Livro de Obadias


I.  Pano de Fundo e Caracterização Geral
Obadias é o mais curto livro do Antigo Testamento, pois consiste em apenas vinte e um versículos. Nada se sabe sobre o profeta Obadias, e as poucas tradições que falam sobre ele não são dignas de confiança. Mas, embora o seu livro seja tão minúsculo, muitos eruditos creem que não foi um único autor que o produziu por inteiro, e que partes do livro vieram de diferentes épocas. De acordo com eles, alguns dos oráculos do livro foram proferidos ou escritos pouco depois da queda de Jerusalém frente aos babilônios, o que deu inicio ao cativeiro babilónico (587—586 A.C.). Talvez Obadias tenha-se valido das coleções de declarações que haviam sido oralmente transmitidas pelas escolas dos profetas. Isso poderia explicar as incríveis similaridades entre os vss. 1-9 e Jer. 49:7-22. Mesmo nesse caso, porém, aquelas declarações refletem bem o ponto de vista de Obadias.
Obadias foi, primariamente, um poeta que exprimiu algumas questões proféticas. Edom havia-se aliado a outras nações a fim de derrubar Menaém e despojar Judá, o que constituiu um ato inacreditável e imperdoável, que foi denunciado por Obadias (vss. 10—14). Ã semelhança de Joel, Obadias passou a descrever, profeticamente, o julgamento dessas nações. Ademais, em visão profética, ele previu a volta de Judá à sua terra, o domínio de Judá sobre Edom, e o triunfo universal de Yahweh. Alguns estudiosos acreditam que o livro de Obadias foi escrito às vésperas do avanço árabe-nabateu (cerca de 312 A.C.), que haveria de conquistar os edomitas, e que Obadias estava clamando por vingança pelo que Edom havia feito contra Judá. O trecho de Sal. 137:7 refere-se à alegria maliciosa expressa por Edom, diante da destruição de Jerusalém e dos subsequentes sofrimentos causados pelo cativeiro babilónico. Foi isso que fez Obadias sentir-se tão ultrajado, o que também foi a principal inspiração dessa profecia de condenação contra Edom.
II.  Autoria e Data
A tradição atribuiu esse livro a um homem de nome Obadias; mas essa mesma tradição mostra-se errônea, ao prestar certas outras informações. Ver o artigo Obadias {Pessoas), no oitavo ponto, que dá a pouca informação que se sabe a respeito desse homem. O nome Obadias era extremamente comum na sociedade hebréia. Ainda assim, não há razão para duvidarmos que houve um profeta com esse nome, e que a essência do livro foi escrita por ele, embora ele possa ter incorporado declarações que não eram de sua lavra original. A data do livro é um ponto disputado, e as sugestões variam muito umas das outras. O nome Obadias significa «adorador de Yahweh»; as poucas indicações que temos acerca dele apontam para um homem piedoso, que seguia a ortodoxia judaica e era impelido por um fervoroso nacionalismo.
Data. O livro de Obadias tem sido datado desde 887 A.C. até tão tarde quanto 312 A.C., ou ligeiramente antes. Se a data mais antiga é que está correta, então o livro foi escrito durante o reinado da sanguinária rainha Atalia (II Reis 8:16-26). Se essa opinião está com a razão, então Obadias foi o primeiro de todos os profetas escritores. No entanto, a maioria dos estudiosos não encontra boas evidências em favor dessa data tão antiga. Mas, se o livro foi escrito pouco antes do avanço árabe-nabateu, que arrasou com Edom, devido a seu pecado de ter ajudado aos inimigos de Judá, então, esse livro foi escrito algum tempo antes de 312 A.C. E se os vss. 1-9 de Obadias foram tomados por empréstimo de Jer. 49:7-22, então esse livro deve ter sido escrito depois do de Jeremias, talvez em cerca de 570 A.C., ou pouco mais tarde. Entretanto, esse material poderia fazer parte das declarações dos profetas, de cujo material Jeremias também tirou proveito, o que significa que nenhuma data certa pode ser fixada para a sua utilização.
As evidências acerca de uma data mais recuada incluem a observação de que Edom foi hostil com Israel não apenas posteriormente, mas desde muito tempo. Assim, durante o reinado de Jeorão (848-841 A.C.), os filisteus e os árabesavassalaram Judá e saquearam Jerusalém (II Crô. 21:16,17). Na ocasião, os edomitas mostraram-se muito hostis a Judá (II Reis 8:20-22; II Crô. 21:8-20). Mas, contra isso, argumen­ta-se que os vss. 1-9 de Obadias (tomados por empréstimo de Jer. 49:7-22) associaria a profecia com as dificuldades posteriores que envolveram o cativeiro babilónico. E a posição do livro de Obadias, dentro do cânon do Antigo Testamento, pode indicar uma data mais antiga, visto que está agrupado com Oséias, com Miquéias e com Amós (havendo algum paralelismo verbal com este último). Entretanto, temos aprendido que essas posições, dentro do cânon, com freqüência não são cronológicas. Por outra parte, em favor de uma data posterior, conforme já foi mencionado, temos a associação do livro com Jeremias, em cujo caso a invasão babilónica provê o pano de fundo histórico; a amarga hostilidade de Edom, na ocasião; e a destruição de Edom pelos árabes, o cerne mesmo da predição de Obadias. Essa hostilidade dos edomitas também transparece em Lam. 4:21; Eze. 25:12-14; 35:1-15; Sal. 137:7. Acresça-se a isso que a invasão filisteia, nos dias de Jeorão, não foi um grande evento histórico, não sendo provável que a mesma estivesse na mira de Obadias. Apesar de não haver como solucionar o problema, o peso maior parece favorecer uma data posterior.
