Motivo e Propósito


Embora não possamos ter qualquer certeza, no tocante ao lugar onde Paulo escreveu esta epístola aos Filipenses, podemos determinar facilmente, com base na própria epístola, quais os propósitos e as circunstâncias imediatos sob os quais Paulo a redigiu:
1. A igreja cristã de Filipos se preocupara com o bem-estar material do apóstolo Paulo, porquanto ouvira que ele se encontrava aprisionado; e assim se iniciou uma troca de cartas entre o apóstolo e aquela comunidade cristã. Paulo estava prestes a enviar-lhes Timóteo e Epafrodito, e essa epístola foi em parte mandada a fim de encorajar a boa acolhida a esses mensageiros. Parece que Paulo desejava desarmar qualquer crítica que talvez houvesse surgido com relação a Epafrodito, embora não se possa distinguir claramente por que razão tais críticas tiveram início. (Ver Fü. 2:19 e s).
2. Havia algumas dificuldades na igreja de Filipos, quase todas provocadas por questões pessoais, e com as quais Paulo queria tratar. Isso transparece com clareza no trecho de Fil. 2:1-4,14. No trecho de Fil. 4:2 isso é reiterado, sendo dados os nomes dos envolvidos na disputa. Paulo, pois, queria que a igreja se unisse, cessada a contenda, e aproveitou a viagem de Epafrodito até eles, a fim de cuidar do problema.
3. Os crentes filipenses, por diversas vezes, haviam enviado doações pessoais ao apóstolo (ver Fil. 1:5 e 4:10,14 e ss), o que nos mostra que essa missiva, entre outras coisas, foi uma carta de agradecimento.
4. No teor da própria epístola aos Filipenses há evidências que sugerem que os crentes de Filipos vinham sendo perseguidos, e que precisavam de encorajamento. Por essa razão Paulo os animou a se manterem firmes, dando testemunho vivo em prol de Cristo. (Ver Fil. 1:27; 4:1 e 2:15).
5. O trecho de Fil. 3:1 e ss, na opinião de muitos eruditos, seria fragmento de uma carta separada, pois parece inteiramente fora de sintonia com o restante da epístola. Trata-se de uma severa repreensão contra os legalistas de Filipos. Assim se pode dizer com certeza que a «correspondência com os filipenses», sem importar se nossa epístola aos Filipenses é uma única missiva ou representa uma pluralidade de cartas, incluiu o propósito de atacar o legalismo. Seja como for, esse problema provocou talvez a seção mais elevada da epístola, isto é, aquela na qual Paulo mostra quais eram as razões que ele tinha de ufanar-se com um orgulho farisaico, mas como Cristo substituíra toda essa ufania, permanecendo o Senhor como sua única base de jactância e seu alvo único de perfeição.
6. Alguns estudiosos acreditam que havia um partido dos perfeccionistas naquela igreja, afirmando que eram superiores aos demais, devido ao orgulho espiritual. Por isso é que esses estudiosos pensam que nessa mesma seção do terceiro capítulo, onde Paulo mostra que nem ele mesmo já havia atingido seus propósitos de perfeição em Cristo, seria um repúdio indireto àqueles que pensavam já ter atingido a perfeição.
7. Não sabemos a gravidade do perigo em que se encontrava Paulo, mas existem várias indicações de que não seria de todo impossível que a sua vida fosse tirada naquela oportunidade, embora seu aprisiona¬mento talvez fosse em Éfeso, e não em Roma. Ver Fil. 1:20, onde ele indica que a glória que poderia dar a Cristo viria pela vida ou pela morte, e que ele já havia ajustado os seus pensamentos â possibilidade distinta de sofrer aquela morte que, para ele, seria «lucro». (Fil. 1:21). Quer «vivo» quer «morto», conforme os homens mortais encaram a questão, o seu grande propósito era o de agradar a Cristo, embora o próprio Paulo desse sua preferência à «morte», pois, segundo declarou ele, estar com Cristo é muito melhor (ver Fil. 1:23). Não obstante, reconhecia a sua responsabilidade para com aqueles que havia gerado espiritualmente em Cristo e assim, por baixo de seu reconhecimento dos perigos que o ameaçavam, parece que Paulo sentia intuitivamente que o seu ministério se prolongaria por mais algum tempo, e que ele ainda teria oportunidade de dar prosseguimento à sua obra apostólica, até mesmo entre os crentes de Filipos (ver Fil. 1:24,25). Portanto, parece-nos que um dos propósitos de Paulo foi o de informar aos crentes de Filipos sobre os verdadeiros perigos que ele estava enfrentando, mostrando-lhes que se tivesse chegado o tempo dele sofrer o martírio, estava preparado para tanto, e que ele sentia que até isso seria bom para ele, e não seria uma tragédia, — como outros pensariam sobre a questão. Esse tipo de informação tinha por intuito aliviar as mentes de seus leitores acerca de sua segurança, e ao mesmo tempo, lhes dava coragem para enfrentar qualquer tribulação que fosse lançada contra eles, tribulação essa que esta epístola subentende que eles já estavam experimentando. Em tudo isso, pois, Paulo descreve qual deve ser a atitude cristã apropriada para com os sofrimentos, os quais podem ser tão severos que levem o crente ao martírio.

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