Ideias Filosóficas e Teológicas sobre o Homem


1.   Platão pensava que o homem tanto é uma imitação dos universais quanto se torna partícipe dos mesmos em sua alma eterna. Conforme conhecemos o homem, ele é uma unidade tripartível, composta de mente, vontade e paixões. O destino do homem seria a reabsorção pela divindade.
2.   Para Aristóteles, o homem seria uma alma racional, distinto do reino animal. Mas deixou em aberto a questão que indaga se aquilo que é distintivo no homem pode sobreviver ou não à morte biológica.
3.    Hsun Tzu pensava no homem como um ser naturalmente maligno, pelo que o homem precisaria de uma constante e dura disciplina.
4.    Agostinho reputava o homem como uma união de corpo e alma, caído no pecado, mas motivado a atingir a felicidade eterna, que chegaria à sua mais elevada expressão na visão beatífica.
5.    Guilherme de Ockham  entendia que o homem é um suppositum intellectuale, um ser racional auto-existente, semelhante a Deus. Ele combinava o intelecto e a vontade, no homem, como uma única essência, fazendo dessas duas qualidades uma única faculdade.
6.     Para La Mettire, o homem seria apenas uma máquina, um mecanismo destituído de alma.
7.    Holbach  supunha que o homem é uma criatura egoísta, cujas motivações são sempre egocêntricas.
8.   Unamuno não se deixava impressionar pela racionalidade do homem como a sua característica distintiva, dizendo que o homem é apenas carne e ossos. Como uma criatura assim inferior, contudo, o homem teria fome e sede da imortalidade, gastando grande parte de suas energias nessa busca, de um modo ou de outro.
9.    Cassirer  pensava no homem como um ser no qual há muitos símbolos, dizendo que o homem só pode ser conhecido indiretamente, mediante o estudo desses símbolos.
10. Ortega y Gasset  não enfatizava a natureza humana, dizendo que o homem é apenas uma história.
11.  O materialismo  supõe que o homem é apenas uma entidade material, dotada de um cérebro capaz de coisas notáveis, embora sem nada de misterioso, como alguma porção imaterial.
12.    O comunismo , em sua modalidade materialista, supõe que o homem é apenas um animal envolvido na tese, antítese e síntese dos eventos econômicos.
13.  Os filósofos e teólogos cristãos têm defendido diferentes posições sobre o que significa o homem ter sido criado à imagem de Deus. Os mórmons, que crêem na materialidade de Deus, supõem que a sua forma material foi reproduzida no homem. A antiga teologia judaica enfatizava o aspecto moral do homem, como a sua participação na imagem de Deus. Os teólogos conservadores supõem que, por ocasião da queda, o homem perdeu as qualidades essenciais da imagem de Deus, as quais só lhe são devolvidas por ocasião da redenção. Muitos crêem que a imagem de Deus foi retida, sobretudo nos poderes racionais do homem. Outros supõem que a fagulha divina continua existindo, podendo ser atiçada pelos ensinos morais, filosóficos e religiosos. Agostinho, por sua vez, via a ímagem de Deus no homem em sua razão e sua capacidade de buscar e obter conhecimentos sobre a sua própria alma e sobre Deus. A razão do homem ajuda-o a distinguir entre o bem e o mal, algo que, presumivelmente, os animais irracionais não possuem. O homem, como um ser racional, pode pecar; mas até mesmo essa capacidade de pecar mostra que ele retém algo da imagem de Deus.
Os teólogos da Idade Média supunham que o homem, antes da queda no pecado, além de ter a imagem de Deus, também possuia o donum superadditum, isto é, capacidades sobrenaturais. Mas, por ocasião da queda, teria perdido as mesmas, embora tivesse continuado a ter a imagem de Deus, refletida na vontade, na moralidade e no amor. Lutero dizia que o homem perdeu a imagem de Deus por ocasião da queda. Assim, se um homem tiver de usar sua vontade para o bem, se tiver de amar e usar corretamente a sua racionalidade, terá de receber de volta a imagem de Deus, por meio da regeneração. Porém, alguns dos reformadores rejeitaram esse ponto de vista como extremado, referindo-se à imagem de Deus como algo que o homem possuiria em proporções maiores ou menores e, por consequência, negando que a tivesse perdido totalmente, para então a mesma lhe ser restaurada. A imagem de Deus no homem teria sido apenas deformada, e não perdida, por ocasião da queda no pecado.
Para Karl Barth, a Imagem de Deus não corresponde às qualidades de um homem, porquanto dependeria das relações mantidas por ele. Visto que Deus é um ser trino, mantendo Consigo mesmo um certo relacionamento, outro tanto sucedeu ao homem, quando recebeu a mulher, por exemplo; e, daí por diante, estabeleceram-se relações entre cada homem e seus semelhantes. O homem também seria capaz de estabelecer relações com Deus. Deus prometeu ligar o homem a si mesmo, mediante um pacto. Em Cristo, a imagem tornou-se manifesta quando ele chamou a Igreja para ser sua noiva mística. Isso posto, para que tenhamos a verdadeira imagem de Deus, devemos olhar não para cada indivíduo isolado, mas para Jesus Cristo e sua Noiva (a Igreja); pois somente assim entenderemos algo sobre como Deus é e como ele age.
14.    A seriedade do pecado não é apenas um conceito bíblico. Freud ensinava um tipo de psicologia calvinista, segundo o qual as crianças são amedrontadas por toda espécie de monstro, que lhes atormenta as mentes. Os teólogos liberais têm ido longe demais, por verem bondade no homem corrompido; mas os teólogos ultraconservadores também têm exagerado na outra direção, nada encontrando no homem e nem reconhecendo a sua liberdade, capaz de fazer escolhas genuínas e de ser um ente criativo, capaz de realizar coisas estupendas. Os evolucionistas ensinam que o homem vem melhorando gradativamente, em vez de ter piorado, conforme a teologia tem dito. Porém, é inegável que o homem está profundamente corrompido em sua depravação. Duas guerras mundiais muito têm contribuído para destruir o exagerado otimismo dos liberais. Pois isso frisou, uma vez mais, a necessidade que o homem tem de ser regenerado. Barth asseverou que não podemos dizer que o homem se desviou total e completamente de Deus; não porque o homem tenha retido algumas qualidades boas, mas porque Deus, como Pai, não permite que assim aconteça a seus filhos desviados.
Outrossim, em relação ao problema do pecado, temos de considerar o quanto o homem é capaz ou Incapaz de aceitar a graça divina. O calvinismo radical afirma a total incapacidade do homem. Mas o liberalismo radical reduz o problema a tão pequenas dimensões que a graça divina toma-se desnecessária para recuperar o homem. Wesley punha-se em posição de meio termo, ao afirmar que apesar da queda ter tirado do homem a sua capacidade de corresponder, contudo, em Cristo, mediante a graça preveniente, ao homem é dada a capacidade e a liberdade que ele precisa para escolher a Cristo e ao seu caminho. Assim, quem quiser, pode vir a Deus.

Nenhum comentário: