Livro de Oseias


I.    Oséias, O Profeta
Não se sabe muita coisa sobre o profeta Oseias. O trecho de Oséias 1.1 nos fornece o nome de seu pai, Beeri. mas sem qualquer genealogia. Esse mesmo versículo nos fornece o tempo, declarando que ele viveu «…nos dias de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel». Todavia, o lugar de seu nascimento não é mencionado. Não temos qualquer registro sobre sua chamada divina como profeta. Informes existentes no livro nos permitem saber algo sobre seu caráter e suas tendências. Ele era terno, sensível e misericordioso, um tanto parecido com Jeremias, e não era severo como alguns outros profetas, a exemplo de Elias. Sua abordagem à mensagem profética que tinha de entregar baseava-se em sua relação de marido. Isso representava o fato de que Yahweh havia sido ofendido por sua esposa infiel, a nação de Israel. A fim de que essa mensagem fosse sentida e entregue, com eficácia, era mister que Oséias passasse por uma situação real de traição sofrida. — Para que isso acontecesse realmente, como é óbvio, ele teria de ter um profundo amor por sua esposa. Somente então ele poderia sentir a ferroada da infidelidade, compreendendo, metaforicamente, a ofensa de Israel contra o Senhor, em sua infidelidade, que consistia na idolatria e corrupção moral.
Oséias era o único profeta do reino do norte, Israel, cujos escritos sobreviveram até nós. Ninguém sabe qual era a ocupação de Oséias, mas, visto que há uma referência ao «padeiro» e ao ato de sovar «a massa», em Osé. 7:4 ss, alguns têm pensado que essa era a sua atividade. No entanto, o domínio que ele tinha sobre assuntos históricos e religiosos mostra que ele deve ter recebido uma excelente educação, não podendo ser algum aldeão ou interiorano. E, visto que estava tratando com a íntima relação entre Deus e o povo de Israel, ele não se interessava em fazer previsões sobre outras nações, em contraste com outros profetas, como Amós, Jonas ou Daniel.
Tal como no caso de muitas outras personagens bíblicas obscuras, as tradições preenchem os espaços em branco, embora tais tradições raramente sejam exatas. Há especulações acerca de sua parentela. Seu pai tem sido confundido com um príncipe rubenita (ver I Crô. 5:6). Ele também tem sido considerado profeta, embora sem qualquer prova quanto a isso. Alguns rabinos supunham que um pai, mencionado na introdução do livro de algum profeta, também teria de ter sido profeta. Opseudo Epifânio e Doroteu, de Tiro, dizem que Oséias nasceu em Belemote, na tribo de Issacar (Epifânio, De Vitis Prophet. 11; Doroteu, De Proph. 1). Drúsio (Critici Sacri, tomo 5), citou informações dadas por Jerônimo, que dizem: «Oséias, da tribo de Issacar, nasceu em Bete-Semes». Mas outros intérpretes opinam que, na realidade, ele pertencia à tribo de Judá, embora tenha labutado em Israel, conforme o subtítulo do livro de Amós, e que aparece em algumas traduções, mostra que poderia ter acontecido. Todavia, não há qualquer razão para duvidarmos que ele nasceu no reino do norte, Israel. Ver o artigo sobre Bete-Semes, quanto a informações sobre sua presu­mível terra natal. Todavia, não há qualquer evidência para confiarmos nessa informação meramente tradi­cional.
O Nome. Oséias significa «libertador», ou então «salvação». Esse nome tem sido variadamente interpretado. Jerônimo interpretava-o como «salva­dor»; mas outros preferiam pensar  no imperativo, «salva!», como se fosse um apelo dirigido a Yahweh.
II.   Caracterização Geral
Oséias aparece em primeiro lugar, entre os profetas menores, de acordo com a arrumação ocidental dos livros do Antigo Testamento, talvez por causa de seu volume, ou da vívida intensidade de profeta, paralelamente ao seu patriotismo e estilo parecido com o dos profetas maiores. Cronologicamente, Jonas atuou antes dele (cerca de 862 A.C.), mas Joel (810 A.C.), Amós (cerca de 790 A.C.) e Isaías (720 A.C.), foram-lhe mais ou menos contemporâneos, sobretudo Joel e Amós. Oséias começou a profetizar nos últimos anos do reinado de Jeroboão II, que era contemporâneo de Uzias, e terminou suas profecias no começo do reinado de Ezequias. O livro de Oséias representa o que ficou preservado dentre suas profecias escritas.
