Ensinos de Jesus


Ver o artigo separado sobre Jesus, seção III Ensinos.Em volume, esta seção do artigo citado é maior do que o artigo que segue, portanto, deve ser consultada e comparada.
Nenhum outro aspecto do ministério de Jesus é tão frequentemente salientado nos evangelhos como o seu ensino. Até mesmo questões como a pregação e os milagres envolviam, necessariamente, o ato de ensinar. Em certo sentido, pode-se afirmar que tudo quanto Jesus dizia e fazia tinha por finalidade dar-lhe oportunidade de apresentar o seu ensino. Embora Jesus tenha sido muito mais do que um mestre, a certa altura foi caracterizado como «…Mestre vindo da parte de Deus…» (João 3:2). Pensamos que podere­mos examinar melhor esse assunto, dividindo-o como segue:
Esboço:
I.    Autoridade
II.   Eficácia
III.  Habilidade
IV.  Métodos
V.   Conteúdo
I.     Autoridade
Os ouvintes de Jesus ficavam atônitos diante de seu ensino em face do tom de firme autoridade com que ele falava (Mat. 7:28,29). A origem dessa autoridade, como é evidente, provinha da consciência de que ele tinha de ser o perfeito porta-voz de Deus Pai, por ser o Filho encarnado. «Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo» (João 1:17). Essa natureza foi sendo gradualmente desvendada, conforme se vê nos títulos sucessivos que lhe foram sendo aplicados:
1.   Rabi. As pessoas difigiam-se a lesus com o titulo usual de respeito, Rabi. Essa palavra vem diretamen­te do hebraico, onde significa «grande». Quando usada com o pronome possessivo, resultava em «meu grande», embora nunca seja traduzida como tal em nossa Bíblia portuguesa. Tanto os discípulos de Jesus (Mat. 26:25,49; Mar. 9:5; 11:21; João 1:38,49; 4:31; 9:2; 11:8) quanto outras pessoas (João 3:2; 6:25) trataram-no desse modo. Que tanto ele mesmo quanto os seus discípulos consideravam esse termo uma indicação de elevada posição pode ser visto no fato de que os discípulos não deveriam chamar-se mutuamen­te «…mestres (no original grego, rabbi), porque um só é vosso Mestre (no grego,didáskalos), e todos vós sois irmãos» (Mat. 23:8; os itálicos são nossos).
2.    Mestre. A palavra grega mais frequentementetraduzida por «mestre» é didáskalos. Nas páginas do Novo Testamento, esse termo indica alguém que ensina as realidades de Deus e os deveres dos homens. Esse vocábulo grego, por sua vez, quase sempre ê tradução do termo hebraico rabi. Jesus usava esse vocábulo grego, acima de tudo, para indicar a si mesmo (Mat. 23:8). Ainda que muitos gostem de chamar-se «mestres», os crentes só têm um verdadeiro Mestre, Jesus Cristo, o Mestre Divino, enviado por Deus. Nos evangelhos, esse termo é empregado repetidas vezes em contextos onde se tenciona exprimir uma extrema deferência (sem importar se sincera ou não). Ver Mat. 12:38; 22:16,24,36; Mar. 4:38; 10:17, onde há as mais variadas situações. Queremos destacar o relacionamento que havia entre Jesus e seus discípulos (João 13:13). Nesse versículo, é a palavra mestre (no grego, didáskalos) que está associada a «Senhor».
3.  Profeta. O papel desempenhado por Jesus como proclamador e intérprete das revelações divinas é indicado pelo termo grego prophétes, «profeta». Literalmente, esse termo significa «alguém que fada por outrem», nem sempre destacando o elemento preditivo. Moisés havia predito que um Pçofeta sem- par apareceria entre o povo (Deut 19:15). Após a ascensão de Jesus, Pedro proclamou, no templo de Jerusalém, que Jesus era esse profeta (Atos 3:22). Estêvão repisou o mesmo ponto, quando era julgado (Atos 7:37). Durante o decurso de seu ministério terreno,, com frequência, Jesus foi chamado de «profeta». Ver, para exemplificar, João 4:19. Embora Jesus nunca tivesse considerado essa designação adequada para descrever a sua missão à terra, ele admitia tal categoria de uma maneira frouxa, geral, pelo menos (Mar. 6:4; Luc. 4:24; João 4:44).