III.   Problema de Unidade
Alguns críticos veem no livro de Obadias uma colcha de retalhos, e não uma unidade literária. As teorias a respeito diferem tanto que o resultado é a confusão. O pequeno livro de Obadias tem sido dividido de várias maneiras, com seções que refletiriam diferentes períodos de tempo. Uma dessas teorias fala acerca de quatro seções, a saber: 1. vss. l-4(pré-exílica); 2. vss. 5-15b. (após 450 A.C.); 3. vss. 15a, 16-18 (após 350 A.C.), quando os árabes invadiram Èdom através do Neguebe; 4. vss. 19-21 (período dos Macabeus). Mas, uma outra teoria divide o livro em sete oráculos, que teriam sido proferidos entre os séculos VI e IV A.C. Em ambos os casos, fica entendido que um editor bastante posterior compilou o livro com base em fontes que datavam de tempos muito dispares. Porém, a divisão mais simples é aquela que fala em duas porções do livro, ou seja: 1. vss. 15a, 16-21 (que formaria um apêndice); 2. o começo do livro formaria uma unidade literária. Uma outra divisão dupla é como segue: 1. vss. 1-9,16a, 16a, 18-20a (pré-exílica); 2. vss. 10-14 e alguns fragmentos (pós-exilica). A posição conservadora em geral é que algum autor único escreveu o livro, embora tenha inserido algum material proveniente de tempos anteriores. Um oráculo mais antigo parece despontar nos vss. 1-4, onde o autor afirma: «Temos ouvido as novas do Senhor». Ali é que encontramos a predição sobre a ruína de Edom, o que pode ter sido uma antiga profecia que teve vários cumprimentos históricos parciais. Talvez o resto do livro seja, essencialmente, a obra de um único autor, enquanto que seus paralelos com o livro de Jeremias poderiam ter provindo do mesmo fundo comum de declarações proféticas, usado tanto por Jeremias quanto por Obadias.
IV.    Propósito do Livro
Arrogantemente, os edomitas rejubilaram-se diante das derrotas de Judá (e isso sem importar se mais cedo ou mais tarde na história), chegando a prestar ajuda aos saqueadores. Eles detinham judeus que fugiam e os maltratavam, ou mesmo vendiam como escravos. Isso foi um ultraje entre aparentados, racial e historicamente falando. Desse modo, Obadias esbo­çou como seria tomada vingança contra Edom, e então ocorreria a vitória final de Judá, por meio do temível Dia do Senhor.
V.    Relação com o Livro de Jeremias
Ê patente que os vss. 1-9 de Obadias estão relacionados com o trecho de Jer. 49:7-16, o que tem influenciado a teoria de uma data posterior, conforme foi dito acima, na segunda seção. Há três teorias atinentes a esse paralelismo, a saber: 1. tanto Jeremias quanto Obadias tomaram por empréstimo declarações proféticas de alguma fonte mais antiga, pelo que um deles não depende do outro no tocante a material ou data. 2. Jeremias é quem tomou por empréstimo de Obadias, o que significa que primeiramente foi escrito o livro de Obadias. 3. Obadias tomou emprestado de Jeremias. Aqueles que defendem a teoria de um oráculo antigo, supõem que a versão de Obadias assemelha-se mais ao original, e que a versão de Jeremias contém algumas modifica­ções feitas por ele mesmo. Ou então, se Jeremias foi quem tirou proveito de Obadias, então ele modificou esse material para ajustar-se aos seus propósitos. Mas, se Obadias realmente tomou emprestado de Jeremias, então, verdadeiramente, o livro de Obadias é posterior, referindo-se ao cativeiro babilónico; e, nesse caso, as diferenças teriam sido produzidas por Obadias, de acordo com os seus próprios propósitos. Não há como solucionar esse problema. Os eruditos manuseiam a questão essencialmente de acordo com aquilo que acreditam acerca da data do livro.
VI.   Teologia
1.    É um crime tratar parentes conforme Edom fez com Judá. Que o amor fraternal tenha livre curso.
2.    O julgamento divino haverá de recair sobre os ofensores com estrita retribuição (vss. 10,15).
3.     As nações que se opõem a Yahweh e a seu povo, finalmente ficarão arruinadas. Aproximam-se tanto o Dia do Senhor (juízo) quanto uma Era Áurea. E os homens participarão ou de uma coisa ou de outra, em consonância com os seus feitos (vs. 17; comparar com Isa. 2:6-22; Eze. 7; Joel 1:15-2:11; Amós5:18-20; Sof. 1:7,14-18).
4.    O livro de Obadias condena as atitudes de traição, ridículo, orgulho e materialismo.
VII.   Esboço de Conteúdo
1.     A temível Sorte de Edom (vss. 1-9)
a.     O título do livro (la)
b.     Advertências de condenação (lb-4)
c.     A destruição vindoura (5-9)
2.     A Desprezível Conduta de Edom (vss. 10-14)
3.     O Julgamento das Nações (vss. 15-21)
a.     Como as situações reverter-se-ão (15-18)
b.     Restauração futura (19-21).

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