Alguns especialistas supõem que o livro de Oséias combina duas coletâneas de escritos originalmente separadas, a saber: as Parábolas (caps. 1—3) e as Profecias (caps. 4—14). O livro contém cerca de quinze poemas proféticos, que Oséias teria entregue diante dos mercados de cidades próximas, para as quais viajou, como Jezreel e Samaria. Isso poderia indicar que ele era agricultor, mas, nesse caso, ele recebeu uma educação incomumente aprimorada para quem estava envolvido nas lides do campo. Seus oráculos têm sido datados por volta de 743 e 735 A.C., refletindo degraus descendentes da desintegração nacional. Um próspero estado de Israel, que caracterizara a época por volta de 750 A.C., gradualmente, foi cedendo lugar a levantes internos e à ameaça da invasão assíria. Oséias, pois, procurou salvar a nação, fazendo-a voltar-se para Deus, o único que era capaz de manter longe os vários lobos ameaçadores e de preservar a integridade da nação. Como profeta político, que foi, ele operava tendo em mira a unidade nacional, opondo-se às alianças com o estrangeiro e exigindo uma administração pública justa. Ele reafirmava as contribuições e discernimen­tos de Amós, concebendo Yahweh não somente como um Deus justo e severo, mas também como um Deus amoroso. Uma de suas contribuições foi salvar a religião de Israel de ser absorvida pelo baalismo (vide), com todos os seus exagerados envolvimentos sexuais.
A chamada e a missão de Oséias estavam intimamente ligadas à sua vida pessoal. Alguns eruditos pensam que ele se casou com uma prostituta, e que acabou sendo infectado por ela, com algum problema sexual; mas isso é ler o texto bíblico antigo através dos óculos da moderna análise psicológica. Outros supõem que alguma tragédia doméstica resultou na infidelidade de sua esposa, e que os problemas pelos quais ele passou, terminaram por dar-lhe entendimento sobre o relacionamento entre Israel e Yahwah, onde a nação aparece como a esposa infiel de Deus, devido à sua idolatria e corrupção espiritual. Na qualidade de último dos profetas de Israel, ele se utilizou (e talvez tenha popularizado) das parábolas, a fim de entregar a sua mensagem. Pelo menos é verdade que o conceito de Deus, nesse livro, aproxima-se mais do que nos expõe o Novo Testamento, do que qualquer outro livro do Antigo Testamento.
As tradições Judaicas davam a Oséias o primeiro lugar, cronologicamente falando, entre os profetas canônicos. Entretanto, quase todos os eruditos modernos preferem pensar que Jonas e Amós antecederam a ele, ou lhe foram mais ou menos contemporâneos, conforme já vimos acima.
O estilo de Oséias é abrupto e breve (o que causa alguma obscuridade), além de ser impressionante e solene. Em seu livro há muitas referências geográficas locais, pois ele menciona Efraim, Mizpa, Tabor, Gilgal, Bete, Jezreel, Gibeá, Ramá,Gileade, etc. Os seus temas são: o pecado da nação de Israel, a necessidade de arrependimento, a condenação imi­nente, a derrubada da casa reinante de Jeú, a ameaça assíria, a necessidade de Israel abandonar a idolatria, e, finalmente, o amor de Deus, este ilustrado por sua própria tragédia doméstica. Mui tolamente, Israel demonstrava confiança na Assíria, o gigante do norte, como se fosse um protetor de Israel. Mas Oséias deixou claramente previsto que a Assíria, longe de ser o salvador de Israel, acabaria por ser o seu destruidor. Ver Osé. 5:13; 7:11; 8:9; 12:1 e 14:3.
Oséias condenava o emprego da política como remédio para os problemas espirituais da nação. As alianças com potências estrangeiras só serviam para aumentar ainda mais os problemas de Israel. Contudo, uma arrependida e piedosa nação de Israel seria protegida por Deus. Infelizmente, as esperanças de Oséias não se concretizaram!
III.   Data
o trecho de Oséias 1:1 nos dá um indicio cronológico seguro, segundo já dissemos acima. Vários contemporâneos são ali mencionados. O começo do ministério público de Oséias pode ser datado por volta de 748 A.C.; e a morte de Ezequias, que ocorreu por volta de 690 A.C., mostra-nos que o ministério de Oséias cobriu um longo período, cinquenta e oito anos, visto que o seu ministério atingiu a época de Ezequias. Ele começou a escrever por volta de 748 A.C., ou poucos anos mais tarde. E, realmente, pode ter escrito em duas partes (as parábolas, capítulos 1—3; e as profecias, ou oráculos, capítulos 4—14, um pouco mais tarde).
As pessoas mencionadas em Osé. 1:1; dentro da cronologia fornecida por Oséias, foram: Jeroboão II (reinou entre 782 e 753A.C.), Uzias (reinou entre 767 e 739 A.C.). Jotão (reinou entre 740 e 731 A.C.), Acaz (reinou entre 732 e 715 A.C.) eEzequias (reinou entre 716 e 686 A.C.). O trecho de Oséias 1:4 parece dar a entender que houve uma data anterior à morte de Jeroboão II, que marcou o início do ministério desse profeta. Oséias 8:9 é passagem que talvez alude ao tributo pago aTiglate-Pileser por Menaém (cerca de 739 A.C.). E, nesse caso, o ministério de Oséias já estava bem estabelecido em 743 A.C., e pelo menos uma parte de seu livro já tinha sido escrita.
IV.    Proveniência e Destino
O próprio livro, como é óbvio, fala sobre uma origem, no reino do norte, embora nos seja impossível a precisão, quanto a isso. No entanto, nem todo o livro precisa ter sido, necessariamente, escrito no mesmo lugar. O destino primário era o reino do norte, Israel, embora seu livro tivesse uma mensagem universal, que também se aplicava a Judá. Podemos supor que a profecia de Oséias tornou-se conhecida em Judá. O fato de que a introdução do livro menciona reis tanto do reino do norte quanto do reino do sul indica que a nação inteira — Judá e Israel — era visada pelo profeta, a quem ele dirigira suas advertências.
V.    Pano de Fundo Histórico
1.   A prosperidade material foi um fator que, juntamente com outros, levou ao declínio moral de Israel. Essa prosperidade era tão grande que poderia ser comparada à do início da monarquia. A Síria fora debilitada e, finalmente, derrotada. Uma esteia encontrada em 1907 em Afis, a quarenta quilômetros a sudoeste de Alepo, comemorava a queda da Síria; e, quando isso sucedeu, então, não muito depois, Jeroboão II (ver II Reis 14:28) foi capaz de estender sua autoridade até Damasco. As fronteiras sul e leste de Israel e de Judá quase chegaram às mesmas extensões dos dias de Davi e Salomão. A Assíria já havia começado a ameaçar a Síria e a Palestina, embora a possibilidade de invasão ainda parecesse remota.
2.   Um menor militarismo aumentou as riquezas materiais da nação. O comércio intensificou-se, e Israel, passando a controlar as rotas de caravanas que antes haviam sido dominadas por Damasco, foi capaz de multiplicar, consideravelmente, a sua prosperida­de material. O luxo tornou-se comum, e os habitantes de Israel viviam regaladamente. Operários fenícios especializados receberam a tarefa de aumentar a ostentação de Israel. Os habitantes de Israel chegaram a dispor de leitos com entalhes de marfim, itens que os arqueólogos têm descoberto, pertencentes a esse período. Ver Amós 6:4, que menciona o detalhe. Havia abundância de azeite e de vinho, e muitos viviam até em luxo excessivo, segundo se vê em Amós 3:15 e I Reis 22:39.
3.   Avanços Religiosos Pagãos. Descobertas arqueo­lógicas, feitas no norte da Síria, em Ras Shamra (Ugarite), mostram o quanto as formas de adoração idólatra dos cananeus se tinham espalhado em Israel fe em toda a circunvizinhança. Os israelitas estavam-se deixando seduzir pela idolatria. Divindades pagãs e bezerros de ouro foram levantados por Jeroboão I, e Betei e Dã tornaram-se grandes centros de idolatria, em Israel (I Reis 12:28). Sabemos que os ritos de fertilidade, com seus excessos e vícios sexuais, faziam parte desse culto. Além disso, a violência, o alcoolismo e toda forma de indulgência completava o quadro desolador. Houve prostituições cultuais variegadas, e sabemos que a prostituição e o homossexualismochegaram a ser praticados até mesmo no interior do templo (II Reis 23:7).
4.    A Confusão Resultante. A prosperidade material começou a declinar; a confusão tornou-se a ordem do dia. O filho de Jeroboão, Zacarias, foi assassinado por Salum, e este, por sua vez, foi morto por Menaém. Quatro reis de Israel foram mortos em quinze anos. A vacilação política, em relação à Assíria, instaurou-se. Menaém tentou aplacar o poder proveniente do norte. Israel passou a agir como uma pomba sem juízo, hesitando entre a Assíria e o Egito, disposta a apelar para qualquer lado, menos a voltar-se para Deus, conforme se vê em Osé. 5:13; 7:11 e 12:1. Toda essa vacilação em nada contribuiu para curar a nação de Israel, que nem ao menos percebeu que estava gravemente enferma! Tudo chegou ao fim quando Israel caiu diante das tropas assírias, quando a cidade de Samaria foi tomada pelo inimigo, em 721 A.C., e grandes segmentos da população da nação do norte foram deportados.
VI.    Problemas de Unidade e Integridade
O trecho de Oséias 1:1-11 foi escrito na terceira pessoa, contando o casamento do profeta; mas o trecho de Oséias 3:1-5 encerra um relato na primeira pessoa, praticamente da mesma natureza. Essas duas seções do livro, vinculadas uma à outra por um sermão dirigido a Israel (no segundo capítulo do livro), poderiam ter sido escrita por dois autores diferentes, como também poderiam descrever duas mulheres diferentes, e não uma só. Se supusermos que Gômer, esposa de Oséias, está em foco do começo ao fim do livro, então poderemos concluir que ela já era uma prostituta quando Oséias contraiu matrimô­nio com ela. Isso teria sido muito incomum para um profeta, que, sem dúvida, estava proibido de fazer tal coisa. Contudo, essas circunstâncias extraordinárias poderiam ter sido necessárias a ele, a fim de que a mensagem de seu livro ganhasse em vigor e eloqüência. A fim de aliviar o problema, alguns supõem que Oséias tomou Gômer como uma concubina, e não como sua legítima esposa; mas isso é uma especulação que também não resolve o problema. Outros estudiosos afirmam que Gômer era virgem, quando o profeta se casou com ela. Mas, se nos apegarmos a esse ponto de vista, então é quase necessário vermos duas mulheres diferentes no relato, entre os capítulos primeiro e terceiro, e não somente uma mulher.
Ainda um terceiro grupo de eruditos pensa que temos dois relatos sobre a mesma mulher e sobre o mesmo casamento; mas, tendo esses relatos procedido de duas fontes separadas (uma delas uma biografia, e a outra uma autobiografia), então esses relatos simplesmente não se contradizem um ao outro. Alguns supõem que Gômer era uma prostituta cultural, que se reformou temporariamente, por haver-se casado com Oséias, mas que acabou revertendo à sua condição anterior. Várias outras ideias são apresentadas, embora não possamos chegar a qualquer conclusão indiscutível. Seja como for, é quase certo que somente uma mulher está em foco no livro, embora não saibamos como reconciliar entre si os dois relatos a respeito. Essa circunstância, porém, não impede que a mensagem do livro seja comunica­da.
A Interpretação Alegórica. Alguns estudiosos pensam que o que se lê no livro de Oséias é pura alegoria, sem importar se houve o envolvimento de uma ou de duas mulheres. Desse ponto de vista, todos os problemas sobre o que o profeta poderia ter feito ou não, se casou-se ou não com uma prostituta, tornam-se destituídos de importância. Porém, quase todos os comentadores a respeito rejeitam essa interpretação alegórica.
VII.   Mensagem e Conceitos Principais
«Israel aparece como a esposa adúltera de Yahweh, que foi repudiada mas que, finalmente, será purificada e restaurada. Essa é a mensagem distintiva de Oséias, que pode ser sumariada em duas palavras, Lo-Ami(não meu povo) e Ami (meu povo). Israel não era apenas pecaminosa e apóstata, embora isso também seja dito; mas o pecado da nação assumia o caráter mais grave devido à exaltada relação em que ela fora posta com Yahweh».
«Oséias é a profecia sobre o imutável amor de Deus por Israel. Apesar das contaminações da nação com o paganismo cananeu e com os cultos de fertilidade, o profeta fez todo esforço para advertir o povo a arrepender-se, em face do perpétuo amor de Deus por eles. O tema do profeta é quádruplo: a idolatria de Israel; a sua iniquidade; o seu cativeiro e a sua restauração. Por todo o livro, entretanto, ele acena com o tema do amor de Deus por Israel. Israel é retratada profeticamente como a esposa adúltera de Yahweh, que em breve seria posta fora, mas que, finalmente, seria purificada e restaurada. Esses eventos são engastados dentro do mandamento divino de que o profeta se casasse com uma meretriz. Os filhos dessa união receberam nomes que simbolizam as principais predições de Oséias: Jezreel, a dinastia de Jeú haveria de ser completamente destruída; Lo-Ruama, «a quem não se demonstrou misericór­dia», o que indica uma profecia sobre o cativeiro assírio; Lo-Ami, «não meu povo», a rejeição temporária de Israel (comparar com Rom. 11:1-24); e Ami, «meu povo», que aponta para a restauração final da nação (comparar com Rom. 11:25,26), no fim dos tempos (Osé. 1:2 — 2:23)».
Alguns Pontos de Vista Doutrinários:
1.    A Graça Divina. Deus é quem toma a iniciativa, na salvação do homem (Osé. 11:1). A condição de Israel era de profunda depravação, que só poderia ser curada mediante a graça-de Deus. Por todo o livro, a nação de Israel é convidada aarrepender-se, o que dá a entender que isso está dentro do alcance da vontade humana. Ver Osé. 5:4; 11:7. A restauração final que é prometida (Osé. 1:2 — 2:23) é o resultado final da graça de Deus, o que é uma verdade no tocante à criação inteira, e não apenas a nação de Israel (Efé. 1:9,10). Ver o artigo geral sobre a Restauração.
2.    O Pecado. É mister cuidar do pecado, mediante o arrependimento, O pecado tem o poder de confundir, perverter e desviar (Osé. 4:11), não sendo nenhuma brincadeira. Apesar do profeta ter compra­do Gômer de volta, reduzida como ela estava à prostituição e ao opróbrio, o pecado empurrou-a de volta à sua anterior forma de vida pecaminosa. O pecado é poderoso, mesmo em meio ao favor recebido. Assim também, — o juízo precisa ser imposto contra o pecado, o que, no caso de Israel, viria sob a forma do cativeiro aos assírios. Todavia, esse juízo divino seria restaurador, e não meramente punitivo. Isso faz parte da natureza do julgamento divino (vide).
3.    O Caminho Difícil para o Arrependimento (vér Osé. 6:1-4). Alguns intérpretes aceitam essa passa­gem como se ela retratasse um autêntico arrependi­mento. Mas outros vêem superficialidade, de tal modo que o arrependimento logo reverte ao estado pecaminoso anterior. Há algo de profundamente ilustrativo nisso, que visa a todos os homens. Por que razão o arrependimento é tão espasmódico, tão fugidio, tão facilmente reversível? Oséias ensina-nos que não é fácil o caminho que conduz ao arrependimento, depois que a pessoa se deixa envolver pela idolatria, pela imoralidade e pelas formas corruptas de adoração religiosa. O evangelho promete arrependimento, mediante o poder do Espírito, mas esse poder só se torna disponível para aqueles que realmente o cultivam. Ver o artigo geral sobre o Arrependimento.
4.    Um Verdadeiro Conhecimento de Deus. Jesus orou no sentido de que os homens viessem a conhecer o verdadeiro Deus, e seu Filho (João 17). Mediante esse conhecimento, que não é apenas intelectual, o homem é espiritualizado, porquanto envolve comu­nhão no Espírito Santo. O verdadeiro conhecimento de Deus envolve a comunhão com Deus, e não meramente informações a respeito de Deus. A falta de conhecimento real de Deus, por parte de Israel, levou essa nação a todas as modalidades de pecado, como o perjúrio, a mentira, o homicídio , o furto, o deboche, o engodo e o derramento de sangue inocente, conforme se vê em Osé. 4:2. Gômer ofendeu profundamente a Oséias, com a sua conduta traiçoeira. E nós insultamos a Deus com a nossa conduta errada. Isso demonstra a superficialidade da nossa experiência com o Ser divino, embora ela seja autêntica. O verdadeiro conhecimento de Deus requer o toque místico. O Espírito Santo precisa fazer-sepresente, a fim de nos transformar, ou então, terminaremos com uma teologia meramente intelec­tual.
5.    Esperança e Restauração. A mensagem geral de Oséias é bastante desanimadora, excetuando a sua mensagem de esperada restauração, quando Deus haverá de reverter as misérias de seu povo de Israel. A esperança, porém, é transferida para o futuro. O presente imediato era negro, moralmente falando; mas, no horizonte, já avultava o cativeiro assírio. Somente quando a mente da fé dá uma espiada quanto àquilo que Deus, finalmente, fará, vê-se esperança no livro de Oséias. No entanto, apesar de distante, a esperança é real. Ver Osé. 2:14-23; 11:10,11; cap. 14 e, especialmente, 6:1-3.
VIII.   Esboço Do Conteúdo
I.     A Esposa Prostituída de Yahweh é Repudiada (1:1 — 3:5)
A.   Um casamento metafórico (1:1 — 2:23)
1.   Ilustrações da rejeição com os nomes Lo- Ami (1:1-9)
2.   Consolo em meio à miséria (1:10,11)
3.   O julgamento de Israel (2:1-13)
4.   A restauração de Israel (2:14-23)
B.   Outro casamento metafórico (3:1-5)
1.   Sua decretação (3:1-3)
2.   Seu significado (3:4,5)
II.    Israel, Objeto do Amor de Deus (4:1 — 14:9)
A.   A culpa de Israel (4:1-19)
B.    A ira divina (5:1-15)
C.   Arrependimento (6:1-3)
D.   A reação divina (6:4 — 13:8)
E.    Restauração final (13:9 — 14:9)
IX.   Canonicidade
O lugar ocupado pelo livro de Oséias, à testa dos doze profetas menores, é antiquíssimo. Nenhuma decisão canônica jamais pós isso em dúvida. Desde os dias de Ben Siraque (ver Eclesiástico 49:10,11), essa posição já estava bem estabelecida. Vários manuscri­tos da Septuaginta têm os profetas menores em diversas sequências; mas o livro de Oséias sempre figura em primeiro lugar, talvez por causa de seu volume, ou então, por causa de sua elevada mensagem e teologia, que nos fornece um quadro de Deus diferente do de muitos outros livros do Antigo Testamento. Em contraste com outros livros, a autoria genuína do autor que tem estado tradicionalmente vinculado a esse livro, nunca foi posta em dúvida. E nem os estudiosos jamais duvidaram das relações históricas do livro, conforme se vê em Osé. 1:1. Cronologicamente falando, Oséias não deve ser posto antes de Amós (como aparece em Baba Bathra 14:b); mas a sua importância faz com que mereça estar no começo dos profetas menores.
X.   Oseias Ilustra O Principio Da Restauração
Israel havia adotado toda forma de paganismo, tendo caído em pecado grave, em apostasia, tornando-se uma nação pagã entre nações pagãs. Jezreel (Osé. 1:4) nasceu da esposa adúltera de Oséias a fim de simbolizar a iminente destruição da casa de Jeú e o cativeiro assírio. Em seguida, nasceu-lhes uma filha, que recebeu o nome de Lo-Ruama (Osé. 1:6), um nome que significa «não compadecida». Deus haveria de retirar sua misericórdia protetora de Israel, por um longo tempo. Misérias incontáveis sufocariam a vida nacional de Israel. Seu povo seria disperso; eles perderiam seus territórios; a adoração sagrada sofreria interrupções, Haveria muitos longos séculos de agonia. Em outras palavras, um severo juízo sobreviria àqueles que antes tinham sido povo de Deus. Nasceu então um filho, de Oséias e Gômer, que se chamou Lo-Ami (Osé. 1:9), que significa «não meu povo». Até hoje Israel continua sendo «não meu povo», enquanto está sendo dada a oportunidade de salvação aos gentios. Portanto, está envolvido um processo de séculos de julgamento devastador.
A esposa adúltera, verdadeiramente, foi repelida. No entanto, foi explicado ao profeta que ele deveria chamá-los de Ami, que significa «meu povo», e de Ruama, isto é, «compadecida» (Osé. 2:1). Notemos que essas palavras são a reversão verbal dos nomes conferidos aos filhos de Oséias. Essas reversões verbais, pois, falam de uma restauração que deverá abençoar a Israel, graças aos infalíveis e poderosos propósitos de Deus, embora esses propósitos possam precisar de muito tempo para se cumprir. Em nossos dias, a restauração final continua sendo assunto apenas predito nas profecias bíblicas. Paulo tomou esse tema, em Rom. 11:25,26, fazendo do mesmo uma importante doutrina evangélica. O apóstolo, pois, renovou a esperança e o ensino de Oséias. Temos provido um artigo separado sobre o assunto, chamado Queda e Restauração de Israel. Essa restauração está esperando o tempo do fim e a intervenção que será realizada pelo próprio Cristo. Ver Osé. 13:9 — 14:9.
Várias lições ótimas são dadas por Oséias, quanto à natureza da restauração de Israel:
1.    O pecado exerce efeitos devastadores sobre um indivíduo ou sobre uma nação, conforme for o caso.
2.    O pecado precisa ser severamente punido, em consonância com o rigor da justiça.
3.    Nesse juízo, um povo inteiro foi declarado «não compadecido» e «não povo de Deus». O que mostra a severidade desse julgamento divino.
4.    Os grandes juízos divinos podem perdurar por longo tempo, realmente. Israel, desde antes do cristianismo, não teve modificada a sua condição diante de Deus, após tantos séculos. Creio que o julgamento dos perdidos atingirá os ciclos da eternidade futura. Apesar da morte biológica do indivíduo não pôr fim à oportunidade (I Ped. 4:6), ainda assim deixa cada um de nós sob o juízo apropriado. Cada alma permanecerá sob juízo durante o tempo que for mister para que pague por seus erros e seja restaurada, através do juízo. Em outras palavras, o julgamento será um dos meios envolvidos nessa restauração. Não antecipo que todas às almas sofrerão o mesmo grau e nem a mesma duração de julgamento. Isso variará de acordo com a reação de cada indivíduo, e à obra que nele estiver sendo efetuada, pela graça de Deus.
5.    O juízo divino é punitivo, conforme é ilustrado pelo livro de Oséias. Por outro lado, também é restaurativo, conforme mostra esse mesmo livro. Em outras palavras, o juízo realiza algo, a saber, restaura. O julgamento da cruz foi um severíssimo golpe contra o  pecado; mas também se revestiu de poderes remidores. Assim, todos os julgamentos divinos são golpes contra o pecado, produzindo miséria e sofrimento. Porém, também vão muito além disso, livrando o homem das tempestades e trazendo até ele o raiar de um Novo Dia, onde a graça restauradora de Deus resplandece em todos os lugares de sua criação.
6.    Os assírios vieram e puseram fim à nação do norte, Israel. Séculos e séculos de sofrimentos têm-se seguido desde então. Mas a promessa de restauração final permanece firme. O propósito de Deus continua operando. Não foi cancelado pelo julgamento. O mesmo sucede no caso de todos os homens. Os homens estão dispersos e são cativados pelo diabo. O julgamento haverá de sobrevir a todos os homens, e isso fará com que a vasta maioria deles tenha de ir para as dimensões espirituais do julgamento. Porém, a misericórdia de Deus garante que esse estado, em si mesmo, tem um efeito restaurador, conforme encontramos em I Ped. 4:6 e Efé. 1:9,10. Esse propósito opera até nos ciclos da eternidade futura, abrangendo um tempo muito longo, da mesma maneira que o povo de Israel tem estado sob o juízo divino, há muitos séculos. Porém, Deus escreverá um capitulo final de misericórdia e graça; e todos os homens haverão de exultar no Logos, como o grande Benfeitor e como a razão e o alvo de toda a existência humana, mesmo que nem todos venham a obter a redenção que há em Cristo. Isso, meus amigos, é um evangelho otimista, é boas novas para os homens, garantido pelo amor de Deus, em Jesus Cristo.

Um comentário:

Anônimo disse...

texto muito interessante. gostei muito da explanação