Livro de Malaquias


1.    Caracterização Geral
Juntamente com as profecias escritas de Ageu e de Zacarias, o livro de Malaquias reveste-se de grande importância por suprir-nos informações preciosas a respeito do período entre o retorno dos exiladosjudaítas à Terra Santa e o trabalho ali desenvolvido por Esdras e Neemias. Foi um período de reconstru­ção da nação de Judá, e as fontes informativas seculares a respeito são extremamente escassas, valorizando assim esses três livros proféticos como fontes informativas. Mas, além disso, temos nesses três livros informações de ordem religiosa e moral sobre o período, não nos devendo esquecer que esses três livros encerram um forte conteúdo apocalíptico, o que significa que seus autores não falavam somente para a sua própria geração, e, sim, também para a última geração, que haverá de testemunhar o retomo do Senhor Jesus, como o grande Rei.
Apesar da profecia de Malaquias não ser datada nos versículos iniciais, a exemplo de alguns outros livros dos profetas menores (aos quais ele pertence, posto em décimo segundo lugar, tanto no cânon hebreuquanto no cânon cristão do Antigo Testamen­to), é perfeitamente possível, com base no exame das evidências internas, localizar as atividades de Malaquias dentro do período do domínio persa sobre a Palestina. Isso transparece na menção que o trecho de Malaquias 1:8 faz ao governador civil persa (no hebraico, pehah), uma palavra que também se acha em Nee. 5:14 e Ageu 1:1. Como é óbvio, pois, o pano de fundo histórico desse livro de Malaquias é o do período pós-exílico, na Judéia. Contudo, o livro retrata condições religiosas e sociais que apontam para um período subsequente ao de Ageu e Zacarias. O fato de que há menção a sacrifícios, que estavam sendo oferecidos no templo de Jerusalém, (ver Mal.
1:7-10 e 3:8), subentende não meramente que aquela sagrada estrutura havia sido finalmente completada, mas também que já estava de pé há algum tempo, nos dias em que Malaquias escreveu o seu livro. O cerimonial do templo já estava bem estabelecido, novamente (ver Mal. 1:10; 3:1,10), o que aponta para uma data posterior à de 515 A.C. E que Malaquias levantou a voz, em protesto contra os sacerdotes e o povo em geral, no século que se seguiu ao de Ageu e Zacarias, parece um fato altamente provável, diante da observação de que certo grau de lassidão e descuido havia penetrado na adoração cerimonial dos ex-exilados. Assim, os sacerdotes não estavam cumprindo as prescrições relacionadas à natureza e à qualidade dos animais que eram oferecidos em sacrifício (ver Mal. 1:8); e, pior ainda, estavam oferecendo pão poluído diante do Senhor, mostrando um grau ainda maior de indiferença para com as estipulações cúlticas da lei levítica. De fato, Malaquias repreendeu-os severamente por esses motivos, porquanto toda a atitude deles demonstrava que eles se tinham cansado dos procedimentos rituais vinculados à adoração judaica (ver Mal. 1:13).
Isso nos permite perceber que aquele entusiasmo inicial que deve ter assinalado a inauguração do segundo templo, nos dias de Malaquias já devia ter-se abrandado em muito, e, juntamente com o abatimen­to do zelo, aparecera também o abatimento moral, com o consequente afrouxamento da obediência às prescrições levíticas do culto. Essa negligência geral manifesta-se até mesmo no pagamento dos dízimos exigidos pelo Senhor (Mal. 3:8-10), tão importantes para a manutenção tanto do templo de Jerusalém quanto do seu sacerdócio, naquele período formativo e crucial do período pós-exílico.
Também se deve salientar que a maneira como Malaquias investiu contra a prática bastante generali­zada dos casamentos mistos (casamentos entre judeus e estrangeiros, ver Mal. 2:10-16) sugere-nos oconservantísmo tradicional da Tora mosaica (vide), e não a infração de uma legislação recente e em vigor, acerca da questão. A expressão usada por Malaquias, «adoradora de deus estranho» (Mal. 2:11), significa mulher que seguia alguma religião estrangeira. Isso significa, em face da generalização do costume desses casamentos mistos, que os ideais hebreus (que olhavam com desfavor e suspeita essas uniões mistas) haviam sido abandonados nos dias do profeta. E, visto que Malaquias não lançou mão de qualquer regulamentação específica sobre a questão, pode-se concluir, com razoável dose de segurança, que os seus oráculos proféticos foram entregues antes de 444 A.C. Pois foi naquele ano que Neemias legislou acerca desse problema particular, já em seu segundo termo no ofício de governador. Portanto, o pano de fundo histórico do livro de Malaquias ajusta-se entre os períodos extremos das atividades de Ageu e Zacarias, por uma parte, e as atividades de Esdras e Neemias, por outra parte. Calcula-se que cerca de setenta e cinco anos se passaram entre esses dois pontos extremos.
