Livro de Naum


Introdução
Abraão, ao receber a promessa de que seria o genitor de uma grande nação, teria sofrido certo número de surpresas se lhe tivesse sido narrado o .curso da história futura daquela nação. Ele teria reconhecido o cumprimento da promessa que lhe foi feita no estabelecimento da monarquia unida, sob Saul, Davi e Salomão. Porém, teria ficado perplexo ao saber que a monarquia haveria de separar-se em duas nações distintas, que, por muitas vezes, se hostiliza­ram, a começar pelos respectivos reinados de Reoboão (no sul) e Jeroboão (no norte). Porém, quem poderia ter medido a sua consternação se ele tivesse sido informado de antemão sobre a destruição de ambas essas nações, primeiramente a do norte (em 722 A.C.) e então a do sul (em 587 A.C.)? Bem, poderíamos, então, indagar: «Qual a utilidade da promessa?» Não obstante, o melhor ainda estaria por vir, porquanto a história do povo de Israel só poderia ter cumprimento no Messias, filho de Abraão e filho de Davi.
A Assíria provocaria algumas das mais amargas surpresas de Abraão; porquanto foi essa potência que fez o reino do norte, Israel, deixar de existir como organização política, e que deixou o sul esperando ser destruído, ao receber o golpe final da Babilônia. Mas, embora usada por Deus para punir a nação do norte, Israel, a Assíria não haveria de escapar às consequências de sua própria degradação. Isso posto, aprendemos que a vontade de Deus atua tanto através do processo histórico quanto transcende a esse processo, havendo uma lei da colheita segundo a semeadura, que não respeita nem indivíduos e nem nações, na precisão de suas operações. O livro do profeta Naum é uma predição profética que achou seu caminho garantido na história, porquanto os eventos que ali são preditos atualmente fazem parte da história mundial, no que concerne ao povo de Israel.
I.  Pano de Fundo Histórico
Assíria. Esse é o nome do império que dominou todo o mundo bíblico antigo, entre os séculos IX e VII A.C. A Assíria, entretanto, teve começos bem humildes, porquanto o seu território era apenas uma pequena região em formato triangular, entre os rios Tigre e Zabe. Ao norte e a leste fazia limites com a Média e com as montanhas da Armênia. Não obstante, a história desse antiquíssimo povo pode ser acompanhada desde antes de 1700 A.C. Os séculos XVII a XI A.C., no caso da Assíria, são chamados os séculos do reino antigo, caracterizado pelo desenvolvi­mento de várias cidades – estado fortificadas. Com Tiglate Pileser I (1114—1076 A.C.) começou o período do império assírio propriamente dito. Porém, antes mesmo disso, no século XIV A.C., a Assíria tinha um poder comparável ao do Egito. E, pelo tempo em que se tornou um império, suas fronteiras se haviam expandido consideravelmente. De qualquer modo, devemo-nos lembrar que as populações antigas, em comparação com os dados populacionais de hoje, eram pequenas, e que a força militar nem sempre podia ser aquilatada em termos de dimensões geográficas e de grande número de habitantes. A Assíria foi absorvendo várias populações com a passagem dos séculos, e assim suas fronteiras expandiram-se quase até às margens do rio Eufrates. Mas, só atingiu uma posição de domínio mundial quando entrou em aliança com a Babilônia. — No que concerne a áreas geográficas, a Assíria e a Babilônia representavam praticamente a mesma coisa. Os assírios eram semitas de raça. Eram vigorosos de corpo e de disposição alegre, a julgar por suas muitas festas e festivais. Mas a história também demonstra claramente que eles eram implacavelmente cruéis.
Nínive. Essa era a principal cidade e a última capital da Assíria. Foi fundada por Ninrode, depois que ele deixou a Babilônia. Escavações arqueológicas que se aprofundam no solo até 25 m mostram-nos que o sitio vinha sendo continuamente ocupado desde tão cedo quanto 4500 A.C. Em cerca de 1800 A.C. (nos tempos de Sansi-Hadade), a cidade entrou em contato com uma colônia assíria chamada Canis. E foi então que a Assíria tornou-se uma entidade independente da Babilônia. Importantes fortificações e palácios foram construídos nos dias dos reinados de Salmaneser I (1260 A.C.) e Tiglate-Pileser I (1114—1076 A.C.). Assurbanipal (já em 669 A.C.) fez dessa cidade a sua principal residência. A cidade de Nínive foi destruída em 612 A.C., graças aos esforços combinados dos medos, babilônios e citas. Mas só caiu por causa das brechas feitas em suas muralhas defensivas pelas águas de enchente (Naum 2:6-8). Naum descreveu vívida e profeticamente a queda da cidade. No auge de sua prosperidade era cercada por uma muralha interior cuja circunferência era de cerca de doze quilômetros. E sua população era de mais de cento e setenta e cinco mil pessoas.
A Assíria e a Bíblia. Os livros bíblicos de Jonas e Naum formam um par. Jonas (em 862 A.C.) predisse a destruição de Nínive, a menos que seus habitantes se convertessem. Naum previu que o julgamento cairia cento e cinqüenta anos mais tarde, várias gerações depois da época de Jonas.
Em 745 A.C., Tiglate-Pileser III tornou-se rei da Assíria, e deu início a campanhas militares que, no espaço de vinte e cinco anos, puseram fim a Israel, o reino do norte. Essas aventuras militares, embora não tivessem significado a destruição deJudá, chegaram a pôr em sério perigo a sua independência. Oséias, ò último rei do reino do norte, negou-se a pagar tributo aos assírios. Acabou aprisionado. Samaria, sua capital, foi invadida e arrasada até o rés do chão. Os registros assírios documentam que nada menos de 27.290 habitantes da cidade de Samaria foram deportados, e que estrangeiros foram enviados para vir habitar no lugar deles.
Senaqueribe invadiu Judá, em 701 A.C. Ezequias resistiu aos assírios, e foi somente devido à divina intervenção (ver Isa. 37:36) que Jerusalém foi salva da conquista e do saque. Apesar disso, quarenta e seis cidades de Judá foram capturadas. Judá, nos dias do rei Manassés, tornou-se um reino vassalo da Assíria. Porém, foi a partir desse tempo que o poder assírio começou a declinar. Faraó Neco, temendo a Babilônia, que cada vez mais avultava em potência, aliou-se à Assíria e obteve por consentimento, o controle de Judá e da Síria. Entretanto, os babilônios gradualmente obtiveram o predomínio. Faraó Neco e Assur-Ubalite foram totalmente derrotados pela Babilônia. Judá tornou-se reino vassalo da Babilônia, e foi então que tanto a Assíria quanto Judá, reino do sul, chegaram ao fim. Jerusalém caiu em 587 A.C., e, então, seguiu-se o cativeiro babilónico. Em um gráfico, na seção VI deste artigo, traço os eventos tão sucintamente mencionados aqui.
II.   Autoria
Os intérpretes têm apresentado certo leque de idéias quanto à autoria do livro de Naum, a saber:
1.    Alguns eruditos liberais têm sugerido que o autor foi um poeta historiador, e não um profeta, visto que, segundo eles pensam, falta ao livro a ética, a religião e o gênio típicos dos profetas. O nome Naum significa «consolo (de Deus)», o que pode ser entendido como uma tentativa metafórica de dizer: «Este livro, designado consolo, visa dar a Israel motivos para regozijar-se. Portanto, deixai-vos consolar, porque um antigo inimigo foi derrotado».
2.   Apesar do livro dever ser considerado uma profecia genuína (fazendo contraste com a primeira posição, acima), o titulo «Naum» pode ser considera­do como um nom de plume, o que é evidenciado pelo fato de que, nesse livro não dispomos de qualquer informação acerca do profeta Naum. Além disso, a cidade de onde, supostamente, ele veio, «Elcós», é totalmente desconhecida pelos estudiosos. O nome do autor, bem como sua origem, são meros artifícios literários, e não fatos históricos genuínos. Todavia, Jerônimo identificava Elcós com Elcesi, uma pequena aldeia da Galiléia, onde havia, em seu tempo, algumas antigas ruínas. Entretanto, não dispomos de meios para confirmar ou negar essa suposição de Jerônimo. Eusébio também identificava Elcós com Elcesi, presumível localização palestina, embora não tivesse fornecido qualquer informação que agora nos permita confirmar sua afirmação. Alguns antigos escritores sugeriram Alcus como a cidade natal deNaum: no entanto, essa era uma aldeia fora das fronteiras de Israel, e, portanto, muito improvável. Essa aldeia ficava a dois dias de jornada distante de Mosol (antiga Nínive), razão pela qual tal identifica­ção começou a ser artificialmente feita, a partir do século XVI. Os turistas são encaminhados até o suposto túmulo de Naum, nesse lugar. Mas, a ausência de quaisquer informações geográficas e pessoais sólidas, no tocante a «Naum» sugerem-nos que estamos tratando apenas com um pseudônimo, e não com o nome verdadeiro de uma pessoa real.
3.     Outros estudiosos aceitam a autenticidade, tanto do nome do autor quanto do fato de que ele escreveu seu livro como uma profecia. Embora esse nome não possa ser encontrado em todo o Antigo Testamento, senão no próprio livro, não há razão alguma para pormos de lado as informações ali providas. Tal nome tem sido achado inscrito em algumas ostraca. Até o século XIX, ninguém se aventurara a lançar dúvidas sobre a autoria e a autenticidade do livro como uma profecia. Mas essas dúvidas são essencial­mente destituídas de base, não passando de raciocínios subjetivos. O simples fato do nome Naum significar «consolo de Deus» dificilmente milita contra sua existência, a menos que insistamos, por razões particulares, de que esse uso deve ser metafórico. É verdade que nada conhecemos acerca de um profeta chamado «Naum», excetuando aquilo que se pode inferir por meio do próprio livro; mas nossa falta de conhecimento dificilmente poderia servir de prova de que o profeta Naum nunca existiu. Além disso, muitas cidades obscuras da Palestina devem ter existido, mas que nenhum historiador se importou em deixar registrado por escrito. Josefo, ao alistar muitas cidades e vilas da Galiléia, nunca mencionou Nazaré, embora ela tenha, realmente, existido.
4.    O Estilo do Autor. O original hebraico do livro de Naum é muito «claro e vigoroso», e seu estilo é prenhe de animação, fantasia e originalidade. O livro tem uma certa suavidade e delicadeza, alternada por uma dicção rítmica, sonora emajestática, sempre que o assunto requer tal coisa. A semelhança de Isaías, ele usou paronomásias, ou seja, assonâncias verbais. Ê possível que Naum tenha sido um contemporâneo mais jovem de Isaías. Seu hebraico é puro e clássico, podendo ser atribuído ao tempo da segunda metade do governo de Ezequias. Vários autores têm-no mencionado como um brilhante poeta.
5.    Outras Idéias. Pouquíssimo se sabe sobre o homem Naum, a quem a autoria do livro com seu nome é atribuído. Coisa alguma se sabe sobre esse profeta, a não ser aquilo que consta no livro com seu nome. A segunda parte do titulo, que atribui o livro a Naum, de acordo com alguns especialistas, como Smit e Goslinga, teria sido uma adição, com o propósito de preservar o nome do profeta.
Outros eruditos, entretanto, pensam que o nome Naum seja um pseudônimo, porque, visto que Naum significa «consolo (de Deus)», o seu livro haveria de consolar o povo de Israel.
Mais de um autor? Ainda outros estudiosos argumentam que o primeiro capítulo do livro de Naum não forma unidade com os dois capítulos finais. No entanto, até o ano de 1892, não surgira ainda qualquer dúvida de que o livro de Naum é uma unidade. Não obstante, Bickell asseverou que ele descobriu o que pensava ser os remanescentes de um Salmo alfabético em Naum 1:1-7, e tentou reconstruir todo o trecho de Naum 1:2,3, obtendo assim vinte e dois versículos que começam com as sucessivas letras do alfabeto hebraico. Com outra variedade de técnica de reconstituição, Gunkel, em 1892, seguindo o esquema proposto por Bickell, produziu uma reconstituição um tanto mais plausível. Gunkel acha que descobriu que Sobai (ouSobi), era o nome provável do autor desse livro.
