Introdução à Filemon


Dentro da coletânea paulina há vários agrupamen­tos de epistolas. Naturalmente, há aqueles lugares para onde Paulo escreveu mais de uma epistola, como Corinto, para onde provavelmente escreveu quatro epístolas, que foram reduzidas para duas; — duas foram escritas para Tessalônica; diversas aos filipenses (conforme Policarpo nos informa), das quais temos apenas uma, ou talvez mais de uma preservada em fragmentos; além disso, temos as epistolas pastorais, as quais, embora não tenham sido dirigidas apenas a uma pessoa, são epístolas que têm uma finalidade comum, tendo sido escritas praticamente ao mesmo tempo. Portanto, podemos distinguir a unidade formada por Colossenses, Efésios e Filemom, que foram escritas sob as mesmas circunstâncias, na prisão (sem importar se em Roma, em Cesaréia ou em Éfeso), e, naturalmente, escritas na mesma época, enviadas a igrejas ou pessoas da mesma área geral da Ásia Menor. A grande similaridade entre Efésios e Colossenses é bem conhecida; mas os dados pessoais na epístola a Filemom, em comparação com a epístola aos Colossenses, mostram-nos que essa pequena carta pertence ao agrupamento comum, junto com as outras duas citadas. Essa questão é devidamente ventilada no artigo sobre à epístola aos Colossenses, seção II, intitulada «Data e Proveniência». Por causa dessas circunstâncias, alguns estudiosos têm identificado Filemom com a epístola aos «laodicenses», mencionada em Col. 4:16; e isso faria de Filemom um laodicense, e não um colossense, conforme normalmente se supõe. Naturalmente que isso permanece na dúvida, embora alguns bons nomes do campo da interpretação neotestamentária também tenham apoiado a ideia.
Sete das epistolas da coletânea paulina são comumente chamadas de “epistolas da prisão”, porquanto foram escritas pelo apóstolo, estando ele encarcerado. Essas epístolas são Efésios, Filipenses, Colossenses, as três epistolas pastorais, e Filemom. Tem sido costumeiro atribuir todas elas ao final das atividades de Paulo, pensando que foram escritas em Roma, ou em um dos períodos de aprisionamento, ou em dois períodos, com um intervalo entre os dois. Vários eruditos modernos, porém, creem que o grupo formado por Efésios, Colossenses e Filemom seja produto de um período prévio de aprisionamento, menos sério, que não lhe ameaçou a vida, em Cesaréia ou Éfeso. A teoria do aprisionamento em Êfeso é a que parece mais recomendável. Os argumentos a favor são bons, embora não tenhamos qualquer informação histórica direta a respeito. Se essa ideia é a verdadeira, então esse grupo precede a outras epístolas da prisão por diversos anos. (Quanto às diversas teorias que parecem dar apoio a essa ideia, e quanto a um exame geral acerca do problema, ver o artigo sobre a epistola aos Colossenses, em sua segunda seção).
Com base em questões gramaticais e de estilo literário, uso de palavras e de temas, as epístolas aos Romanos, I e II aos Coríntios e Gaiatas, são reputadas como os «clássicos paulinos», universal­mente reconhecidas, ao ponto de nem mesmo os liberais mais radicais duvidarem de sua autoria paulina. A aceitação de uma delas, como paulina, requer a aceitação de todas as demais; e, em contraposição com isso, a rejeição de uma delas envolve a rejeição de todas, tão convincentes são as evidências internas do fato de que todas saíram da mesma pena. Outras cinco epístolas têm sido adicionadas a essa lista, com pouca hesitação, tanto por liberais como por conservadores. São as epístolas aos Filipenses, aos Colossenses, I e II aos Tessalonicenses e Filemom. Assim sendo, nove epístolas são aceitas com pouca disputa como pertencentes a Paulo. Na ordem de aceitação aparece em seguida a epístola aos Efésios, que virtualmente todos os eruditos conservadores aceitam como paulina, mas do que muitos liberais duvidam. Finalmente, as epístolas pastorais são adicionadas a essa lista pela maioria dos eruditos conservadores.
Quanto a um estudo mais amplo sobre a coletânea paulina, ver o artigo sobre Romanos, primeiros parágrafos, e seção II.
Quanto à epístola a Filemom, apesar dela poder ser agrupada juntamente com Colossenses e Efésios, por terem sido escritas no mesmo tempo e lugar, sob as mesmas circunstâncias, contudo, em seu conteúdo e propósito, é uma epístola ímpar. Ê o mais breve de todos os escritos de Paulo preservados até nós, ocupando menos de uma página. Ê epístola altamente pessoal, escrita a um homem sobre uma questão delicada. Ê um escrito essencialmente não teológico, de cunho ético apenas indiretamente. Contudo, tem um interesse todo próprio, não sendo destituída de importância, sendo, talvez, a mais estética de todas as epístolas de Paulo. Isso foi reconhecido desde o princípio e, por essas razões, foi preservada, não tendo sido considerada indigna de figurar ao lado das grandes epístolas paulinas, formando uma só coleção.

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