Livro de Isaias


I.  Isaías, o Profeta
1.    Cenário. O versículo de introdução do livro de Isaías situa o profeta durante os reinados de Uzias, Jotâo, Acaz e Ezequias, reis de Judá. O trecho de Isa. 6:1 refere-se, especificamente, à morte do rei Uzias, o que pode ser datado em cerca de 735 A.C. Sem importar o que pensemos sobre os problemas que envolvem a unidade do livro (ver a terceira seção), não há razão alguma para duvidarmos que o profeta Isaías viveu nesse tempo. Isaías, o filho de Amós, proclamou a sua mensagem à nação de Judá e em sua capital, Jerusalém, entre 742 e 687 A.C., o que foi um período crítico para o reino do norte, por causa da invasão assíria, o que resultou no cativeiro assírio (vide). Partes do livro parecem refletir um tempo posterior ao cativeiro babilónico (capítulos 40—66), conforme alguns supõem, o que já teria acontecido após a época de Isaías. Discutimos sobre essa questão na seção mencionada acima.
2.    O Nome. No hebraico, Yeshayahu ou Yeshaya, uma combinação de duas palavras hebraicas cuja tradução seria «salvação de Yahweh». Historicamente, Isaías acompanhou Amós e Oséias, que ministraram na nação do norte, Israel. Miquéias foi contemporâ­neo de Isaías, e também trabalhou no reino do sul, Judá.
3.    Sua Vida. Sabemos que o nome do pai de Isaías era Amós (Isa. 1:1), e que sua esposa era profetisa, embora não saibamos dizer em qual capacidade (Isa. 8:3). Coisa alguma se sabe sobre seus primeiros anos de vida. Com base em Isa. 6:1-8, alguns têm conjecturado que ele era um sacerdote. No entanto, outros pensam que ele pertencia à família real. Isso se alicerça sobre tradições judaicas, as quais, natural­mente, não nos podem dar certeza do que dizem. O certo é que, aos seus dois filhos, foram dados nomes que simbolizavam a iminência do juízo divino. O primeiro deles, «Um-Resto-Volverá» (no hebraico, Shear-yashub; Isa. 7:3) parece que já era homem feito, nos dias de Acaz. O outro filho, de nome «Rápido-Despojo-Presa-Segura» (no hebraico,
Maher-shalal-hashbaz; Isa. 8:3) , tal como seu irmão, recebeu um nome simbólico. É possível que, nesses dois nomes, estejam em pauta tanto o cativeiro assírio quanto o cativeiro babilônico. Quando a nação do norte foi levada em cativeiro, a nação do sul só conseguiu permanecer precariamente, pagando tribu­to (II Cro. 28:21).
Calcula-se que durante quarenta anos, Isaías atuou ativamente como profeta do Senhor, em Judá. Se, afinal de contas, Isaías não pertencia à aristocracia, pelo menos sua habilidade literária confirma sua excelente educação. Sabemos que o seu grande centro de atividades foi Jerusalém, embora não saibamos a que tribo ele pertencia. Mas, levava a sério o seu ofício, usando roupas de linho cru e uma capa de pêlos de cor escura, as vestes próprias de quem lamentava, porquanto o que ele previa para o povo de Israel era extremamente desastroso.
4.   Períodos do Ministério de Isaías.
a. Nos tempos de Uzias (783—738 A.C.) e de Jotão (750—738 A.C., como regente, e então 738—735 como governante único). Nesse primeiro período, Isaías pregava o arrependimento, mas não conseguiu convencer a quem quer que fosse. Então proferiu um terrível julgamento que estava prestes a desabar sobre a nação
b. O segundo período de seu ofício profético começou no início do reinado de Acaz (735—719 A.C.), até o reinado de Ezequias.
c. O terceiro período começou com a ascensão de Ezequias ao trono (719—705 A.C.) até o décimo quinto ano do seu reinado. Depois disso, Isaías não mais participou da vida pública, embora tivesse continuado a viver até o começo do reinado de Manassés. As tradições antigas dizem que ele foi martirizado sendo serrado ao meio, sendo possível que o trecho de Heb. 11:37 faça alusão a isso.
5.    Escritos. Além do livro que tem seu nome (ou, pelo menos, uma porção maior do mesmo), Isaías escreveu uma biografia do rei Uzias (II Crô. 26:22) e outra de Ezequias (II Crô. 32:32). Contudo, essas biografias, com o tempo se perderam. A obra chamada Ascensão de Isaías (vide), naturalmente nada tem a ver, historicamente falando, com o profeta Isaías.
Estilo e Poder. O sexto capítulo nos deixa em um terreno eminentemente místico. Isaías era homem dotado de visões e experiências místicas (ver o artigo sobre o Misticismo). O que ele via e experimentava serviam para dar grande poder ao que ele escrevia. Naquele sexto capítulo, ele registrou a visão que teve de Yahweh; e, apesar de todo o nosso conhecimento de Deus ser necessariamente parabólico, nessa visão a glória de Deus resplandece mediante a inspiração dada a esse profeta. Alguns de seus oráculos mais candentes foram aqueles que descreveram a queda então iminente de Samaria, diante dos assírios (ver Isa. 9:9-10:4; 5:25-30; 28:1-4). Notáveis oráculos messiânicos encontram-se nos trechos de Isa. 9:1-7; 11:1-9; 32:1-8. Os capítulos 40—48 encerram, virtualmente, uma teologia sobre os atributos de Deus. Apresentamos um artigo separado que considera a questão com detalhes, intitulado Isaías, Seu Conceito de Deus. Isaías escrevia com um vigor e uma eloquência sem iguais, entre todos os demais profetas do Antigo Testamento. Com toda a justiça, pois, ele é considerado como o principal dos profetas escritores. Seus escritos antecipavam os ensinamentos bíblicos sobre a graça divina. Sua linguagem é rica e com muitas ilustrações. Seu estilo é severo, apesar de imponente. Suas aliterações e bem calculadas repetições ilustram sua grande habilidade literária, colocando seus escritos numa classe toda à parte. Ele não se precipitava nunca em suas palavras as quais fluíam graciosamente. Sua parábola da vinha (Isa. 5:1-7) serve de excelente exemplo do uso poderoso que ele fazia das palavras. Suas doutrinas normativas eram o reinado e a santidade de Yahweh. Com base nisso, segue-se, necessariamente, o julgamento divino contra os desobedientes. A Assíria estava aterrorizan­do Israel, mas como um terror enviado por Deus contra um povo desobediente. Todavia, Deus estava no controle das coisas. Coisa alguma acontece de surpresa para ele. O propósito de Deus terá de prevalecer, finalmente (Isa. 14:24-27; 28:23 ss). Apesar de suas profecias melancólicas, Isaías previu o dia do triunfo do Bem. Chegará, afinal, o tempo em que a terra encher-se-á do conhecimento de Yahweh, assim como as águas cobrem o mar (ver Isa. 11:9).
II. Pano de Fundo Histórico
O próprio livro de Isaías (ver 1:1) informa-nos de que esse profeta viveu durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá. O trecho de Isa. 6:1 menciona a morte do rei Uzias (cerca de 735 A.C.). Miquéias, outro profeta, foi seu contemporâneo que trabalhou em Judá. O período da vida de Isaías foi um período crítico. No tocante a Israel é um dos períodos mais abundantemente confirmados pelo testemunho histórico e pelas evidências arqueológicas. Foi o tempo em que os grandes monarcas assírios, Tiglate-Pileser III, Salmaneser IV, Sargão e Senaqueribe lançaram-se à tarefa de universalizar o seu império assírio. Parte desse esforço foram as campanhas militares contra o norte da Palestina, o que incluía as nações de Israel e Judá. Parece que Isaías iniciou seu ministério público em cerca de 735 A.C. e continuava ativo até tão tarde quanto o décimo quinto ano do reinado de Ezequias (cerca de 713 A.C.). Talvez tenha vivido até bem dentro do reinado de Manassés. As tradições judaicas afiançam que foi no período desse rei que Isaías foi serrado pelo meio (ver Martírio de Isaías, cap, 5), ao que é possível que aluda o trecho de Heb. 11:37, embora referências e tradições dessa ordem não possam ser comprovadas, podendo ser apenas imaginárias. Seja como for, o trecho de Isaías 1:1 não menciona Manassés, e isso é uma omissão significativa, se Isaías viveu todo esse tempo. Seja como for, seu ministério público poderia ter-se ampliado por quarenta anos; e certamente não envolveu menos do que vinte e cinco anos.
Se os capítulos 40 a 66 não foram originalmente escritos por Isaías, conforme alguns têm pensado, então poderíamos dizer que as profecias de Isaías abordavam, essencialmente, a ameaça assíria, bem como a razão dessa ameaça, a saber, a teimosa desobediência de Israel, a par da indiferença religiosa e da corrupção moral. Se esses capítulos, porém, pertencem genuinamente a Isaías, então devemos considerá-los como profecias, e não como história. Em outras palavras, dificilmente Isaías teria sobrevi­vido até o tempo do exílio babilónico, que é o pano de fundo daqueles capítulos. Porém, ele pode ter visto profeticamente aquele período histórico. Os estudio­sos conservadores preferem tomar o ponto de vista profético. Mas os eruditos liberais consideram que aqueles capítulos são um reflexo histórico, e não declarações preditivas. Nesse caso, teriam sido escritos aqueles capítulos por um outro autor. Se isso é mesmo verdade, então o livro unificado de Isaías aborda tanto o cativeiro assírio quanto o cativeiro babilónico. Ver os artigos separados sobre ambos. Ver a terceira seção, que aborda a questão da unidade do livro de Isaías.
Acabe e seus aliados detiveram, temporariamente, o avanço assírio, por ocasião da batalha de Qarqar, em 854 A.C.; mas isso não fez os assírios desistirem de seus ideais de conquista territorial. Tiglate-Pileser III (745—727 A.C.) invadiu o oeste, conquistou a costa da Fenícia e forçou certos reis, como Rezim, de Damasco, e Menaém, de Samaria {além de vários outros) a lhe pagarem tributo. O trecho de II Reis .’15:19-29 revela-nos isso. Ali esse rei é chamado Pul, que era o seu nome nativo, conforme se sabe mediante fontes informativas babilónicas. Em cerca de 722 A.C., ele conquistou grande fatia da Galiléia e deportou daquela região as duas tribos e meia de Israel que ocupavam a área. E fez aquelas populações se misturarem com outras, conforme era seu costume (II Reis 17:6-24).
Salmaneser V(726—722 A.C.) seguiu na esteira de seu pai, quanto às conquistas militares. Peca, rei de Israel, foi assassinado. Seu sucessor, Oséias, tornou- se vassalo da Assíria. Seguiu-se um cerco de três anos da capital, Samaria, até que o reino do norte, Israel, foi destruído, o que ocorreu em 722-721 A.C. Amós e Oséias foram os profetas do Senhor que predisseram isso. Alguns pensam que Sargão teria sido o monarca assírio que, finalmente, conquistou Samaria e completou a derrota do reino do norte. Seja como for, o trabalho de destruição se completou. Sargão continuou reinando até 705 A.C., tendo ainda feito muitas guerras contra a Âsia Menor, contra a região deArarate e contra a Babilônia.
Senaqueribe, filho de Sargão (705—681 A.C.), invadiu Judá, nação que já se sujeitara a pagar tributo à Assíria. Acaz pagou tributo a Tiglate-Pileser III, e Ezequias foi forçado a fazer o mesmo a Senaqueribe. Foram capturadas quarenta e seis cidades de Judá, e Ezequias, em Jerusalém, ficou engaiolado como se fosse um pássaro, embora a própria cidade não tenha sucumbido. Então Senaqueribe foi assassinado, e seu filho, Esar-Hadom (ver Isa. 37:38) continuou a opressão contra Judá. Alguns pensam que foi por esse poder que Manassés ficou detido por algum tempo na Babilônia (II Crô. 33:11). Judá não caiu totalmente diante da Assíria, mas ficou extremamente debilita­da, e tornou-se uma sombra do que havia sido antes disso.
A Babilônia veio então a substituir a Assíria como potência mundial dominante e foram os babilônios quem, finalmente, derrubaram os habitantes de Judá e os levaram em cativeiro. Os capítulos quarenta em diante do livro de Isaías cobrem esse tempo, ou profeticamente (conforme dizem os estudiosos conser­vadores) ou historicamente (conforme dizem os estudiosos liberais, — que, por isso mesmo atribuem esses capítulos finais de Isaías a um outro autor, que não aquele profeta).
Conforme se pode ver, Isaías (e o deutero-Isaías?) viveu na época em que impérios caíram e se levantaram. Em sua confiança de que nada de mal poderia acontecer a um obediente povo de Israel, ele partia da idéia de que astribulações do povo de Deus se deviam a causas morais e espirituais, e não apenas políticas e militares. Ele pressupunha que Deus controla todas as coisas, e que todo o desastre que recaiu sobre Israel poderia ter sido impedido, se o povo de Deus se tivesse mostrado fiel ao Senhor. Porém, o que sucedeu foi precisamente o contrário. As nações de Israel e Judá haviam caído em adiantado estado de ‘decadência moral e espiritual. Na primeira metade do século VIII A.C., tanto Israel (sob Jeroboão II; cerca de 782—753 A.C.) quanto Judá (sob Uzias) haviam desfrutado de um período de grande prosperidade material. Esse período foi uma espécie de segunda era áurea, perdendo emresplendor somente diante da glória da época de Salomão. Os capítulos dois a quatro de Isaías nos fornecem indicações sobre isso. Mas, ao mesmo tempo que prevalecia a riqueza material, prevalecia a pobreza espiritual, incluindo a mais desabrida idolatria, que encheu a terra (Isa. 2:8). De tão próspera e elevada situação, Israel e Judá em breve cairiam. A Assíria deu início à derrubada; e a Babilônia a terminou.
«Isaías, em seu ministério, enfatizava os fatores espirituais e sociais. Ele feriu as dificuldades da nação em suas raízes — sua apostasia e idolatria — e procurou salvar Judá da corrupção moral, política e social. Porém, não conseguiu fazer seus compatriotas se voltaram para Deus. Sua comissão divina envolvia a advertência de que sobreviria o castigo fatal (Isa. 6:9-12). Dali por diante, ele declarou, ousadamente, a inevitável queda de Judá, e a preservação de um pequeno remanescente fiel a Deus (Isa. 6:13). Todavia, há raios de esperança que alegram as suas predições. Através desse pequeno remanescente, teria lugar uma redenção de âmbito mundial, quando viesse o Messias, em seu primeiro advento (Isa. 9:2,6; 53:1-12). E, por ocasião do segundo advento do Messias, haveria a salvação e a restauração da nação (Isa. 2:1-5; 9:7; 11:1-16; 35:1-10; 54:11-17). O tema de que Israel, um dia, será a grande nação messiânica no mundo, um meio de bênção para todos os povos (o que terá cumprimento somente no futuro), que faz parte tão constante das predições de Isaías, tem merecido para ele o título de profeta messiânico».(Unger, em seu artigo sobre Isaías).
III.  Unidade do livro: Isaías e os Críticos
1.    Ponto de Vista Tradicional. No século XVIII, a unidade do livro de Isaías começou a ser questionada. Até então, o livro inteiro era aceito como produção literária do profeta Isaías, e mais ninguém. Pode-se notar que seu nome figura nos capítulos um, dois, sete, treze, vinte, trinta e sete a trinta e nove. Em apoio a essa contenção, deve-se notar que todos os manuscritos do livro de Isaías apresentam-no como uma unidade. Não há qualquer menção histórica de que algum outro autor esteve envolvido no preparo de qualquer porção dessa produção. Um dos mais bem preservados manuscritos dentre os manuscritos do mar Morto é um completo rolo de Isaías, com data de cerca de 150 A.C. Não há qualquer evidência de interrupção no começo do capítulo quarenta, conforme alguns eruditos liberais têm querido dar a entender.
2.    Um Autor Distinto para os Capítulos 40—66. O primeiro a sugerir um autor distinto de Isaías foi o erudito alemão Doderlein. Esses capítulos finais do livro de Isaías foram chamados de deutero-Isaías. Presumivelmente, um autor desconhecido, que teria escrito durante o exílio babilónico, teria produzido essa adição aos primeiros trinta e nove capítulos.
3.    Uma Outra Divisão: o Trino-Isaías. Eruditos posteriores pensaram ter encontrado ainda um terceiro autor, no capítulo cinquenta e cinco do livro de Isaías, pelo que uma terceira divisão do livro foi proposta, envolvendo os capítulos cinquenta e seis a sessenta e seis.
4.    Explicações das Divisões. Os capítulos quarenta a cinquenta e cinco consistem em uma coletânea de poemas em um novo estilo rapsódico, que alguns atribuem ao período do exílio babilónico de Judá. A crítica da forma (ver o artigo intitulado Crítica da Bíblia) tem procurado separar os elementos dessa seção. Ali encontramos alusões a Ciro, como uma figura que começava a levantar-se. Seria isso uma predição, ou seria história? E também há menção à iminente queda da Babilônia dos caldeus. Se essa seção teve origem imediatamente após a queda da Babilônia, o que ocorreu a 29 de outubro de 539 A.C., então a composição dessa segunda suposta seção do livro de Isaías deve ter sido feita durante esse tempo, ou alguns anos mais tarde. Ciro é especificamente mencionado em Isa. 44:28 e 45:1. A menos que tenhamos aí uma afirmação profética, então pode-se pensar seriamente na possibilidade da existência de um deutero-Isaías, porquanto não haveria como Isaías pudesse ter sobrevivido desde o cativeiro assírio até o cativeiro babilónico. Pois ele teria tido de viver por mais de duzentos anos! Diferenças de estilo, de terminologia e de expressões, quanto a certas ideias, são adicionadas ao argumento histórico. Muitos eruditos modernos, por isso mesmo, creem que essa porção do livro de Isaías deve ser considerada como história, e não como profecia.
Os capítulos cinquenta e seis a sessenta e seis são uma coletânea de poemas similares aos dos capítulos quarenta a cinquenta e cinco. Muitos eruditos creem que foram escritos pelo mesmo autor daquela seção. Ê, nesse caso, então houve somente um deutero-Isaías e não um trino-Isaías. Outros eruditos opinam que essa seção reflete uma escatologia mais avançada, típica de tempos posteriores. E daí supõem que esses capítulos foram, realmente, produzidos mais tarde que a época de Isaías. Além disso, esses estudiosos acham que há um interesse maior pelo culto, nessa seção que seria distinta das outras duas porções do livro. Supõem eles que o conteúdo sugere uma data entre 530 e 510 A.C., talvez da época dos contemporâneos de Ageu e Zacarias. E alguns estudiosos pensam que os capítulos sessenta a sessenta e dois devem ser atribuídos a uma época ainda posterior. Outros pensam que o próprio trino- Isaías consiste apenas na coletânea de poemas escritos por vários autores. Uma data tão tardia quanto 400 A.C. tem sido atribuída a essa alegada terceira seção. Dizem esses estudiosos que os vários autores envolvidos faziam todos parte da escola de Isaías, —pelo que o livro de Isaías teria sido uma compilação de material recolhido no processo de muitos anos. A continuar nesse pé, vai ver que cada capítulo do livro de Isaías teve um autor diferente! Já há quem pense que essa escola de seguidores de Isaías usava seu livro original como um livro de texto, ao qual, periodicamente, foram adicionados novos capítulos!
Respostas dos Defensores da Unidade do livro de Isaías:
1.    O ponto de vista tradicional merece considera­ção. Todos os manuscritos antigos favorecem a idéia da unidade do livro de Isaías. As evidências históricas também. Não há qualquer relato sobre alguma escola de Isaías que tenha compilado gradualmente algum manual profético. Não há evidência histórica em favor de um segundo ou um terceiro Isaías.
2.    O argumento acerca do estilo poderia ter algum peso, pois sabe-se que todo autor tem sua maneira distintiva de exprimir-se, um vocabulário todo seu, e ideias específicas que ele gosta de enfatizar. Todavia, as diferenças não são maiores do que aquelas encontradas, por exemplo, nas obras de Shakespeare, ou nas obras mais volumosas de outro autor qualquer. Além disso, ao escrever sobre diferentes assuntos, qualquer pessoa se utiliza de uma maneira toda própria para expressar-se. Um autor que escreva prosa, também pode escrever poemas; e seu estilo então varia, até mesmo muito. A história nos dá muitos exemplos disso. Um só autor que escreva poesias, fica diferente quando escreve em prosa. Além disso, um Isaías mais idoso, que tivesse escrito certas porções de seu livro mais tarde na vida, poderia ter adquirido certas ideias e certos maneirismos de estilo diferentes da época em que ainda era jovem. Para julgarmos a questão, tornar-se-ia mister, antes de tudo, que fôssemos mestres do hebraico. É quase impossível julgar questões que envolvam estilo. Julgo que poucos dos críticos e poucos dos defensores da unidade do livro de Isaías dominam o hebraico o bastante para fazerem as afirmações que fazem com grande grau de seriedade. E mesmo que tivessem tal conhecimento, ainda assim é difícil julgar questões de estilo.
3.    A crítica que afirma que os capítulos 40-66 são históricos e não proféticos, repousa sobre a suposição de que não há tal coisa como a capacidade verdadeiramente profética. O fato de que o nome de Ciro é mencionado é, para os críticos, uma clara indicação de que esta porção de Isaías foi escrita depois do cativeiro babilónico. Sabemos, todavia, que o homem possui o poder de precognição, fato esse abundantemente ilustrado através dos estudos daparapsicologia. É raro, obviamente, que um místico moderno preveja nomes muito antes dos acontecimen­tos, mas até isto acontece. Também, não devemos esquecer do poder de Deus que dá aos profetas uma capacidade extraordinária. Supomos que Isaías era um verdadeiro profeta e que foi capaz de prever o futuro. Os estudos mostram que todas as pessoas, nos seus sonhos, têm uma previsão do futuro. De fato, a experiência psíquica mais comum é o sonho precognitivo. (Ver o artigo sobre Sonhos). Sendo este o caso, não é um grande pulo de fé acreditar que o profeta de Deus, com capacidades além das dos homens comuns, poderia ter verdadeiras visões do futuro remoto. Portanto, a menção de Ciro, por nome, enquanto não uma coisa comum em profecias, não é impossível.
4.    O argumento derivado de diferenças de ideias e ênfases é o mais fraco de todos. Nos capítulos 1-39 nós temos a ênfase sobre a majestade de Deus. A segunda parte do livro é, de fato, mais interessada no culto religioso, seus ritos, leis etc., mas isto dificilmente comprova um autor distinto. Qualquer livro pode ter estes tipos de variações sem indicar que outro escritor esteja envolvido. Diferenças de temas e de ênfase ocorrem em todas as peças de literatura que são conhecidas como dos mesmos escritores. Autores até incorporam contradições de idéias e acontecimentos, e erros crassos. Mas tais coisas não indicam, necessariamente, uma mudança de escritor.
IV.  Autoria e Data
A maior parte dos eruditos acredita que o mesmo escritor produziu os capítulos 1-39. Alguns acham que esta porção sofreu algumas interpolações. O nome de Isaías aparece em 1:1; 7:3; 13:1; 20:2,3; 37:2,5,6,21; 38:1,4,21; 39:3,5,8. É curioso, que não aparece depois do capítulo 39, que é, sem dúvida, um peso em favor da suposição de que os capítulos 40-66 foram escritos por outro autor. De qualquer maneira, o que cremos sobre a autoria, naturalmente, tem um efeito sobre a data ou datas que atribuímos ao livro, ou a partes distintas do mesmo.