2.    Unidade do Livro
O livro de Malaquias consiste em seis seções, cada qual correspondente a um oráculo (ver sobre o Esboço do Conteúdo). Esses segmentos podem ser facilmen­te distinguidos. Tais divisões naturais do livro refletem um pano de fundo histórico muito bem delineado, abordando, de maneira uniforme, os problemas inter- relacionados. A série de perguntas e respostas, existente dentro do livro, como é óbvio, foi arranjada de maneira tal que é suavemente transmiti­da a mensagem do profeta acerca do julgamento divino e das bênçãos prometidas pelo Senhor, quanto ao futuro. Por isso mesmo, o livro exibe todas as marcas de ter tido um único autor.
A única questão série e pendente sobre o problema da unidade e da integridade do livro de Malaquias, de conformidade com alguns estudiosos, gira em tomo das suas palavras finais (ver Mal. 4:4-6), que, talvez, façam parte integrante do sexto oráculo, e não uma espécie de conclusão separada do mesmo.
Alguns eruditos opinam que a referência a Elias constitui uma adição posterior, feita pelo editor da coletânea dos profetas menores, que acreditava que» com o término da profecia (segundo ele pensava), mais do que nunca se tornava necessário observar os preceitos da lei, como uma medida preliminar para o advento do arauto divino. Mas, apesar dessa opinião ter certos pontos a seu favor, entre os quais se destaca a atitude dos sectários de Qumran para com a profecia e a lei, ela não é passível de ser objetivamente demonstrada, pelo que tem sido rejeitada pela maioria dos estudiosos.
3.    Autoria
Tradicionalmente, o último dos doze livros dos profetas menores é atribuído a um indivíduo de nome Malaquias, com base em Mal. 1:1. Mas, conforme já dissemos no primeiro ponto, Caracterização Geral, consideráveis debates tem surgido entre os estudiosos se Malaquias deve ser considerado ou não como um nome próprio ou apenas como um substantivo comum, com o sentido de «meu mensageiro». E o que deu azo a isso é que a Septuaginta toma aquela palavra hebraica não como um nome próprio, mas apenas como um substantivo comum. Porém, se seguirmos o costume de todos os profetas escritores, que nunca escreveram obras anônimas, mas sempre em seus próprios nomes, então também teremos de concluir que «Malaquias» deve ser o nome de um homem que, realmente, viveu em tomo de 450 A.C. Ver a quarta seção, Data, abaixo.
Mas, que desde a antiguidade tem havido alguma dúvida sobre a autoria desse último dos livros dos profetas menores, toma-se evidente pelo Targum de Jônatas ben Uziel, que adicionou uma glosa explicativa ao nome «Malaquias», como segue: «cujo nome é Esdras, o escriba», em Mal. 1:1. Porém, a despeito do fato de que essa tradição foi aceita por Jerônimo, na verdade ela não é mais válida do que tradições similares, associadas a Neemias e Zorobabel.
 Assim, apesar de quiçá haver alguma base para pensarmos nesse livro de Malaquias como uma composição anônima, ninguém pode afirmar, com absoluta certeza, de que assim aconteceu, na realidade. Seja como for, até mesmo os modernos eruditos liberais têm achado conveniente referir-se ao autor do último livro do Antigo Testamento pelo nome de «Malaquias». Se eliminarmos as demais considerações, basta esse fato para debilitar muito seriamente qualquer argumento que defenda o anonimato do livro de Malaquias.
4.    Data
As evidências internas apontam claramente para o período pós-exílico como o tempo em que Malaquias proclamou os seus oráculos. Não obstante, as condições sociais e religiosas que transparecem no livro indicam que ele profetizou algum tempo depois que fora reconstruído o segundo templo de Jerusalém. E a ausência de qualquer referência ao trabalho efetuado por Esdras e Neemias entre os judeus que tinham voltado da servidão na Babilônia, parece indicar uma data anterior às reformas religiosas, efetuadas em 444 A.C. Por motivo dessas várias considerações, maioria dos intérpretes postula um tempo de composição em tomo de 450 A.C., que se mostra coerente com as evidências internas do próprio livro. Não há razão alguma para supormos que qualquer intervalo de tempo mais dilatado tenha-se passado entre a entrega oral das profecias de Malaquias e o tempo em que elas foram reduzidas à forma escrita. De fato, é impossível datar precisamen­te a composição do livro, por falta de declarações cronológicas nele, mas, levando-se em conta o fato de que Malaquias condenou abusos que eram correntes na época em que Neemias procurou corrigi-los, capacita-nos a asseverar que o livro de Malaquias deve ter sido escrito durante o tempo da visita de Neemias a Susa. Ver Nee. 13:6.
5.    Lugar de Origem
Se aceitarmos uma data em meados do século V Á.C. para a composição do livro de Malaquias, então, parecerá patente que os oráculos de Malaquias tiveram lugar na própria cidade de Jerusalém. Com base no íntimo conhecimento que esse profeta mostrou possuir acerca dos abusos que se estavam cometendo, dentro do culto religioso em Jerusalém, parece que ele foi testemunha ocular dos mesmos. O culto, em Judá,estava sofrendo sob as sombrias condições que imperaram na província da Judéia, antes de ter início o trabalho reformador de Esdras e Neemias.
6.    Destino e Razão do Livro
Visto que o objetivo primário de Malaquias era obter a reforma das condições sociais e religiosas de sua nação, levando os judaístas a prestarem um serviço religioso a Deus, digno do nome, de acordo com as condições do pacto mosaico com eles estabelecido, por isso mesmo os seus oráculos dirigiam-se à população local, em meio à qual ele residia. Os membros leigos da teocracia haviam sucumbido, em grande escala, à indiferença, ao ceticismo, à falta de zelo, ao mesmo tempo em que indivíduos menos responsáveis haviam caído a um nível tão baixo a ponto de escarnecerem do culto com suas atitudes lassas (ver Mal. 1:14 e 3:7-12). Os casamentos mistos com mulheres pagãs também contribuíam para a criação desse clima de indiferença, paralelamente à indulgência diante de ritos religiosos pagãos. Isso tudo resultou que o adultério, o perjúrio e a opressão aos pobres tornaram-se generalizados (ver Mal. 3:5).
Malaquias castigou, igualmente, aos sacerdotes de Jerusalém, acusando-os de se terem enfadado diante de seus deveres religiosos, além de se mostrarem indiferentes para com seus deveres de mordomia das finanças do templo. Tudo contribuía, por conseguin­te, para manter um clima em que os preceitos da lei do Senhor eram passados para trás com grande facilidade, como se tudo fosse a coisa mais natural. E a casa de Deus e o altar de Deus iam caindo cada vez mais em opróbrio. Diante desse triste espetáculo de desmazelo, exemplificado pela classe sacerdotal, era apenas natural que o povo começasse a mostrar uma mão sovina, e os dízimos devido ao Senhor começaram a ser pecaminosamente retidos, aumen­tando ainda mais o estado de penúria e abandono a que estava relegada toda adoração ao Senhor. Dessa desonestidade quanto aos dízimos, Malaquias queixa- se em termos claríssimos e candentes: «Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós bênçãos sem medida» (Mal. 3:8-10).
Destarte, Malaquias reverbera o mesmo tema que se vinha reiterando desde Deuteronomio, de que a bênção divina, sobre o seu povo escolhido do passado, estava condicionada à obediência deles, e, em caso contrário, eles só poderiam esperar castigo. Mas, se viessem a incorrer em lapso, e, então, se arrependes­sem de suas atitudes e ações, o Senhor renovaria, uma vez mais, as suas bênçãos.
7.    Propósito
O profeta Malaquias parece ter-se preocupado tanto quanto os profetas Ageu e Miquéias, acerca da deterioração da espiritualidade dos exilados repatria­dos. Apesar de Malaquias não estar em posição de despertar o entusiasmo, acerca da construção de algum símbolo visível da presença divina entre o seu povo, como estiveram aqueles outros dois profetas, ainda assim ele foi capaz de apontar, de dedo em riste, para o centro da enfermidade espiritual que havia afetado os habitantes da Judéia. O seu grande propósito consistia em restaurar a comunhão dos judaítas com o Senhor. E isso ele procurava fazer indicando, diante dos seus contemporâneos, as causas do declínio espiritual deles, e mostrando-lhes, ato contínuo, quais os degraus pelos quais eles deveriam subir, até que a vida espiritual da comunidade judaica pudesse ser revigorada.
Tendo plena consciência do fato de que aqueles elementos deletérios que haviam precipitado a catástrofe do exílio babilónico, em 597 A.C., ainda estavam bem presentes na ordem social de sua época, Malaquias esforçava-se deveras por instruir aos seus conterrâneos as lições ensinadas pela história, guiando-os a um estado de espiritualidade mais profunda. Para ele, esse era o remédio precípuo para as perigosas condições morais, religiosas e espirituais em que se encontravam os habitantes da Judéia, nos seus dias. Ã semelhança de Ageu, que falara antes dele cerca de um século, a preocupação dominante de Malaquias era que os judeus reconhecessem as prioridades espirituais. Se isso fosse conseguido, então as caóticas condições vigentes sofreriam uma reversão. «Por vossa causa (então) repreenderei o devorador,para que não vos consuma o fruto da terra; a vossa vida no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. Todas as nações vos chamarão felizes, porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos» (Mal. 3:11,12). Sim, se houvesse correção dos abusos, então haveria tanto prosperidade material, quanto felicidade individual, e boa fama entre as nações estrangeiras.
8.    Canonicidade
O livro do profeta Malaquias, arrumado em último lugar dentro da coletânea dos chamados «doze profetas menores», nunca teve a sua canonicidade seriamente ameaçada em tempo algum, nem entre os judeus e nem no seio da Igreja cristã. A despeito do livro ser considerado por alguns como uma obra anônima (ver sobre o terceiro ponto, Autoria, acima), isso em nada atingiu a sua canonicidade. Todavia, cabe-nos aqui ressaltar que muitos estudiosos, em várias épocas, têm pensado que a obra, originalmen­te, fazia parte do volume das profecias de Zacarias, mas que, de alguma maneira, essa obra acabou assumindo um caráter de independência, com o nome de «Malaquias». No entanto, certa diferença funda­mental, atinente ao pano de fundo histórico dos livros de Zacarias e de Malaquias, exclui inteiramente tal possibilidade. E, embora possa ter havido alguma dúvida quanto ao nome «Malaquias», como um nome próprio, ou como um simples substantivo comum, que teria o sentido de «meu mensageiro» (conforme já tivemos ocasião de comentar), nunca houve qualquer objeção, da parte dos judeus, acerca da própria canonicidade do livro. Ver também o artigo intitulado Cânon do Antigo Testamento.
9.    Estado do Texto
Considerando-se o livro de Malaquias como um todo, o texto hebraico da obra tem sido transmitido através dos séculos em boas condições de preservação. Tão-somente existem algumas ligeiras corrupções textuais. No entanto, nesses poucos casos, a versão da Septuaginta (vide) serve de prestimoso auxilio na tentativa dos estudiosos da critica textual restaurarem o texto do livro de Malaquias. Essa versão do Antigo Testamento para o grego inclui alguma palavra extra ocasional que pode ter sido deslocada do texto hebraico original. Esse fenômeno pode ser averiguado em trechos como Mal. 1:6; 2:2,3 e 3:5. Todavia, é precisoajuntar aqui que a tradição textual da Septuaginta não é assim tão digna de confiança, quando se trata de emendar o texto hebraico do livro de Malaquias, pois alguns poucos manuscritos da Septuaginta omitiram o texto hebraico do livro em Mal. 3:21.
Um detalhe curioso quanto a isso é que o livro de Malaquias, na Septuaginta, tem apenas três capítu­los. Aquilo que a nossa versão portuguesa imprime como Malaquias 4:1-6, a Septuaginta não separa do terceiro capítulo do livro, e apresenta como Mala­quias 3:19-24. Entretanto, isso em nada altera o conteúdo do livro.
10.  Teologia do livro
A espiritualidade refletida no livro de Malaquias assemelha-se muito àquela que transparece nos livros dos profetas dos séculos VIII e VII A.C., isto é, Joel, Amos, Oséias, Isaias, Miquéias, Naum, Sofonias, Jeremias e Habacuque. Malaquias reconhece a soberania absoluta do Deus de Israel, bem como o que está implicado nas relações do pacto com Deus, tendo em mira o desenvolvimento e o bem-estar da comunidade teocrátíca que voltou do exílio babilóni­co. Somente o cometimento pessoal às reivindicações justas de Deus poderia assegurar a bênção e a tranquilidade para a nação e para cada indivíduo. Se, juntamente com Ezequiel, Malaquias dá considerável importância ao correto proceder no campo da adoração ritual, como meio seguro de preservar uma nação pura e santa, por outra parte, ele nunca tentou substituir um coração obediente por meras cerimô­nias. O verdadeiro serviço que o homem deve prestar a Deus inclui a retidão moral, a justiça e a misericórdia, e isso paralelamente a corretas formas rituais.
Igualmente importante, na teologia expressa no livro de Malaquias, é a sua insistência sobre o fato de que o primeiro passo na direção de uma apropriada relação espiritual com Deus é o arrependimento, embora ele mesmo não tenha usado nenhum dos vocábulos hebraicos que são assim traduzidos no Antigo Testamento, a não ser shub, por três vezes (3:7,18). Mas, a ideia de arrependimento, de voltar-se para Deus de todo o coração, transparece continua­mente no livro de Malaquias. Ver o artigo sobre o Arrependimento, no tocante às palavras correspon­dentes no hebraico.
Devido às muitas objeções que tinham sido levantadas contra a abordagem tradicional ao problema do mal, Malaquias sentiu ser necessário enfatizar o fato de que a iniquidade jamais haveria de passar sem punição, posto que o castigo divino fosse sendo postergado, devido à entranhável misericórdia de Deus. O Senhor, pois, continha-se, não descarre­gando imediatamente a sua ira. £ o que diz, por exemplo, em Mal. 3:6: «Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos».
No tocante aos ensinos escatológicos, Malaquias segue bem de perto os pensamentos de Amós e Sofonias, ao esboçar as condições que haveriam de imperar durante «o dia do Senhor». Para Malaquias, esse dia éinsuportável: «Mas quem pode suportar o dia da sua vinda? e quem subsistir quando ele aparecer? (Mal. 3:2). Esse dia também é consumidor: «…Porque ele (o dia da sua vinda) é como o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros» (Mal. 3:2b). Esse dia é purificador: «Assentar-se-á como derrete- dor e purificador de prata; purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata». (Mal. 3:3). Esse dia também éseletivo: «Eles serão para mim particular tesouro naquele dia que prepararei… Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve» (Mal. 3:17,18). Esse dia é dia de julgamento: «Pois eis que vem o dia, e arde como fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem perversidade, serão como o restelho; o dia que vem os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo» (Mal. 4:1). Aquele é um dia de vitória para os que temem ao Senhor: «Pisareis os perversos, porque se farão cinzas debaixo das plantas dê vossos pés, naquele dia que prepararei, diz o Senhor dos Exércitos» (4:3). Aquele é um dia memorável e espantoso, dentro da teologia de Malaquias: «Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor» (Mal. 4:5). É muito apropriado que o livro de Malaquias, o último livro profético do Antigo Testamento, tenha voltado a vista tão decidida e insistentemente para o dia do Senhor dos Exércitos. Toda a literatura apocalíptica da Bíblia — Antigo e Novo Testamentos — confirma essa propriedade!
O «dia do Senhor», ao contrário do que andavam pregando os falsos profetas, no dizer de Malaquias será um tempo de calamidade, e não de bênçãos. Pois será, então, que pecadores auto-iludidos haverão de ser castigados por haverem violado o pacto com o Senhor e abusado de sua misericórdia e longanimida­de!
É grato observarmos que Malaquias introduziu um tema original, sem igual em todo o Antigo Testamento, a saber, um livro de memórias de Deus, onde os atos dos justos ficam eternamente registrados. Isso transparece em Mal. 3:16: «Então os que temiam ao Senhor falavam uns aos outros; o Senhor atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao Senhor, e para os que se lembram do seu nome». A impressão que se tem é que a fé tomar-se-á tão rara, a justiça andará tão escassa entre os homens, que Deus considerará os justos dos tempos do fim uma autêntica preciosidade, chegando a mostrar-se atento aos diálogos entre eles e anotando por escrito todos os seus atos de justiça. Com essa ideia devemos comparar o que disse o Senhor Jesus, em certa oportunidade: «Contudo, quando vier o Filho do homem, achará porventura fé na terra?» (Luc. 18:8). E é notável que ele tenha proferido essas palavras, tão esclarecedoras sobre as injustiças que prevalecerão no tempo do fim, após ter contado a não menos esclarecedora parábola do juiz iníquo. Em termos absolutos, durante o «dia do Senhor», haverá a maior colheita de almas de todos os tempos, segundo se pode depreender de Apocalipse 7:4-9. Nessa passagem do último livro da Bíblia fala-se sobre os cento e quarenta e quatro mil israelitas salvos durante a Grande Tribulação e de «grande multidão, que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos…» Mas, em termos relativos, o número dos que temerão a Deus será diminuto. Pois a humanidade inteira estará seguindo ao anticristo, com a única exceção daqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida. Ver Apo. 13:8. Ê evidente que Malaquias não tinha em vista todo esse  quadro escatológico, mas também não se deve duvidar de que o Apocalipse mostra-nos um desdobramento de tudo quanto a Bíblia dissera anteriormente sobre o «dia do Senhor»; e,   com toda a certeza, nesse desdobramento temos de incluir a contribuição de Malaquias para as idéias escatológicas. De fato, Malaquias é citado por duas vezes no livro de Apocalipse, segundo se vê na lista seguinte: em Apo. 6:17 (Mal. 3:2); e em Apo. 11:3 ss (Mal. 4:5, no tocante a Elias, que muitos pensam que será uma das duas testemunhas do fim). No primeiro desses dois casos temos uma citação bastante direta, alusiva ao caráter consumidor e insuportável do «dia do Senhor». Já o segundo caso é mais problemático. Todavia, é inegável que o livro de Malaquias contém uma preocupação escatológica muito grande, conforme vimos acima.
O desenvolvimento da ideia do «dia do Senhor», tomando-se por base o que Malaquias tinha a dizer a respeito, tomou-se importante na doutrina da vida além-túmulo, tão bem desenvolvida no Novo Testa­mento, embora de forma alguma desconhecida no Antigo Testamento, mormente nos livros poéticos e proféticos.
Outra ênfase característica de Malaquias é aquela sobre a personagem de um «precursor», que anunciaria a vinda do Senhor, ao tempo do julgamento final. Visto que esse indivíduo é identificado com um Elias redivivo (cf. II Reis 2:11), parece provável que esse precursor é concebido por Malaquias como uma figura profética que haveria de oferecer, a um povo desobediente, uma última oportunidade de arrepender-se, antes da eclosão do julgamento divino. Não podemos olvidar que nosso Senhor, Jesus Cristo, considerou essa profecia de Malaquias como predição que encontrou cumprimen­to na pessoa e na obra de João Batista (ver Mar. 9:11-13); e também que a Igreja primitiva via o cumprimento dessa predição de Malaquias na relação entre o trabalho desenvolvido por João Batista e aquele do Senhor Jesus (ver Mar. 1:2; Luc. 1:17). No entanto, muitos eruditos têm opinado que a profecia de Malaquias a respeito de Elias não se consumou no ministério de João Batista, mas que só encontrará seu cabal cumprimento na pessoa de uma das testemu­nhas do Apocalipse (cap. 11). Essa não é uma questão tão sem importância como alguns têm dito, porquanto há muita coisa que depende da correta compreensão dessas predições para o fim. Aqueles que pensam que Elias voltará uma terceira vez (a segunda teria sido no caso de João Batista), ainda que não sob a forma de reencarnação, mas apenas como atuação espiritual, apontam para o fato de que Malaquias diz: «…enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor» (Mal. 4:5). No entanto, visto que o ministério de João Batista ocorreu entre os dias de Malaquias e a segunda vinda do Senhor Jesus, outros pensam que a obra do precursor de Jesus Cristo esgotou aquela predição de Malaquias. Esses têm como seu argumento definitivo outra declaração do Senhor Jesus, em Mar. 9:13: «Eu, porém, vos digo que Elias já veio, e fizeram com ele tudo o que quiseram, como a seu respeito está escrito». Ao que parece, só os próprios acontecimen­tos apocalípticos do fim poderão esclarecer essa dúvida!
11.  Esboço do Conteúdo
A profecia de Malaquias pode ser analisada em esboço, como segue:
a.    Título (1:1)
b.    Primeiro Oráculo (1:2-5)
c.     Segundo Oráculo, em forma de diálogo (1:6—2:9)
d.    Terceiro Oráculo (2:10-16)
e.    Quarto Oráculo (2:17—3:5)
f.     Quinto Oráculo (3:6-12)
g.    Sexto Oráculo (3:13—4:3)
h.    Conclusão (4:4-6)
Passaremos a comentar, de modo abreviado, sobre esses seis oráculos e sobre a conclusão do livro de Malaquias:
Primeiro Oráculo — Esse oráculo segue o pensamento do profeta Oséias, reafirmando seus protestos do amor divino pelo povo escolhido do Senhor. Assim, embora as condições econômicas dos exilados judeus repatriados estivessem longe de ser ideais, quando Malaquias escreveu, os seculares adversários de Israel—os edomitas—haviam exultado diante da queda de Jerusalém (ver Sal. 137:7). Mas, a verdade é que Edomsofrera um desastre muito maior que o de Israel. E, em comparação com o juízo divino contra Edom, eram bem evidentes as bênçãos do amor divino por Israel. Essa ideia transparece claramente nas palavras de Malaquias: «…amei a Jacó, porém, aborreci a Esaú…» (Mal. 1:2,3). Visto que Jacó dentro dessa linguagem metafórica, representa os escolhidos, e que Esaú representa os rejeitados, encontramos aí um princípio básico—o princípio da eleição. Ver Rom. 9:10-13. Portanto, que Israel se regozijasse nesse seu grande privilégio de um imorredouro amor divino!
Segundo Oráculo — Encontramos nesse segmento do livro de Malaquias um interessantíssimo diálogo usado para denunciar a hierarquia sacerdotal, devido ao seu fracasso em fornecer o tipo de liderança moral, religiosa e espiritual que a nação restaurada de Judá precisava, a um de que tivessem sido evitados os males que agora a afligiam. Longe de honrarem a Deus, no desempenho fiel e zeloso de seus deveressacerdotais, aqueles sacerdotes tinham-se mostrado indiferentes, e até mesmo zombeteiros, no desempe­nho de seus deveres. Dessa maneira, eles profanavam o altar do Senhor. No diálogo deles com o Senhor, os sacerdotes indagavam: «Em que te havemos profana­do» E o Senhor respondeu: «Nisto, que pensais: A mesa do Senhor é desprezível». Chegavam a oferecer animais que não julgariam dignos de ser presenteados ao governador persa. Isso posto, o culto cerimonial, prestado ao Senhor, era desvalorizado, em relação aos holocaustos oferecidos pelos pagãos, cujas regras de propriedade eram muito mais exigentes. Assim, se o sacerdócio levítico anterior ao exílio havia exibido certa integridade espiritual, seus sucessores pós-exílicos corriam o perigo de cair no desagrado do Senhor, imitando seus antepassados, de pouco tempo antes do exílio babilônico. O ideal do sacerdócio é expresso em Mal. 2:6,7: «A verdadeira instrução esteve na sua (de Levi; ver o vs. 4) boca, e a injustiça não se achou nos seus lábios; andou comigo em paz e em retidão, e da iniquidade apartou a muitos. Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é mensageiro do Senhor dos Exércitos». Como estamos vendo, um sacerdote deveria ser qual um evangelista. No entanto, a grande fraqueza dos sacerdotes levíticos do Antigo Testamento consistia no fato de que eles não levavam a sério essa função evangelística, mas pensavam que lhes bastava ocuparem-se das suas funções rituais!
Terceiro Oráculo — Um dos motivos mais fortes da não aceitação da adoração cerimonial dos judeus, por parte do Senhor Deus, consistia na infidelidade conjugal deles. Visto que os judeus repatriados não davam grande importância às injunções levíticas e às implicações da vida comunitária, dentro da aliança com Deus, por isso mesmo, nessa frouxidão, não pensavam ser importante manter fidelidade às mulheres legitimas com quem se tinham casado na mocidade. Pelo contrário, «repudiavam» suas esposas judias e procuravam esposas estrangeiras. Isso, naturalmente, importava na degradação da família e do lar, com graves consequências para os filhos e para a sociedade como um todo. Aliás, em todos os séculos e em todos os países, sempre que a família é devidamente honrada, a sociedade e a moralidade vão bem. A nossa própria época se assemelha àqueles dias de Malaquias, onde os casais se juntam frouxamente, sem qualquer senso de responsabilidade de um para com o outro, e de ambos para com os possíveis filhos. Estamos na época das «amizades coloridas», em que um homem e uma mulher passam a morar junto» como se tudo não passasse de uma experiência que pode ser repetida com outros companheiros ou companheiras. Esse tipo de leviandade no matrimônio é o ponto visado nesse terceiro oráculo de Malaquias. E isso, incidentalmente, mostra-nos que o «dia do Senhor» não anda longe. Essa concentração dos pensamentos no sexo, sem um consequente senso de responsabilidade, é um dos sinais que advertem aos atentos acerca da proximidade da volta do Senhor. Jesus mesmo ensinou isso: «Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do homem: Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamen­to, até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos… Assim será no dia em que o Filho do homem se manifestar» (Luc. 17:26,27,30). Essa história se repete todas as vezes em que Deus está às vésperas de fazer decisiva intervenção nas atividades humanas, a fim de estancar os abusos!
Malaquias, pois, deixou claro que tal tipo de pecado certamente não ficaria sem a devida punição. «O Senhor eliminará das tendas de Jacó o homem que fizer tal, seja quem for…» (Mal. 2:12). De nada adiantava o povo mostrar-se religioso e piegas, cobrindo de lágrimas, de choro e de gemidos «o altar do Senhor» (vs. 13), enquanto estivessem andando em infidelidade conjugal!
Quarto Oráculo — Esse quarto segmento principal do livro de Malaquias fala sobre a intervenção divina a fim de julgar. Por assim dizer, Deus se cansara da queixa popular comum que dizia que, por não fazer ele intervenção, estaria aprovando a iniquidade dos ímpios. Tornara-se comum os judeus comentarem uns para os outros: «Qualquer um que faz o mal passa por bom aos olhos do Senhor, e desses é que ele se agrada». E também: «Onde está o Deus do juízo?» Isso constituía uma grande maldade, quase um desafio para que Deus se manifestasse. A resposta de Malaquias é que Deus, por ser justo, haveria de sobrevir subitamente à nação de Judá, — com julgamento. E a prova disso é que ali estava ele, Malaquias, o mensageiro do Senhor, a dar aviso. «Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o Anjo da aliança a quem vós desejais; eis que ele vem, diz o Senhor dos Exércitos».
O propósito dessa intervenção divina, pois, seria o de separar os fiéis dentre os ímpios. E o sacerdócio que atuava no templo seria o primeiro a sentir o rigor do julgamento divino: «…purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata…» Feito isso, o Senhor voltar-se-ia para as massas populares, com igual rigor, brandindo o látego contra todos os abusadores. «Chegar-me-ei a vós outros para juízo; serei testemunha veloz contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que juram falsamente, contra os que defraudam o salário do jornaleiro e oprimem a viúva e o órfão, e torcem o direito do estrangeiro, e não metemem, diz o Senhor dos Exércitos». Tudo isso não parece uma descrição de nossos próprios dias? Portanto, cuidado! A história se repete!
Somente depois de toda essa intervenção purifica­dora, insiste Malaquias, é que seria agradável ao Senhor «. ..a oferta de Judá e de Jerusalém… como nos dias antigos, e como nos primeiros anos» (vs. 4).
Quinto Oráculo - Nessa porção de sua mensagem, Malaquias faz cair completamente sobre os ombros de seu povo a responsabilidade por toda a situação caótica que estava imperando na nação. A coerência de Deus proibia que ele mudasse de atitude (adversa) para com eles, sem uma boa razão. Se os judeus haviam mudado em alguma coisa, haviam mudado para pior. «Desde os dias de vossos pais vos desviastes dos meus estatutos, e não os guardastes…» A solução para essa atitude rebelde, pois, é dada logo em seguida: «…tornai-vos para mim, e eu me tomarei para vós outros, diz o Senhor dos Exércitos». No entanto, eles se faziam de mal-entendidos: «Em que havemos de nos tomar?» Nessa teimosia, pois, eles haviam chegado ao extremo de roubar a Deus, negando os dízimos devidos à casa do Senhor!
Somente quando essa deficiência econômica fosse corrigida, os judeus poderiam esperar prosperidade material. Se obedecessem quanto a esse aspecto pecuniário, o Senhor faria intervenção favorável às suas plantações, repreendendo aos gafanhotos e outras pragas («repreenderei o devorador»), ao ponto de causarem os judeus inveja aos povos vizinhos (vs. 12)!
Sexto Oráculo — Esse último oráculo de Malaquias aborda, uma vez mais, o grave problema da maldade da vida humana. Esse tema já havia sido ventilado em Mal. 2:7. Os membros devotos da teocracia, perplexos diante do fato de que indivíduos arrogantes e incrédulos, na sua própria nação, pareciam prosperar mais do que seus compatriotas piedosos, aparentemente sem sofrerem qualquer repreensão da parte do Senhor, estavam começando a questionar se valia a pena viver em obediência aos mandamentos de Deus. Essa queixa aparece em Mal. 3:14,15: «Vós dizeis: Inútil é servir a Deus; que nos aproveitou termos cuidado em guardar os seus preceitos, e em andar de luto diante do Senhor dos Exércitos! Ora, pois, nós reputamos por felizes os soberbos; também os que cometem impiedade prosperam, sim, eles tentam ao Senhor, e escapam». Em resposta a tão amargo e injusto queixume, o profeta Malaquias mostra que Deus tomava nota dos piedosos, daqueles que «temiam ao Senhor». Dessa maneira, quando raiasse o dia do julgamento divino, o Senhor haveria de lembrar-se da vida virtuosa dos fiéis e tementes, deixando claro que aqueles que O servem com fidelidade jamais perderão a sua recompensa. Destarte, o julgamento ameaçado contra os ímpios, haveria de destrui-los em suas iniquidades, ao mesmo tempo em que os crentes piedosos haveriam de desfrutar de felicidade e bênção. Esses dois destinos tão diferentes—o dos ímpios e o dos piedosos—trans­parecem em Mal. 4:1—3. Queremos destacar aqui o que Malaquias diz a respeito da felicidade e bem-aventurança daqueles que agora obedecem ao Senhor: «Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o ‘sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas;saireis e saltareis como bezerros soltos de estrebaria» (Mal. 4:2). Ah! o júbilo final dos remidos, vendo reivindicada pelo próprio Senhor a causa deles! Então os salvos verificarão, em sua próxima experiência gloriosa, que vale a pena servir ao Senhor do universo, com fidelidade e amor!
Conclusão do Livro — Os versículos finais do livro de Malaquias (4:4-6) têm sido considerados, por alguns eruditos, como uma adição editorial feita ao livro. Eles argumentam assim com base no fato de que esses versículos sumariam a mensagem inteira do livro. Outros apontam que assim devemos pensar, sob a alegação de que, dali por diante, o povo deveria voltar-se para a legislação mosaica como fonte de instrução e direção, agora que, com Malaquias, cessara de vez a voz da profecia. O primeiro desses argumentos ainda tem alguma razão de ser. Mas o segundo é simplesmente insustentável, porquanto, depois de Malaquias, tivemos o ministério de João Batista, o que segundo esclareceu o Senhor Jesus, era «mais do que um profeta» (ver Mat. 11:9). Além disso, porventura já houve profeta maior do que o próprio Senhor Jesus? E é no espírito dessa convicção que devemos entrar no Novo Testamento até hoje, porquanto se lê em Apocalipse: «…o testemunho de Jesus é o espirito da profecia» (19:10)!
Uma Última Observação — Que contraste entre o Antigo e o Novo Testamentos! O antigo pacto termina com uma ameaça velada: «…para que eu não venha e fira a terra com maldição» (Mal. 4:6). Mas o Novo Testamento encerra-se com uma bênção muito ampla: «A graça do Senhor Jesus seja com todos» (Apo. 22:21)! Sim, a lei era o ministério da condenação (ver II Cor. 3:9), mas em Cristo há salvação eterna para todos os que crêem (ver Rom. 1:16)!

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