Livro de Jonas


I. Caracterização Geral
a.  Ideias dos Intérpretes Liberais. Os intérpretes liberais supõem que Jonas é o último dos livros proféticos do Antigo Testamento, escrito no século III A.C., por algum autor anônimo. Se isso é verdade, então ele escolheu um meio ambiente de cerca de quinhentos anos antes, para dar colorido de antiguidade ao seu livro. Outrossim, isso significaria que Jonas é uma novela religiosa com o propósito de ensinar lições morais e espirituais, mas sem qualquer traço de historicidade. Ver a quarta seção, Historici­dade,quanto a esses problemas.
b.   Interpretação Alegórica. De acordo com essa interpretação, em contraste com os sentimentos antiestrangeiros de Jonas, os pagãos são ali apresenta­dos como pessoas ansiosas por arrepender-se de seus pecados e por abraçar novos conceitos religiosos, a fim de evitarem as horrendas predições de condena­ção feitas por Jonas.
Na verdade, o livro mostra a universalidade da autoridade do Deus do povo de Israel. Jonas não foi capaz de escapar dele meramente fugindo da Palestina. E, de acordo com a interpretação alegórica, o conceito de um Deus nacional e vingativo, que teria Jonas, é substituído no livro pela noção de um Deus gracioso, lento em irar-se e cheio de misericórdia. Destarte, o livro serviria como uma espécie de alegoria que ensina que o povo de Israel precisava ser menos beligerante, mais tolerante, mais ansioso por propa­gar suas vantagens religiosas, para benefício das nações pagãs. Além disso, o Deus concebido por Jonas também seria pequeno demais, pois o conceito que o profeta fazia de Deus não Lhe faria justiça, fechando-o em uma prisão de orgulho e exclusivismo nacionais.
Alguns estudiosos vêem em tudo isso uma figura das nações de Israel e de Judá, que tiveram de ir para o cativeiro (assírio e babilónico, respectivamente). Antes desses exílios literais, as duas nações escolhidas já se tinham condenado ao cativeiro, devido à sua apostasia. Esses exílios talvez sejam simbolizados pelos três dias em que Jonas passou no ventre do grande peixe. Pelo menos, alguns estudiosos pensam que isso é o que o livro está, realmente, ensinando. A interpretação alegórica, naturalmente, ignora o contexto histórico em que o autor do livro põe a personagem principal, Jonas. Se a teoria sobre o exílio está com a razão, então o livro seria apenas uma espécie de sátira acerca das atitudes bitoladas e atrasadas de Israel, ao mesmo tempo em que o profeta Jonas apareceria apenas como uma figura romântica, mas não histórica. Por outro lado, se Jonas foi um profeta autêntico e histórico, essas mesmas lições transparecem claramente no relato, sem qualquer prejuízo. — Ê claro que essas lições aplicam-se igualmente bem a todos os grupos religiosos ou indivíduos que são prisioneiros de seus próprios preconceitos, que, por assim dizer,; impõem sobre si mesmos uma forma de exílio, em relação ao resto da humanidade, merecendo tanta compaixão como quaisquer outros prisioneiros.
c.   Pano de Fundo Histórico. Essa é a posição que os eruditos conservadores assumem com seriedade; mas que os liberais pensam ser apenas um artifício literário artificial. Dizemos mais a esse respeito na seção IV, Historicidade.
Nenhum período histórico é indicado no próprio livro de Jonas; mas, como é evidente, o tempo tencionado é durante ou pouco antes do reinado de Jeroboão II, em que as bem-sucedidas conquistas militares de Israel ampliaram grandemente os seus territórios, e houve grande prosperidade material daquele reino, durante o reinado daquele monarca. Nesse caso, o livro data de cerca de 850 A.C.
Alguns estudiosos supõem que o arrependimento em massa, dos habitantes de Nínive, poderia ter sido facilitado por sua tendência pelo monoteísmo (com uma espiritualidade que se aprimorou naquela geração), o que houve durante o reinado de Adade-Nirari III, cujas datas foram cerca de 810—783 A.C. Outrossim, houve uma grande praga durante o reinado de Assurdã III (cerca de 771—754 A.C.), o que poderia ter impelido os ninivitas a se mostrarem receptivos para com uma mensagem de condenação, como houve, por meio de Jonas, com o subsequente arrependimento em massa daquela gente. Apesar de tudo, alguns eruditos argumentam em favor de uma data posterior para o livro de Jonas. Examinamos a questão na quinta seção deste artigo, Data.
d.   Caráter ímpar do Estilo e da Mensagem de Jonas. O livro de Jonas não consiste em uma coletânea de oráculos, conforme usualmente se vê nos livros proféticos do Antigo Testamento. Antes, é uma espécie de esboço biográfico, sobre um importante incidente na vida do profeta Jonas. Outrossim, ele não estava ministrando em favor do povo de Israel, e, sim, em favor de um povo estrangeiro, em contraste com todos os demais escritores proféticos do Antigo Testamento. Em seu simbolismo, o livro repreende os preconceitos do povo de Israel, mas também prevê a experiência crucial de morte e ressurreição de Jesus, o Messias prometido. Pois foi com esse sentido que o próprio Senhor Jesus interpretou a experiência de Jonas, com o grande peixe, em Mat. 12:39-41.
II. O Nome
Podemos comparar o nome de Jonas com o trecho de Sal. 74:19, onde a nação de Israel é chamada de «rola», o termo hebraico Jonas significa «pomba». Esse era um nome próprio pessoal muito comum em Israel. O pai de Simão Pedro tinha esse nome (ver Mat. 16:17 e o artigo intitulado Barjonas). No artigo Barjonas aprendemos que os tradutores têm confun­dido, no Novo Testamento, no tocante ao pai de Simão Pedro, os nomes Jonas e João. O nome Jonas, pomba, era, ao que parece, dado pelas mães a seus filhos, como um título afetuoso. Pois a pomba é uma ave que demonstra muito carinho com outros membros de sua espécie, sobretudo no ato de cruzamento. Modernamente, tomou-se um símbolo bem conhecido da «paz». Nas Escrituras vemos que vários nomes de animais eram dados a pessoas, como são os casos de Dorcas, que no grego significa «gazela», ou de Raquel, que no hebraico significa «ovelha». Nomes de flores também eram empregados da mesma maneira.
III.   O Profeta Jonas e a Autoria do Livro
Muitos eruditos liberais acreditam que nunca existiu um profeta com o nome de Jonas, porquanto o livro que traz esse nome seria, na opinião deles, apenas uma novela religiosa. Embora Jesus o tivesse mencionado por nome (ver Mat. 12:39-41), eles supõem que nem por isso Jesus afirmou a existência histórica de Jonas, mas apenas citou um apropriada passagem do livro de Jonas a fim de ilustrar a sua própria experiência de morte e ressurreição. Mas outros estudiosos insistem que a referência de Jesus a Jonas confirma a sua historicidade. O trecho de II Reis 14:25 registra o cumprimento da profecia de Jonas, chamando-o de’ filho de Amitai, além de identificar a sua cidade natal como Gate-Hefer. Essa cidade é mencionada em Jos. 19:13. Ficava no território de Zebulom, cerca de oito quilômetros ao norte de Nazaré. Há uma lenda que faz de Jonas o filho da viúva de Sarepta, o jovem a quem Eliseu enviou para ungir a Jeú, para que fosse o próximo rei de Israel. Mas os eruditos não levam essa lenda a sério. Outros estudiosos salientam que embora tenha havido um Jonas histórico, isso não significa que ele escreveu o livro, apesar do fato inegável de que o livro descreve um incidente muito importante de sua vida.
Argumentos Contra Jonas como Autor do Livro:
1.   O livro fala sobre um profeta Jonas, mas não afirma que foi ele quem escreveu o livro. O livro seria uma biografia, mas não uma autobiografia.
2.  A ligação do livro com um Jonas histórico, que era um profeta conhecido, seria apenas um artifício literário, e não uma séria afirmação histórica. Isso era um expediente extremamente comum na antiguidade. Os livros pseudepígrafos são a melhor demonstração desse fato.
3.  As referências a Jonas, no livro, estão na terceira pessoa do singular. Apesar de alguns autores referirem-se a si mesmos na terceira pessoa, isso favorece mais a ideia de biografia (verdadeira ou romântica), e não a idéia de uma autobiografia.
4.  Há fortes argumentos em prol de uma data posterior (ver a quinta seção, abaixo) para o livro de Jonas. Nesse caso, é impossível que Jonas, filho de Amitai, tivesse sido o autor do livro. Seu nome pode ter sido arbitrariamente escolhido como aquele que experimentou o que o livro descreve; ou então ele não estava em vista, desde o começo da narrativa. Nesse caso, para essa novela, o nome de Jonas foi arbitrariamente selecionado, sem que houvesse qualquer tentativa de identificá-lo como uma personagem histórica.
5.   Vários argumentos são contrários à historicidade do livro; e essa argumentação também tem sido empregada pelos críticos, contra a historicidade da personagem central, Jonas. Ver sob a quarta seção, quanto a pormenores sobre esse item. Os contra-argumentos a essas criticas são expostos abaixo.
Respondendo a essas objeções, observamos o seguinte:
1.   Visto que o próprio livro de Jonas em parte alguma diz quem foi o seu autor, o assunto perde a importância, exceto como uma curiosidade para algumas pessoas. — Dificilmente podemos testar a ortodoxia ou a espiritualidade de alguém defenden­do ou atacando Jonas como o autor desse livro. Aquilo que cremos sobre esse ponto demonstra somente o quanto confiamos ou não nas tradições que têm aparecido, através dos séculos, sobre o livro de Jonas.
2.   Sem importar se o uso do nome de Jonas (tendo em mente uma personagem histórica) é um artificio literário ou não, isso jamais poderá ser determinado com qualquer segurança. A alusão do Senhor Jesus a Jonas parece afirmar a sua historicidade. Mas, dificilmente alguém poderia argumentar sobre a. historicidade da personagem Jonas, meramente com a ajuda de uma citação. Pois é impossível determinar­mos o intuito do Senhor Jesus, ao fazer essa citação. Os liberais supõem que o próprio Jesus poderia ter-se equivocado quanto à questão em foco, se é que ele pensava em Jonas como uma figura histórica. Naturalmente, Jesus teria confiado nas tradições judaicas, ou teria pensado que a questão não era importante, e nem merecesse ser discutida.
3.   A referência que o autor faz a si mesmo, na terceira pessoa do singular, é uma prática literária comum, e nada pode ser dito a favor ou contra a autoria de Jonas, tomando-se por base referências indiretas a ele. Esse ponto, pois, deve ser considerado neutro.
4.   Os argumentos que dizem respeito à data do livro aparecem na quarta seção, chamada Historicidade.
IV.  Historicidade
Na primeira seção, Caracterização Geral, chama­mos a atenção para os problemas envolvidos na historicidade do livro de Jonas. Alistamos abaixo os argumentos específicos sobre essa historicidade:
1.   Os aramaísmos do livro apontam para uma data posterior, distanciando-o dos dias de Jonas, filho de Amitai. Porém, essa objeção é muito enfraquecida pelo fato de que os aramaísmos também ocorrem em livros antigos do Antigo Testamento, podendo ser encontrados até mesmo nos épicos de Ras Shamra, encontrados em Ugarite, que datam de cerca de 1400 A.C.
2.   Tropeços Históricos. Um erudito tão respeitável quanto Robert Pfeiffer supõe que a designação do imperador da Assíria como «rei de Nínive» (Jon. 3:6), e que a descrição de Nínive como «cidade muito importante» (Jon. 3:3), são asserções historicamente infundadas. Um autor que pertencesse à época sobre a qual escrevia, sem dúvida saberia melhor que i$so, diz ele. Nínive foi local de palácios reais assírios, desde remota antiguidade; mas, não foi elevada à posição de capital do reino assírio senão já nos dias deSargão II (722—702 A.C.). Apesar da capital desse império não ser Nínive, na época de Jonas, o que poderia impedir o imperador assírio de ser chamado de seu «rei»? Apesar da designação comum, no Antigo Testamento, ser «rei da Assíria», não há nada de estranho quanto à pequena variante, «rei de Nínive». No tocante às dimensões da cidade, como é óbvio, nos dias de Jonas, Nínive não era tão grande assim. Isso posto, as interpretações que supõem que os «três dias» mencionados no livro de Jonas falam sobre o tempo que Jonas precisou para pregar nas praças da cidade, e não sobre o tempo que ele gastou para atravessar a cidade a pé, como se estivesse a medi-la em sua extensão. Na época, Nínive tinha cerca de seiscentos mil habitantes. E, apesar disso não parecer muito grande, de acordo com os padrões modernos, significa uma gigantesca cidade, de acordo com os padrões antigos. Quando muito, o autor sagrado «exagerou» sobre o tamanho da cidade. Os pregadores sempre calculam as dimensões de suas audiências mais do que elas, realmente, são! Deve-se admitir, porém, que o trecho de Jonas 3:3 parece afirmar claramente que seriam necessários três dias de caminhada para que um homem atravessasse a cidade, apesar dos esforços de alguns eruditos para verem a questão sob outro prisma. Quanto a mim, não me preocupo com o tamanho de Nínive, e nem se o autor exagerou um pouco ou não. Mesmo que ele tivesse exagerado as dimensões da cidade, isso não provaria nada contra a historicidade do relato bíblico. Apenas mostraria que o autor caiu em algumas poucas inverdades, muito próprias da exagerada linguagem oriental.
Há duas estranhas atividades que surgem em discussões dessa natureza. A primeira delas é que os estudiosos liberais, em sua ansiedade por descobrir problemas na Bíblia, dão imensa importância a pequenos detalhes, a fim de tentarem consubstanciar sua posição. E a segunda é que os eruditos conservadores não hesitam em distorcer os textos sagrados, a fim de que digam coisas que, na verdade, não dizem, porquanto eles são incapazes de tolerar (psicologicamente) a ideia de que, nas Santas Escrituras, podem ser encontrados quaisquer equívo­cos, de qualquer natureza. Ambas essas atividades são bastante infantis, e nada têm a ver com a fé e com a espiritualidade.
3.    O Relato sobre o Grande Peixe, Os estudiosos liberais simplesmente não veem como um homem poderia sobreviver por três dias no ventre de uma baleia, ou de qualquer peixe. Não creem que qualquer espécie de peixe seja capaz de engolir vivo a um homem. Daí, pensam que essa porção do relato sobre Jonas deve ser apenas uma ficção divertida; e que, por causa disso, deveríamos pôr em dúvida a história inteira, como uma produção literária destituída de seriedade. Histórias sobre peixes, dizem eles, fazem parte das lendas e do folclore. E os eruditos conservadores, pensando que os liberais conseguiram marcar um tento, chegam ao extremo de dizer que Deus criou um peixe especial, para engolir Jonas. Para exemplificar isso, vemos que até a prestigiosa enciclopédia Zondervanprecisou apelar para o sobrenatural, a fim de dar foros de autenticidade ao relato sobre o grande peixe de Jonas. Lemos ali: «Aceitando o sobrenatural—preparou o Senhor um grande peixe (1:17)—teremos removido toda a dificuldade». Há outros estudiosos conservadores que apelam para o dogma. Assim, Jesus falou sobre o peixe. Logo, teria de ser um peixe real, e não uma mera lenda. No entanto, ambas essas abordagens são desnecessárias. Há incidentes, fartamente documen­tados, que mostram que algumas espécies de baleias são capazes de engolir um homem; e também que alguns homens, realmente, têm sobrevivido a tão bizarra experiência. Ver a seção sexta, abaixo, onde há uma demonstração desse fato.
4.     Poder Demasiado na Pregação de Jonas. Alguns eruditos não podem crer que qualquer judeu cheio de preconceitos, ao pregar sua mensagem de condena­ção, fosse capaz de fazer os orgulhosos ninivitas se vergarem. Há uma canção popular norte-americana que exalta a cidade de Chicago. Uma das coisas que se diz nessa canção é que Chicago é cidade tão incomum que nem Billy Sunday foi capaz de fechá-la. Billy Sunday foi um pregador tão poderoso que, em certas cidades onde ele pregava, havia mudanças tão radicais na conduta do povo que as forças policiais podiam ter o seu número reduzido. Não obstante, ele não teria conseguido vergar Chicago! E assim também, os liberais não veem como Jonas teria podido submeter os ninivitas! Os conservadores, por sua parte, apelam para o poder de Deus. É possível que Nínive tenha passado por uma melhoria espiritual, tendo abraçado o monoteísmo, depois que seus habitantes sofreram uma praga devastadora. Essa praga poderia ter abrandado o fanatismo pagão dos ninivitas, preparando a cidade para a pregação de Jonas. Já comentamos sobre isso em I. c., Pano de Fundo Histórico. Devemos observar, porém, que toda essa discussão é fútil e supérflua. O que acreditamos sobre o que Jonas poderia ter feito depende apenas de nossos sentimentos subjetivos, sobre o poder de sua prédica. Nada há de estranho, porém, quanto a conversões em massa, ou quanto a multidões se deixarem influenciar por uma retórica inflamada. Consideremos como Hitler conseguia arrebatar multidões de seus ouvintes alemães, com alguns poucos discursos.
5.    O Livro de Jonas tem um Escopo Universal. A leitura do Antigo Testamento dá-nos a impressão de que o povo de Israel era exclusivista. O livro de Jonas, todavia, reflete uma atitude universalista, que caracteriza os tempos posteriores daquela nação. Assim, na opinião de alguns, não passa de um anacronismo o interesse de Deus pelos ninivitas. Isso no caso de insistirmos sobre uma data mais antiga para o livro. Mas, contra isso, frisa-se o fato de que o pacto estabelecido com Noé (Gên. 9:9) tinha em mira todos os povos; e também que o pacto abraâmico (Gên. 12:1 ss) apresenta-o claramente como pai espiritual de muitas nações; ou, pelo menos, em Abraão todas as famílias da terra seriam abençoadas. Isso pode ser confrontado com Isa. 42:6,7 e 49:6. Talvez houvesse muitos judeus exclusivistas, mas a própria Bíblia não assume tal posição!
Seja como for, os judeus, desde os tempos mais remotos, consideram o livro de Jonas uma obra histórica. Ver alusões a isso em III Macabeus 6:8; Tobias 14:4,8; Josefo (Anti. 9:10,2). Jesus também considerou Jonas uma personagem histórica (Mat. 12:9 ss; 16:4ss; Luc. 11:29). É verdade que alguns eruditos modernos pensam que a passagem de Mat. 12:9 é uma interpolação posterior. Porém, não há qualquer evidência disso, nos manuscritos.
V.  Data
Se partirmos do pressuposto que foi Jonas, filho de Amitai, quem escreveu o livro que tem seu nome, então essa obra foi produzida em cerca de 750 A.C. Tudo depende, porém, da historicidade do livro (o que é ventilado no ponto quarto, acima), e com base na suposição de que o autor foi o Jonas que é a figura central do livro. Uma data tão recente quanto 200 A.C. poderia ser aceita, se o livro não passasse de uma novela religiosa, segundo alguns têm dito. Pelo menos sabe-se que o livro deve ter sido escrito antes do livro apócrifo de Eclesiástico (49:10), que alude à existência dos livros dos doze profetas menores. O trecho de Tobias 14:4,8 tece referências ao livro de Jonas, e a maioria dos estudiosos pensa que o livro de Tobias foi escrito antes do ano 200 A.C.
Argumentos em Favor de uma Data Mais Recente:
Vários dos pontos expostos na quarta seção, Historicidade, que afirmam que o livro não está ligado ao período histórico que a tradição aceita, também se aplicam à questão de uma data mais recente do livro. A isso, adicionamos:
1.    O trecho de Jonas 3:3 parece falar sobre Nínive como cidade que não mais existia quando o autor sagrado escreveu. O texto diz ali: «…Nínive era…» Porém, contra esse argumento tem sido salientado que há uma construção gramatical similar, no caso de Emaús, quando a cidade continuava existindo (ver Luc. 24:13). Admite-se, todavia, que é estranho dizer-se que Nínive «era», quando ela continuava existindo quando o autor sagrado escreveu.
2.   O autor do livro de Jonas parece ter tido conhecimento de profetas posteriores, e ele chega a aludir aos escritos deles. Assim, conforme alguns estudiosos pensam, o trecho de Jon. 3:10 reflete Jer. 18:1 ss; o de Jon. 3:5 reflete Joel 1:13 ss; o de Jon. 3:9 reflete Joel 2:14, e o de Jon. 4:2 reflete Joel 2:13. Todavia, o que sentimos sobre essa questão depende, em muito, daquilo que quisermos ler nas entrelinhas do texto sagrado, ou deixar de fora das passagens envolvidas.
3.    O salmo de ação de graças (Jon. 2:1-9) reflete os salmos canônicos, alguns dos quais, segundo se supõe, foram compostos posteriormente, não tendo sido da autoria de Davi. Mas, os estudos mostram que os salmos, a grosso modo, refletem a antiga literatura cananéia, devendo ser reputados como antiquíssimos.
A atribuição do livro de Jonas a uma data mais recente repousa sobre o tipo de mensagem que o leitor percebe no livro. Se a obra é alegórica e reflete um período quando o judaísmo estava se universalizando, então a data posterior faz sentido. Mas, se o livro é de natureza histórica, então precisamos afirmar que houve alguma universalização nos sentimentos de Israel, desde bem antes do período helenista (vide). Os argumentos em favor e contra uma data mais recente, como se vê, não são conclusivos.
VI.   A História do Grande Peixe: Sua Historicidade e Tipologia
Uma das características interessantes do livro de Jonas, se não a mais notável, é o relato de como Jonas foi engolido por um grande peixe (presumivelmente, uma baleia), mas foi capaz de sobreviver à prova, apesar do fato de ter permanecido no ventre do peixe por três dias! Há possibilidades científicas de uma coisa assim realmente suceder?
1. Historicidade da Narrativa. Ver sob a quarta seção, Historicidade, em seu terceiro ponto, O Relato Sobre o Grande Peixe. Ali damos uma boa descrição sobre como os liberais e os conservadores têm argumentado sobre esse item. O material que se segue mostra que, de fato, tal coisa pode acontecer.
Será possível ser engolido por uma baleia e continuar vivo para contar a história? A ciência responde «Não», mas a resposta correta é «Sim». Os registros oficiais do Almirantado Britânico provêm evidências documentadas sobre a espantosa aventura de James Bartley, um marinheiro britânico que foi engolido por uma baleia, e escapou com vida para contar a história! O Sr. Bartley estava fazendo sua primeira viagem (que terminou também por ser a única), como marinheiro de um navio baleeiro, cujo nome era Estrela do Oriente, em fevereiro do ano de 1891. Estavam a algumas centenas de quilômetros a leste das ilhas Falkland, no Atlântico Sul.
Em certo momento foi arpoada uma grande baleia, que então mergulhou às profundezas abissais. Quando ela subiu para respirar, ocorreu que seu corpanzil esmigalhou o bote, e muitos homens caíram no mar. Dois homens não puderam ser encontrados e um deles era o Sr. Bartley. Depois de muito serem procurados, foram dados, finalmente, por perdidos.
Pouco antes do por-do-sol, naquele mesmo dia, a baleia moribunda flutuou até à superfície. A tripulação rapidamente prendeu uma corda na baleia e a arrastou até o navio-mãe. Posto que era tempo de verão, foi necessário despedaçar imediatamente o gigantesco animal. A baleia foi sendo cortàda èlh pedaços. Pouco depois das onze horas da noite, qs exaustos tripulantes removeram o estômago e o enorme fígado da baleia. Esses pedaços foram levados para a coberta e notou-se que havia algum movimento no interior do estômago da baleia.
Fizeram uma grande incisão no estômago da baleia, e apareceu um pé humano. Era James Bariey, dobrado em dois, inconsciente, mas ainda vivo. Bartley soltava grunhidos incoerentes ao recuperar um pouco mais a consciência, e durante cerca de duas semanas pendeu entre a vida e a morte. Passou-se um mês inteiro antes que pudesse contar perfeitamente a história do que lhe acontecera.
Lembrava-se de que quando a baleia atingiu o bote, ele foi atirado no ar. Ao cair, foi engolfado pela gigantesca boca da baleia. Passou por fileiras de minúsculos e afiados dentes, e sentiu uma dor lancinante. Percebeu que estava escorregando por um tubo liso, e então desapareceu na escuridão. De nada mais se lembrava, senão depois de ter recuperado a consciência, uma vez   libertado do estômago da baleia.
Muitos médicos de vários países vieram examiná-lo. Viveu mais dezoito anos depois dessa experiência. Sua pele ficara com uma desnatural coloração esbranqui­çada, mas não sofreu outros maus efeitos além desse. Na lápide de seu túmulo foi escrito um breve relato de sua experiência, com o acréscimo: «James Bartley, 1879 a 1909, um moderno Jonas». (Extraído do livro Stranger Than Science, por Frank Edwards, págs. 11-13).
2.   Tipologia. A experiência de Jonas é um tipo de como Jesus, o Cristo, haveria de ficar retido em um sepulcro, mas ressuscitar dentre os mortos, três dias mais tarde. Esse símbolo era um «sinal» para os mestres judeus incrédulos, os quais estavam subme­tendo Jesus a teste, quanto às suas reivindicações messiânicas. Jesus repreendeu aqueles que queriam receber o sinal, como necessário, porque isso comprovava que aqueles homens perversos estavam espiritualmente cegos. Em tal estado de trevas, precisavam de sinais e não eram capazes de reconhecer as realidades espirituais. Jesus recusou-se realizar algum grande milagre, a fim de autenticar suas reivindicações. Ele já havia feito isso, com abundância. E eles já tinham rejeitado todos os sinais que ele fizera. Portanto, o Senhor lhes ofereceu um sinal bíblico. Por assim dizer, Jonas morreu e então retornou à vida. Por semelhante modo, Jesus morreria, de fato, mas ressuscitaria. Ver os artigos separados sobre Ressurreição e Ressurreição de Cristo. O Senhor ressurreto tornou-se o doador da vida eterna àqueles que nele confiam, que passam a ser moldados segundo a sua imagem. Parte da condenação de Jesus aos mestres incrédulos consistiu no fato de que os ninivitas, habitantes de uma cidade pagã, se tinham arrependido em face da pregação de Jonas. E no entanto, Aquele que era muito maior do que Jonas pregara e mostrara sinais aos teimosos mestres judeus, mas estes tinham-se recusado a arrepender-se. Isso significava que Deus haveria de tratar com eles com grande severidade. A ressurreição de Jesus Cristo, como é claro, foi o sinal final e definitivo da autenticidade das reivindicações de Jesus, como Messias prometido e Salvador.
VII.  Ocasião e Propósitos do livro
O livro de Jonas é uma ilustração veterotestamentária da verdade contida em João 3:16: «Deus amou o mundo de tal maneira», que tomou as providências para que houvesse uma missão de misericórdia, com a finalidade de prover remédio para o pecado e para a degradação moral e espiritual. Se Deus teve tanto interesse pela sorte de Nínive, então todos os povos devem ser vistos como objetos de seu amor.
Se os estudiosos liberais estão com a razão, então um dos propósitos do livro de Jonas era atacar os preconceitos judaicos, mostrando que Deus está interessado pelos pagãos, e não meramente pelo povo de Israel. Nesse caso, teríamos um propósito polêmico no. livro. Também poderíamos encarar esse propósito como didático. O autor não estaria sendo beligerante. Estava meramente procurando ensinar Israel acerca do interesse de Deus pelos demais povos da terra. O perdão divino é muito amplo; seu amor vai desde os mais altos céus até os mais profundos infernos.
Um outro propósito possível era o de mostrar que a própria nação de Israel deveria interessar-se pelas missões às nações. Nesse caso, o livro é uma espécie de antigo evangelho, cujo intento é impelir à atividade missionária.
O Julgamento é Remediai. Deus não tem prazer na destruição e na dor. Contudo, destruição e dor podem ser aplicadas quando se fazem necessárias. O juízo divino tem por escopo produzir nos homens o arrependimento. O trecho de I Ped. 4:6 mostra que esse princípio continua atuante no após-túmulo, e não apenas durante a vida biológica do indivíduo.
VIII.   Pontos de Vista Teológicos
1.      Deus é o governante universal, razão pela qual ele tem o direito de convocar qualquer nação ao arrependimento.
2.     Na qualidade de governante universal, Deus também é o juiz universal. Se os homens não derem ouvidos à sua chamada ao arrependimento, então Deus os julgará (Jon. 3:4).
3.     Contudo, Deus é o Salvador universal. Jonas foi enviado para salvação de Nínive, e não para obter a destruição da cidade. O próprio profeta sentiu-se contrariado, quando Nínive se arrependeu e foi poupada. Ele gostaria de ter visto o cumprimento de sua profecia de condenação. Deus, porém, não concordou com essa atitude. Ver Jon. 4:10,11.
4.    O abundante amor de Deus. O amor de Deus é permanente e abundante (Jon. 4:2). Chega mesmo a envolver os animais irracionais! (ver o vs. 11). Assim, chegou aos pagãos. Não era coisa pequena, se Nínive viesse a perecer. Vemos aí, novamente, a mensagem de João 3:16, o que é contrário a uma aplicação exclusivista do amor de Deus, a qualquer grupo exclusivo. Isso se volta contra qualquer tipo de exclusivismo, incluindo o calvinismo radical!
5.   Os preconceitos exclusivistas são um erro. Ê moralmente errado alguém ser um bitolado religioso, que nada pode ver de bom além de seu próprio grupo ou denominação. É bom o homem ter uma visão mais universal, reconhecendo que Deus é, verdadeiramente o Pai de todos os povos, embora haja uma paternidade divina e especial, no caso dos remidos (que podem ser de qualquer raça, nação, seita ou denominação, não nos esqueçamos disso).
6.   A motivação missionária. — Deveríamos preocu­par-nos com a propagação da mensagem espiritual e com a salvação das almas.
7.   O propósito remediai do julgamento divino já foi abordado, na seção sétima, em seu último parágrafo.
IX.   Esboço do Conteúdo
1.     Chamada ao Profeta Desobediente (cap. 1)
a.      A fuga de Jonas (1:1-3)
b.     A confissão de Jonas (1:8-12)
c.     Jonas engolido pelo grande peixe (1:13-17)
2.    Jonas Livrado pela Misericórdia Divina (cap. 2)
3.    Nova Comissão Divina e Obediência de Jonas (cap. 3)
a.     Jonas em Nínive (3:1-4)
b.    Os ninivitas se arrependem (3:5-9)
c.    A cidade de Nínive é poupada (3:10)
4.    A Consternação de Jonas e os Cuidados de Deus (cap. 4)
a.    A indignação de Jonas (4:1-4)
b.   A história da trepadeira (4:6-10)
c.   O amor de Deus por todos os homens (4:11)

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