4.   Senhor. A autoridade do ensino de Jesus como rabi, mestre e profeta repousava ainda sobre Uma outra e mais ampla dimensão de seu ser. Ele também é o Senhor (no grego, kúrios). Em algumas instâncias, nas narrativas dos èvangelhos, é impossível dizermos se esse termó meramente indicava respeito, ou então o reconhecimento de que Jesus não era apenas um ser humano. Mas há instâncias que indicam claramente uma referência religiosa que aponta para a sua deidade. O vocábulo «Senhor» designa Jesus em muitas citações do Antigo Testamento, no Novo Testamento. Ver Mat. 3:3;22:44,45; Mar. 1:2,3; 12:36,37; Luc. 3:4; 20:42-44; João 1:23; Atos 2:34; I Cor. 1:31; Rom. 10:13; Heb. 1:10; I Ped. 2:3 e 3:15. Se excetuarmos a questão das citações, Mateus e Marcos narram que Jesus chamou a si mesmo de «Senhor”. Ver Mat. 21:3 e Mar. 11:3. O» quatro evangelhos registram que Jesus foi frequentementetratado como «Senhor». Lucas alude a Jesus, por certo número de vezes, como «o Senhor». Essa terminologia é tão comum no resto do Novo Testamento, que ficam dispensadas as referências. Particularmente claras são expressões como «Senhor Jesus» (Atos 7:59; 19:5,13,17) e «Senhor Jesus Cristo» (Rom. 1:3; 5:1; 15:30 etc.). Na Septuaginta, kúrios foi termo grego usado para indicar dois dos nomes de Deus, a saber, Yahweh e Adonai. Issb ê repetido no Novo Testamento. Logo, quando Jesus é chamado kúrios (em português, Senhor), no Novo Testamento, ele está sendo chamado de Yahweh eAdonai, ambos títulos divinos muito sugestivos. Ver Gên.15:2, onde o nome divino, Adonai, é usado, pela primeira vez, por Abraão. E ver Êxo. 6:3, que mostra o momento em que Deus revelou seu novo nome, Yahweh (o que transparece mais claramente, é óbvio, no original hebraico, pois nossa versão portuguesa diz apenas «…mas pelo meu nome, O Senhor, não lhes fui conhecido»).
5.    Filho de Deus. Um quinto título completa a estrutura de autoridade que subjazia às palavras e atos de Jesus. Ele é o «Filho de Deus» (no grego, utos toütheoü). Por duas vezes isso foi dito por alguma voz proveniente do céu (Mat. 3:17; Luc. 9:35), em cujas vezes era exigido — que os homens dessem ouvidos a Jesus. Isso é muito sugestivo, porquanto há quem diga que Jesus só lentamente teria tomado consciência de sua missão divina. Assim foi assaltado por dúvidas neste respeito. No entanto, em Mat. 3:17, a voz vinda do céu esclareceu tudo, assim que Jesus saiu da água, quando foi imerso no Jordão e, por conseguinte, bem no còmeço de seu ministério. E em Luc. 9:35, a ocasião foi a sua transfiguração. Antes, deveríamos dizer que os próprios discípulos s6 com muita lentidão entenderam a natureza divina de Jesus. A primeira confissão clara nesse sentido foi a de Pedro, em Mateus 16:13-17. Jesus sempre se afirmou o Filho de Deus, até mesmo sob juramento (Mat.26:63,64), e edificou o seu ministério, o seu ensino e a redenção que viera realizar sobre esse fato fundamen­tal.Sua grande oração sumo sacerdotal, de João 17, não teria qualquer sentido sem esse fato b&sico. Nos evangelhos, ele é chamado «Filho de Deus», de vez em quando(Mar. 1:1; 3:11; 5:7; Luc. 1:35; João 1:49). E também no resto do Novo Testamento, implícita ou explicitamente (Atos9:20; Gál. 2:20; Efé. 4:13, etc.). Quem, a exemplo de Pedro, recebeu revelação divina acerca da identidade de Jesus, não demonstra dúvidas quanto a isso e nem hesita em chamá-lo de «o verdadeiro Deus» (ver I João 5:20).
II. Eficácia
É impossível medirmos a eficácia do ensino de Jesus mediante a utilização de um único padrão qualquer. Os métodos que ele empregava estavam inseparavel­mente trançados com a sua divina revelação. Tudo quanto Jesus disse ou fez era parte integrante de sua missão. Apesar disso, as técnicas por ele usadas, como o Grande Mestre que ele foi, até hoje são o mais excelente modelo a ser seguido por aqueles que querem aprender a ensinar. Adidática de Jesus era perfeita.
1.  Aclamação. Após a popularidade sem preceden­tes, obtida por João Batista, a reputação de Jesus, ainda no começo de seu ministério, é que ele fazia e batizava mais discípulos do que João (João 4:1). Embora Jesus fosse oficialmente rejeitado pelas autoridades religiosas de Jerusalém, no começo do seu ministério na Judeia, muitos confiaram nele (João 2:23). Nicodemos, o mestre fariseu, exprimiu mais do que apenas a sua opinião pessoal, quando confessou: «Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele» (João 3:2). Na Galiléia, houve momentos em que a multidão que se reunia para ouvi-lo era tão grande, que os discípulos nem ao menos tinham tempo para comer (Mar. 6:31). E quando Jesus se retirava para lugares ermos, a fim de escapar das multidões, era seguido por milhares de pessoas (Mat. 14:13-21; 15:29,30,38). É claro que muitos vinham somente para ver os seus milagres, e não tanto para ouvir os seus ensinamentos. O doutrinamento, por si mesmo, por muitas vezes era menos popular (João 6:66). Para sempre havia alguns que reconheciam o inestimável valor de suas instruções, e se apegavam a ele por esse motivo. Ver João6:67-69. Até mesmo os oficiais que tinham vindo com a finalidade precípua — de deter Jesus, retomaram de mãos vazias, com a desculpa de que «Jamais alguém falou como este homem» (João 7:46). E os próprios fariseus e os principais sacerdotes testificaram, diante do Sinédrio, que o poder de seu ensino era inigualável: «Se o deixarmos assim todos crerão nele; depois virão os romanos e tomarão não só o nosso lugar, mas a própria nação» (João 11:48). Segue-se, portanto, que Jesus deveter-se mostrado admiravelmente eficaz em seu ensino e em seus atos.
2.  Resultados. Os efeitos duradouros dos ensinos de Jesus foram temporariamente obscurecidos pelos eventos de sua paixão e morte. Não fora a continuação de seu ministério, — pela atividade de seus discípulos, muitos dos resultados do ensino de Jesus ter-se-iam perdido. Por outra parte, não fora a eficácia do seu impacto sobre o povo, bem como o seu sucesso, no treinamento dos seus discípulos, e teria sido impossível o incrível sucesso da Igreja apostólica. Não há que duvidar que dezenas de milhares de pessoas haviam ficado permanentemente impres­sionadas e significativamente transformadas em resultado dos ensinos de Jesus. Seja como for, os resultados daquilo que Jesus ensinou e fez (Atos 1:1,2) o que teve prosseguimento através da Igreja, deixam-nos sumamente admirados. Os seus seguido­res, em nossos dias, ultrapassam o número dos seguidores de qualquer outro mestre; e as nações que professam seguir-lhe os ensinos, embora de longe e mui imperfeitamente, são as nações que encabeçam a civilização do mundo. Jesus ensinou aos homens as mais elevadas verdades espirituais e morais, embora tenha-o feito com grande simplicidade, usando as técnicas pedagógicas certas, de tal maneira que o povo comum o ouvia com satisfação.
III. Habilidade
Em última análise, o poder de Jesus como mestre era muito mais do que mera técnica e habilidade. O que estava por detrás desse poder era sua deidade e sua missão redentora. Mas, até mesmo isso tinha de ser apresentado de tal modo que cativasse a atenção dos ouvintes e os motivasse a uma participação nos benefícios espirituais por ele oferecidos. A habilidade de Jesus, na comunicação de sua mensagem, só pode ser equiparada à perfeição da graça divina, que ele oferecia aos homens.
1.   Aptidão. Cinco são as qualificações para quem queira ser um mestre universal. Essas qualificações são aquelas observadas na vida do Senhor Jesus. São as seguintes:
a.     Uma visão global, que envolva toda a humanidade.
b.     O conhecimento profundo sobre o coração humano.
c.     O total domínio da matéria a ser ensinada.
d.    A aptidão para ensinar.
e.    Uma vida diária que corresponda fielmente ao ensino.
Conforme Jesus esclareceu a Nicodemos, somente ele podia falar como alguém que descera do céu (João 3:13), Portanto, somente Jesus tinha perfeita com­preensão da disciplina a ser ensinada, e uma correspondente habilidade para transmitir a mensa­gem certa.
2.   Alvo. O ensino eficaz não acontece por acidente. As palavras e os atos de Jesus sempre exibiram uma notável estratégia, cujo desígnio era atingir os propósitos pelos quais ele veio a este mundo. Esse propósito central encontrava expressão em muitos outros alvos menores, mas, imediatos. Jesus, pois, tem sido intitulado de«estrategista com objetivos».
3.    Visão. Embora Jesus nunca tivesse viajado para muito longe da Palestina, ele sempre tinha em mira a humanidade inteira. Convinha-Lhe atrair também as «outras ovelhas», ao seu rebanho (João 10:16). Importava-lhe atrair a si todos os homens (João 12:32). Ele comissionou os seus seguidores para que saíssem pelo mundo inteiro e pregassem «o evangelho a toda criatura» (Mar. 16:15). Competia-lhes fazer «discípulos de todas as nações» (Mat. 28:19). A visão de Jesus, que ele procurou transmitir aos seus discípulos, era intensiva e extensiva. Os aprendizes deveriam partir da teoria para a prática, não ficando somente naquela: «…ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado» (Mat. 28:20). E as palavras «todas as cousas», dentro dessa citação, mostram que coisa alguma, de tudo quanto Jesus ensinou, deveria ser omitida. E as palavras finais da Grande Comissão: «E eis que estou convosco todos os dias, até à consumação do século» (mesmo versículo), mostram que essa tarefa deve prosseguir até o fim da atual dispensação da graça.
4.     Atenção. O Senhor Jesus conquistava de tal modo aatenção de seus ouvintes que, em certas ocasiões, chegavam a atropelar-se aos outros a fim de se aproximarem dele, para vê-lo e ouvi-lo (Luc. 12:1). Quase vinte séculos depois, praticamente ninguém consegue ficar neutro diante de suas ideias. Um menor número ainda o ignora. Aquilo que Jesus é, o que ele disse, como ele o disse, e o que ele fez, tomam-no o centro de todas as atenções. As pessoas sentem-se naturalmente envolvidas por ele. Uma atenção involuntária é acompanhada por profundas motivações, que mantêm o interesse e atraem as pessoas a ele. Jesus cultivava deliberadamente a arte de chamar e conservar a atenção das pessoas, conforme veremos, quando estivermos considerando os métodos por ele usados.
5.   Motivação. Jesus compreendia perfeitamente bem as profundas motivações do coração humano. Os apelos de Jesus eram saudáveis e mostravam-se à altura de sua missão sem-par Todavia, eram apelos poderosos e compelidores. Jesus apelava aos homens quanto ao auto-interesse e ao altruísmo, e também a motivos naturais ou intrínsecos e a motivos extrínse­cos, como os motivos do recebimento de galardões ou do recebimento de punição. Ele também advertia contra a tragédia do mal e suasconsequências. Estando plenamente consciente de que os motivos obedecem a uma escala de gradação, a despeito disso ele sempre se mostrou francamente prático. Dirigia o seu apelo às necessidades e capacidades de cada um. No entanto, para ele, o valor espiritual e moral definitivo é o amor que devemos devotar a Deus e aos nossos semelhantes (Mar. 12:30,31).
6.  Participação. Jesus sabia perfeitamente bem que mais do que meras preleções se fazem necessárias, se as pessoas tiverem de ser transformadas para melhor. Os interesses de cada indivíduo precisam ser despertados de tal modo que ele chegue ao ponto de querer participar. Émister que as pessoas peçam, busquem e batam (Mat. 7:7,8). Precisam participar ativamente, tomando iniciativas em busca da vontade do Senhor. Esse princípio subjaz a toda a sua metodologia. Jesus apreciava iniciar debates, ques­tões, projetos, exemplos concretos e tarefas.
7.   Quadros Mentais. Jesus evitava empregar formasabstratas de expressão, sempre que isso lhe foi possível. Ele dirigia-se às mentes e aos corações daqueles que viviam vendo, ouvindo e fazendo as coisas. Ele referiu-se,como ilustrações, a traves e ciscos, quando se referiu ao espírito de crítica acerba (Mat; 7:4,5). A incoerência foi por ele comparada com o ato de coar um mosquito, para, em seguida, escancarar de tal modo a boca que se pudesse engolir um camelo (Mat. 23:24). Sal, luz, sementes, árvores, lírios, cidades, rios e céus, em seus lábios, resplandeciam de insuspeitos significados, para o tempo e para a eternidade.
8.   Senso Artístico. O encanto da metodologia e da incrível habilidade de Jesus, como professor, depen­dia do domínio da arte do ensino, em que ele era o mais perfeito mestre. Os princípios pedagógicos por ele usados não eram truques desconexos, mas faziam parte do senso artístico de um perfeito artista, que fazia bem todas as coisas (Mar. 7:37). Não havia qualquer esforço menos digno, em busca de mero efeito. A beleza e força de atração de Jesus é que ele falava como ninguém jamais falou (João 7:46).
IV.  Métodos
Apesar de que o ensino de Jesus continha um único conteúdo, não havendo quem lhe possa igualar como mestre, devido à perfeição da comunicação de suas idéias,o que não pode ser duplicado, por outro lado há métodos de ensino que podemos discernir e estudar, a fim de os emularmos em nosso próprio ministério de ensino.
1.    As Parábolas. Um dos métodos mais notáveis, usados por Jesus em seu ensino, era o das parábolas. Uma parábola podia ser uma história longa ou uma declaração de grande sabedoria; mas sempre trans­mite alguma verdade espiritual por meio de alguma comparação com fatos familiares. Alguns estudiosos têm contado cerca de vinte e oito breves comparações, e talvez vinte e cinco narrativas diferentes, nas palavras de Jesus, registradas nos evangelhos. No evangelho de Marcos, cerca de uma quarta parte de todas as palavras proferidas por Jesus fica dentro dessa categoria. Era através de parábolas que, por muitas vezes, Jesus obtinha e conservava a atenção dos seus ouvintes. Ele falava ao coração das pessoas, em palavras que se repetiriam com sentidos cada vez mais profundos, quando elas meditavam sobre a comparação ou comentário interessante. Dessa forma, era possível dizer coisas, nas entrelinhas, sob a capa de uma figura simbólica, como não se poderia fazê-lo em um discurso mais direto. (Ver Mat. 22:1). Por muitas vezes, em vez de contar alguma história, Jesus usava algum milagre, por ele realizado, como base de seu ensino. Entre outras vantagens desses milagres, havia essa vantagem adicional de servir de vivida ilustração para algum ensino de Jesus (por exemplo, João 6:11,27,35,63).
2.    Os Provérbios. Epígrames, provérbios, aforismos, máximas e paradoxos comprimem, da maneira mais breve possível, algum gérmen de verdade que a mente popular compreende muito bem, capaz de produzir, mais tarde, o desencadeamento de uma série de pensamentos. Felizmente para nós, os ensinamentos de Jesus abundavam de recursos dessa natureza. Dependentes como eram os primeiros cristãos da tradição oral, eles tinham bem pequena dificuldade para preservar e usar essas declarações compactas.
3.   A Poesia. Alguns ensinos de Jesus revestem-se de uma qualidade rítmica que se evidencia atè mesmo nas traduções (por exemplo, Luc. 6:27). Alguns estudiosos têm chegado a sugerir que Jesus moldou o âmago de sua doutrina de acordo com um certo padrão rítmico, como um artificio pedagógico. À semelhança de outros rabinos de sua época, é possível que ele tenha exigido que seus discípulos memorizas­sem o cerne de sua doutrina, sob a forma de declarações compactas. Se isso, realmente, sucedeu, então, visto que 4 muito mais fácil reter um trecho em verso, e não em prosa, é possível que ele tenha feito isso com essa finalidade, e não para obter algum efeito de beleza de expressão.
4.   Indagações. Um outro método favorito de Jesus era o das perguntas e respostas. Essa técnica era um convite à participação direta, por parte de seus ouvintes, dentro da questão que estivesse sendo enfocada. Era capaz de despertar a consciência, desviar um ataque, despertar as emoções, cativar o interesse e sondar as profundezas de qualquer questão. Em certas oportunidades, podia até mesmo silenciar aqueles que procuravam pôr um ponto final ao seu ministério (Mateus 22:46).
5.   Discursos. Havia ocasiões, entretanto, — que a verdade podia ser comunicada com maior rapidez e eficácia mediante um discurso bem concatenado, ou sermão. O supremo exemplo disso é o Sermão do Monte (Mat. 5 — 7). A verdade precisava ser organizada e preservada em uma forma sistemática, que pudesse ser examinada de vez em quando. Outros exemplos notáveis dessa técnica aparecem no discurso do monte das Oliveiras (caps. 24 e 25), e do cenáculo (João 14 — 16).
6.   Citações. O uso de citações extraídas do Antigo Testamento tem um lugar central no ensinamento de Jesus. Ele tinha a mais absoluta confiança nesses documentos (Mat. 5:18), tendo-os usado para refutar asidéias de seus adversários (Mat. 22:41-45), para explicar a sua própria missão, com base nessas Escrituras (Luc. 24:27), e até mesmo para servirem de trampolim para as suas doutrinas mais avançadas (Mat. 5:22).
7.    Projetos. A sequência formada por impressão- expressão, com frequência dentro do contexto de umprojeto qualquer, ajudava a conseguir um efeito de modificação permanente nos ouvintes de Jesus. Jesus não somente informava aos seus discípulos como ministrar a outras pessoas, e o que haveriam de encontrar; ele também os enviava ao campo, para obterem experiênciadireta com o trabalho a ser feito, e então convidava-ospara sessões em que prestavam relatório. Os discípulos, portanto, aprendiam fazen­do, instruindo a outros e discutindo sobre os assuntos a serem ensinados (Luc. 9:1-10).
8.    Símbolos. Um símbolo concreto torna-se um emblema que tipifica o que é apenas abstrato. A propriedade e firmeza de um símbolo tende por impedir que aquilo que é apenas uma idéia abstrata se desvie e desintegre. Jesus enfatizou o batismo e a Ceia do Senhor como métodos apropriados para ensinar os
conceitos fundamentais de seu reino. Por semelhante modo, ele lavou os pés dos seus discípulos a fim deimpressioná-los acerca da necessidade de serem humildes (João 13:4-7), e recomendou que seus discípulos sacudissem a poeira dos pés, a fim de salientarem a indignidade daqueles que rejeitassem a sua mensagem ou os seus mensageiros (Mar. 6:11).
9.    A Força do Exemplo. Jesus era o supremo exemplo vivo de seus próprios ensinamentos. Ele vivia aquilo que ensinava. Conforme ele mesmo disse, ele santificava-se a fim de que os seus seguidores também fossem santificados (João 17:19). Quando estava lavando os pés dos seus discípulos, Jesus esclareceu: «Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também» (João 13:15). Portanto, Jesus ensinava por meio de seus atos, tanto quanto por meio de suas palavras. Sua vida continua sendo, até hoje, a maior inspiração de santidade para os homens.
V.    Conteúdo
Os ensinamentos de Jesus teriam sido reduzidos a quase nada, a despeito de toda a sua habilidade, não fora o conteúdo de seus ensinamentos. Jesus revelava quem era Deus e como era Deus (João 14:8-11). Jesus, conforme ele mesmo esclareceu, é o caminho, a verdade e a vida (João 14:6). Ele veio a este mundo a fim de que os homens tivessem vida, e a tivessem em abundância (João 10:10).
1.   Deus. Em parte alguma Jesus argumentou quanto à existência de Deus. Ele sempre tomava a existência de Deus como ponto pacifico, como verdade indiscutível. Na verdade, Jesus revelou a Deus. Jesus pareceu um tanto ressentido porque estivera em contacto com Filipe, por tanto tempo, mas aquele apóstolo não estava ainda satisfeito com a revelação de Deus nele. Em termos humanos concretos, Jesus tomou Deus conhecido como o nutridor — o Pai que cuida de toda a humanidade. Jesus sempre chamou Deus de «Pai» ou de «Deus»,excetuando nas citações do Antigo Testamento, onde Deus é chamado «Senhor» (que vede).
2.  Sua Própria Pessoa. Embora Jesus nunca tivesse apresentado uma doutrina sistemática acerca de sua própria pessoa, sua autoconsciência transparecia mediante declarações formais ou incidentalmente. Entre as mais especificas indicações de sua divindade, poderíamos pensar nestas três: «…porque eu vim de Deus e aqui estou; pois não vim de modo próprio, mas ele me enviou» (João 8:42). «Em verdade, em verdade eu vos digo: Antes que Abraão existisse, eu sou» (João8:58). «Vim do Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o mundo e vou para o Pai» (João 16:28). Mas, paralelamente aos atributos de deidade e à missão sem-par de que fora revestido, havia o seu constante senso de que participava das experiências comuns à humanidade. Para ele, o tempo, o espaço, a pobreza, a solidão, a fadiga e a tristeza eram tão reais quanto eram as suas qualidades e habilidades transcenden­tais. Todas essas coisas ele não somente sentia, mas também exprimia diante dos seus seguidores.
3.    O Espirito Santo. O ensino de Jesus sobre o Espírito Santo girava em tomo da obra do Espirito em favor dos crentes. Ele enfatizou que o homem entra no reino de Deus ao nascer por operação do Espírito de Deus (João 3:5); e que o crente encontra seu cumprimento na vida abundante do Espírito (João7:38,39). Jesus também atribuía o poder de seu ministério ao mesmo Espirito Santo (Mat. 12:27,28), o qual, segundo Jesus também esclareceu, haveria de permanecer para sempre com os crentes, vindo residir neles (João 14:16,17),
4.  As Escrituras. Embora Jesus nunca tivesse feito qualquer exposição sistemática das Escrituras, ele apresentou as mais firmes declarações acerca do caráter fidedigno da Bíblia. Ao argumentar em defesa de sua vida, Jesus asseverou: «…e a Escritura não pode falhar». E, noutra oportunidade, declarou: «Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um í ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra» (Mat. 5:18). Jesus anunciava «a palavra* às multidões (Mar. 2:1,2). Jesus sempre apelava à Palavra de Deus, convocando as autorida­des religiosas do povo judeu para que dessem ouvidos e voltassem ao que estava escrito. Sua queixa acerca da tradição secular dos judeus é que, via de regra, fazia a Palavra de Deus tomar-se sem efeito (Mat. 7:13). Em suma, Jesus ensinava que a Palavra de Deus é a verdade (João 17:17).
5.   A Vida Cristã. Jesus não expunha a vida cristã segundo termos legalistas. Deveria haver uma vitalidade espiritual, produzida por meio de um novo relacionamento entre o homem e ele, por meio da fé (João 5:24). Nenhuma outra verdade merecia tanta atenção e nem recebeu ênfase maior, dentro do ensinamento de Jesus, do que o fato de que ele era a própria vida dos homens. Assim, ele se declarou o pão da vida (João 6:35), a luz da vida (8:12), o caminho, a verdade e a vida (14:6), a ressurreição e a vida (11:25). A conduta cristã é a expressão dessa vida, em consonância com os princípios divinos e com os preceitos da Palavra de Deus. Isso posto, há dois mandamentos fundamentais que se reduzem a um só — o amor. Amar a Deus com todas as fibras do ser, e amar ao próximo como a nós mesmos, é a vida focalizada em termos éticos (Mar. 12:30,31). O outro lado do amor é a santidade, isto é, a semelhança com Cristo. Foi por esse motivo que Jesus orou ao Pai: «Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade» (João 17:17),
6.  O Reino de Deus. Um dos temas mais constantemente repetidos, dentro do ensino de Jesus, era o reino de Deus, ou reino dos céus. O reino de Deus é o governo de Deus, quer simplesmente nos corações dos homens, quer em alguma forma de estabelecimento neste mundo. Tem começo nas vidas dos crentes (Luc. 17:21), mas é também um fato capaz de ser ampliado e de ter pleno cumprimento, até que Deus venha a ter de volta a soberania que lhe cabe por direito, sobre todas as suas criaturas, dentro de uma perfeita ordem de coisas (Mat. 6:10). «Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino…» (Mat. 4:23).
7.   A Igreja. O reino de Deus assume forma palpável na Igreja, na presente ordem mundial. A Igreja é aassembleia daqueles que se submeteram voluntária e jubilosamente ao governo de Deus, por meio da redenção que há em Cristo. Jesus tinha plena consciência do surgimento da coletividade dos crentes, os remidos pelo seu sangue. Ele chamou essa coletividade de a Igreja, afirmando-se o seu fundador (Mat. 16:18).
8.   Escatologia. Para Jesus, as questões escatológicas eram uma simples extensão dos princípios morais e espirituais que ele ensinava, levadas às suasconsequências lógicas, sob o governo de Deus. Ficam subentendidos a responsabilidade moral, a vida futura, o céu, o inferno, o julgamento, as recompen­sas, os castigos, o triunfo final de Deus e de seu povo, e a perdição eterna daqueles que se perderem. Aqueles que rejeitarem a Jesus Cristo e ao Espírito Santo não têm qualquer esperança (Mat. 12:30,31). E aqueles a quem Jesus conferir a vida eterna jamais perecerão (João 10:28).

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