III.   Data
Nosso raciocínio pode ser influenciado tanto por fatores históricos quanto por fatores psicológicos, a saber:
1.    Com base em uma suposição a priori, alguns eruditos liberais têm dito que o livro de Naum é uma história poética, e não uma verdadeira profecia, insistindo então em uma data posterior a 612 A.C., o ano da queda de Nínive. Presumivelmente, a jubilosa explosão que há no livro, diante da queda de um poderoso inimigo, trai um poeta que observou, e não um profeta que previu. Entretanto, após exame do livro, vê-se que as qualidades éticas e religiosas do profeta Naum foram subestimadas por esses especia­listas.
2.    Alguns eruditos supõem que parte do livro de Naum consiste em profecia, e outra parte, em história; e, consoante a isso, sugerem datas imediata­mente antes e depois de 612 A.C, Isso nos envolve em raciocínios subjetivos que não podem ser objetivamen­te comprovados. A questão é tremendamente controvertida, e todas as discussões que tem havido não têm servido para iluminar a questão da data da composição do livro.
3.    A maioria dos eruditos do Antigo Testamento data o livro de Naum entre 664 e 612 A.C. Esse ponto de vista alicerça-se sobre o fato de que o trecho de Naum 3:8-12 menciona a destruição de Tebas (a No-Amom desse texto), durante os dias de Assurbanipal
(664—663 A.C.), como um acontecimento que já teria tido lugar. Naum, pois, deve ter escrito seu livro após esse evento. E, no caso do livro ser uma profecia, deve ter sido escrito antes de 612 A.C., a data da queda de Nínive, um evento predito na obra. Todavia, não há como provar exatamente quando, entre essas duas datas, a composição foi escrita. Mas, a maioria dos intérpretes supõe que se deve pensar em uma data mais próxima da destruição de Nínive, do que vima data mais distante dessa destruição. Nada melhor do que isso alguém tem conseguido propor.
4.   Fausset, insatisfeito com uma data imprecisa, apresentou uma série de comparações históricas entre as ideias de Naum e as ideias de outros profetas, relacionando esses dados com os livros de Reis e de Crônicas. Ele via Senaqueribe ainda assediando Jerusalém, em Naum 1:9-12. E supôs que Naum aludiu a isso em parte como história e em parte como profecia, naquele trecho. Com base em todas as suas conjecturas ele extraiu uma data, 713-710 A.C. como a data da escrita do livro de Naum. Mas tudo isso entra em conflito com a história descrita no terceiro ponto.
5.    Outras idéias. O livro de Naum, segundo alguns eruditos, pode ser datado dentro de uma variação de meio século. A fixação da data de sua escrita tornar-se-ia possível por meio de dois eventos principais: a queda de Tebas, que ocorreu por volta do ano de 668 A.C., e a queda de Nínive, em 612 A.C. Por igual modo, no tocante à autoria do livro de Naum, há muitas posições diversas, quanto à data desse poema.
Para Robert Pfeiffer, a iminência da queda de Nínive parece argumentar em favor do livro de Naum ter sido escrito pouco antes da destruição dessa cidade.
Alguns estudiosos destacam Naum 3:13, afirman­do, então, que a Assíria e Nínive se tinham sentido ameaçadas. Sabe-se que pouco depois da morte de Assurbanipal, que ocorreu por volta de 626 A.C., os assírios sentiram-se um tanto ameaçados, porquanto seu domínio sobre os territórios ocidentais era frouxo. De acordo com Heródoto, para piorar as coisas, Nínive fora cercada pelas tropas do medo Ciaxares, antes de haver sido convocado de volta à sua terra, porquanto estava invadindo a Assíria, por causa de uma invasão contra seu próprio país. Isso aconteceu por volta do ano de 625 A.C. Hitzig, Kuenen, Comill e outros estudiosos advogam a posição de que o livro de Naum foi escrito não muito depois daquele citado assédio. De conformidade com eles, o livro deve ter sido escrito não muito depois desse episódio, porquanto a Assíria estava sob ameaça, e também porque Naum indicou que Judá continuava sob o jugo da Assíria.
De acordo com a opinião de J.M. P. Smith (Expositor’s Bible), a iminência da queda de Nínive pode ser percebida no texto do livro de Naum; e ele também advoga a idéia de que as evidências internas indicam que a cidade de Nínive estava nadando em grandiosidade e poder militar. Talvez ele estivesse aludindo ao trecho de Naum 2:9. Segundo Smith isso não poderia ser dito como verdade no tocante ao período de tempo imediatamente após a morte de Assurbanipal, em 626 A.C.
Contudo, na realidade, se tivermos de determinar uma data definida, seja ela imediatamente após a queda de Tebas, ou pouco antes da destruição de Nínive, não é uma conclusão tão importante como aquela que diz que o livro de Naum foi escrito no período de tempo entre esses dois eventos históricos; porque, se alguém defende essa posição, conforme têm feito alguns estudiosos, dizendo que o poema foi escrito após a queda de Naum, então o homem Naum teria sido apenas umeloqüente poeta e um excelente historiador, mas não um profeta, pois o seu livro seria história, e não predição profética.
IV.  Conteúdo
«A profecia de Naum tanto é um complemento quanto uma contraparte do livro de Jonas», disse Pusey. Os três capítulos do livro de Naum podem ser considerados um único poema; mas cada capítulo, mesmo considerado em separado, é digno de atenção.
O   primeiro capítulo tem sido chamado, por alguns autores, de ode à Majestade de Deus. Pode ser dividido em três porções:
1.    Subtítulo (1:1). O autor fala sobre a sua «sentença», que, ao mesmo tempo era a sua «visão». Isso revela o caráter sobrenatural do livro. Podemos supor algum tipo de inspiração que está por detrás de uma composição escrita em forma de poema. Aliás, largos segmentos do Antigo Testamento foram compostos como poemas, como os Salmos e muitas passagens de Isaías, de Jeremias, de Oséias, de Joel, etc.
2.    A descrição da majestade de Deus (1:2-8). Nesses versículos, o poeta profeta enfatiza os poderes e a resolução de Deus, mediante o que ele efetua os seus desígnios. O autor usou descrições alicerçadas sobre a natureza, a fim de adornar suas palavras. A mensagem é: A majestade de Deus, sua exaltada posição requer que o mal seja julgado.
3.    A descrição da confusão da Assíria e a restauração de Judá (1:9-11,14—3:19): Deus dirige-se aos assírios e promete que seu povo seria vingado com toda a certeza. Os vss. 12 e 13 incluem uma promessa de descanso e alívio futuro da opressão.
O segundo capítulo é homogêneo, descrevendo o cerco e o saque de Nínive. As qualidades do autor sagrado, como poeta, tomam-se neste trecho especial­mente patentes.
O terceiro capítulo caracteriza longamente a maldade de Nínive, salientando certo número de causas de sua queda final. Fausset salienta que o trecho de Naum 3:19 serve de poderoso clímax, porquanto esse versículo afirma que não há cura para a ferida da Assíria.
Por todo o livro há um tema moral que se repete: Deus, por ser santo, deve julgar o pecado. Esse tema torna-se ainda mais solene quando consideramos que a cidade de Nínive, que finalmente caiu, gerações atrás entregara-se ao arrependimento.
Esboço:
Naum 1:1: Título do livro e uma breve referência ao autor.
Título:  é duplo, a saber, o oráculo sobre Nínive e o livro da visão de Naum, o elcosita.
Autor:  Naum, o elcosita.
I.    1:2-8. Esses versículos iniciais são uma introdução na qual o autor sagrado descreveu alguns dos atributos de Deus:
1.     Paciência — Deus é descrito como um Ser lento em irar-se (1:5).
2.     Justiça — Paralelamente à sua paciência, Deus também é descrito como um Ser dotado de justiça divina. Por um lado, a ira vingadora contra os ímpios (1:2); por outro lado, uma fortaleza onde os piedosos podem refugiar-se (1:7).
3.     Poder — Tanto os homens quanto a natureza prostram-se diante do poder de Deus. Os rios ressecam-se (1:4), os rios extravasam (1:8). As montanhas estremecem diante de Deus (1:5), as rochas partem-se sob o furor de sua ira (1:6); mas, acima de tudo, quem pode resistir à sua indignação? (1:6).
II.   1:9-15. O retrato do opressor de Judá e a promessa de que o jugo seria quebrado. Nessa seção é enfocada «a expedição malsucedida de Senaqueribe», como também é prometida a remoção da opressão de Judá.
III.  2:1-13. Uma vívida descrição da queda de Nínive. 2:1. Uma irônica conclamação para que os ninivitas se fortalecessem. Soldados e armamentos parecem ser descritos em Naum 2:3 como que se preparando para uma parada militar, e não para uma batalha. Logo a parada transformar-se-ia em um tropel de cavalos e carros de guerra (2:4).
O Senhor dos Exércitos julgou a cidade de Nínive, que foi inundada, saqueada e deixada em desolação. As servas da cidade gemem tristemente, pois o covil dos leões foi destruído (2:7-13).
IV.   3:1-19. Nínive é comparada a Nô-Amom, ou seja, Tebas (3:8), visto que a destruição foi completa.
Látegos, pranto e rodas — os látegos para cortar, as rodas para trilhar. Mas, por que tanto choro? A sentença é anunciada: «Es tu melhor do que Nô-Amom…?» (3:1-8).
Essas palavras foram proferidas como uma profecia pelo profeta de Yahweh. O povo assírio já havia provado um pouco o poder das nações opressoras (3:13); e, em breve, estas palavras também teriam cumprimento: «Tudo isso por causa da grande prostituição da bela e encantadora meretriz, da mestra de feitiçarias…»
V.    Propósito e Principais Ensinos Teológicos
Propósito. O livro de Naum tem, basicamente, um duplo propósito. O primeiro é profetizar sobre o julgamento de Nínive mediante a providência vingadora de Deus; e o segundo é um poderoso alento consolador à nação de Judá, que seria tirada de sob o tacão assírio.
A razão desse julgamento aparece em Naum 3:4,5: «Tudo isso por causa da grande prostituição da bela e encantadora meretriz, da mestra de feitiçarias, que vendia os povos com a sua prostituição e as gentes com as suas feitiçarias. Eis que eu estou contra ti, diz o Senhor dos Exércitos…»
Por semelhante modo, da mesma maneira que Nínive seria destruída, assim também Judá seria liberada do domínio assírio. «Mas de sobre ti, Judá, quebrarei o jugo deles, e romperei os teus laços…» (1:13).
Principais Ensinos Teológicos. Se contemplarmos o mundo através do prisma formado por Naum, os acontecimentos históricos serão polarizados em uma antítese. Os poderes mundiais são todos representa­dos pela Assíria e por Judá, emblemas dos inimigos de Deus e do seu reino, respectivamente.
Por igual modo, se olharmos através desse prisma de Naum, a teologia está distintamente dividida em duas facções adversárias: os bons e os maus. Os bons serão eternamente consolados; e os maus serão devidamente julgados na perdição eterna. Os bons são retratados como quem não tem qualquer mácula. Contudo, em seu livro, o autor não reflete as características da história interior ou os méritos de sua própria geração.
E o ensino que recolhemos do retrato sobre a nação de Judá não é o do julgamento do povo de Deus, e, sim, de refúgio para aqueles que se valem da fortaleza que é o Senhor (1:7).
Através do profeta Jonas, Deus havia revelado a sua longanimidade; mas Naum foi usado para anunciar um outro tipo de ensino sobre as atitudes de Deus. Naum nos fala sobre o poder de Deus, um poder capaz de controlar a natureza e os homens, um poder que libertaria a nação de Judá (1:13). Mediante o exemplo de Nínive, aprendemos um lado espantoso dos atributos de Deus. Acima de tudo, aprendemos que aquele que blasfema contra Deus não deixa de receber a sua paga.
VI.   Características literárias
Os eruditos de todas as especialidades bíblicas concordam quanto à excelente qualidade dos poemas de Naum. Se se trata de uma profecia genuína, conforme opina a maioria dos estudiosos (o que não foi lançado em dúvida até o século XIX), então trata-se de uma profecia vazada em tom altamente poético. Alguns críticos têm proposto que o livro se compõe de cinco poemas. Essa ideia pode incluir a variação de que o trecho de Naum 1:2-10 era um antigo poema acróstico, prefixado à composição original. No entanto, somente por meio de emendas violentas é possível trazer à existência um poema acróstico ali. Para outros, o trecho de Naum 1:11—2:22 não fazia parte original do livro; mas foi apenas um acréscimo editorial, inserido tão tarde quanto 300 A.C. Unger, um erudito de nossos dias, rejeita essa ideia como um exemplo do subjetivismo usado por muitos críticos. Outros estudiosos pensam que o livro de Naum consiste em um único poema, embora possa ser dividido em várias porções, de acordo com conteúdos específicos.
Qualidade teológica e moral do livro. A qualidade poética destacada dessa obra não deveria obscurecer o fato de que Naum também se reveste de uma excelente qualidade profética. Aqueles que querem ver o livro como se fosse apenas uma obra poética e histórica exibem a tendência de degradar o conteúdo espiritual do mesmo. Como é óbvio, o autor sagrado entusiasmou-se diante da queda prevista da Assíria, mas esse entusiasmo não é o único conteúdo do livro.
Podemos discernir em Naum os seguintes elementos morais e teológicos:
1.       O caráter de Deus, mormente a sua santidade, requer a justiça (1:2,8).
2.       Teísmo: Deus faz-se presente no mundo. Ele julga e galardoa (1:9-15).
3.       O amor de Deus fá-Lo ser paciente, embora com limites (1:2,3).
4.       Uma potência mundial, a despeito de toda a sua glória, pode constituir-se em inimiga de Deus. Essa é a mensagem central do livro.
5.       Todo julgamento divino tem uma causa. O terceiro capitulo de Naum esboça várias razões do julgamento de Nínive.
6.       Nínive serviria de exemplo para outras comunidades. Rejubilemo-nos diante do juízo divino. Mediante o juízo, Deus faz coisas que não poderia fazer por outros meios (3:19).
VII.   Gráfico Histórico do Israel
Abraão (1900 A.C.) Jacó (1750 A.C.)
Êxodo do Egito (1490 A,C.)
Entrada na Palestina (1425 A.C.) Instituição dos Juizes (1425 A.C.)
Samuel, último juiz (1035 A.C.) Monarquia unida (1050—930 A.C.) Divisão em duas Nações (931 A.C.) Profecia de Jonas (862 A.C.)
Israel sob cerco (745 A.C.)
Queda de Samaria (722 A.C.)
Judá, vassalo da Assíria (700 A.C.) Profecia de Naum (664—612 A.C.) Judá, vassalo da Babilônia (609 A.C.) Queda e exílio de Judá (597—587 A.C.)
Assíria -Babilônia
Estado assírio independente (1800 A.C.)
Reino Antigo (1700—1100 A.C.)
Expansão dos limites (1700 A.C.)
Soerguimento de Nínive (1260 A.C.)
Cidades estado fortificadas (1114—1076 A.C.)
Nínive é poupada (862 A.C.)
Senaqueribe devasta Judá (701 A.C.)
Declínio da Assíria (687 A.C.)
Queda de Nínive (612 A.C.)
Fim da Assíria (609 A.C.)
Babilônia torna-se senhora do mundo (609 A.C.)

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