Linguagem do Evangelho de Marcos

Entre aqueles que lêem o N.T. em seu original grego, é fato bem conhecido que esse evangelho de Marcos apresenta o exemplo do grego koiné mais inferior, e que, provavelmente em paralelo ao Apocalipse, representa a pior forma do grego de todo o N.T. A falta de polimento do grego de Marcos é obscurecida pela tradução, posto que poucos tradutores imitariam propositalmente os erros gramaticais ali encontrados, somente para serem mais fiéis ao original. Não obstante, até mesmo as traduções refletem os elementos mais inferiores, como o uso frequente da palavra copulativa «e». Por exemplo, dos quarenta e cinco versículos do primeiro capítulo, nada menos de trinta e cinco começam por «e». Doze dos dezesseis capítulos começam pela palavra «e». De um total de oitenta e oito seções e subseções desse evangelho, oitenta começam com «e». Marcos utiliza-se de um vocabulário de cerca de mil duzentos e setenta vocábulos, dos quais apenas oitenta lhe são peculiares. Isso demonstra que ele empregou um vocabulário extremamente comum. Todavia, o que falta a Marcos em estilo e graça, é contrabalançado em novidade e vigor. Em algumas seções, Marcos mostra-se o mais emocional e comovente dos escritores evangélicos. O seu idioma se caracteriza pela simplicidade, mas mesmo assim ele consegue obter certa grandiosidade. Embora o grego «koiné» de Marcos possa ser classificado entre os exemplos mais deficientes do N.T., e que sem dúvida ele se sentia mais à vontade manuseando o aramaico do que o grego (o seu evangelho é o que contém o maior número de aramaísmos), contudo, demonstra que dominava bem o grego koiné coloquial. A seu crédito também poderíamos dizer que ele deve ser relembrado um tanto como inovador literário e como gênio artístico, porquanto inventou uma nova modalidade de literatura. Jamais alguém escrevera coisa alguma parecida com o seu «evangelho», antes dele, ou, pelo menos, não tem sido preservado até nós qualquer exemplar desse tipo de literatura.

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