Livro de Sofonias


1.  Unidade
A maioria dos críticos admite que o primeiro capítulo do livro de Sofonias é, realmente, obra do profeta desse nome; mas quase todos opinam que os capítulos segundo e terceiro do livro contêm ou poemas posteriores ou ampliações proveniente do período pós-exílico, que teriam sido acrescentados aos oráculos autênticos de Sofonias. Quanto aos detalhes, os intérpretes também demonstram pouca concordância entre si. A principal dificuldade, porém, é que a maioria dos estudiosos não acredita em profecias preditivas genuínas, mas apenas em vaticinium ex eventu (profecia após o evento ocorrido), além de pensar que a teologia esperançosa, na história da religião de Israel, evoluiu somente já no período pós-exílico. Mas a primeira dessas opiniões não se coaduna com o testemunho explícito da própria Bíblia, e o segundo desses pressupostos tem paralelos até mesmo na forma de profecias extrajudaicas do antigo Oriente Próximo, como as do Egito e as que aparecem nas cartas provenientes de Mari, onde aparecem predições que seguem o modelo de ameaças e de promessas. Isso demonstra que esse modelo não foi criação posterior de Israel após o exílio.
2.  Data
De acordo com a introdução do próprio livro de Sofonias, esse profeta atuou durante o reinado de Josias (640-609 a.C.). Com base no estado da moral e da religião, em sua época (Sof. 1:4 ss, 8,9,12 e 3:1,3-7), pode-se inferir que suas atividades, mais precisamente ainda, ocorreram antes da grande reforma religiosa de 621 a.C. (cf. II Reis 23:4 ss). Os informes que, de acordo com certos críticos, indicariam uma data um tanto posterior para o livro, podem ser devidamente explicados como segue: a. os filhos do rei, mencionados em Sof. 1:8, adeptos a costumes estrangeiros, não podem ter sido os filhos do rei Josias, porquanto, Josias ainda era jovem demais para isso. Antes, devemos pensar em seus irmãos ou parentes próximos, b. A alusão àqueles que continuavam servindo aos ídolos, no versículo seguinte, designa quão completa seria a destruição deles-Yahweh haveria de varrer de Israel todo e qualquer vestígio da adoração a Baal.
Os críticos também postulam uma data posterior para o livro de Sofonias porque eles vinculam a predição de Sofonias sobre o grande Dia de Yahweh (ver desde Sof. 1:1) com as invasões dos povos citas, que atacaram a Assíria em 632 a.C. Porém, é evidente que uma invasão que teve consequências relativamente pequenas não pode ser equiparada àquilo que as Escrituras em geral, e o próprio livro de Sofonias, em particular, dizem sobre o Dia do Senhor. A opinião desses críticos é simplesmente ridícula. Portanto, se aceitarmos o testemunho do próprio Sofonias, ele pregou nos dias do reinado de Josias. Muitos eruditos conservadores pensam que Sofonias estava terminando a sua carreira profética quando Jeremias estava começando a sua. Jeremias foi chamado como profeta no décimo terceiro ano do reinado de Josias. Ver Jer. 1:2.
Cabe aqui a pergunta. Por que os críticos sempre entendem que os livros da Bíblia foram escritos depois das datas onde eles se ajustam, de acordo com os próprios informes encontrados nesses livros? Em que esse adiamento serviria à causa desses críticos? Por que nenhum deles jamais tentou atribuir a qualquer livro da Bíblia uma data mais antiga do que geralmente se supõe? A resposta é simples. É que eles são impulsionados pela incredulidade, mormente quanto à possibilidade de Deus revelar aos seus profetas, de antemão, os acontecimentos futuros. Os críticos sempre querem dar a entender que os livros proféticos são apenas livros históricos. Suas predições referir-se-iam ao passado e não ao futuro. Quanto mais tarde eles puderem datar esses livros, melhor para as crenças deles. Contra isso levantam-se os estudiosos sérios, que creem no fenômeno da profecia preditiva como uma autêntica manifestação do Deus vivo. Não precisamos apelar para aquele esquema. Aceitamos o que os livros da Bíblia dizem a seu próprio respeito, sem tentar qualquer distorção. Para nós, essa atividade seria desonesta. Não estamos querendo comprovar nenhuma teoria. Queremos aceitar a verdade!
3.   Pano de Fundo Histórico
As condições religiosas do reino de Judá deterioraram-se de modo marcante, após a morte do rei Ezequias. Os judeus cada vez mais se inclinavam para a adoção de costumes assírios, que então exerciam grande influência cultural sobre a Palestina. As práticas religiosas degeneradas, antes da grande reforma religiosa de Josias, transparecem, com certos detalhes, no trecho de II Reis 23:4-20.
Os estudiosos têm debatido muito sobre o pano de fundo político do livro de Sofonias. Se Isaías (39:6), Habacuque (1:6) e Jeremias (10:4) especificaram “que os babilônios seriam a vara de castigo usada por Yahweh, os quais haveriam de destruir temporariamente o reino de Judá, Sofonias somente diz que o próprio Deus aplicaria essa punição, mas sem determinar o instrumento usado por ele para isso. Por causa desse silêncio de Sofonias, dois povos têm sido sugeridos pelos estudiosos como esse instrumento: os citas ou os babilônios. E, visto que a invasão cita ocorreu em data posterior, essa invasão é preferida pelos críticos que não acreditam em profecias preditivas. O erro dessa opinião é visto claramente, no fato de que Judá nunca foi atingida pelos citas, ao passo que os babilônios levaram a nata da nação judaica para o exílio, em 586 a.C. Isso tanto é testemunho bíblico (ver, por exemplo, IlCrô. 36:17 ss), quanto é testemunho da própria história. Os citas, por sua vez, somente perturbaram a Ciaxares, rei medo, por ocasião do cerco de Nínive. Depois, marcharam contra o Egito; mas não o atacaram e retomaram a seus lugares de origem, sem jamais terem atacado a Palestina.
4.Propósito. Sofonias predisse a queda de Judá e de Jerusalém, como acontecimento inevitável (Sof. 1:4-13), em face da degeneração religiosa que ali se havia instalado. Todavia, esse julgamento local é visto pelo profeta contra o pano de fundo do quadro maior dos últimos dias, que as Escrituras também chamam de Dia do Senhor (Sof. 1:4-l 8 e 2:4-15). Por conseguinte, o propósito central do autor sagrado foi, principalmente, o de despertar os piedosos que se voltassem de todo o coração para o Senhor, a fim de escaparem da condenação quando do futuro dia do juízo (Sof. 2:1 -3), tomando-se parte daquele remanescente que haverá de desfrutar das bênçãos do reino de Deus (Sof. 3:8-20). Isso significa que o livro não é obsoleto para nós; antes, à medida que se aproximarem os últimos dias, mais e mais o livro irá tendo aplicação e se tomará útil para nossa meditação e orientação. Todos os livros proféticos (e também, em menor grau todos os demais livros bíblicos) têm um decisivo aspecto escatológico, que não podemos desprezar. No seu conjunto, eles formam o quadro que Deus nos queria dar acerca dos dias finais desta dispensação, que abrirão caminho para uma nova era “áurea”, o milênio ou reinado de Jesus Cristo à face da terra!
5.    Conteúdo
O esboço do livro de Sofonias é muito simples, quanto a seus detalhes principais, a saber:
A.       Introdução (1:1)
B.       O Juízo Universal (1:2-3:7)
1.       Sobre a criação inteira (1:2,3)
2.       Sobre Judá (l:4-2:3)
3.       Sobre as nações gentílicas (2:4-15)
4.       Sobre Jerusalém (3:1-7)
C.       O Estabelecimento do Reino (3:8-20)
1.       Destruição da oposição gentílica (vs. 8)
2.       O remanescente purificado (vss. 9-13)
3.       As bênçãos do reino (vss. 14-20)
Destacaremos alguns pontos, dentro desse esboço:
Quanto ao juízo divino sobre a criação inteira (1:2,3). A destruição antecipada por Sofonias ainda será mais abrangente do que os efeitos do dilúvio de Noé-uma total destruição é o fim deste cosmos caído no pecado (cf. II Ped. 3:10; Apo. 21:1). Antes disso, o colapso das civilizações em sequência servirá de arauto que anunciará o juízo final sobre o mundo inteiro. Uma das causas do juízo é que os homens, em sua imensa teimosia e rebeldia, têm arruinado cada instituição divina. Poderíamos citar o matrimônio (Gên. 2:18-25) e o governo humano (Rom. 13:14).
Sobre Judá (l:4-2:3). Esse juízo, que ocorreu em 586 a.C., foi o primeiro rebate acerca do juízo final. O rigor divino contra Judá corresponde aos privilégios maiores dessa nação (Deu. 4:7,8,32 ss; Rom. 9:4,5).
-    Sobre as nações gentílicas (2:4-15). Nenhuma nação do mundo escapará ao juízo divino. Este será verdadeiramente universal. Isso é destacado pelo fato de que o profeta refere-se a nações gentílicas a oeste, a leste, ao norte e ao sul do território de Judá.
-    O estabelecimento do reino (3:8-20). O trecho começa falando sobre o fim de toda uma civilização, de toda uma era, ou, usando a linguagem teológica, de toda uma dispensação: “…a minha resolução é ajuntar as nações e congregar os reinos, para sobre eles fazer cair a minha maldição e todo o furor da minha ira; pois toda esta terra será devorada pelo fogo do meu zelo” (3:8).
O resultado de tão severo juízo contra as nações foi predito como se lê nos versículos doze e treze: Mas deixarei no meio de ti um povo modesto e humilde, que confia no nome do Senhor. Os restantes de Israel não cometerão iniquidade, nem proferirão mentira, e na sua boca não se achará língua enganosa; porque serão apascentados, deitar-se-ão, e não haverá quem os espante”. Portanto, abatida a altivez dos povos, formar-se-á uma nova civilização, na qual o povo de Israel haverá de resplandecer. E, no dizer do resto do trecho, até o fim do livro, Deus reivindicará a causa de seu povo de Israel contra todos os que o afligiram através dos milênios. Isso importará na restauração de Israel. O profeta conclui seu livro, prevendo: “Naquele tempo eu vos farei voltar e vos recolherei; certamente farei de vós um nome e um louvor entre todos os povos da terra, quando eu vos mudar a sorte diante dos vossos olhos, diz o Senhor” (Sof. 3:20). Ver Restauração de Israel.

Um comentário:

Gleydson disse...

Analise profunda e apesar de ser breve não deixou de ser enriquecedora.