judaico era o mais forte; mas outros acham que o elemento mais forte era o gnóstico. Essas ideias normalmente se baseiam sobre a data proposta dessas epistolas. Se foram escritas (alguns dizem) para combater o gnosticismo, então uma data posterior deve ser preferida; mas, se uma data anterior for preferida, então a tendência será considerar a heresia atacada como alguma corrupção do judaísmo. Entretanto, isso é uma distinção artificial, porquanto se sabe hoje em dia que o gnosticismo, em seus elementos essenciais, surgiu antes mesmo da época de Paulo e que facilmente poderia possuir as formas que transparecem nos escritos bíblicos. (Ver o artigo sobre Gnosticismo, uma heresia que perturbou a igreja por cerca de cento e cinquenta anos, e contra a qual não apenas as «epístolas pastorais», mas igualmente a epístola aos Colossenses e as epistolas joaninas foram dirigidas).
Identificações  Propostas das Heresias Envolvidas
1.   Heresias judaico-cristãs. (Ver Tito 1:4 sobre os «mitos judaicos»; ver Tito 3:9 sobre as «querelas acerca da lei», e ver Tito 1:10 acerca do «partido da circuncisão»). As intermináveis genealogias, que promoviam especulações (ver I Tim. 1:4), talvez fossem interpretações alegóricas do A.T., que seguiam métodos existentes no Haggada ou na Mishnah. O livro dos Jubileus (135-105 A.C.) provê um típico exemplo dessa forma de atividade, segundo o estilo da Midrash judaica. Nesse livro é reescrito o livro de Gênesis, na tentativa de expor a lei em uma forma posterior, que faz do sábado e da circuncisão ordenanças eternas, praticadas até mesmo pela hierarquia dos anjos. Os «hereges», por conseguinte, poderiam ser tais judeus, influenciados pela cultura helenista. Talvez se alicerçassem sobre algumas de suas «práticas mágicas», sobre a «astrologia» e sobre outros elementos comuns ao judaísmo helenista. Os indivíduos descritos na passagem de II Tim. 3:6-9 podem ter sido mágicos, místicos falsos, videntes, que exerciam domínio sobre as mulheres, o que não é raro em tais casos. O ascetismo sobre os alimentos (ver I Tim. 4:3) talvez tivesse ligações com o judaísmo. Os essênios eram celibatários, e todos sabem quantas regulamentações sobre os alimentos estavam contidas no judaísmo.
Parece que o que provocou a escrita das «epístolas pastorais», se quisermos dizê-lo de maneira bem abreviada, foi um tipo de heresia judaica. (Ver o artigo sobre Circuncisão, Partido da). A simples leitura das «epístolas pastorais», mostra-nos que a heresia atacada, a despeito de reter certas formas judaicas, ultrapassa em muito a qualquer coisa jamais sonhada pela facção legalista da igreja. Notemos que esses homens eram, não apenas, ascetas, mas também libertinos (ver II Tim. 3:6), e que não há quaisquer evidências de que eles tenham tentado reintroduzir a circuncisão e as leis levíticas comuns, sobre alimentos, na igreja cristã, que eram características distintivas dos primeiros legalistas cristãos. Em contraste com os hereges de Colossos (ver Col. 2:16), não tentavam forçar a igreja a observar o sábado judaico, que era uma das principais preocupações do partido legalista da igreja primitiva.
2.   Heresias gnósticas. Parece haver pouca dúvida que a heresia enfrentada nas epístolas pastorais era uma das variedades do movimento gnóstico greco- oriental, que tinha muitas facetas. Alguns eram ascetas e outros eram libertinos, e aqueles que entravam em contacto com o cristianismo normal­mente traziam algumas formas de pensamento judaico. Isso ocorreu em Colossos, bem como nos lugares descritas nas epistolas joaninas. Todos os elementos do gnosticismo já estavam presentes no mundo, antes da época de Paulo, e poderiam ser formulados formando um sistema que caracterizasse o gnosticismo posterior, ainda que alguns dos mais famosos «movimentos gnósticos», relacionados a igreja cristã devam ser atribuídos a uma data posterior. No entanto, muitos eruditos pensam que o gnosticismo teve início antes da era cristã, por ser, essencialmente, um «misticismo oriental pré-cristão», conforme diz a Encyclopedia of Religion, editada por Vergilius Ferm, em seu artigo sobre o gnosticismo, na pág. 300. Ao entrar em contato com o judaísmo e com o cristianismo, o gnosticismo assumiu formas distintivas, mas até mesmo em seus primeiros contactos com o cristianismo já exerceu influência sobre o mesmo. (Ver o artigo sobre Gnosticismo). O gnosticismo, em sua expressão normal, era tanto pré-cristão como anticristão. Se o gnosticismo porventura houvesse ganho a batalha, o cristianismo teria sido reduzido a apenas outra das religiões misteriosas do Oriente. Por isso mesmo, alguns eruditos fazem objeção ao termo «hereges», aplicado aos gnósticos, porquanto um herege é alguém que teve vinculação a algum sistema ou crença, para em seguida pervertê-lo ou abandoná-lo; e ao abandoná-lo torna-se um «apóstata». Contudo, é óbvio que os elementos contra os quais se voltam as epistolas aos Colossenses e as joaninas, bem como as epístolas pastorais, estavam vinculados à igreja cristã e sobre ela exerciam influência; e muitos reputavam-nos autênticos discípulos de Cristo. Portanto, o apelativo «herege» (conforme se vê em Tito 3:10), pode ser apropriadamente aplicado a eles.
O  gnosticismo era mais que a «helenização aguda do cristianismo», no dizer de Harnack, embora isso também diga uma verdade. Era muito mais uma tentativa de transformar o cristianismo em uma “teosofia”, desconsiderando a alma judaica do A.T.,
que lhe dera origem (conforme também disse Harnack). A «forma» que assumiu o gnosticismo, quando entrou em contacto com o cristianismo, foi uma «novidade», provocada por esse contacto. Mas todos os seus elementos essenciais, como um movimento histórico, eram anteriores ao cristianismo. Os gnósticos sentiam a necessidade de explicar a vida e o poder grandiosos de lesus de Nazaré; e lançaram mão de ideias já existentes, como as hierarquias angelicais, etc., a fim de formularem sua tentativa de explanação.
«O gnosticismo é um termo geral para indicar uma fase da religião, que apareceu no paganismo, no judaísmo e no cristianismo; mas foi no cristianismo que o gnosticismo se tomou mais agressivo». (Samuel Angus, The Religious Quests of the Graeco-Roman World, Nova Iorque, Charles Scribner’s Sons, 1929, pág. 377).
Nas epístolas pastorais são negadas certas doutri­nas distintivamente gnósticas, sobre os seguintes pontos essenciais:
a.   Não existem dois deuses, um maligno, que teria criado a matéria, e o outro bondoso, que teria criado os espíritos. O dualismo radical do gnosticismo é negado e rejeitado nestas epístolas, como também se dá no caso de todo o pensamento cristão refletido nas páginas do N.T. Paulo, por exemplo, apesar de reconhecer que o nosso «corpo» físico serve de instrumento fácil para o pecado (ver o sexto capitulo da epístola aos Romanos), jamais permitiu que se pensasse que o corpo é mau por si mesmo, fora do alcance da redenção, segundo diziam erroneamente os mestres gnósticos. Deus é o Salvador, nas «epístolas pastorais», como também é o Criador—portanto, é o Criador e o Salvador. Já os gnósticos supunham a existência de uma imensa linhagem de mediadores, de tal maneira que ninguém poderia entrar em contato direto com o próprio Deus, pois a matéria bruta só poderia contaminá-lo. (Ver a expressão «Deus, nosso Salvador», em I Tim. 1:1; Tito 1:3, 2:10 e 3:4).
b.   Não há uma grande hierarquia de mediadores entre Deus e o homem, mas o único mediador é o Senhor Jesus Cristo, o qual é igualmente denominado de «Salvador» (ver I Tim. 2:5). Ele 6 o grande Mediador, que aboliu a morte. (Ver II Tim. 1:10).
c.   A salvação não se verifica mediante o retorno das «emanações» ao Sol central, que seria Deus, conforme diziam os gnósticos, através do «conhecimento secreto» que seria conferido exclusivamente aos iniciados nos mistérios gnósticos. Antes, a salvação é outorgada ao homem mediante a fé obediente e através da graça divina (ver Tito 2:12-15 e 3:5).