Na seção III, pontos um e quatro, oferecemos várias conjecturas acerca da data da composição do livro de Isaías. As ideias diferem desde cerca de 750 A.C. até cerca de 400 A.C., dependendo de quantos autores sentirmos que estão envolvidos nessa obra. Se um único autor escreveu o livro inteiro, então é possível que parte foi escrita tão cedo quanto 750 A.C., embora outras porções só tenham sido escritas no tempo do reinado de Ezequias, o que seria nada menos que uma geração mais tarde. Ezequias é mencionado por várias vezes nesse livro, incluindo em 1:1 (o último nome da lista de reis). Ver também Isa. 36:1,2,4,7,14-16,22:37:1,3,5,9; 38:1,2,35,39; 39:1-5,
8.    Isaías profetizou durante os dias do reinado de Uzias (791-740 A.C.), sendo possível que uma parte do livro tenha vindo dessa época, com outras porções acrescentadas até tão tarde quanto o ano 700 A.C., embora Isaías tenha sido o autor de todas essas porções.
V. Cânon e Texto
Isaías é o mais longo e, em vários sentidos, o mais rico dos livros proféticos do Antigo Testamento. E a canonicidade desse livro é tão antiga quanto aquela atribuída a qualquer outro livro profético do Antigo Testamento. A experiência demonstra que os escritos e as predições de um profeta garantem sua aceitação e reconhecimento quase imediatos, se o seu autor foi uma figura notável. Podemos supor que a preservação dos escritos de Isaías, e sua contínua aceitação durante todo o tempo, desde que ele escreveu, confirmam sua posição no cânon desde o século VIII A.C. Todavia, não dispomos de qualquer evidência literária comprobatória acerca do livro de Isaías. O trecho de Eclesiástico 48:22-25(de cerca de 180 A.C.) refere-se às visões do profeta Isaías, sendo esse o primeiro informe histórico a respeito de que dispomos. A passagem de II Crônicas 32:32 menciona as visões do profeta Isaías, correspondente à época da morte do rei Ezequias, ou seja, cerca de 700 A.C. Esse livro vem de depois do cativeiro babilônico, pelo que foi escrito bastante tempo depois do próprio Isaías. As tradições judaicas atribuem esse livro de II Crônicas a Esdras(cerca de 538 A.C.), embora alguns estudiosos liberais pensem que só foi escrito no século III A.C. Seja como for, essa referência é nossa mais antiga informação sobre Isaías, dentro da Bíblia, mas fora do próprio livro de Isaías. Serve de confirmação do grande poder espiritual de Isaías, como profeta. E podemos supor que isso reflete a posição canônica de seu livro, que desde o começo, recebeu condição quase canônica, e que se tornou plenamente canônico não muito depois de sua morte.
Texto. Antes da descoberta dos Manuscritos (Rolos) do Mar Morto (vide), não havia rolos de Isaías de antes da época de Cristo. Os estudiosos tinham de confiar na exatidão geral do chamado texto massorético(vide). A LXX não difere em grande coisa daquele texto. E a cópia completa do livro de Isaías, descoberta nas cavernas que margeiam o mar Morto, é bastante parecida com o texto tradicional, excetuando quanto à vocalização, à soletração de palavras e outros pequenos pontos, como um uso diferente do artigo, de certas preposições e de certas conjunções. As variações são mais numerosas do que os tradicionalistas poderiam esperar, mas não são tão grandes a ponto de ser alterada qualquer ideia ou a substância da mensagem do livro. Há evidências de que os escribas dos séculos anteriores a Cristo se mostraram muito cuidadosos na cópia, embora não tão cuidadosos quanto os escribas judeus da época medieval. Seja como for, o texto massorético (ver sobre Massora) pode ser atualmente acompanhado, em todos os seus pontos essenciais, de volta até cerca de 150 A.C., data em que foi escrito o rolo de Isaías encontrado nas cavernas de Qumran, perto do mar Morto.
VI.  Isaias, Seu Conceito de Deus
Os capítulos quarenta a quarenta e oito apresentam um notabilíssimo estudo acerca de Deus e seus atributos. Textos de prova, extraídos desses capítulos, têm sido tradicionalmente usados pelos teólogos, como bases deváriàs asserções. Apresentamos um artigo separado sobre esse assunto, com o título de Isaías, Seu Conceito de Deus.
VII.  Ideias Teológicas
Quanto à doutrina de Deus, no livro de Isaías, oferecemos um artigo separado. Ver sob a seção sexta. Outros notáveis ensinos e ênfases do livro de Isaías são os seguintes:
1.   Contra a Idolatria. O lapso de Israel nesse pecado e em outros levou Isaías a escrever seu livro, porquanto viu que o desastre esperava o desobediente povo de Israel. O trecho de Isa. 40:12-31 é uma ótima peça literária contra os ídolos mudos, que pessoas insensatas fabricam, em substituição a Deus. Outras condenações da idolatria acham-se em Isa. 2:7,8,18, 21,22; 57:5-8. Ver também o artigo sobre a Idolatria.
2.    A Providência e a Soberania de Deus. Deus governa os indivíduos e as nações. Essa é uma verdade que empresta grande peso à profecia, porquanto Deus age a fim de corrigir os pecadores em seus erros; e essa correção, às vezes, é feita de maneira desastrosa para os desobedientes. A Assíria aparece como instrumen­to nas mãos de Deus, em Isa. 10:5. Ela era a vara da ira de Deus. Fora enviada para punir a hipócrita nação de Israel (vs. 6). Contudo, a providência divina também tem o seu lado positivo. Pode abençoar e destina-se a abençoar àqueles que se arrependem e vivem em consonância com os princípios espirituais verdadeiros. Deus exerce controle sobre a cena internacional, conforme é ilustrado em certas porções dos capítulos dez e trinta e sete do livro de Isaías.
3.    O Pecado do Homem. Quanto a essa questão há vívidas descrições no livro de Isaías. Esse pecado é escarlate (Isa. 1:18); por causa do pecado os corações dos homens se afastam para longe de Deus (Isa. 29:13), seus pés correm para praticar o mal, e eles apressam-se por derramar sangue inocente (Isa. 59:7). Aqueles que rejeitam o pecado podem esperar pelo favor divino (Isa. 56:2-5). Deus ouve a causa dos oprimidos (Isa. 1:23). Os orgulhosos são repreendi­dos, mas os humildes são exaltados (Isa. 22:15-25).
4.    Redenção. Esse é um dos principais temas do livro de Isaías. Por isso mesmo esse profeta tem sido chamado de o evangelista do Antigo Testamento. Suas declarações proféticas têm um caráter nitida­mente messiânico. Ele via quão inadequados eram os sacrifícios de animais e os ritos religiosos (Isa. 1:11-17; 40:16). Apesar disso, ele aconselhava a devida observância das obrigações religiosas (Isa. 56:2; 53:10). O capítulo cinquenta e três encerra a famosa passagem do Servo sofredor (o Messias), que tem sido citada com tanta frequência pelos cristãos, como textos de prova acerca de Jesus e de seu caráter messiânico, como o grande sacrifício expiatório. O capitulo cinquenta e cinco salienta a salvação eterna posta à nossa disposição. Isa. 55:5 prediz a salvação das nações gentílicas.
5.    Os Poemas do Servo. Esses poemas talvez aludam a Israel ou Jacó, indicando mais especifica­mente a nação de Judá. Porém, há vezes em que esses poemas aludem claramente ao Messias, o filho de Judá. Alguns eruditos, que não dão o devido valor à profecia, e que objetam à prática de alguns, que torcem passagens a fim de encontrar ali menções ao Messias, afirmam que essas passagens são referências estritamente contemporâneas à nação de Israel. O exame de todas essas passagens, porém, demonstra o tom messiânico que algumas delas inegavelmente têm. Ver Isa. 41:8—53; 42:1-9; 49:1-6; 50:4-10; 44:1,2,21,26; 45:4 e 48:20. Ezequiel mostrou-nos a dualidade de uso que se encontra no livro de Isaías. O trecho de Isaías 37:25 chama de servos de Deus tanto à nação de Israel quanto ao Rei messiânico. Notemos como, em Isaías 42:1-6, o servo é ungido pelo Espírito de Deus para uma grandiosa obra de testemunho e de julgamento. Esses versículos descrevem o Messias, e o trecho de Mat. 12:18-21 cita aquela passagem de Isaías.
6.     Escatologia. Acima de tudo, Isaías é um livro profético, e destacar todas as profecias seria apresentar, virtualmente, um tabela do conteúdo do livro. A natureza constante desse elemento, pois, damos na décima seção, intituladaEsboço do Conteúdo. Há predições sobre o reino de Deus em Isa. 2:1-5; 11:1-16; 25:6-26:21; 34 e 35; 52:7-12; 54; 60; 65:17-25; 66:10-24. A ressurreição de Cristo e a sua volta aparecem em Isa. 25:6—26:21. Isaías 34 apresenta Edomcomo o inimigo escatológico do povo de Deus, em um sentido simbólico. O quarto versículo desse capítulo foi citado por Jesus acerca de sua própria vinda (Mat. 24:29), como também é feito em Apocalipse 6:14. O retorno de Israel à sua terra e o reino milenar de Cristo são descritos em Isaías 35. Certas profecias a curto prazo dizem respeito, essencialmente, à invasão e ao cativeiro assírios (Isa. 10:5 ss, 36). O trecho de Isaías 39, porém, olha para mais adiante no tempo, ao cativeiro babilónico de Judá. Isaías 53 é a passagem messiânica mais notável de Isaías, onde são descritos os sofrimentos de Cristo.
VIII. Isaías no Noto Testamento
Os escritores do Novo Testamento muito se utilizaram dos escritos de Isaías. Há pelo menos sessenta e sete citações claras desse livro, no Novo Testamento, a saber:
ISAÍAS                   NOVO TESTAMENTO
1:9                         Rom. 9:29
6:9                         Luc. 8:10
6:9-10                    Mat. 13:14-25; Mar. 4:12; Atos 28:26,27
6:10                       João 12:40
7:14                       Mat. 1:23
8:8,10 (LXX)           Mat. 1:23
8:12-13                  I Ped. 3:14-15
8:14                       Rom. 9:33; I Ped. 2:8
8:17 (LXX)              Heb. 2:13
8:18                       Heb. 2:13
9:1-2                      Mat. 4:15-16
10:22                     Rom. 9:27,28
11:10                     Rom. 15:12
22:13                     I Cor. 15:32
25:8                       I Cor. 15:54
26:20                      Heb. 10:37
28:11-12                 I Cor. i4:21
28:16                      Rom. 9:33; 10:11; I Ped. 2:6
29:10                      Rom. 11:8
29:13 (LXX)            Mat. 15:8-9; Mar. 7:6-7
29:14                      I Cor. 1:19
40:3                        Mat. 3:3; Mar. 1:3; João 1:23
40:6-8                     I Ped. 1:24-25
40:13                      Rom. 11:34; I Cor. 2:16
42:1-4                     Mat. 12:18-21
43:20                      I Ped. 2:9
43:21                      I Ped. 2:9
44:28                      Atos 13:22
45:21                      Mar. 12:32
45:23                      Rom. 14:11
49:6                        Atos 13:47
49:8                        II Cor. 6:2
49:18                      Rom. 14:11
52:5                        Rom. 2:24
52:7                        Rom. 10:15
52:11                      II Cor. 6:17
52:15                      Rom. 15:21
53:1                        João 12:38; 10:16
53:4                        Mat. 8:17
53:7-8 (LXX)            Atos 8:32-33
53:9                        I Ped. 2:22
53:12                      Luc. 22:37
54:1                        Gal. 4:27
54:13                      João 6:45
55:3 (LXX)               Atos 13:34
56:7                        Mat. 21:13; Mar. 11:17; Luc. 19:46
59:7-8                     Rom. 3:15-17
59:20-21                 Rom. 11:26-27
61:1-2                     Luc. 4:18-19
61:6                        I Ped. 2:9
62:11                      Mat. 21:5
64:4                        I Cor. 2:9
65:1                        Rom. 10:20
65:2                        Rom. 10:21
66:1-2                     Atos 7:49-50
Que Isaías previu a vinda do Messias é fato aceito por todo o Novo Testamento. Algumas das citações acima são didáticas; mas a maioria delas é de natureza preditiva sobre o Cristo ou sobre as circunstâncias de seu período na terra. Algumas delas podem ser aplicadas ao Novo Israel, a Igreja, conforme se vê em I Ped. 2:9 (Isa. 43:20,21). Outras situam Israel em relação à Igreja, como em Rom. 9:27,28 (Isa. 10:22 e 1:9). A natureza dessas predições tem feito o livro de Isaías ser chamado de evangelho do Antigo Testamento.
IX.    Problemas Especiais
1.   A unidade do livro de Isaías, o que foi discutido na terceira seção, acima.
2.   O nascimento virginal de Jesus (comparar Isa. 7:14 e sua citação em Mat. 1:22,23). Esse problema tem sido considerado suficientemente importante para merecer um artigo em separado. Ver Nascimento Virginal de Jesus: História e Profecia em Isaías 7:14 e Mateus 1:22,23.
3.   O problema do significado da palavra «servo». Ver sob a oitava seção quinto ponto.
4.   O problema da profecia preditiva. Os eruditos liberais não se deixam impressionar pela tradiçao profética, supondo que os eruditos conservadores estão sempre vendo coisas, no texto do Antigo Testamento, como se ali estivesse o Novo Testamento em potencial. Segundo diz esse mesmo argumento, os conservadores estariam sempre procurando encontrar predições acerca dos últimos dias (que corresponde­riam à nossa própria época), o que, para os liberais ê uma atividade sem proveito. Apesar dessa acusação ter certa dose de razão, não há como negar a existência e a exatidão da tradição profética. Esse problema destaca-se mormente na questão da unidade do livro. O próprio Isaías poderia ter previsto Ciro, chamando-o por seu nome próprio? ou um outro autor qualquer teria estado envolvido na escrita dos capítulos 40 a 66 de Isaías, cujo autor teria vivido em tempos posteriores, pelo que escreveu história, e não profecia preditiva? Ver uma discussão sobre isso em III. 4, e também sob Respostas dos Defensores da Unidade do Livro de Isaías, em seu terceiro ponto.
Apesar de ser verdade que o Messias não é mencionado no Antigo Testamento com a extensão que alguns intérpretes supõem, é muito difícil imaginar que Isaías não escreveu sobre o Messias em muitos trechos do seu livro. A oitava seção deste artigo alista grande número de profecias de Isaías, referidas no Novo Testamento, onde a teoria das profecias messiânicas é abundantemente comprovada. Assim, se os intérpretes modernos, que encontram alusões claras ao Messias, no livro de Isaías, estão equivocados, também o estavam os escritores sagrados do Novo Testamento, o que é um absurdo.
X.   Esboço do Conteúdo
Em Quatro Divisões Principais:
1.   Profecias de Cumprimento a Curto Prazo (Isa. 1:1—35:10).
Temos aí a condenação da nação de Israel por causa de suas corrupções, com predições de desastres, produzidos pela invasão e pelo cativeiro assirios. Várias outras nações também são denunciadas, havendo predições de condenação contra elas.
2.   Os Capítulos Históricos (Isa. 36:1—39:8).
Descrição da invasão pelas tropas de Senaqueribe; a enfermidade de Ezequias e sua recuperação. Menção à missão de Merodaque-Baladã.
3.   Profecias Preditivas Sobre a Babilônia (Isa. 40:1—45:25)
Antecipação da invasão e do cativeiro babilónicos. Para os estudiosos conservadores, isso envolve predição; mas muitos estudiosos liberais preferem pensar que essa seção do livro de Isaías é histórica, tendo sido escrita por algum outro autor, que eles intitulam de deutero-Isaías.
4.     Várias Profecias Preditivas (Isa. 46:1—66:24).
Essa seção contém muitas e diferentes profecias, sobre vários assuntos, além de muitos ensinamentos morais e espirituais. Essa quarta seção não pode ser esboçada de forma coerente, por causa da natureza miscelânica do material ali constante, reunido sem qualquer estrutura interna.
Um Esboço Detalhado:
I.     Profecias e Instruções a Curto Prazo (Isa. 1:1—35:10)
1.    Judá e Jerusalém e Acontecimentos Vindouros (1:1—13:6)
a.    Introdução ao livro e ao seu assunto (1:1-31)
b.    A purificação e a esperança milenar (2:l-4:6)
c.    Punição de Israel devido ao seu pecado (5:1-30)
d.    A chamada e a missão de Isaías (6:1—13)
e.    Predição acerca do Emanuel (7:1-25)
f.    Invasão e cativeiro assírios (8:1-22)
g.    Previsão acerca do Messias (9:1-21)
h.    O látego assírio (10:1-34)
i.     A restauração e o milênio (11:1-16)
j.     O culto durante o milênio (12:1-6)
2.    Denúncias Contra Várias Nações (13:1—23:18)
a.    Babilônia (13:1—14:23)
b.    Assíria (14:24-27)
c.     Filístia (14:28-32)
d.     Moabe(15:l—16:14)
e.     Damasco (17:1-14)
f.     Terras para além dos rios da Etiópia (18:1-7)
g.    Egito (19:1-25)
h.    A conquista da Assíria (20:1-6)
i.     Áreas desérticas (21:1—22:25)
j.     Tiro (23:1-18)
3.    O Estabelecimento do Reino de Deus (24:1- 27:13)
a.     A grande tribulação (24:1-23)
b.     A natureza do reino (25:1-12)
c.     A restauração de Israel (26:1—27:13)
4.     Judá e Assíria no Futuro Próximo (28:1—35:10)
a.     Catástrofes e livramentos (28:1-33:24)
b.     O dia do Senhor (34:1-17)
c.     O triunfo milenar (35:1-10)
II.     Descrições Históricas (Isa. 36:1—39:8)
1.     A invasão de Senaqueribe (36:1—37:38)
2.     Enfermidade e recuperação de Ezequias (38:1-22)
III.    Profecias Concernentes à Babilônia (Isa. 40:1 —45:13)
1.     Consolo para os exilados: promessa de restauração (40:1-11)
2.     O caráter de Deus garante o consolo (40:12-31)
3.     Yahweh castigará a idolatria por meio de Ciro (41:1-29)
4.     O Servo de Yahweh, o Consolador (42:1-25)
5.     Restauração: a queda da Babilônia (43:1— 47:15)
6.     Exortação para que sejam consolados os restau­rados do cativeiro babilónico (48:1-22)
IV.   O Servo e Redentor e as Coisas Finais (Isa. 49— 64)
1.     Livramento final do sofrimento pelo Servo de Deus (49—53)
2.     A salvação e as suas bênçãos (54 e 55)
3.     Repreensão a Judá, por causa de seus pecados (56—58:15)
4.     O Redentor divino redimirá a Sião (58:16-62)
5.     A vingança do Messias e a oração de Isaías (63:7—64:12)
6.     A resposta de Deus e o reino prometido (65 e 66)
************
ISAlAS, SEU CONCEITO DE DEUS
Esboço:
Introdução
I.    Teísmo
II.   Deus de Juízo
III.  Deus de Perdão: Deus é Redentor
IV.  Os Atributos de Deus
V.   A Natureza de Deus
Introdução
Os filósofos tentam provar a existência de Deus. É razoável supor que deve haver uma primeira causa, e que a imensidade que vemos ao nosso redor, com nossos próprios olhos nus ou mediante o uso de instrumentos (telescópios, radiotelescópios, micros­cópios, etc.), não pode ter-seauto-originado. É lógica simples supor que o desígnio que pode ser visto nas coisas deve ter sido determinado por uma mente inteligente, e não pelo mero acaso, que teria operado de forma caótica. Não é contrário à razão pensarmos que o propósito que pode ser percebido em todas as funções da natureza subentende a atividade de um Criador inteligente. E os próprios teólogos não combatem essa atividade racionalista, visto que qualquer teologia sistemática que possamos selecionar conta com uma seção que aborda essas questões. É uma necessidade imperiosa que a justiça, finalmente, terá de ser feita, e que deve haver um Deus que tanto é poderoso quanto é suficientemente sábio para impor a justiça. Mediante o uso de nossa razão, também podemos afirmar muitas coisas sobre a natureza de Deus, inteiramente à parte da revelação; e isso porque a mente humana, afinal de contas, é criação de Deus e deve ter alguma afinidade com Ele. Sem dúvida, há grande harmonia entre a revelação e a razão, uma vez que a razão tenha sido devidamente disciplinada.
Porém, o quadro bíblico acerca de Deus depende da revelação, e não da razão humana. Do começo ao fim, a Bíblia pressupõe a existência de Deus, em vez de tentar prová-la, embora ela contenha muitas informações que podem ser utilizadas como a base de provas racionalistas. A voz dos profetas fala na Bíblia, e, quando damos ouvidos a essa voz, aprendemos muitas coisas a respeito da natureza de Deus.
Uma seção bíblica especialmente rica sobre a natureza e os atributos de Deus se encontra no livro de Isaías, capítulos 40-48. O presente artigo está alicerçado sobre essa porção do livro de Isaías. A discussão está dividida em cinco tópicos, segundo se vê no esboço, acima.
I. Teísmo
1.    Definição Básica. Existe um Deus pessoal. Ele criou tudo e continua a manter contacto com a sua criação. Ele guia, recompensa, castiga e intervém na história da humanidade. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento são acentuadamente teístas em sua postura, incluindo aqueles capítulos do livro de Isaías que estamos discutindo, segundo demonstraremos abaixo.
2.    Ideias Contrastantes
a.    Deísmo. Existiria um Deus, um deus ou alguma força cósmica (pessoal ou impessoal). Porém, essa força não mantém o contacto com a criação. Antes, as leis naturais seriam o fator governante no Universo, e não algum Deus vivo e pessoal. — Na teologia, isso significa que Deus transcende e se mantém totalmente distante do mundo, sua criação, sem qualquer relação íntima com o mesmo. Tal posição deve ser contrastada com a teologia da imanência de Deus. O conceito deísta, como é óbvio, é contrário à teologia bíblica.
b.   Ateísmo. Pode-se falar de modo significativo sobre Deus, um deus ou deuses; mas as evidências de que dispomos são negativas. Deus não existe. Essa posição, contrária à Bíblia, usualmente, alicerça-se sobre as inadequações morais do homem, por causa das quais ele rejeita qualquer autoridade acima dele mesmo, ou sobre sua incapacidade de explicar a presença do mal no mundo, se é que realmente existe um Deus Amoroso, Todo-Poderoso e Todo-Conhecedor.
c.   Agnosticismo. Pode-se falar de modo significati­vo sobre Deus, um deus ou deuses, mas as evidências que temos são insuficientes, positiva ou negativa­mente, para nos permitir fazer qualquer asserção dogmática. Em outras palavras, não sabemos se Deus existe ou não, e nem dispomos de informações adequadas que nos permitam tomar uma decisão inteligente a respeito. Talvez Deus seja a fopte originária de todas as coisas, mas ele mesmo ou é desconhecido ou não pode ser conhecido.
d.    Panteísmo. Deus é a totalidade da realidade. Tudo quanto existe é Deus, e Deus é tudo quanto existe, incluindo a vegetação… os minerais… as pessoas. Visto que, de acordo com essa ideia, Deus não é um Ser pessoal, de acordo com a definição bíblica o panteísmo é uma variação do ateísmo.
e.    Positivismo Lógico. Essa é uma forma científica do ceticismo. O cetismo afirma que não existe tal coisa como conhecimento seguro, e que, quando muito, só podemos conviver com uma série de aproximações da verdade. Ocético confirmado é alguém que pensa que essa situação prosseguirá para sempre, que o conhecimento nunca será alcançado. O positivismo lógico assevera que nossas aproximações precisam ser conseguidas através do método científico (empírico). A revelação é assim rejeitada como um meio de se obter conhecimentos. As proposições teológicas, incluindo aquela que diz: «Deus existe», são destituídas de sentido para os positivistas lógicos. E igualmente sem sentido é aquela outra proposição que diz: «Deus não existe». Em outras palavras, nada temos a dizer sobre o sujeito que transmite «conhecimento», visto que tais proposições ficam fora do terreno da inquirição científica.
Por todas as suas páginas a Bíblia pressupõe a existência de Deus. Essa ideia se alicerça, essencial­mente, sobre o pressuposto de que o conhecimento dado através da revelação é um conhecimento válido, sem importar se podemos submetê-lo a exame de microscópio, em algum laboratório. No primeiro capítulo de Romanos, Paulo afirma que Deus pode ser conhecido através da luz que nos é dada mediante a natureza, o que se torna um meio secundário de conhecermos a Deus, um meio em parte racional, em parte empírico.
3.    O Teísmo em Isaías 40—48:
Em Isa. 40:1 ss Deus consola o seu povo, pelo que tem contacto com eles, sempre interessado em suas vidas. Isso é teísmo em contraste com o deísmo. Em Isa. 40:11. Deus alimenta o seu povo, como um pastor faz com o seu rebanho. Isso envolve uma preocupação teísta. Em Isa. 41:13 Deus aparece ocupado em ajudar o seu povo. Em Isa. 42:16 Deus mostra o caminho aos homens; ele os guia, mesmo que eles ajam como cegos, e nunca os abandona. Em Isa. 43:1,2 Deus aparece como quem redime o seu povo em tempos difíceis. Ele os livra de seus inimigos. Em Isa. 43:5 lemos que a herança de Deus não deve temer, porquanto Deus tem um desígnio para os homens e para as nações. Nesse caso, a restauração do povo de Israel está em pauta. Portanto, as coisas não acontecem por puro acaso, segundo alguns filósofos têm proposto. Em Isa. 45:25 vemos que o interesse de Deus por Israel garante o bem-estar e a glorificação finais de seu povo. Em Isa. 46:4 aprendemos que Deus acompanha os membros de seu povo até à idade avançada, pois seu cuidado por eles não muda em nada com a passagem dos anos. Em Isa. 48:17 vemos que Deus nos ensina o que é «proveitoso», guiando-nos pelo caminho pelo qual devemos palmilhar.
Essa seleção (dentre uma variedade ainda maior) mostra-nos que Deus deve ser considerado Alguém que está interessado por nós. As seções II e III deste artigo, que mostram qúe Deus castiga e galardoa, também são provas insofismáveis do conceito teísta. Deus se interessa pelas vidas dos indivíduos e das nações. Logo, Deus não é sempre e totalmente transcendental, conforme o deísmo assevera.
II.  Deus de Juízo
1.    Contra os pagãos. Em Isa. 40:15 ss, os ímpios, considerados em pouca monta, são julgados. Em Isa. 41:11,12, lemos que os perseguidores serão julgados. Em Isa. 42:13-15 aprendemos que alguns homens, em sua perversão, se fazem adversários de Deus, atraindo assim a indignação do Senhor contra eles mesmos. Em Isa. 44:9 ss lemos que certas nações específicas são julgadas por pecados específicos. Os pecados secretos também não escapam (vs. 10).
2.    Contra o povo de Deus. Em Isa. 41:23,24, é-nos mostrado que quando o povo de Deus age como se fosse pagão, — compartilha do castigo destinar do aos pagãos. Em Isa. 42:24,25 vemos que jacó pode tornar-se — um despojo — se não caminhar pela vereda de Deus. Em Isa. 43:28 lemos que príncipes e mestres são destacados como aqueles que merecem ser julgados, se não cumprirem os seus deveres. Em Isa. 48:1,2 aprendemos que os hipócritas jamais escaparão. Em Isa. 48:3 a rebelião é condenada. Em Isa. 48:5, embora a idolatria possa ser praticada pelo povo de Deus, este não escapará ao juízo divino. Em Isa. 48:9-11 vemos que os julgamentos de Deus são remediais, e não meramente retributivos. Em Isa. 48:22 somos informados de que é impossível a paz sem a retidão. Mediante meios gentis, não mais severos que os homens e as nações são capazes de suportar, Deus aplica os seus juízos
III.  Deus de Perdão: Deus é Redentor
A teologia bíblica apresenta Deus como o Redentor, e não meramente como o Criador. A iniciativa é de Deus, e isso com base no amor divino. A passagem de Isaías 40—48 ilustra amplamente esse princípio.
Isaías 40:2,3. Essa seção começa com uma chamada ao consolo, pois um Deus remidor se move entre o seu povo. Isaías 41:14 — esse versículo chama Deus, especificamente, de Redentor. Isaías 42:1 — esse trecho refere-se à missão remidora do Messias, salientando uma das mais bem conhecidas profecias messiânicas. A redenção dá-se por .meio de Cristo. Isaías 42:6 — esse versículo ensina-nos que a missão remidora de Cristo inclui, necessariamente, os gentios. Isaías 43:11. Deus é um Salvador sem-par, não havendo outro que salve. Isaías 43:14. Novamen­te, Deus aparece especificamente como Redentor de seu povo. Isaías 43:25. A redenção inclui a anulação do pecado. Nossos pecados nos são perdoados. Isso é mencionado de novo em Isaías 44:22, onde é diretamente vinculado ao conceito da redenção. Isaías 46:13. O ato da vontade de Deus assegura, inevitavelmente, o exercício de sua redenção. Isaías 47:4. O Senhor dos Exércitos é Redentor. Isaías 48:17. Deus concede bênçãos proveitosas ao seu povo, guiando-o pelo caminho que deve seguir. Isaías 48:20. O perdão divino e a redenção de seu povo são causas de grande júbilo. Apesar dessa profecia envolver, primariamente, o livramento da servidão à Babilônia, o fato de que até os confins da terra haverão de ouvir tais notícias mostra-nos a universali­dade da redenção.
IV.  Os Atributas de Deus
Os capítulos de Isaías que estamos estudando ilustram o grande número dos atributos de Deus. O estudo aqui exposto é feito mediante a listagem de todos os atributos divinos discutidos na teologia sistemática de Lewis Sperry Chafer. Cada item dessa sua lista pode ser consubstanciado por um versículo ou mais, extraídos dos capítulos do livro de Isaías que estamos considerando.
1.    Personalidade (Isa. 40:1,5). Deus é uma pessoa que consola, julga, orienta, galardoa e castiga. Deus não é apenas alguma força cósmica e impessoal. Tudo quanto foi dito no primeiro capítulo, sobre o Teísmo, aplica-se aqui. Deus fez o homem (uma pessoa) à sua própria imagem (Gên. 1:26,27). A similaridade de naturezas pode ser vista como inerente a Deus e ao homem. Ele (Deus) é uma Pessoa, dotada daquelas faculdades e elementos constitutivos que fazem parte da personalidade.
2.    Onisciência (Isa. 40:13,14; 46:10). Esses textos não declaram um conhecimento absoluto da parte de Deus; mas subentendem isso, ao falarem de um conhecimento imenso. Outros trechos bíblicos, como II Reis 13:19 e Jer. 38:17-20, ensinam a mesma coisa. Ver também II Crô. 16:9.
3.    Santidade (Isa. 40:25). A santidade de Deus não tem igual. Em Isaías 41:16 aprendemos que essa santidade é contrária à falsidade e à idolatria. Em Isaías 44:9-18, que Deus julgará a idolatria. Em Isaías 45:11, que o Senhor de Israel é o Santo.
4.    Justiça (Isaías 40:15-17). As nações são reputadas em nada, porquanto têm transgredido contra a retidão e não se têm arrependido. Em Isaías 41:10 lemos que o poder sustentador de Deus se alicerça sobre sua retidão. Em Isaías 41:26 descobri­mos que o julgamento contra a idolatria será severo.
5.    Amor (Isaías 49:1,2). Deus consola o seu povo. Isaías 41:9. O amor de Deus é a base da escolha que ele fez de seu povo. Isaías 42:16. Deus guia os cegos pelo caminho e retifica as veredas tortuosas. Isaías 43:3,4. Deus dá forças a seu povo para que atravesse as dificuldades. Isaías 42:1 ss. O Amor de Deus está por detrás da missão messiânica.
6.    Bondade (Isaías 40:1,2). O amor de Deus é a fonte de sua bondade. Portanto, tudo quanto foi dito no ponto anterior, cabe também aqui. Isaías 43:3 ss nos faz saber que essa bondade opera através do Espírito Santo.
7.    Veracidade (Isaías 40:13,14). Deus é a fonte de todo conhecimento e verdade. Ele é ímpar, não havendo quem possa aconselhá-lo. Isaías 43:9,10. O testemunho e o propósito de Deus são verazes. Isaías 42:3. O juízo divino é efetuado em meio à verdade, isto é, «…de acordo com o perfeito padrão da verdade».
8.    Liberdade da Vontade (Isaías 40:12). Deus é dotado de um poder ilimitado e exerce esse poder de acordo com sua própria vontade. Ninguém lhe diz o que deve fazer. Isaías 43:21. Sua vontade mostrou-se soberana, quando ele escolheu o seu povo. Isaías 45:23. Deus não tem que prestar contas a quem quer que seja, e a sua vontade fatalmente se cumpre.
9.    Onipotência (Isaías 40:12,17,18,22,24,26,28). O ilimitado poder de Deus é exercido sobre a natureza, entre as feras e entre os habitantes humanos da terra, porquanto ele é o Criador de tudo. Isaías 41:20. O poder do Senhor é empregado em benefício de seu povo. Isaias 45:23. Esse poder divino não conhece restrições.
10.  Simplicidade (Isaías 40:7,13). Deus não é um ser complexo como o homem, por exemplo, que é uma combinação de matéria e de espírito, formando um só ser. A natureza de Deus é simples, pois ele é puro espírito. Essa passagem de Isaías declara a natureza espiritual de Deus.
11.  Unidade (Isaías 43:10,11; 44:8; 45:5,6,21; 46:9; 48:16). Há somente uma essência na natureza de Deus. Embora ele se manifeste como Deus triúno (o que talvez fique implícito em Isa. 42:1,2 — Pai, o Messias (Filho) e Espírito que repousa sobre o «Servo»), ele é um único Deus. Esses versículos mostram-nos que há somente uma essência divina, e, por conseguinte, um único Deus. O trinitarianismo não é triteísmo. …o Senhor nosso Deus é um único Deus» (Deu. 6:4).
12.  Infinitude (Isaías 40:12,14,18). Esses versículos não ensinam a infinitude de Deus em um sentido estrito, mas ilustram a incompreensível imensidade de Deus; e, para todos os propósitos práticos, isso equivale à mesma coisa. Deus, na qualidade de Criador, sempre envolve essa noção, pois quão imensa é a criação! O efeito não pode ser maior do que a causa. Na seção V.5, ilustramos essa verdade. Isaias 44:6. Deus é o primeiro e o último, a medida de todas as coisas, o único Deus. Esses fatos falam sobre a infinitude de Deus.
13.  Eternidade (Isaías 41:4; 43:6; 48:12). Deus pertence ao mundo eterno. Ele não teve principio e nem terá fim. Deus não pode deixar de existir. Na teologia, a palavra «eternidade» pode ter estes dois sentidos: como qualidade — pertencente à ordem eterna; e como uma qualidade temporal — sem começo e sem fim. Deus é o primeiro e o último. Isaias 43:10. Deus sempre foi Deus. Nenhum outro deus formou-se antes ou depois dele. Isaias 43:13 mostrá- nos que Deus existia antes que houvesse dia.
14.  Imutabilidade (Isaías 40:8). Enquanto outras coisas fenecem, Deus permanece para sempre. Isaías 43:6. Deus é o primeiro e o último, sugerindo a expressão «o mesmo ontem, hoje e para sempre». Isaías 48:12. Sendo o primeiro e o último, Deus lançou os fundamentos da terra, o que subentende um Ser constante e eterno.
15.  Onipresença-Imensidade (Isaías 40:12). Os capítulos 40—48 de Isaías não declaram, abertamen­te, que Deus está em toda a parte; mas as dimensões de sua presença aparecem como tão diversas que a onipresença de Deus fica entendida. Em Isa. 40:12 essa onipresença aparece em toda a natureza; e em Isaías 48:13, Deus aparece em toda a sua criação, incluindo a expansão dos céus.
16.  Soberania (Isaías 40:9,12,15—17), Deus faz sua vontade imperar sobre todas as nações e sobre a própria natureza. Isaías 43:13: Deus faz o que melhor lhe apraz, e ninguém é capaz de impedi-lo. Isaías 43:20. Os animais irracionais obedecem à sua vontade. Isaías 43:15. As pessoas existem segundo o bel-prazer de Deus. Isaías 45:23. Toda a criação haverá de prostrar-se diante de Deus, finalmente, porquanto a sua palavra é firme e exerce um infalível efeito. Isaías 46:9. Deus é o único Deus que existe, pelo que somente ele é supremo.
V.   A Natureza de Deus
Algumas coisas, já escritas, dizem respeito à natureza de Deus. Para exemplificar, seus vários atributos certamente ilustram algo de sua natureza fundamental. Ademais, o conceito do teísmo, ventilado no primeiro capítulo, necessariamente subentende algo sobre a natureza básica de Deus.
1.    Deus é Espírito (Isaías 40:7,13; 41:1,5). Na qualidade de espírito, Deus é uma pessoa, e não apenas uma força cósmica (o que é discutido na primeira seção).
2.    Deus ê Eterno (Isaías 40:8). Isso coincide com o décimo terceiro item, a eternidade de Deus, sob atributos, onde damos mais detalhes, com mais alguns versículos.
3.    Deus é um Poder Criativo (Isaías 40:12,28; 42:5; 43:1,14; 44:24). A criação de Deus constitui uma admirável mescla de harmonias e atitudes. Ele fez a criação ser algo agradável a ele, — a qual contém criaturas como ele, dotadas de espírito, por­quanto ele é espírito e intelecto, visto que ele é inteligência capaz de amar. Deus é mais do que um arquiteto, porquanto existia antes do dia e do que ele fez. Deus é o primeiro e o último.
4.    Deus é Onipotente. Isso é abordado no nono item dos atributos, na quarta seção. Deus é imutável, item décimo quarto dos atributos, na quarta seção.
5.    Deus é Independente. Essa é outra maneira de dizermos que Deus é o Criador, e que todas as coisas fora de Deus foram criadas. Somente Deus não pode não existir. Porém, ao redimir os homens, ele lhes confere uma independência derivada. Ver Isaías 40:15-17, quanto a essa independência. O trecho de Isaías 46:5 mostra que ninguém pode comparar-se com Deus. Isaías 46:9 ensina que não existe outro
Deus além do Senhor, não existe qualquer outro poder independente. Todas as coisas são contingentes e dependem de Deus. O ensino sobre a soberania de Deus (item décimo sexto dos atributos, seção quarta) mostra algo paralelo à independência de Deus. Somente um Ser independente poderia ser realmente soberano.
6.    Deus é triúno, mas é somente um Deus. Ver sob o décimo primeiro item, unidade, na discussão sobre os atributos de Deus.
7.    Embora independente, Deus prefere ser depen­dente, porquanto busca o nosso amor e a nossa lealdade. Em Isaías 40:1 ss vemos que ele convoca os homens para que sigam o seu caminho e participem de sua glória. Em Isaías 42:1 ss, aprendemos que Deus enviou o seu Servo, o Messias, com esse propósito distinto. Deus quer que os homens compartilhem de sua glória.
Conclusão
No tocante à doutrina de Deus, os capítulos 40-48 do livro de Isaías são bastante reveladores. O ponto mais surpreendente é que esses capítulos de Isaías incorporam um segmento tão amplo do teísmo bíblico. Quase todos os aspectos dessa doutrina encontram-se ali, pelo menos em forma potencial. Poderíamos dizer que o todo repousa sobre a fé, a fé de que as palavras recebidas pelos profetas são autênticas revelações de Deus. Por outro lado, nossa razão aceita esse esboço geral da doutrina de Deus, como algo que condiz com aquilo que poderíamos esperar que Deus fosse. Além da revelação e da razão, devemos também considerar a experiência humana. Se essa experiência é espiritual, então certamente adiciona seu testemunho à veracidade desse ensino geral.

Nenhum comentário: