Livro de Jeremias


I. Jeremia, o Profeta, Ver completas descrições no artigo Jeremias (o
Profeta).
II. A  Arqueologia, Jeremiai e Nabucodonosor
Examinar esse material sob a seção IV do artigo sobre Jeremias (o Profeta).
III. Caracterização Geral do livro
As profecias de Jeremias, em forma de livro, tomaram o nome do próprio profeta, cujo nome, em hebraico, era Yirmeyahu ou Yirmeyah, «Yahweh estabelece». O seu ministério estendeu-se pelo menos durante quarenta anos da história de Judá, história essa que terminou em tragédia, com o cativeiro babilônico.
Propósito. O intuito de Jeremias era conclamar o povo de Judá ao arrependimento, visto que ele via a potência do norte, Babilônia, a erguer-se, pela providência divina, para castigar uma nação desobe­diente como era Judá. Ele exortou os habitantes de Jerusalém a abandonarem sua apostasia e idolatria. Jeremias via um cativeiro de setenta anos delineando- se no horizonte (Jer. 25:1-14). Ele via que o conflito entre três potências mundiais, a Assíria, o Egito e a Babilônia, terminaria com o triunfo desta última. E advertiu aos judeus acerca de pactos firmados com o Egito, que redundariam em desastre, a longo prazo. Visto que Jeremias previu um resultado desfavorável para Judá, que era um pequeno reino, entalado no meio de lutas entre poderes gigantescos, esse profeta acabou merecendo a desconfiança de seu próprio povo, e foi desprezado. Suas profecias de condenação soavam estranhas, quando comparadas com as palavras consoladoras dos profetas falsos. Todavia, a esperança messiânica resplandece em seus escritos, onde é prometida a restauração e a glória finais, para Israel e para Judá, juntamente. Ver Jer. 23:5 ss; 30:4-11; 31:31-34; 33:15-18. Ele previu a manifesta­ção do justo Ramo de Davi, Yahweh-Tsidkenu (vide). Ver também Jer. 23:6; 30:9.
Jeremias profetizou cerca de sessenta anos após Isaías. Seus contemporâneos foram Sofonias e Habacuque (no começo), e Daniel (mais tarde). Jeremias precisou relacionar-se com cinco dos reis de Judá, o que nos fornece a porção essencialmente histórica do seu livro. Isso é comentado detalhada­mente no artigo Jeremias (o Profeta), seção III.3. As predições de Jeremias incluem os grandes eventos do cativeiro babilónico; a restauração após setenta anos; a dispersão universal dos judeus; o recolhimento final de Israel; a era do reino; o dia do juízo dos poderes gentílicos.
O livro de Jeremias pode ser dividido em três seções bem gerais, a saber: 1. capítulos 1—25: profecias contra Judá; 2. capítulos 46—51: narrativas acerca de Jeremias, o profeta, e predições contra potências estrangeiras; 3. capítulo 52: um apêndice histórico, extraído de II Reis 24:18 ss. Várias fontes informativas podem estar envolvidas, algumas delas, provavelmente, — adicionadas por autores poste­riores ou editores. Uma dessas fontes diz respeito aos discursos de Jeremias, a saber, os trechos de Jer. 7:1ss, 11:1 ss; 18:1 ss; 21:1 ss; 25:1 ss; 32:1 ss; 34:1 ss; 35:1 ss; 44:1 ss. Os eruditos liberais supõem que os capítulos 46—51 são, essencialmente, derivados de fontes outras, que não o profeta Jeremias. Os oráculos indubitavelmente genuínos, no parecer de alguns, seriam os capítulos 1—25, que vieram do rolo original escrito por Baruque (o que é mencionado em Jer. 36:32). Os capítulos 26—44 enfocam a atenção sobre os acontecimentos externos. Os capítulos 30 e 31 formam uma coletânea especiàl de dizeres,que al­guns supõem ter sido acrescentada ao livro em tempos posteriores. Uma característica ímpar do livro são as chamadas «confissões» de Jeremias, a saber, os trechos de Jer. 11:18-23; 12:1-6; 15:10-21; 17:12-18; 18:18-23; 20:7-18. Essas confissões revelam a relação pessoal entre Jeremias e Deus.
IV. Relações Entre Jeremias e Cinco Reis de Judá
 No artigo intitulado Jeremias (o Profeta) seção III.  3, temos provido esse material para o leitor. Á terceira seção inteira daquele artigo aborda a história que é contada no livro de Jeremias, e que o leitor faria bem em consultar.
V.   Autoria e Integridade do livro
Jeremias, filho de Hilquias, pertencia a uma família sacerdotal que vivia em Anatote, cidade de Benja­mim. Ele foi o autor do livro que traz o seu nome (Jer. 1:1). Há mais informações biográficas sobre ele do que sobre qualquer outra figura profética do Antigo Testamento. Não há que duvidar que o livro pertence, genuinamente, a Jeremias, embora certas porções possam ter sido adicionadas, posteriormente, por editores. E também é claro que Jeremias valeu-se de mais de uma fonte informativa, que incorporou em sua obra.
1.   Jeremias Ditava a Baruque. Uma boa porção do volume (os liberais concordam com os capítulos 1—25) foi ditada a Baruque, o amanuense de Jeremias. Esses capítulos formavam o rolo que foi queimado pelo rei Jeoaquim (Jer. 36:23). No entanto, foi ditada uma segunda edição, que incluía material novo (Jer. 36:32). Em seguida, aparecem seções que foram compostas posteriormente, embora ainda de autoria de Jeremias, conforme nos sugerem os trechos de Jer. 21:1 e 24:1.
2.   O capítulo cinquenta e dois do livro de Jeremias é um óbvio empréstimo de II Reis 24:18; 25 e 30, que foi adicionado por algum editor.
3.   Evidências de Autenticidade. Além daquelas evidências internas, no próprio livro, temos as confirmações dos relatos que demonstram a validade das predições de Jeremias, como o caso dos setenta anos de cativeiro, que se tornaram um fato histórico. Ver Dan. 9:2; Jer. 25:11-14; 29:10; II Crô. 36:21; Eze. 1:1 e Josefo (Anti. 10:5,1). O livro de Jeremias é muitas vezes citado no Novo Testamento como uma profecia autêntica. Ver Mat. 2:17,18 (Jer. 31:15); 21:13; Mar. 11:17; Luc. 19:46(Jer. 7:11); Rom. 11:27 (Jer. 31:33 ss); Heb. 8:8-13 (Jer. 31:33 ss). A tradição talmúdica afirma detalhes sobre a vida e as predições de Jeremias.
4.   Integridade. É patente que o volume de Jeremias foi escrito em vários estágios, acompanhando os sucessos históricos e as predições de Jeremias pertencentes àqueles acontecimentos. Os estudiosos liberais veem, nessa atividade, o trabalho de um editor ou editores. Sabemos que a primeira edição dos capítulos 1—25 do livro foi destruída e precisou set reescrita. Não sabemos dizer quanto trabalho editorial foi feito pelo próprio Baruque. Mas sabemos que o arranjo, algumas vezes, não é cronológico. O fato de que a versão hebraica massorética difere consideravel­mente da Septuaginta serve de prova absoluta de que deve ter havido mais de uma edição do livro de Jeremias. Mas aqueles que têm procurado identificar o trabalho dos possíveis editores diferem muito entre si, no tocante às suas reconstruções, baseadas muito mais em sentimentos subjetivos do que naquilo que, realmente, deve ter acontecido. Talvez Baruque tenha refeito alguns dos discursos de Jeremias, redigindo-os com suas próprias palavras, embora preservando-lhes a substância. Apesar disso poder exprimir uma verdade» não há como provar tal suposição, e nem há como descobrir o modo como isso foi feito. Alguns estudiosos pensam que os» capítulos 46—51 não pertencem, essencialmente, a Jeremias, mas antes, poderiam ser adições feitas posteriormente, embora não haja nenhuma razão compelidora para apoiar tal argumento. O apêndice, formado pelo capitulo 52, mui provavelmente foi acrescentado pelo próprio Baruque, ou por algum editor posterior. O ministério de Jeremias espraiou-se pelo governo de cinco monarcas de Judá. Se quisermos obter uma sequência cronológica dos seus escritos, teremos de dar um novo arranjo aos mesmos. O professor C. Lattey sugeriu o seguinte arranjo, que segue os reis envolvidos no relacionamento com Jeremias:
Josias. Caps. 1—20 (excetuando 12:7—13:27).
Jeoacaz. Nada foi escrito em seu tempo.
Jeoaquim. Caps. 12:7—13:27; 21; 25; 27; 28;
33; 35; 36; 45.
Joaquim. Caps. 13:18 ss; 20:24—30; 52:31-34.
Zedequias. Caps. 24; 29; 37; 38; 51:59,60 (advertências); 30—33 (promessas de restauração); 21; 34; 37—39 (o cerco babilónico); 40—44 (após a queda de Jerusalém); 46—51 (profecias contra várias nações); 52 (apêndice).
O material inicial cobriu um período de vinte e três anos, desde o décimo terceiro ano de Josias (626 A.C.) até 604 A.C. Esse material foi destruído durante o quinto ano do reinado de Jeoaquim, mas Baruque reescreveu o mesmo. E então adicionou algo a esse material (Jer. 36:32).
O texto da Septuaginta nos dá uma versão mais breve que o texto hebraico. Ora, usualmente é o texto mais breve que é o original. È muito mais natural que os escribas tenham expandido do que tenham condensado os textos que copiavam. A diferença é cerca de uma oitava parte, pelo que não é muita coisa. Na Septuaginta, os oráculos contra as nações estrangeiras (caps. 46—51), aparecem depois de Jer. 25:13, e a sequência desses oráculos também encerra algumas diferenças. Essas diferenças poderiam ser explicadas com base em duas versões do livro de Jeremias; ou, então, poderíamos supor que o trabalho de editores é que produziu isso. O texto hebraico tem sido tradicionalmente preferido; e devemos relembrar que, dificilmente, poderia mesmo ser diferente disso. Pois que estudioso hebreu teria preferido a tradução da Septuaginta à versão em seu próprio idioma? Os materiais autênticos, incluídos nas propostas adições, não servem de argumento em favor da originalidade, mas apenas mostram que um editor ou editores estiveram envolvidos, tendo adicionado material histórico genuíno, que é confirmado nos registros babilónicos. As omissões que aparecem na Septuagin­ta (Jer. 28:1-33; 29:16-20; 33:14-26; 39:4-13; cap. 52, além de alguns outros pequenos trechos) são difíceis de explicar. Por que motivo um tradutor teria deixado essas passagens de lado, propositalmente? Não há resposta para esse problema; mas, considerando o que sucede nas atividades dos escribas, parece que os tradutores da Septuaginta preferiram representar a forma original do livro, ao passo que o texto hebraico foi por eles concebido como uma expansão dessa forma original. Porém, nada de certo se pode dizer quanto a essa questão.
VI. A Cronologia Historica e Jeremias
Os eventos principais e suas datas, no que se relacionam ao livro de Jeremias, são os seguintes:
686 A.C.: O remado de Man as sés.
648 A.C.: O nascimento de Josias.
642 A.C.: Amom substitui a Man as sés como rei.
633 A.C.: Josias busca renovação espiritual (II Crô.
34:3). Morte de Assurbanipal, rei da Assíria. Ciaxares torna-se rei da Média.
628 A.C.:’Reformas religiosas de Josias.
627 A.C.: Chamada divina de Jeremias.
626 A.C.: Nebopolassar torna-se rei da Babilônia. 621 A.C.: Acha-se o rolo da lei, depois utilizado na reforma.
609 A.C.: Josias é morto, em Megido. Jeoacaz governa por três meses. Jeoaquim assume o poder, em Jerusalém.
605 A.C.; Os babilônios derrotam o Egito e a Assíria, em Carquêmis. Daniel e outros são levados à Babilônia (Dan. 1:1). Nabucodonosor torna-se rei da Babilônia.
604 A.C.: A Palestina paga tributo a Nabucodono­sor.
601 A.C.: Os egípcios derrotam momentaneamente aos babilônios.
597 A.C.: Fim do reinado de Jeoaquim; os babi­lônios invadem Jerusalém. Joaquim torna-se rei de Judá; governa por três meses e é deportado para a Babilônia.
597 A.C.: Zedequias torna-se rei de Judá.
588 A.C.: Cerco de Jerusalém, iniciado a 15 de janeiro.
587 A.C.: Jeremias é encarcerado pelos judeus (Jer. 32:1,2).
586 A.C.: Fuga de Zedequias diante dos ba­bilônios (II Reis 25:2,3; Jer. 39:4; 52:5,7). Destruição de Jerusalém (II Reis 25:8-10). Gedalias, governador temporário de Judá, é assassinado. Jeremias o apoiava. Os judeus vão para o Egito e levam Jeremias. ?: Morte (e martírio) de Jeremias, no Egito.
VII. Esboço do Livro
I.    Chamada de Jeremias, Avisos e Mensagem aos Judeus (1:1—29:32)
A.   Oráculos de Condenação:
1.    Contra o pecado e a ingratidão (2:1—3:5)
2.    A destruição virá do norte (3:6—6:30)
3.    Os judeus seriam exilados (7:1—10:25)
4.    O pacto rompido: sinal do cinto (11:1— 13:27)
5.    A seca (14:1—15:21): sinal do profeta sol­teiro (16:1—17:18); avisos acerca do sábado (17:19-27)
6.    O sinal da casa do oleiro (18:1—20:18)
B.    Oposição aos Anciãos e Líderes
1.    Abusos contra Jeremias e seu encarcera­mento (19:1—20:18)
2.    Seu conselho a Zedequias (21:1-14)
3.    Contra os reis e os falsos profetas (22:1— 24:10)
4.    Contra as nações (25:1-38)
5.    Jeremias escapa da execução (26:1-24)
6.    Oposição a Jeremias, em Jerusalém e na Babilônia (27:1—29:32)
II.    Várias Profecias, da Subida ao Trono ao Cati­veiro de Zedequias (30:1—39:18)
1.     Vislumbres de restauração (30:1—33:26)
2.     Uma nova aliança (30:1—31:40)
3.     Um sinal sobre a restauração (32:1-44)
4.     O pacto davídico (33:1-26)
5.     Desintegração do reino de Judá (34:1— 39:18)
6.     O exemplo dos recabitas (34:1-22)
7.      Queda de Jerusalém (37:18)
III.     Profecias em Judá, Após o Cativeiro (40:1—42: 22)
1.      Mensagem ao remanescente, na Palestina (40:1—41:18)
2.      Aviso para os judeus não descerem ao Egito (cap. 42)
IV.     Jeremias no Egito (43:1—45:5)
V.      Profecias contra Nações e Cidades (46:1—51:64)
1.       Egito (46:1-28)
2.       Filístia (47:1-7)
3.      Moabe (48:1-47)
4.      Amom (49:1-6)
5.      Edom (49:7-22)
6.      Damasco, Quedar e Hazor (49:23—33)
7.      Elão (49:34-39)
8.      Babilônia (50:1—51:64)
VI.     Apêndice
1.      Queda e Cativeiro de Judá (52:1-30)
2.      Libertação de Joaquim (52:31-34)
VIII. Alguns Conceitos Básicos de Jeremiai — Sua Mensagem
1.     O livre-Arbítrio e o Determinismo. Jeremias viu o soerguimento inevitável da Babilônia, que subjuga­ria a Assíria e o Egito. Nesse jogo pelo poder, a nação de Judá seria reduzida a nada. Apesar de predizer tais eventos como inevitáveis, mesmo assim ele cria na genuinidade da chamada de Judá ao arrependimento (o que poderia evitar toda a tragédia). Em outras palavras, Judá poderia ter escapado ao terror. Essa circunstância levanta a antiga questão da interação entre o livre-arbítrio humano 6 o determinismo divino. Para essa questão não há respostas absolutamente adequadas. Deus usa o livre arbítrio humano, sem destruí-lo, embora não saibamos dizer como. Quanto a um estudo completo sobre essa questão, examinar os dois artigos intitulados livre-Arbítrio eDetermi­nismo. Ver também acerca da Predestinação. No que diz respeito a indivíduos, pelo menos no tocante à questão do desenvolvimento espiritual, uma verdade inegável parece ser que os eventos que inevitavelmente devem suceder em uma vida são auto -escolhidos. Em outras palavras, a própria pessoa seleciona os acontecimentos principais de sua vida, os quais determinarão o curso que ela seguirá. Porém, esses eventos que determinam o destino de uma pessoa não são em grande número, de tal modo que amaior parte daquilo que um homem faz, fá-lo por sua livre agência. Porém, naquilo que dirige o destino da alma, o indivíduo não faz por meio de seu livre-arbítrio; antes, segue os ditames de sua alma, em consonância com a direção e a providência de Deus, que delega tais poderes aos homens. Além disso, como é óbvio, há eventos tanto pessoais, como independentes do indivíduo (mas que exercem profundo efeito sobre a sua vida) que são intervenções diretas ou diretivas de Deus. Depois de dizermos isso, vemos que alguma luz foi projetada sobre o problema, embora muitas perguntas continuem sem resposta.
2.    Conceito de Deus. Conforme fica implícito no primeiro ponto (acima), Deus é o poder controlador das atividades humanas, embora não seja infenso, como Ser Supremo, àquilo que o homem quer e faz. Ele é o Criador e o Senhor Soberano que governa todas as coisas, nos céus e na terra. Jer. 5:22,24; 10:12 ss; 23:23 ss; 27:5. Um completo monoteísmo era a crença de Jeremias. Não havia qualquer toque de henoteísmo em seu sistema doutrinário. Para ele, os deuses das nações nem eram entidades (10:14 ss; 14:22 A vontade divina é suprema sobre todas as coisas (Jer. 18:5-10; 25:15-38; 27:6-8).
3.     A presciência de Deus é absoluta (Jer. 17:5-10).
4.     O amor de Deus desconhece limites (Jer. 2:2; 31:1-3).
5.      Deus é a fonte originária da vida de todos os seres vivos (Jer. 2:13; 17:13).
1.     Deus requer justiça e obediência (Jer. 7:1-15).
2.     As abominações a Deus incluem os sacrifícios oferecidos aos deuses pagãos (Jer. 7:30 ss; 19:5), embora também sejam abominações as oferendas de um povo rebelde e pecaminoso (Jer. 6:20; 7:21 ss, 14:12).
3.     A idolatria (vide) é salientada como uma espécie de ofensa capital contra Deus. Baal, Meloque e a rainha do céu são especificamente condenados pelo profeta. Havia ídolos pagãos no próprio templo de Jerusalém (Jer. 32:34). Em Jerusalém, criançasestavam sendo oferecidas em holocausto a Baal e a Moloque (Jer. 7:31; 19:5; 32:35). Jeremias lamentava a grande apostasia que invadira Judá, mormente porque ele via a ira de Deus preparando Babilônia para ser a vara do castigo contra o seu povo terreno.
4.     A imoralidade foi condenada como uma forma de idolatria. As pessoas imaginam deuses de acordo com os seus próprios vícios (Jer. 5:1-6; 7:3-11; 23:10-14). A corrupção moral tem uma maneira de abafar o temor de Deus, no coração dos homens. Os próprios sacerdotes tinham-se deixado envolver nisso (Jer. 5:30 ss; 6:13-14; 14:14). Em meio à sua imoralidade e idolatria, Judá conseguira manter sua religiosidade. Mas Jeremias proclamou que a lei moral é mais importante do que as práticas religiosas e cerimônias. O povo de Judá reverenciava a arca (Jer. 3:16), as tábuas da lei (31:31 ss), o templo de Jerusalém (7:4,10 ss; 11:15), o sinal da circuncisão (4:4; 6:10; 9:26) e o sistema de sacrifícios (6:20; 7:21 ss; 11:15; 14:2), mas estava afundado na corrupção moral. Isso também tipifica a Igreja organizada, conforme a vemos hoje em dia no mundo. Uma porca pode ser sacrificada sobre o altar, na forma de música irreverente e de práticas profanas, ao mesmo tempo em que o pastor emprega seu sermão, presumivelmen­te a fim de convocar os homens ao arrependimento.
5.    Julgamento. O profeta pregou o julgamento divino, explicando que o mesmo haverá de descarre­gar-se contra os homens desobedientes. Mas também ensinou que o arrependimento pode arredar o castigo. Jeremias tinha em mente, especificamente, a invasão por parte da Babilônia (Jer. 1:13-16; 4:11,12; 5:15-19; 6:1-15). A Babilônia, pois, era um látego usado por Deus como instrumento, embora também servisse de medida corretiva, porquanto todos os juízos divinos são remediais em sua natureza, e não meramente vingativos. Ver o artigo geral sobre o Julgamento.
6.    Nem todas as religiões são iguais; nem todas as fés religiosas são genuínas. Existem religiões falsas. Jeremias manifestou-se contra os falsos profetas, que tão facilmente enganavam ao povo (Jer. 8:10-17; 14:14-18; 23:9-40). A principal falsidade deles consistia em pregar uma mensagem otimista, ao mesmo tempo em que Deus só pensava em castigar o seu povo terreno.
7.    A esperança, em meio ao juízo divino e à condenação, era um tema constante nas predições de Jeremias. O exílio de Judá era inevitável, embora não houvesse de perdurar para sempre. Haveria de redundar em um digno propósito, visando ao bem do povo judeu, em última análise (Jer. 19:10; 25:11). Nisso consiste a própria natureza do julgamento. O julgamento tem um aspecto remediai, não sendo mera reparação, e, menos ainda, vingança. Ver o trecho de I Ped. 4:6, que ensina essa verdade no tocante ao julgamento dos incrédulos. O próprio hades tem um aspecto remediai, conforme se ve no relato bíblico da descida de Cristo ao hades. Ver o artigo intitulado Descida de Cristo ao Hades. A esperança de Jeremias, em meio ao juízo divino iminente, deu origem a um ato de fé, quando ele comprou um terreno em Anatote (não distante de Jerusalém), pois sabia que o povo de Judá haveria de retomar à sua pátria. É lamentável que o próprio Jeremias tenha sido assassinado no exílio (no Egito), o que significa que o ato de compra do terreno era simbólico, não lhe tendo trazido qualquer vantagem pessoal. Porém, Deus também estava controlando a situação, e podemos ter a certeza de que o profeta nada perdeu, mas somente teve a ganhar.
8.     A Convocação à Religião Vital. Ã semelhança de Paulo, no segundo capitulo da epístola aos Romanos, Jeremias viu que as formalidades religiosas externas são inúteis, a menos que haja uma correspondente vitalidade espiritual, na alma. A confiança de Judá no templo, nos sacrifícios animais, no sacerdócio e no sinal da circuncisão era inteiramente inútil sem a santidade e a dedicação da alma aos princípios espirituais (Jer. 2:8; 5:13; 7:4-15; 8:8; 21—26). Ê mister que os princípios da lei sejam inscritos nos corações dos homens, e não meramente em alguma superfície de escrita (Jer. 31:31-34; 32:40). Se os símbolos externos fossem destruídos, isso não seria o fim do relacionamento eficaz de Deus com os homens (Jer. 33:14-26). Suas alianças continuariam, mesmo sem símbolos externos. Essa é uma verdade que os ramos sacramentalistas da Igreja cristã ainda não conseguiram absorver.
9.     Contemplando a Esperança Messiânica. Jere­mias viu um brilhante e novo dia, que haveria de raiar, apesar da melancolia do momento. Em primeiro lugar, haveria uma restauração do povo de Israel à sua terra, no tempo certo (Jer. 30:17-22; 32:15,44; 33:9-13). Em segundo lugar, haveria o estabelecimento do governo do Príncipe messiânico sobre Israel (Jer. 23:5 ss) e sobre todas as nações da terra (Jer. 3:17; 16:19; 30:9).
15.   A Essência da Fé Religiosa. Os homens ficam ofuscados e escravizados às formas religiosas exter­nas, cerimônias e instituições. Porém, a fé religiosa genuína é, essencialmente, uma condição moral e espiritual, na qual a alma é unida a Deus (Jer. 31:31-34). Esse foi um dos temas fundamentais da prédica do Senhor Jesus, conforme fica demonstrado pelo Sermão da Montanha (Mat. 5—7), um tema que teve continuidade nos escritos de Paulo, do qual o segundo capitulo de Romanos é um bom exemplo.

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