Livro de Levíticos


Levitíco é o terceiro livro do Pentateuco, chamado em hebraico Wayyiqra, que é a palavra inicial do livro e significa «Ele chamou». O título «Levítico» foi derivado da Vulgata Latina Leviticus, que por sua vez emprestou o vocábulo da LXX grega (Leuitikon). O nome Levitíco foi atribuído ao livro devido ao fato de que nele está descrito o sistema de adoração e de conduta levíticas. Por outro lado, este nome é enganoso, pois as funções sacerdotais eram exercidas por um grupo seleto que clamava ser descendente de Arão, irmão de Moisés. Levítico está muito mais associado a esse grupo do que aos levitas propriamen­te ditos. Na Mishnah, Levítico é também chamado, «lei dos sacerdotes», «livro dos sacerdotes», e «lei das oferendas»; no Talmude, «lei dos sacerdotes» e na Pesh, «o livro dos sacerdotes». Esses títulos indicam com mais precisão o conteúdo do livro.
Esboço:
I. Caracterização Geral
II.  Autoria e Data
III.   Propósitos
IV.  Conteúdo
V. Notas sobre as Leis e a Expiação
VI. A Importância do Livro
I. Caracterização Geral
O Levítico é o terceiro dos cinco livros do Pentateuco (vide). Encerra, principalmente, a legisla­ção sacerdotal sobre um considerável número de assuntos, conforme se pode ver na lista abaixo:
1.   Os sacrifícios (1:1 – 6:7).
2. O sacerdócio (6:8-10; 21:22).
3. As purificações (caps. 11 -15).
4. As estações sagradas (caps. 16 e 23).
5. O preceito acerca da ingestão de carnes (cap. 17).
6. Às questões que envolvem o casamento e a castidade (cap. 18).
7. O ano sabático e o ano do jubileu (cap. 25). 8. Os votos e os dízimos (cap. 27).
Os eruditos liberais não acreditam na autoria mosaica desse tipo de material. Ver o artigo intitulado Pentateuco, com sua discussão acerca da autoridade. Eles pensam que esse livro representa os labores do sacerdócio, no decurso de muitos séculos. Os sacerdotes levíticos teriam reunido e compilado esse material, com base em costumes posteriores. Aqueles eruditos designam as fontes de materiais como esses de P, a forma inglesa abreviada de priestly. Nesta enciclopédia, temos traduzido essa abreviatura por S, do termo português «sacerdotal». Ver o artigo sobre as alegadas fontes informativas do Pentateuco, J. E. D. P.(S), que procura aclarar e descrever essa teoria. Os estudiosos liberais datam esse material no século VI. A.C., quando o sacerdócio levítico consolidou sua organização e sua produção literária. O Código de Santidade seria o verdadeiro responsável pelos caps. 17 – 26 do livro de Levítico. Ver o artigo Santidade, Código da, quanto a completas explicações sobre essa questão.
Acredita-se que o livro de Levítico, em sua forma presente (resultante de compilação), veio à tona tão tarde quanto 500 A.C. Discuti a questão da data do livro na segunda seção deste verbete. O judaísmo ortodoxo e os historiadores encontram muito valor no livro de Levítico, mas, no tocante à aplicação de princípios ali exarados, há pouca utilidade em nossos dias, exceto no que diz respeito aos tipos simbólicos. Isso serve de ilustração sobre como algo, importantís­simo na fé e na prática religiosa pode vir a tomar-se obsoleto, conforme o avanço no conhecimento.
II. Autoria e Data
A autoria do livro não é atribuída a Moisés em nenhuma passagem do livro. Aqueles que acreditam na plena inspiração das Escrituras dizem: «Nós devemos o conteúdo do livro à divina revelação dada a Moisés no Sinai». Essa atitude não resolve o problema da autoria de Levitíco mas serve como base para a teoria conservantista que tenta resolvê-lo. Para os críticos, a questão da autoria desse livro se esclarece através da teoria documentária que envolve a composição do Pentateuco como um todo.
1.Ponto de Vista Conservantista. Embora o livro não registre o nome de seu autor, uma comparação entre Exodo 40:1-17 e Números 1:1, sugere que essas leis pertencem ao primeiro mês do segundo ano depois do êxodo. Por conseguinte, o contexto dessas leis é, claramente, a revelação dada por Deus a Moisés no Sinai. Trinta e oito vezes o livro declara que Deus falou a Moisés no Sinai. Por outro lado, a declaração de 16:1 de que a lei para o dia da Expiação fora dada depois da morte de Nadabe e Abiú, recontada no capítulo 10, mostra que o material não fora organizado com ênfase em cronologia, mas em lógica. Talvez um escritor posterior tenha organizado o material mosaico do qual Levítico consiste, mas não hâ razão para se pensar que o próprio Moisés não tenha preparado as leis. Os conservantistas acrescen­tam que o ponto de vista critico envolve a existência de um autor posterior de caráter fraudulento, que inventou um cenário histórico para todas as leis e narrativas a fim de realizar seus objetivos. (Z,p.916).
2.  Ponto de Vista Critico. Segundo a teoria documentária, Levítico é inteiramente produto de P, a fonte mais recente do Pentateuco, e de S, Código de Santidade. O documento F(S) ou Código Sacerdotal, originou-se por volta de 500 A.C., mas sua redação prolongou-se até o século IV A.C. Os documentos J,E, e D, juntamente com P, que serviram de base para a composição do Pentateuco, não foram usados pelo compilador de Levítico. Ver o artigo sobre a teoriá J.E.D.P(S). O documento S originou-se por volta de 570 A.C., por um autor «semelhante a Ezequiel em pensamento e em forma de expressão».
Devido ao fato de que Ezequiel trata, até certo ponto, do tema da santidade, e que muitas das leis de S são paralelas às leis encontradas no livro de Ezequiel, alguns eruditos sugerem que Ezequiel compilou S. Não obstante, há mais probabilidade de que ambos, Ezequiel e S, foram derivados das mesmas fontes de leis e costumes para satisfazer a circunstâncias semelhantes. As leis de S, como as de P, consistem na compilação de leis conhecidas e na clarificação de costumes existentes, que até aquela época não haviam sido registrados na literatura. Muitas das práticas legais são conhecidas de outros códigos mais antigos, embora os detalhes variem em alguns pontos. A data de S (570 A.C.) mencionada acima é uma sugestão baseada nas evidências internas e na íntima associação com Ezequiel, todavia, a questão da prioridade em tempo entre Ezequiel e S não é definida. O material de S foi incorporado em Levítico pelo compilador de P, por volta de meados do século V A.C., que adicionou ao material, comentá­rios e notas próprias, a fim de atribuir a S, o estilo e as ideias de P. A despeito disso, os caps. 17-26 que constituem o Código de Santidade, distinguem-se do Código Sacerdotal em muitas formas. No material de S as leis são colocadas num quadro de exortação, onde as passagens têm por tema a santidade de Jeová, e a necessidade de santidade por parte de seu povo que deve guardar seus estatutos. Israel deve se lembrar da intervenção divina e evitar a infiltração de coisas impuras, principalmente a idolatria cananita. O tema da santidade é tratado também em outros códigos, mas em nenhum outro é tão difundido como nessa passagem de Levítico.
Alguns problemas discutidos em P são também encontrados em S, ocasionalmente com tratamentos diferentes. Os capítulos de S possuem uma estrutura unificada: iniciam-se com leis de sacrifício, e se encerram com uma exortação. Os assuntos tratados nesses capítulos são extremamente variados, se estendendo de comida animal, pureza sexual, santidade sacerdotal, calendário festivo, a detalhes de sacrifício e de leis morais e religiosas. (EA. p.322)
Examinando o livro de um ponto de vista formalista alguns críticos têm concluído que Levítico é o resultado de estágios sucessivos de composição. M. Noth afirma que somente os capítulos 8-10 pertencem ao documento P. O restante do livro pertence ou à tradição oral, ou a outras fontes desconhecidas. Noth declara que há numerosos detalhes no livro que diferem drasticamente dos relatos do documento P. Ele acrescenta ainda que tais diferenças o conduzem à concluir que as porções não-narrativas do livro possuem história independente, e que foram inseridas posteriormente nas partes narrativas. Noth e os outros críticos que defendem esse ponto de vista atribuem as regulamentações cultuais e rituais à tradição oral. (Z, p. 915).
III.  Propósitos
Levítico expõe um conjunto de leis e regulamentos que devem ser seguidos pelos israelitas como condição para que Jeová habite no meio deles. Com esse propósito o livro apresenta uma série de leis culturais, civis e morais. Outros assuntos como relações sociais, higiene e medicina, são trazidos à esfera da religião nesse livro. Os versículos de Lev. 26:11 e 12 asseguram que o povo desfrutará da companhia de Jeová se obedecerem seus estatutos e guardarem seus mandamentos. Portanto, o objetivo de Levítico era regular á vida nacional em toda sua conduta, e. consagrar a nação de Israel a Deus.
IV.   Conteúdo
Levítico contém um registro mais prolongado e desenvolvido da legislação sinaítica, cujo início se acha em Êxodo. O livro exibe um progresso histórico da legislação, consequentemente não se deve esperar uma exposição sistemática da lei nesse material. Há, contudo, certa ordem a ser observada, que se fundamenta na natureza do assunto em questão. De modo geral este livro está intimamente associado ao conteúdo do livro de Êxodo, pois este último conclui com a descrição do santuário ao qual está associada toda forma de culto externo descrita em Levítico.
A.      Direções para Aproximar-se de Deus (1:1—16:24)
1.      Direções para sacrifícios sacerdotais (1:1—7:38)
a.      Holocausto (1:1-17)
b.      Oferta de manjares (2:1-16)
c.      Sacrifício de paz (3:1-17)
d.      Sacrifício pelos erros dos sacerdotes (4:1-12)
e.      Sacrifício pelos erros do povo (4:13-21)
f.       Sacrifício pelos erros de um príncipe (4:22-26)
g.      Sacrifício pelo erro de uma pessoa comum (4:27-35)
h.      Sacrifício pelos pecados ocultos (5:1-13)
i.       Sacrifício pelo sacrilégio (5:14-16)
j.       Sacrifício pelos pecados de ignorância (5:17-19)
1.      Sacrifício pelos pecados voluntários (6:1-7) m. Lei acerca do holocausto (6:8-13) n. Lei acerca da oferta dos manjares (6:14-18)
o.      A oferta na consagração dos sacerdotes (6:19-23)
p.     Lei acerca da expiação pelo pecado (6:24-30)
q.     Lei acerca da expiação pela culpa (7:1-10)
r.      Lei acerca do sacrifício da paz (7:11-21)
s.     Deus proíbe comer gordura e sangue (7:22-27)
t.      A porção dos sacerdotes (7:28-38)
2.      Direções para a consagração sacerdotal (8:1—9:24)
a.     A consagração de Arão e seus filhos (8:1-36)
b.     Arão oferece sacrifícios por si mesmo e pelo povo (9:1-24)
3.    Direções sobre a violação sacerdotal (10:1-20)
a.    Nadabe e Abiú morrem diante do Senhor (10:1-11)
b.    Lei sobre as coisas santas (10:12-20)
4.    Direções para a purificação sacerdotal (11:1—15:33)
a.    Os animais que devem comer e os que não devem comer (11:1-47)
b.    A purificação da mulher depois do parto (12)
c.    Leis acerca da praga da lepra (13)
d.    Lei acerca do leproso depois de sarado (14:1-32)
e.    Lei acerca da lepra numa casa (14:33-57)
f.     Lei acerca das excreções do homem e da mulher (15)
5.    Direções para o dia de expiação (16:1-34)
a.    Instruções sobre como Arão deve entrar no santuário (16:1-10)
b.    O sacrifício pelo próprio sumo sacerdote (16:11-14)
c.    O sacrifício pelo povo (16:15-28)
d.    A festa anual das expiações (16:29-34)
B.    Direções para Manter um Relacionamento com Deus (17:1-27:34)
1.    Direções para preservar a santidade (17:1—22:33)
a.    O lugar do sacrifício (17:1-9)
b.    A proibição de comer sangue (17:10-16)
c.    Casamentos ilícitos (18:1-18)
d.    Uniões abomináveis (18:19-30)
e.    Repetição das diversas leis (19)
f.    Penas para diversos crimes (20)
g.   Leis acerca dos sacerdotes (21)
h.   Leis acerca de comer e oferecer sacrifícios (22)
2.    Direções acerca das festas religiosas (23:1-44)
a.    As festas solenes do Senhor (23:1-25)
b.    O dia da Expiação (23:26-44)
3.    Direções para o tabernáculo e para o acampa­mento (24)
a.    Lei acerca das lâmpadas (24:1-4)
b.    Pães da proposição (24:1-9)
c.    Pena para o pecado de blasfêmia (24:10-23)
4.    Direções sobre a terra (25)
a.    O ano sabático (25:1-7)
b.    O ano jubileu (25:8-23)
c.    Redenção da terra (25:24-34)
d.    Não tomar usura dos pobres (25:35-38)
e.    Escravidão (25:39-55)
5.    Promessas e advertências (26)
6.   Instruções sobre votos e dízimos (27)
V.   Notas Sobra as Leis e a Expiação
Leis Sacrificiais:
1. Holocausto. O holocausto era um sacrifício voluntário oferecido com a finalidade de assegurar ao ofertante o favor de Jeová. A oferenda consistia na queima de um animal. Exemplos de seu uso encontram-seem I Sam. 17:9; 13:9; Salmos 20. 2. A oferta de manjares, similarmente ao holocausto, era um sacrifício voluntário. Assim como um inferior oferece um presente ao seu superior, como uma expressão normal de sua submissão e lealdade, assim também o piedoso devoto fazia ofertas a Deus. A eficácia do ato, no entanto, consistia no envolvimento de renúncia por parte do ofertante, dai a razão de ofertar comida. 3. A oferenda de par, era também voluntária e expressava a humildade e submissão do ofertante em relação ao seu divino Senhor. Esse sacrifício, o único que podia ser comido por um sacerdote leigo, era motivado por um sentimento de apreciação e servia como expressão pública e moral de gratidão. Peculiar a esta oferenda era o fato de que o animal não fazia expiação (4:20,26,31,35, etc.). 4. A oferenda do pecado era oferecida mediante a transgressão de algum mandamento e designava o sacrifício que fazia expiação. Sangue era o preço exigido para acalmar a ira divina. 5. A oferta da culpa envolvia a compensação de um dano causado pelo pecado. A compensação deveria ser feita ou diretamente à pessoa prejudicada, ou ao santuário por ocasião do sacrifício.
Leis de Purificação:
1. Animais puros e impuros. Essa era uma lei die­tética que classificava as comidas consideradas benéficas à saúde como puras, e as consideradas nocivas como impuras. 2. Regulamentações sobre a lepraencontram-se nos capítulos 13 e 14. Médicas modernos argumentam que a doença descrita nesses capítulos não é exatamente o mal de Hansen conhecido atualmente.
O Dia da Expiação.
A expiação anual ensina que a culpa não é removida pela purificação individual dos vários pecados e impurezas. Um grande sacrifício cobrindo todas as impurezas deveria ser feito para acalmar a ira divina.
VI.  A Importância do livro
Levítico é um livro valioso como fonte informativa dos costumes nacionais, sagrados e seculares, e abrange uma boa parte da história hebraica. Como documento religioso Levítico é um livro indispensável para o judaísmo pós-exílio. Mesmo atualmente, os judeus ortodoxos encontram suas regulamentações nesse livro. Levítico, segundo Harford-Battersby, é o monumento literário do sacerdócio hebreu.
Este livro fornece também um alicerce para todos os outros livros da Bíblia. Quaisquer referências a oferendas sacrificiais, cerimônias de purificação, ou regulamentações sobre o ano sabático e o ano de jubileu são explicadas em Levítico. Em Mateus 22:40, Jesus disse que toda a lei e os profetas dependiam de Deuteronômio 6:5 e Levítico 19:18. Ao curar o leproso, Jesus o instruiu a seguir  a lei concernente a lepra, Lev.14. Os apóstolos considera­ram Levítico como um livro divinamente inspirado, relacionado (profeticamente) à doutrina cristã. Por exemplo, os sacerdotes e sacrifícios associados ao tabernáculo prenunciaram o trabalho de Cristo em relação ao céu (Heb. 3:1; 4:14-16; caps. 9 e 10). A afinidade entre Levítico e o Novo Testamento se torna muito óbvia no livro de Hebreus, que é considerado por alguns como um comentário sobre Levítico no Novo Testamento. De modo geral, os rituais e as idéias do livro influenciaram profundamente o cristianismo, e mesmo uma leitura casual do Novo Testamento evidencia tal influência.

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