d.   Não são apenas alguns poucos iniciados os que podem ser salvos, ao passo que a grande maioria dos homens estaria fora da possibilidade de «salvação», visto estarem esses totalmente preocupados com a matéria, motivo por que, finalmente, deveriam perecer, conforme ensinavam os gnósticos. Para os gnósticos havia três classes de pessoas, a saber: os «espirituais», que seriam indivíduos altamente capazes da redenção, que significaria a reabsorção em Deus; os «psíquicos», que já não seriam tão inclinados para a redenção; e os «hílicos» ou «materialistas», a grande massa da humanidade, totalmente incapaz de ser remida. Pelo contrário, faz parte da vontade de Deus salvar a todos, e de fato, em Deus há poder para tanto, visto que não há qualquer sentido de exclusividade na salvação. (Ver I Tim. 2:1-6; 4:10 e Tito 2:11). Não há distinções entre os homens, como «pneumatikoi», «psychikoi» e «hylikoi», conforme diziam os gnósticos.
e.   Não há um Cristo docético, isto é, que seja humano apenas na aparência, mas que seja um «elevado aeon» que veio à terra fingindo-se homem. O mediador é antes o «homem Cristo Jesus» (ver I Tim. 2:5), que se manifestou na carne (ver I Tim. 3:16). (Ver também as epístolas joaninas, que são enfáticas sobre esse ponto, conforme se vê, por exemplo, em I João 4:2 e ss).
f.   Além disso, o cristianismo bíblico rejeita o sistema ético do gnosticismo, tanto em seu ascetismo (ver I Tim. 4:3 e ss) como em seu espirito libertino (ver II Tim. 3:4 e ss). A variedade gnóstica que havia em Colossos era essencialmente asceta (ver Col. 2:20 e ss); mas ambas essas variedades existiam e perturba­vam à igreja. Os gnósticos ensinavam que o corpo encerra o princípio mesmo do pecado, até onde o homem está envolvido, sendo inerentemente maligno e totalmente incapaz de ser remido. Portanto, não importaria o que fazemos com o mesmo, podendo os homens abusar do mesmo e ceder ante suas paixões, como meios que apressariam o processo pelo qual nos livramos do corpo, levando-o à sua destruição necessária, como algo que participa do processo cósmico. Mas o cristianismo bíblico nega que o corpo humano seja inerentemente maligno; pois, bem pelo contrário, requer sua consagração ao Senhor, tanto quanto a consagração do espírito (ver Rom. 12:1,2), seguido pela vereda da moderação, em toda a ação ética, exceto nos casos em que o principio do pecado esteja envolvido, — em cujos casos está proibida qualquer forma de participação. Por isso, longe de proibir o matrimonio, as «epístolas pastorais» apresentam o casamento como um dos pré-requisitos essenciais para quem queria ser diácono ou pastor (ver I Tim. 3:2 e Tito 1:6). Ê possível que alguns dos gnósticos fossem «antinomianos», mas as «epístolas pastorais», em contraste com isso, ordenam a obediência da parte das esposas e dos escravos, e em tudo o mais desencorajam o espírito de revolta. (Ver I Tim. 2:8-15; 5:3-16 e 6:1,2).
g.  Alguns estudiosos, pretendendo atribuir uma data posterior para estas epistolas, creem que elas fazem oposição à heresia marcionita. Márcion foi um importante elemento herege do século II D.C., que tinha a Paulo como seu herói, e que aceitava apenas uma forma mutilada do evangelho de Lucas (sem as narrativas do nascimento de Jesus) entre os evange­lhos, e dez das epístolas paulinas, em seu «cânon» do N.T. Foi o fato de que ele formou o seu «cânon do N.T.», que deu origem à formação do cânon do novo pacto. Portanto, a ele devemos pelo menos isso, indiretamente. Mas Márcion rejeitava o A.T. em sua inteireza, crendo que um «aeon» inferior estaria envolvido na criação da matéria, e que esse «aeon» seria o Deus apresentado no A.T., de natureza maligna, e não benigna, porquanto viveria em contato demasiadamente íntimo com a matéria. Márcion foi o mais versátil e inteligente empreende­dor herege — do século II D.C. —, e por conseguinte, foi também o mais perigoso de todos. Era gnóstico, da cabeça aos pés. Procurou «expurgar» o  cristianismo de todas as suas influências judaicas. Pode-se notar que a polêmica das «epístolas pastorais» ataca os seus ensinamentos centrais, a saber: a. o dualismo (ver I Tim. 2:5); b. a rejeição ao A.T. (ver II Tim. 3:14-17); c. o ascetismo quanto aos alimentos e bebidas (ver I Tim. 4:3,4) e quanto ao casamento (ver I Tim. 3:2; 4:3 e 5:14).
Todavia, argumentar que as epístolas que ora consideramos pertencem à época de Márcion, devido ao fato de que combate muitas de suas ideias, é algo impossível de ser comprovado, porquanto as citações e alusões existentes nas «epístolas pastorais» também aparecem nos escritos de Policarpo, e talvez nos escritos de Inácio e Clemente de Roma, que foram cristãos ainda anteriores a Policarpo. (Ver evidências a esse respeito sob o título «Data»). Outrossim, nada havia na heresia marcionita que fosse exclusivo dele, porquanto todos os itens mencionados acima também caracterizavam os gnosticos de algum tempo anterior a esse. A grande «crise gnóstica» da igreja, todavia, teve lugar entre 150 e 180 D.C., mas é evidente que as «epístolas pastorais» já faziam oposição a uma forma gnóstica previamente existente. Naturalmente, é verdade que Márcion e alguns poucos outros dentre os chamados «pais da igreja» rejeitavam as epistolas pastorais, mas isso não indica que elas tenham sido especificamente escritas contra ele.
B.  Problemas de Organização Eclesiástica quanto à sua liderança
Temos aqui o segundo grande impulso por detrás da escrita das «epístolas pastorais». Consideremos os pontos abaixo, para melhor entendimento sobre esse aspecto:
1.   Solenes exortações são feitas a Timóteo, no sentido de que ele se desincumba de seus deveres de conformidade com sua elevada chamada (ver II Tim. 1:5-8,13 e ss; 2:1,22; 3:14 e 4:1 e ss). Tito e Timóteo tinham a obrigação de pelejar em prol da pureza de doutrinas; deveriam ansiar por ensinar a verdade cristã pura aos outros, resistindo às heresias (I Tim. 4:11; 6:2; II Tim. 3:1 e ss, e Tito 2:1,15). Somente dessa maneira poderiam ser líderes da igreja cristã, aceitando as pesadas responsabilidades que tinham de nomear outros para os ofícios eclesiásticos.
2.    A igreja da época coberta pelas «epístolas pastorais», sem importar se isso envolvia o tempo de Paulo, no fim de sua vida, ou algum período subsequente ao do apóstolo dos gentios, precisava de uma organização apropriada, bem como da nomea­ção de lideres qualificados. Para garantir que isso estaria sendo apropriadamente feito é que foram escritas essas epístolas. (Ver I Tim. 3:1 e ss e Tito 1:5 e ss).
3.   São mencionadas as relações entre vários grupos existentes no cristianismo, e o trabalho pastoral, no que diz respeito a esses grupos, é elaborado com minúcias, detalhando as questões que caracterizam o ministério ideal de um líder cristão. (Ver I Tim. 2:8 e ss; 5:1 e ss; 6:1 e ss e Tito 2:1 e ss).
4.    Um dos principais propósitos das epístolas pastorais é o de garantir o devido funcionamento do ministério, o que é descrito neste artigo em seu ponto VII,  intitulado «Ensinamentos e Temas».—Ver igualmente, nessa seção, a descrição da posição e a função dos ofícios eclesiásticos. Delinear tais coisas foi o propósito principal destas epístolas.
C.   Instruções acerca da Piedade cristã
O  terceiro grande impulso por detrás da escrita das «epístolas pastorais» foi o desejo de fornecer instruções sobre a piedade, na vida cristã diária, permitindo ao crente um alto padrão de moralidade cristã. Os mandamentos morais acham-se dispersos por todas essas três epístolas, não formando qualquer seção especifica nas mesmas. Notemos que a palavra grega «eusebeia» (isto é, «piedade»), é apenas uma outra forma do vocábulo usado por doze vezes nestas epístolas, dentre um grande total de dezessete ocorrências, na totalidade do N.T., isto é, em I Tim. 2:2; 3:16; 4:7,8; 6:3.5,6,11; II Tim. 3:5; Tito 1:1 (adverbialmente, em II Tim. 3:12 e Tito 2:12). As instruções dadas a diferentes grupos são de natureza essencialmente ética, sem quaisquer relações específicas para com as heresias ou para com outros problemas ali contidos. (Ver I Tim. 2:8 e ss; 5:2 e ss; 6:1 e 55; Tito 2:2 e jj e 3:1). Alguns estudiosos supõem, entretanto, que os mestres gnósticos estivessem defendendo alguma forma de filosofia antinomiana, que estivesse impelindo tais grupos de mulheres e de escravos a oferecerem resistência às autoridades diversas, pelo que tais seções se tomaram necessárias como reprimendas. Todavia, isso não passa de mera conjectura, não estando a questão sujeita a comprovações ou negações.

Nenhum comentário: