Descida de Cristo ao Hades


Cristo realizou (realiza) uma missão redentora tridimensional: na terra; no hades; nos céus. £ uma infelicidade que a Igreja Ocidental (Católica Romana e Evangélica) tem reduzido isso a uma missãounidimensional: o terreno. Em contraste, a Igreja Oriental preserva uma visão mais ampla da missão de Cristo, e, de modo geral, favorece um ensino positivosobre a Descida de Cristo ao Hades.
O propósito imediato de I Ped. 3:18 ss é mostrar que os sofrimentos de Cristo são benéficos, até mesmo para almas no lugar do julgamento. Portanto, os crentes não devem ter medo de compartilhar estes sofrimentos, como nas perseguições.
Sua misericórdia desce ao Hades. O amor de Deus alcançou o inferno mais baixo. A graça de Deus resolve tudo.
O oposto de injustiça não é justiça — é amor. 
Esboço
I.      Os intérpretes, antigos e modernos, que admi­tem estar em foco a real descida ao hades.
II.     Os que crêem que essa descida ao hades visou ao propfóito de melhorar a condição das almas perdidas dali.
III.    Os que crêem que a descida visou ao propósito de agravar a condição delas, ou, pelo menos, ajudou somente os justos, deixando de lado aos injustos.
IV.     Paralelos em outros antigos escritos ou credos, judaicos e cristãos, que dão apoio à descida ao hades.
V.     Os que negam toda a ideia de tal descida.
VI.    Quem são os espíritos que seriam melhorados? VII. Qual a extensão ou potencial de sua melhoria?
VIII.  Não é a mesma coisa que o purgatório.
IX.    Sumário do ensino da passagem.
X.     Esse ensino nos comentários modernos.
XI.   A descida ao hades na história do cristianis­mo.
XII.  A descida no Novo Testamento.
XIII. A descida e a restauração.
I. Os intérpretes, antigos e modernos, que admitem estar em foco a real descida ao hades
Nenhum pai da igreja, credo ou tradição cristã negou a realidade da descida de Cristo ao hades antes de Agostinho, no século V. João Damasceno, no século VIII, em seu livro, «A Fonte do Conhecimen­to», no qual sumaria a doutrina e os ensinamentos cristãos dos pais, informa-nos que a realidade da descida era universalmente aceita em seus dias, e mostra que a opinião gerai era que foi um oferecimento da salvação aos perdidos, além-túmulo, ou que, de algum modo, foi um oferecimento para melhorar a condição dos perdidos. Na Idade Média era um tema popular de peças teatrais, da arte e da literatura. Na Reforma, foi geralmente incluída essa idéia nas confissões e credos. Apesar de ser idéia aceita pela vasta maioria numérica dos cristãos até hoje, tem sido totalmente negada em algumas modernas denominações evangélicas.
II. Os que crêem que essa descida ao hades visa ao propósito de melhorar a condição das almas perdidas ali.
Quanto à natureza exata da melhoria, há desacordo; mas que o texto de I Pedro 3 e 4 tenciona ensinar que o estado dos perdidos foi melhorado de algum modo, ou que foram eles potencialmente restaurados por meio desse ato de Cristo no mundo inferior, é idéia aceita por quase a mesma maioria descrita sob o primeiro ponto. Esse ensino necessaria­mente inclui-a idéia de que o próprio juizo não é algo meramente retributivo, mas também restaurador, isto é, a própria retribuição é uma medida restauradora. Esse ensino, por igual modo, comfrequência inclui a idéia de que o «hades» representa um julgamento intermediário, e não o juízo final, e também que a segunda vinda de Cristo, com a eliminação do hades após o milênio, assinalará o fim do tipo intermediário de julgamento, bem como o início do estado final. Só uma pequena minoria de intérpretes tem visto nisso a justificação do «universalismo»^. Mesmo que a descida seja um precedente do qúe possa ocorrer no julgamento intermediário, isso significaria apenas que a capacidade de Cristo salvar abarca a todas as almás, de toda parte, até que seja instituído o estado final, mas não que as almas sejam forçadas a submeter-seao senhorio de Cristo de modo a virem ser salvas. Finalmente, todas as almas terão de sujeitar-se ao senhorio de Cristo, que deve ser restaurador (Efé.1:10), se não redentor. Ver o artigo sobre aRestauração para uma explicação da diferença. O próprio julgamento será uma medida restauradora como I Ped. 4:6 certamente indica. De qualquer maneira, a descida, conforme é explicada pela maioria dos pais da igreja, estende até a segunda vinda de Cristo a oportunidade de total salvação e isso por meio de Cristo, o Logos, pois ele é o Caminho, aqui ou em qualquer lugar. Ver a relação entre a descida e a restauração sob ponto 13.
Nomes específicos ligados à idéia da «melhoria», que para a maioria indica oportunidade de completa salvação:
A maioria dos pais da igreja, gregos e latinos, incluindo Justino Mártir, Pantaeno, Clemente de Alexandria, Origenes e seus sucessores. João Damas- ceno, traçando o desenvolvimento da teologia da igreja antiga, sumaria a doutrina em foco como segue:
«Sua alma glorificada desce ao hades a fim de que, tal como o Sol da justiça nasceu para os homens da terra, por igual modo, ele brilha sobre aqueles que, sob a terra, se assentam em trevas e na sombra da morte; a fim de que tal como ele publicou paz aos homens sobre a terra, dando livramento aos cativos e vista aos cegos etornando-se a Causa da eterna salvação dos crentes, ao mesmo tempo que convencia de incredulidade aos desobedientes, por igual modo tratasse com os habitantes do hades, a fim de que todo joelho se prostrasse ante ele nos céus, na terra e debaixo da terra, e para que, tendo assim solto as cadeias daqueles prisioneiros há muito confinados, ele retomasse dos mortos e preparasse para nós o caminho da ressurreição».
Clemente de Alexandria expressou a crença da maioria dos pais gregos, quando disse: «Assim, para que os levasse ao arrependimento, o Senhor também pregou aos que estão no hades. Quê! As Escrituras não afirmam que o Senhor pregara aos que pereceram nodilfc^o, e não só a esses, mas a todos que estão em cadeias, e que são guardados no asilo e prisão do hades?» Sua citação passa a dizer que, nessa missão no mundo inferior, Cristo deixou exemplo, pelo que os apóstolos seguiram o exemplo de seu Senhor, e também ministraram naquele lugar. Isso quer dizer que, para esse autor, a descida do Senhor ao hades abriu o lugar como um campo missionário, ou que a missão evangelistica instituída na terra foi estendida ao hades. Isso é óbvio, é conjectura, mas Efésios 1(especialmente o vs. 23) pode apoiar tal ensino. Origenes, (comentando sobre I Reis séc. 28, Hom. 2) expressou a crença de que o profetas do AT jáhaviam aberto missões de misericórdia no hades, pelo que a missão pessoal de Cristo ali foi confirmação e continuação do que os profetas do A.T. haviam iniciado. Nesse sermão particular, Origenes ensinou que a pregação beneficiava aqueles que tinham sido preparados para o ministério (injetando um pouco daidéia de predestinação no hades), e esse ponto de vista tomou-se popular na Igreja Oriental. Mas o texto (I Ped. 3 e 4) não sugere tal limitação. O comentário de Origenes neste lugar provavelmente foi influenciado pelo fato de que vários escritos judaico-helenistas falam de supostas missões de misericórdia de diversos profetas do A.T. ao mundo inferior.
Sob o primeiro ponto vimos que a crença na descida continuou na maioria das esferas do cristianismo moderno, embora tenha sido ignorada ou rejeitada por algumas denominações. Bloomfield, em seu comentário (citado no Comprehensive Bible Commentary) afirma que é universal a crença na descida por parte da Igreja cristã.
«Nenhuma interpretação parece natural, ou trazer selo da verdade, a não ser a ‘comum’, isto é, que Cristo foi e pregou (proclamou seu reino) aos antediluvianos no hades, interpretação essa apoiada pela autoridade unida dos antigos e pelos mais sãos de nossos modernos comentadores. As palavras certamente não envolvem dificuldade; e o sentido claro e natural não deve ser rejeitado porque contém assunto que nos admira, ou que pouco podemos apreender, com nossas atuais faculdades».
Assim também Meyer, em seu comentário, avalia o testemunho antigo e moderno, dizendo: «Essa é a opinião dos mais antigos pais da Igreja grega e latina, como também do maior número de teólogos posteriores e modernos». A opinião da qual ele fala é que a descida foi uma realidade, e que melhorou o estado dos perdidos. Seu próprio ponto de vista é que foi oferecida plena salvação, de tal modo, que, se aceita, tal melhoria poderia redundar em completa salvação.
III. Os que crêem que a descida visou ao proposito de agravar a condição dos ímpios, ou, pelo menos, ajudou somente os Justos, deixando de lado aosinjustos
a.    A pregação foi feita somente aos justos, e (segundo alguns) elevou-os do hades para o céu. Assim ensinaram Márcion, Tertuliano e Zwínglio. Mas o texto de I Pedro 3 mostra especificamente que foi aos «desobedientes», e não para os justos do A.T. que foi feita tal pregação.
b.     A pregação foi feita aos injustos, mas para confirmar a condenação deles. Assim ensinavam Flacius, Calov, Wolf, Buddeus e Aretius. Isso labora em erro porque: 1. é contra o contexto, que aborda especificamente como os sofrimentos de Cristo são «beneficentes»; 2. dá um sentido estranho ao verbo traduzido «pregar», que em outros lugares do N.T. (61 vezes) é usado para descrever a pregação do Evangelho, embora o termo não tenha, necessaria­mente esse sentido. Contudo, esse é seu uso coerente no N.T. (Cf. Mat. 3:4; 4:17; Rom. 10:8,15; Gál. 2:2).
3.   I Pedro 4:6 mostra que o «Evangelho» foi pregado aos mortos e não se pode duvidar de que esse parágra­fo de I Ped. alude à anterior história dadescida, no terceiro capitulo. 4. O Cristo que tão recentemente pedira ao Pai que perdoasse seus mais figadais inimigos, e que acabara de completar seu ato redentor, na cruz, se tivesse logo em seguida chegado ao hades para proclamar condenação, agravando a situação dos perdidos, teria agido de modo repugnan­te às sensibilidades cristãs.
c.      A pregação foi feita aos penitentes de último minuto, os quais temendo o avanço das águas, subitamente deram crédito à pregação de Noé, pelo que mereciam algum beneficio da parte de Cristo, uma vez que ele desceu ao hades. Essa interpretação é uma óbvia invencionice.
d.       A pregação teve duplo aspecto, de consolo e progresso, para os justos do A.T., e de condenação para os perdidos. Essa idéia está sujeita às objeções alistadas sob os pontos «a» e «b», que declaram os dois lados da dupla pregação independentemente. Ataná-sio, Ambrósio, Erasmo e Calvmo se aferraram à idéiada dupla pregação.
“Tal pregação condenatória, além de ser totalmente supérflua no caso dos espíritos já reservados à condenação (conforme Alford comenta) é um insulto ao caráter do Redentor; a consciência cristã se revolta ante o pensamento que o santo Jesus, cujas palavras, ao expirar, foram de perdão e amor, tivesse visitado as dimensões dos mortos e se tivesse jubilado ante a miséria dos condenados, publicando o seu triunfo, intensificando os tormentos deles e fazendo o inferno tornar-se mais inferno para eles». (Lange, em seu comentário, in loc. Lange foi o principal intérprete luterano de sua época).”
IV.   Paralelos em outros antigos escritos ou credos judaicos e cristãos, que dão apoio a descida ao hades
Na literatura judaica, temos os livros de Enoque. IEnoque 67:4-69:1,12 são trechos tão proximamenteparalelos de I Pedro que alguns intérpretes têm pensado em um empréstimo direto. O Talmude tem algumas passagens que falam da descida de profetas do A.T. ao hades, em missões de misericórdia. Os Doze Patriarcas e Levi 4 trazem algo similar. Os livros apócrifos do N.T., o Evangelho de Nicodemos, o Testamento de Abraão e o Evangelho de Pedro trazem estórias de descida e comentários que mostram que a Igreja primitiva não duvidava da questão. Os primeiros pais aludem com freqüência à narrativa. Ver Irineu iii.20,4; iv.33,12; v.31,1; Márcion, em Irineu, i.27,2; Tertuliano, de Anima, 55; Origenes, Celso, ii.43; Ignatius, Magn. ix.3; Justino Mártir, Trifo, 72. O «clima literário» da época, pois, antes e depois da composição do N.T., era favorável à narrativa da «descida». De fato, até o século V, não havia outra interpretação para I Pedro 3 e 4. Os Credos Apostólico e Atanasiano incluem a descida, refletindo a crença cristã dos primeiros séculos.
V. Os que negam toda a Ideia de tal descida
Esses intérpretes pensam que Cristo pregou por meio de Noé em seu dia, ou «através dos apóstolos», na missão evangelística da Igreja primitiva.
A. Por meio de Noé, essa interpretação teve início com Agostinho, no século V, e foi popularizada em algumas denominações evangélicas atuais. Além de Agostinho, Beda, Aquino, Lira, Beza, Leighton (que mais tarde mudou de idéia), Hofmann e outros a tem defendido.
Objeções a esse ponto de vista:
1.   É arbitrária, apesar de alguns bons nomes que ficaram a ela associados. Arbitrária, porque as Escrituras nada dizem aqui da pregação de Noé. Nada há de mediação nessa descrição.
2.   Não é gramatical:
a.    O tema não é nem Noé e nem o Logos divino em algum ministério pré-encarnação, mas é Jesus, o Cristo, que tão recentemente morrera e agora tinha uma missão no hades.
b.    Os objetos da pregação são os «espíritos», espíritos destituídos de corpos, e não mortais na carne, quando receberam a mensagem.
c.   Não há indício, na estrutura da sentença, da declaração de que os espíritos a quem se pregou estavamvivos na carne quando ouviram a mensagem, embora agora estivessem em prisão, isto é, no hades. A simples leitura desses versículos mostra-nos que estavam na prisão ao ouvirem a pregação.
d.   «apeithésaisn pote» (que em algum tempo foramdesobediente^), vs. 20, obviamente são palavras que removem o tempo da desobediência a um tempo anterior ao da pregação. Isto é, a «desobediên­cia» foi no passado remoto (antes do dilúvio) ao passo que a pregação foi feita em passado recente «por Cristo», imediatamente apôs sua descida ao hade$, o que se seguiu à sua morte e antecedeu à sua ressurreição.
e.    A expressão, «ele foi e pregou», no vs. 19, dá com clareza o sentido de «ir para outro lugar», a fim de
pregar. Isso dificilmente poderia ser dito sobre Noé pois, «para onde ele se foi, a fim de pregar?» Mas Cristo é o sujeito. Quando de sua morte, «ele foi ao hades», a fim de pregar ali. Também não faz muito sentido dizer: «O Logos divino ‘se foi’ do céu, tendo descido à terra, a fim de pregar por meio de Noé». Isso é 1er demais no texto, meramente para evitar uma doutrina que parece modificar, necessariamente, certos pontos de vista sobre o julgamento.
f.      A pregação medianeira, por meio de Noé, ignora totalmente a antítese tencionada entre sarki (na carne, na qual Cristo sofreu a morte) e pneumati, (no estado desincorporado, «espiritual», no qual ele desceu ao hades). Além disso, isso requer a dúbia tradução de «pelo Espírito», a fim de fazer com que a pregação tivesse sido feita nos dias de Noé. Isso ignora a força normal do vocábulo «en», «em» (e não «por»), e faz o termo anartro «espírito» significar «o Espírito». Se o Espírito Santo estivesse em pauta, é 99 por cento certo que o artigo antecederia «pneumati». Mas Jesus, «em espirito» é que se deve entender aqui, e em «essa forma desincorporada» («na qual», vs. 19), é que ele teve essa missão no mundo inferior.
3.  Essa interpretação é anti-histórica. Ignora o «meio» no qual se originou a idéia da «descida», onde eram comuns «estórias da descida», que permeavam a atmosfera do pensamento e da teologia na qual I Pedro foi escrito. Pede-nos que creiamos que era teologia comum crer na descida de profetas e heróis ao hades, a fim de efetuar missões de misericórdia, mas que quando Pedro usou expressões quase idênticas (em comparação com as do livro de Enoque, por exemplo), que ele quis dizer algo diferente.
4.  Essa interpretação é anti-hermenêutica. Quer levar-nos a crer que o que era universalmente aceito na Igreja, durante quatro séculos, como algo verdadeiro, na verdade não era verdadeiro, e que Agostinho, no século V, foi o primeiro que interpretou corretamente a passagem.
5.  Essa interpretação é hermeneuticamente fraca: Dá-nos um ponto de vista míope e pessimista da missão do Cristo, atribuindo-lhe pequeníssima reali­zação, se, de fato, Deus deseja que todos sejam salvos. Requer que a mensagem e a missão de Cristo caiam essencialmente por terra, pois tudo depende do que a Igreja possa fazer, aqui e agora, e não do que Cristo, com e sem a Igreja, pode fazer onde quer que se achem as almas dos homens, aqui e no além. Ignora as elevadas revelações do primeiro capitulo de Efésios, onde lemos que Deus, «na dispensação da plenitude dos tempos», «reunirá em Cristo todas as coisas» (vs. 10), para que Cristo sejt «tudo para todos», por meio da Igreja, «que é sua plenitude» (vs 23). Exige que essa «unidade» seja conseguida mediante uma exclusão, o que o trecho de Col. 1:16 mostra ser impossível, pois assim como a criação é «em» e «por», assim tambdm deve ser para ele. Em outras palavras, tal como procedeu dele, deverá também retornar a ele, a fim de que seja ele «tudo em todos» e venha a «preencher a tudo em todos», ou a ser «tudo para todos». E é míope porque não deixa espaço para níveis de restauração, que são essenciais â unidade que é «o mistério da vontade de Deus», supondo que porque homens não são eleitos a missão de Cristo não se aplica a eles. Mas ele declarou: «Quando eu for levantado, atrairei todos a mim» (João 12:32). Não vê que Cristo é o grande ímã central que nada deixa fora de seu poder de atração, e que Deus é amor, e que o juízo é um dedo da mão amorosa, e que a própria retribuição é uma medida de amor. Essa interpreta­ção é hermeneuticamente fraca porque, ao pensar
honrar a Palavra de Deus, enfatizando inflexivelmen­te certos versículos acerca do juízo, conferindo assim um aspecto pessimista à missão salvadora do Cristo, ignora outros versículos que indicam a vasta magnitude de realização daquela missão. Sem querer degrada a obra de Cristo e limita a sua esfera de operação, ao passo que as próprias Escrituras não encerram tal limitação.
Essa interpretação é hermeneuticamente fraca porque ignora que o contexto da história da descida é o  ensinamento de que «o bem pode provir do sofrimento», que visa a encorajar aos crentes que estavam sofrendo perseguição. O autor diz, na realidade: «Vede como o bem pode advir dos sofrimentos, porque Cristo, em seus sofrimentos, desceu ao hades e fez o bem às almas perdidas».
Essa interpretação é hermeneuticamente fraca porque supõe que podemos dividir a pessoa de Deus,tachando-o agora de amoroso, e depois de severo e julgador, por causa de sua justiça. Mas a verdade é que Deus não pode ser assim dividido, de tal modo que podemos dizer que ele é sempre amoroso, sempre justo, sempre severo; e todos esses fatores são simultâneos. Portanto, o amor requer julgamento, mas esse julgamento jamais consiste apenas de severidade, mas essa severidade será sempre manifes­tação do amor, e tem um propósito, chegando a realizar finalmente esse propósito. Ou, expressando esse conceito de modo mais simples, «o julgamento é um dedo da mão de amor».
Essa interpretação é hermeneuticamente fraca porque supõe em dividir o Logos eterno em seu propósito, limitando sua obra no que tange às almas dos homens, de modo que tal alma, enquanto está no corpo — conforme nos quer fazer acreditar — somente então pode ser alvo do ato salvador do Logos. Mas a verdade é que, conforme alguém já disse: «O que esta tradição nos ensina é que Jesus pode alcançar os homens em qualquer lugar».
Essa interpretação é hermeneuticamente fraca porque ignora o fato de que as próprias Escrituras si­tuam o tempo das fronteiras eternas a serem traçadas quando da volta de Cristo, e não por ocasião da morte do indivíduo. (Ver Atos 17:31; II Tim. 1:12; 4:8; I João 4:17). «Mas em nossa passagepi (I Pedro 4:6), tal como em 4:19,20, Pedro, por Luminação divina, afirma claramente que os meios d*j. salvação divina não terminam com a vida terrena, e que o Evangelho é pregado além do sepulcro para aqueles que partiram da vida sem o conhecimento do mesmo» (Lange). E assim, se aos homens está «determinado morrerem uma vez, e depois disso (vem) o juízo» (Heb. 9:27), o «depois disso» é definido, nas próprias Escrituras, como «aquele dia», ou seja, a «parousia», o dia do aparecimento de Cristo. Por conseguinte, até aquele tempo, tal como no julgamento do hades, os homens estarão sujeitos ao poder da missão salvadora de Cristo.
6. Essa interpretação se baseia em um preconceito a priori sobre como deve ser o julgamento e sobre o que a missão de Cristo pode realizar, e quanto tempo haverá até ser cumprida. Esse preconceito acolhe somente todos os «versículos severos» que se aplicam ao juízo e ignora tudo mais. Em outras palavras, a fim de defender «um lado» do ensino bíblico sobre o tema, ignora ou não quer saber do outro lado, no qual a missão de Cristo é vista a triunfar, afinal, embora isso não tome em eleitos a todos os homens. Por causa desse «preconceito a priori» permite que a missão de Cristo caia por terra e aceita o absurdo que o seu poder realiza pouquíssimo, se é verdade que Deus
amou ao mundo inteiro e deseja que todos sejam salvos.
7. Essa interpretação tem uma visão míope do que é a missão de Cristo e o que a mesma visa a realizar; e assim perverte as revelações constantes em I Ped. 3:18ss, e 4:6, bem como em Efé. 1 e Col. 1:16. O trecho de I Ped. 4:6 declara francamente (o que aplicaríamos, pelo menos no tocante ao juízo do hades, o julgamento intermediário) que «o evangelho foi pregado também aos mortos, para que fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem conforme Deus, no espirito», o que significa que o julgamento é um meio de restauração, e não apenas uma medida retributiva. Se aplicarmos isso ao julgamento final, então não se segue, necessariamente, que todos os homens por fim tornar-se-ão eleitos (embora alguns tenham usado esse ensino nesse sentido), mas segue-se que deve haver uma restauração em níveis diversos, o que produzirá a unidade de todas as coisas em torno de Cristo, e que o próprio Cristo deve ser o alvo e o propósito da vida de todo homem. Isso não significaria que muitos homens podem vir a participar da «natureza divina» (II Ped. 1:4), ou da «imagem de Cristo», mas significa muito mais do que supõe aquele que conhece apenas um lado da questão do julgamento.
8.   Essa interpretação é anticronológica. O texto de I  Ped. 3:18 ss. coloca a pregação de Cristo aos perdidos apôs sua morte e antes de sua ressurreição. A interpretação de que Noé é quem pregou, inspirado pelo «Espírito», faz a pregação situar-se antes da morte de Cristo, o que é distintamente contrário à cronologia da passagem.
9. Essa interpretação é uma deslocalização. Faz os homens receberem a mensagem enquanto ainda estão na terra, apesar de que agora, visto que morreram, estão «em prisão». Mas o texto de I Ped. 3:18 ss e 5:6 faz a mensagem ser pregada àqueles que estão «em prisão» e em «estado desíncorporado».
10. Essa interpretação é antilógica. Aquilo que ignora o que a igreja dizia sobre a descida, durante quatro séculos, e o que a maioria da igreja continua dizendo, e aceita uma interpretação que data a partir do século V, sendo defendida até hoje por pequena minoria, é antilógica. Essa interpretação, que se alicerça sobre uma falácia gramatical, sendo anti-his­tórica, anti-hermenêutica e hermeneuticamente débil, é, igualmente, ilógica. Aquilo que se caracteriza por miopia do que a missão de Cristo pode realizar, e que transforma a fé cristã em um ponto de vista mundial pessimista, é antilógico.
Finalmente, aquilo que adere a certas Escrituras concernente à natureza do juízo, mas fá-lo mediante um «preconceito a priori», ignorando outras passa­gens bíblicas sobre o mesmo tema, é ilógico.
11. Essa interpretação é antibíblica. Visto que nega a realidade da descida de Cristo ao hades, nesta ocorrência de I Pedro, deve também negá-la em cada ocorrência sua no N.T. Deve ignorar a história de Atos2:27,31 (Pedro também falava); Efé. 4:8-10 e Rom. 10:6-8. Também deve ignorar a antecipação profética do fato, em Sal. 16:10.
B.  Medianeiramente, através dos apóstolos. Che­gamos agora à segunda maneira comum de negar completamente a realidade da descida. Alguns supõem que a pregação não foi feita por Cristo, —quedesceu pessoalmente ao hades, e, sim, por meio dele, isto é, «através do seu Espírito», —que teria inspirado aos apóstolos em sua missão evangelizadora, após a ressurreição. Essa interpretação tem atraído algumas pessoas de renome, como Socino, Grotius, Schottgen, Schlechting e Hensler. Mas está sujeita, de vários modos, a todas as objeções levantadas contra a interpretação que acabamos de criticar.
1.    É «arbitrária», porque o Sujeito é Cristo, e não os apóstolos. Nadá é dito, em absoluto, sobre a missão da igreja, e nem tal idéia é ventilada.
2.   É «nãO’gramatical», porque o sujeito é Cristo, em seu estado desincorporado, e os objetos da pregação são espíritos desincorporados, é não homens mortais da Judéia, da Ãsia Menor ou da Grécia, os quais foramobjetos da missão da igreja primitiva. Os outros pontosnão-gramaticais, alistados em «d», «e» e «f» também podem ser aplicados a esta interpretação.
3.   É «anti-histórica» porque também ignora o meio ambiente literário no qual se originou a narrativa da descida.
4.   É anti-hermenêutica porque ignora o que a igreja universal tem ensinado.
5.  É «hermeneuticamente fraca», porque nos con­fere o mesmo ponto de vista miope sobre o que é a missão de Cristo, tal como a interpretação que acabamos de descrever.
6.  Apóia-se sobre um «preconceito a priori*,acolhendo ou rejeitando versículos sobre o julgamento de acordo com as opiniões já formadas sem darem a devida atenção ao corpo inteiro de Escrituras sobre o tema.
7.   É «miope» porque limita desnecessariamente o poder e a missão de Cristo, conforme se descreveu antes.
8.  Também é «anticronológica», visto que, se admi­te que o texto exige uma «prédica apôs a morte de Cristo», contudo, situa essa pregação após a ressurreição, e não entre a morte e a ressurreição de Jesus.
9.   É uma «deslocalização» porque localiza a cena da pregação na terra, e não «na prisão», no mundo inferior.
10.    É  «antilógica», por causa de todas as observações acima.
11.   É «antibíblica», porque ignora os demais trechos bíblicos que descrevem a descida; pois de que adiantaria aceitar a narrativa em outros «textos de prova», mas negá-la neste ponto?
Em adição a essas objeções, ainda outras podem ser levantadas.
12.  Essa interpretação vê-se forçada a dizer que os «mortos» de I Pedro 4:6 são aqueles que estão «vivos na carne», mas «mortos em delitos e pecados», a fim de separar aquele versículo da história da descida. Porém, não há qualquer indício, no contexto, de que devemos entender metaforicamente a palavra «mor­tos». Nem faz sentido dizer que aqueles que estão «agora mortos» é que estão em foco, pois isso é injetar no texto algo que está ausente no original grego.
13.  Essa interpretação também se vê forçada a ver a «prisão» como uma expressão metafórica, como a «prisão do corpo», a «prisão do pecado», o que dificilmente fica de pé sob exame.
Concordamos com Huther, que observa com razão,«…essa interpretação acumula capricho acima de capricho».
Aludindo a esses tipos de interpretações, Alfordobserva, in loc., «cada palavra de cada cláusula protesta contra» elas.
VI. Quem são os espíritos que seriam melhorados?
a.   Alguns dizem, «aqueles agora desincorporados, mas que eram homens mortais quando ouviram a pregação». Portanto, têm de ler I Ped. 4:6 como: «Por esta causa o Evangelho foi também pregado àqueles que agora estão mortos…» Mas isso é desencavar no versículo, por causa de certo ponto de vista sobre o juízo, que «o Evangelho não pode ser pregado aos mortos», algo que não se acha ali. Além disso, é ignorar o claro ensino da descida de Cristo ao hades, que ocupa o trecho de I Ped. 3:18 ss.
Mason, in loc., refutando essa idéia, diz: «Ninguém, com mente desanuviada pode duvidar, considerando esta cláusula por si mesma, que as pessoas a quem esta pregação foi feita estavam mortas quando ouviram a pregação».
Hart, in loc., diz: «No que toca aos mortos, Cristo desceu ao hades a fim de pregar ali, e nisso foi seguido por seus apóstolos. E o objetivo disso foi que embora os mortos fossem julgados como homens, no tocante à carne, pudessem viver como Deus vive, no tocante ao espírito».
Alford, in loc., diz: «Se, ‘o Evangelho foi pregado aos mortos’ pode significar que ‘o Evangelho foi pregado a alguns durante sua vida terrena, os quais agora estão mortos*, a exegese não conta mais com nenhuma regra fixa, e a Escritura pode ser manuseada para provar qualquer coisa».
b.   Outros pensam que esses «espíritos» são anjos caídos, que são seres espirituais. O termo grego «pneuma» pode significar qualquer tipo de «espírito», como a alma humana, a porção não-material do homem, os espíritos angelicais, os espíritos demonía­cos, ou o Espírito Santo. Portanto, nada se pode provar mediante uma consideração do vocábulo, à parte do contexto. Aqueles que aqui identificam os «espíritos» como anjos caídos, provavelmente* fazem- no por causa da observação que em algumas histórias de descida, na literatura judaica-heienista, está em foco a restauração de anjos caídos, e, presumivelmen­te, pois, a história de Pedro poderia estar descrevendo tal coisa. Mas o texto em parte alguma indica redenção de anjos, e introduzir tal coisa aqui é algo fora de lugar, mesmo que se pudesse demonstrar que essé é um dos resultados positivos dos sofrimentos de Cristo. O texto procura provar que os sofrimentos de Cristo tiveram tais resultados positivos, a fim de convencer os crentes que o bem pode advir do sofrimento. O pensamento que a descida de Cristo ao hades foi boa, de algum modo, para aliviar o sofrimento humano, seria um argumento mais poderoso do que dizer que isso fez algum bem aos anjos caídos, pelo que também o mais provável é que é àquilo que Pedro alude.Outrossim, havia amplo precedente para isso nos escritos e na teologia judaicos, e assim Pedro não estava criando no vácuo uma nova doutrina. Se ligarmos I Ped. 3:18 sscom 4:6, então teremos um argumento totalmente fatal àidéia de que os «anjos «caídos» são os espíritos em foco. Cristo pregou aos «mortos», isto é, a «espíritos humanos desincorporados», chamados mortos por terem deixado seus corpos mortais. O termo «mortos» jamais poderia ser apUcado a anjos caídos. Virtual­mente todos os intérpretes que crêem na, descida de Cristo ao hades, Ugam I Ped. 4:6 com a descrição da descida em 3:18 ss.
c.   Outros pensam que os «mortos» são aqueles «mortos em delitos e pecados», e assim fazem esses espíritos serem os de homens mortais, mas ainda incorporados quando ouviram a pregação. Aqueles que acreditam que os apóstolos é que pregaram aos «mortos» em delitos e pecados, por inspiração do Espírito de Cristo, negam peremptoriamente a descida ao hades, conforme já vimos. Mas já mostramos, também, que essa interpretação não é válida, e isso, por meto de muitos argumentos.
Portanto, não vemos como se pode entender metaforicamente a palavra «mortos», em I Ped. 4:6.
d.  Os «espíritos» são espíritos humanos desincorporados, e, especificamente, aqueles que foram desobedientes nos dias de Noé. Mas por que a narrativa, dada em I Ped. 3:18 ss. limitaria os mortos só a esses? Porventura somente os antediluvianos teriam recebido o benefício da descida de Cristo? Em resposta a essas perguntas, respondemos:
1.   Essa limitação surgiu por causa do fato de que ocontexto trata da história do dilúvio. Pedro usou a narrativa do dilúvio como ilustração tanto do juízo vindouro como da salvação em meio ao juízo. Era natural, pois, que ele tivesse falado somente dos «espíritos» associados com aquele evento, pois isso concorda com o contexto de sua ilustração.
2.   Esses «espíritos» representam os mais rebeldes e corruptos entre os espíritos; e, no entanto, a graça de Deus atingiu até eles. Quanto mais, pois, a implicação pode abarcar todos os espíritos, já que esses péssimos «exemplares» de maus espíritos não estavam fora da missão salvadora de Cristo.
O ensinamento é claro, portanto: Os sofrimentos de Cristo se revestem de valor imenso, mais do que a língua humana pode narrar, atingindo aos mais altos céus, mas também ao mais baixo inferno. Se fores perseguido, se estás sofrendo, lembra-te disto: Deus pode sair dentre o sofrimento.
3.   I Ped. 4:6, seguindo imediatamente após a narrativa da descida, e querendo servir de comentário adicional a respeito, fala sobre os «mortos» em geral, como aqueles que receberam a visita da descida de Cristo, pelo que fica eliminada a limitação de I Ped. 3:18ss. Se a descida de Cristo trouxe esperança aos mais rebeldes, é certo que trouxe esperança a todas as almas perdidas.
e.    Àinda outros, apesar de admitirem a plena força da descida, pois é claro que Cristo pregou e ajudou às almas perdidas no hades, limitam isso a uma só ocasião, e se recusam a ver nesse acontecimento um «precedente». Isto é, crêem que Cristo foi de benefício ou ofereceu salvação plena a almas perdidas que tinham descido ao hades antes de sua missão terrena, mas não acreditam que esse ministério «continua no hades». Em outras palavras, desde a cruz, nenhum outro benefício pode ser esperado no hades da parte da anterior descida de Cristo ali. Dosdezessete comentários examinados sobre o tema, somente um toma essa posição limitada, embora treze concordem com a realidade da descida. A maioria dos intérpretes, antigos e modernos, vê um «precedente» do que sucedeu no hades. Essa tradição, pois, ensina que Jesus pode alcançar os homens em qualquer lugar, até que ele ache por bem traçar fronteiras eternas quando-de sua segunda vinda, ou, conforme o caso pode ser, após o milênio,segundo Apo. 10 pode indicar. Assim é que Hunter, in loc. diz: «Se indagarmos que valor tem esta tradição para nós, hoje em dia, a resposta é que onde quer que estejam os homens, Cristo tem o poder de salvar». A lógica concorda com isso, pois é óbvio que o Evangelho alcança apenas poucos homens, uma minúscula porcentagem, enquanto vivem em corpos mortais, mas o amor de Cristo não permitirá que se vão devido à ignorância. Somente se chegarem .a rejeitá-lo é que perderão a salvação por ele oferecida.
Que dizer  sobre a justiça? Ram. cap. 1 deixa claro que Deus seria «justo» se condenasse homens ao inferno, sem importar se ouviram o Evangelho ou não. Porém, não existe tal coisa como justiça nua, à parte do amor e da misericórdia. Uma justiça temperada, na qual os atributos de Deus não estejam divididos e nem se choquem uns contra os outros, alia-se à razoável posição que diz que ninguém poderá perder-se finalmente sem antes ter chegado frente a frente com a verdade, conforme ela se acha em Cristo. O Logos eterno salta todo o espaço e o tempo e garante esse encontro. O que as almas fizerem com isso, dependerá delas, entretanto. Por isso, Bigg, in loc., defende a idéiade que a graça de Deus, por meio de Cristo, trará, finalmente, a todos os homens o «conhecimento» do Evangelho. Ele foi levantado. Todos os homens deverão saber disso, para então se voltarem para Cristo ou rejeitarem-no. Negar isso é perder as imensas dimensões da missão de Cristo, que são subentendidas na história da «descida», bem como em outras passagens, como Efésios 1 e Colossenses 1:16.
«…o Evangelho foi pregado aos mortos com o propósito de moldar a condição deles, de tal modo que, por um lado, sendo julgados segundo a carne (estado dos mortos visto como um juízo contínuo segundo a carne), por outro lado, fossem capazes de «através do juiz (aoristo), atingir, i maneira de Deus, a vida imortal do espírito». (Wiesinger, comentando sobre I Ped. 4:6).
Deus nos considerará responsáveis! Não negam outros versículos acerca do julgamento? Antes, procuramos combinar todos os versículos que falam sobre o assunto, formando um todo harmonioso, e não negligenciamos aqueles versículos que oferecem esperança, quer seja para a salvação das almas que tenham ido para o hades, quer para a melhoria dos perdidos, uma vez que sejam traçadas as fronteiras eternas. Deus nos considerará responsáveis se diminuirmos aquilo que foi revelado, no tocante à amplitude e poder da missão de Cristo. Sem dúvida é muito sério degradar ou subestimar a sua missão. A igreja universal tem reconhecido isso, em parte, pelo menos, porquanto a vasta maioria dos intérpretes antigos e “modernos tem dado à «descida» um papel importante em sua teologia. O mais provável, porém, é que todos os homens, de alguma maneira, tenham subestimado o que Cristo pode fazer e fará, visto que seu poder permeia todas as esferas, todos os mundos e todos os seres. Ê impossível que alguma coisa esteja fora do alcance de seu poder.
VII.  Qual o potencial ou extensão de sua melhoria?
O que já foi dito até aqui produz muitos subentendidos sobre o que agora procuramos expressar, e alguma duplicação de pensamento é inevitável. Entre aqueles que acreditam que Cristo, em sua descida ao hades, fez o bem às almas perdidas, naturalmente há pontos de vista diversos.
a.   A maioria dos pais gregos e latino« ensinaram que, através da descida, Cristo ofereceu aos perdidos a plena salvação. Muitos deles ensinaram <jue esta oferta será válida até a segunda vinda de Cristo que estabelecerá os destinos eternos.
b.   Conforme se mencionou acima, alguns crêem que a descida foi um incidente isolado, e que a melhoria que isso trouxe ao estado dos perdidos, visava somente ao beneficio dos antediluvianos. Esse «bem» poderia ser visto como uma oferta de plena salvação, -ou como meroaprimoramento d?tcondição dos perdidos, os quais estavam confinados a «prisão» antes dq. advento da Cruz. Se o «bem» consistiu da oferta de plena salvação, então alguns, poucos ou muitos, não somos informados, provavelmente se aproveitaram desse ato especial de graça; mas, de acordo ainda com essa interpretação, isso não seria possível para os perdidos que morreram desde a  crucificação de Jesus. Desse modo, tal graça foi oferecida a alguns poucos, apôs a morte deles, e essa graça deve ser encarada como paralela à revelação de Atos 17:30: «…Deus deixou passar os tempos dessa ignorância; mas agora ordena a todos os homens de toda parte que se arrependam». Apesar de que Deus estaria plenamente justificado se condenasse a todos (ver Romanos 1), contudo, seu amor levou a missão de Cristo a beneficiar os perdidos antes da cruz. Presume-se que essa interpretação nos queira levar a crer—agora que a igreja leva avante a missão evangelizadora instituída por Cristo—que agora não se pode mais esperar o oferecimento dessa graça especial aos perdidos do hades.
Mm m a descids ao hades e a pregação do Evangelho aos mortos (I Ped. 4:6) não visava a oferecer a salvação, mas somente melhorar o estado dos perdidos; talvez lhes dando razão e propósito de um viver centralizado em Cristo, embora não a salvação, ou seja, a participação em sua natureza, então poderíamos supor que essa condição de melhoria no hades tomou-se uma regra — isto é, a dimensão dos mortos foi elevada a fim de permitir- lhes fazer parte da unidade que, finalmente, terá lugar em tomo da pessoa do Logos eterno (ver Efé. 1:10). Portanto, segundo essa idéia, a «melhoria dada numa ocasião», produziu resultados contínuos embora algo que não deva ser repetido. Homens bons e dignos intérpretes têm assumido uma ou outra dessas posições, isto é, aquela exposta no parágrafo anterior, com as modificações dadas neste parágrafo. Words­worth parece tomar a primeira, e Ellicott a segunda posição. Ellicott supõe que essa melhoria seria medi­ada através das diferenças nas ressurreições, pois os perdidos ficariam excluídos dos beneficios do corpo ressurreto, conforme os salvos possuirão, e, portan­to, perderão o tipo de vida de que o corpo ressuscitado será o veículo. No entanto, com base em I Ped. 4:6, este autor supõe que eles terão uma expressão espiritual agradável a Deus, por ter sido dada diretamente por ele, o que não eliminará o juízo, mas será seu resultado. Conforme esse ponto de vista, pois, o. juízo não será apenas retribuído, mas também restaurador, e a retribuição se tomará um meio de uma espécie de restauração para os perdidos, embora isso esteja longe da salvação descrita no N.T. O que Ellicott supõe certamente tem valor no tocante ao estado final dos perdidos, mas é quase certo que o «hades» não é o estado final. Apocalipse 20 deixa claro que haverá um juízo além do hades, após o milênio. O testemunho da literatura judaica e cristã sempre foi que o hades representa um «julgamento intermediá­rio», e muitos autores têm pensado ser algo «mutável». Assim, no Testamento de Abraão, a oração intercessora prevalente do patriarca impele Deus a livrar do hades as almas perdidas; e no evangelho de Nicodemos, a descida de Cristo ao hades esvazia aquele lugar de todos os seus cativos; e na narrativa inspirada de Pedro, a base de nossa atual discussão, a descida de Cristo, de algum modo, oferece melhoria aos perdidos, ou quiçá, no mundo intermediário, até lhes ofereça salvação, pois Cristo é o Salvador de todos os mundos, em todos os mundos. E é curioso observar que o evangelho apócrifo de Pedro (escrito em cerca de 130 D.C.) fala em favor do beneficio aos mortos proveniente da descida de Cristoao hades por antecipação, pois estando ainda na cruz, a Jesus é feita a pergunta: ‘Pregaste àqueles que dormiram?’ A resposta dada pelo Salvador em agonia é o misericordioso ‘Sim’. O autor, não Pedro, natural­mente antecipa assim a história da descida do Salvador agonizante, que beneficiou até ao próprio
hades. Mencionamos essas obras extracanônicas a fim de ilustrar atitudes Cristãs dos primeiros séculos. A observação, conforme se notou acima, no evange­lho apócrifo de Pedro, sem dúvida se baseou sobre o livrocanónico de I Pedro, e sua história da descida, e firma-se como uma interpretação deste último. Portanto, se essas obras extracanônicas não têm autoridade como documentos inspirados, pelo menos refletem a interpretação cristã comum do livro canônico de I Pedro.
c.   Fazendo o pêndulo da interpretação encunhar-se para o extremo oposto do pensamento teológico, os universalistas veem evidências, na história da descida, de que em algum lugar, de algum modo, em algum tempo, a graça divina, por meio de Cristo, atrairá todos os homens aos lugares celestiais, como homens remidos. Os universalistas fazem a predestinação dar as mãos ao total propósito remidor, fazendo eleitos a todos os homens. A diferença entre os homens seria apenas uma questão de tempo, e não se seriam ganhos ou não pelo poder de Cristo. Os universalistas não se interessam em tentar equilibrar as Escrituras que falam sobre o juízo, e nem em contrastar versículos sobre o juízo com aqueles sobre a eleição. Eles assumem a atitude que diz que as revelações superiores ultrapassam as inferiores, e assim a salvação final (uma revelação superior) substituiria os temíveis versículos sobre a condenação eterna. £ conveniente, portanto tomar a palavra «eterno» em seu sentido possível de «qualidade», e não em seu sentido de «quantidade». Em outras palavras, o juízo «pertence ao estado eterno», pelo que seria eterno, mas não seria «sem fim». Teólogos e filósofos estão bem cônscios do fato de que a palavra «eterno» pode aludir à «qualidade», e não à quantidade. Assim é que Deus é chamado Eterno a fim de distingui-lo do que é temporal. E vida eterna é um «tipo de vida», isto é, pertencente aos mundos celestiais,não-físicos. Por­tanto, o termo «eterno» pode indicar «espécie», e não, necessariamente «extensão». Não se pode duvidar de que no evangelho de João o vocábulo «eterno» algumas vezes pelo menos, tem o sentido de «qualidade», e não o  de «extensão». A «vida eterna», pois, é a vida que pertence ao mundo além; e «julgamento eterno», e o tipo de juízo que pertence ao mundo além, embora não seja algo necessariamente «interminável». As alusões ao grego clássico apoiam esse uso «qualitativo» do termo. Porém, se pressionarmos os universalistas, dizendo que o sentido «comum» do termo «eterno» quase sempre inclui também a idéia de «extensão», e se a apresentação de muitas referências bíblicas os deixar avassalados, eles simplesmente retrucarão voltando a seu anterior argumento de que «revelações superiores» suplantam inferiores. A história da descida seria um exemplo de revelação superior, oferecendo esperança final para todos, porquanto há provas positivas de que o propósito de Cristo opera para a salvação de todas as almas até mesmo do outro lado da morte física. Se seu raciocínio for contradito, aludindo nós que é ilógico supor que uma revelação superior possa suplantar (e contradizer) uma inferior, eles simplesmente nos lembrarão de que foi exatamente isso que sucedeu em relação ao Antigo e aoNovo Testamentos, com suas respectivas mensagens. Nos mostrarão referências veterotestamentárias que falam da aplicação «eterna» da lei, com seus sacrifícios etc. Então, enquanto estamos um pouco encolhidos, a arrumar os pensamentos, eles mostrarão que os rabinos do Talmude assim interpretavam sua própria revelação, pois defendiam a qualidade eterna das leis, cerimônias, sacrifícios, etc. (O judeu olhará desconfiado para nossas «inovações cristãs», perguntando como temos contradito «a revelação», abandonando os mandamentos do A.T., que naquele mesmo documento são declarados como de aplicação eternal. Se frisarmos certos textos do N.T., que falam de punição eterna, então os universalistas apontarão para outros versículos, incluindo aqueles sobre a descida de Cristo ao hades, que podem ser interpretados como se ensinassem salvação final para todos. E assim, conforme se dá com a maioria das discussões argumentativas, ambos (nós e eles), deixaremos a sala pela mesma porta que tínhamos entrado.
Nesta discussão sobre a descida, como por todo este artigo, procuramos obter bom equilíbrio na interpre­tação. Cremos, portanto, que por mais nobre que seja a idéia douniversalismo, não preserva esse equilíbrio, comparando Escrituras com Escrituras, motivo porque é suspeito.
d.   Além disso, ansiosos por preservar esse citadoequilíbrio, rejeitamos ver nas Escrituras somente os temidos versículos de retribuição eterna. Nesses versículos, outrossim. vemos outras revelações modi­ficadas ainda por outros versículos, que lançam maiores luzes sobre a questão do hades, projetando esperança. A fonte de água viva da cruz eleva-se acima de toda a vergonha humana e cascateia dali as doces águas da gentileza, que tombam sobre a dimensão tristonha dos antediluvianos desobedientes. Por isso, foi dito: «Ele foi pregar aos espíritos em prisão, que antes foram desobedientes… O Evangelho foi pregado aos mortos». Haverei de desistir dessas palavras de graça e benevolência eternas porque, em outro lugar, a iraardente de Deus é vista a perseguir o pecado e o pecador com terrível luta sem quartel? Não eu! Sim, eu não, principalmente porque não ouso diminuir a missão de Cristo abaixo do que ela é vista nas Escrituras, ainda que outros homens, ignorando as mesmas, ou por terem um ponto de vista diverso das mesmas, diminuam essa missào para menos do que ela certamente é.
Oh, Cristo, Salvador de Todos os Mundos
Cristo, o Salvador de todos os mundos, em todos os mundos, até a própria beira da condenação; Amando, buscando, sondando, salvando além do sepulcro ou túmulo.
Não decretos divinos, dogmas de homens, eras agora e então, mentes mesquinhas, embotadas pelo sentido e pelo tempo,
Podem limitar seu imutável poder salvador, uma fixa esperança sublime.
Oh, Cristo, imutável, Redentor perene, na transição dos séculos o mesmo Constante e perpétuo é o poder reconquistador de teu nome.
Ponto do tempo chamado terra e um Jesus terreno não são tudo, não podem ser tudo,
Esferas além, mundos vindouros, o Jesus Celeste deverá fascinar.
Ponto de tempo terminado pela morte, significa para alguns, o fim da própria vida.
Para outros, o fim da esperança; ambas são visões míopes, sem dúvida.
Pois Tu, ô Cristo eterno, no tempo e fora do tempo, seguras a tudo com segurança.
Amando, buscando, sondando, salvando além do sepulcro ou túmulo.
Tu és o Cristo de todos os mundos, em todos os mundos, até à beira da condenação. Na condenação? Na condenação!
(Russell Champlin, meditando sobre
I      Ped. 3:18-20; 4:6).
***
Quão temível o caso, quão temível o pensamento, aqueles que perderam seres amados:
Os quais até à beirada seguiram aqueles a quem amam,
E sobre a limiar insuperável se postam,
Com nomes queridos reprovam sua calma muda,
E afagam por sobre o abismo sua mão não segurada.
(Tennyson).
***
«Ele foi e pregou aos espíritos em prisão, que antes foram desobedientes… O Evangelho foi pregado aos mortos».
O abismo é profundo demais,
Suas mãos são por demais pequenas.
No entanto, Jesus, ao lado deles,
Pode recuperar almas perdidas.
Contemplai esses homens erguidos por Cristo,
O resto permanece sem ser desvendado.
Ele não nos diz, ou algo selou Os lábios de Pedro, o Evangelista.
(Russell Champlin, primeiro versículo; segundo, adaptado de Tennyson).
Deixe-nos ver o que o texto aqui tem a ensinar, nada mais, mas, ao mesmo tempo, nada menos. Ele pregou o Evangelho aos mortos desobedientes, sem dúvida, para estender sua missão redentora (ou melhoradora) aos mesmos, que tão recentemente havia feito na face terrestre. Primeiro Pedro 4:6 exiçe esta interpretação da descida, pois é um comentário breve sobre o mesmo. O resto Pedro não revela. Seus lábios estavam selados. Quantos acreditaram? Quan­tos zombaram? Quantos rejeitaram? Foi seu ato um precedente? Foi acontecimento único? E$tas são questões importantes.
O caso para o precedente: Um pouco de reflexão nos assegurará de que aquilo feito por Cristo no hades era um precedente, isto é, «estabeleceu um modelo» para futuras missões similares, de fato, foi a abertura do hades como campo missionário. A razão e as Escrituras nos levam a isto, mesmo que o texto com o qual nos defrontamos não declara simples e direta­mente esta implicação. Tudo que Cristo fez foi um precedente. Toda sua vida e missão foram designadas para serem precedentes de diversos tipos. Sua vida tomou-se para nós, por todos os tempos, um precedente de como a busca espiritual deve ser conduzida. Sua morte tornou-sea base da expiação por todos os tempos. Sua ressurreiçãotornou-se a base da vida, a própria fonte do princípio da vida. Em sua ascensão, também nós somos elevados aos céus. Seria deveras estranho se sua descida ao hades fossea única ação de sua missão que tivesse aplicação de vez única, sem resultados contínuos no futuro. Seria deveras estranho se sua descida ao hades, em contraste com tu do o mais que realizou, não tivesse aplicação além do que no momento e naquele tempo ele lá conseguiu.
As Escrituras são pelo precedente: Ver as notas em Efé.4:9,10 no NTI, que impõem sobre nós a idéia do precedente. Efé. 1:23 mostra que Cristo tomar-se-á tudo para todos, e por sua «plenitude», a igreja, pois è por intermédio de seu corpo que ele se expressa.
O que fica implicito na descida no tocante ao estado final dos perdidos:
Esta narrativa (como dada em I Ped.) não descrevediretamente o estado final, mas antes, o juízo intermediário do hades. Contudo, seu espírito de admirável graça concorda com outras revelações que levantam ainda mais a cortina eterna, além da história da descida. Apesar de não podermos aqui defender os ensinamentos do universalismo, por razões já declaradas, contudo as Escrituras, em passagens como Efésios 1 e Col. 1:16 certamente vão além do que alguns homens ensinam acerca do estado final dos perdidos. Essas Escrituras requerem que, no estado eterno, haja uma espécie de restauração de tudo em Cristo. Esse é o mistério da vontade de Deus (ver Efésios1:10), e todos os ciclos sucessivos (dispensações) da operação de Deus levarão, todas as coisas e todos os seres, finalmente, a ficarem em torno do Logos como sua razão de existência. Mas isso não faz com que todos os homens se tornem eleitos, embora envolva infinitamente mais do que alguns querem atribuir a essas palavras.
A tragédia de rejeitar a Cristo depois que ele ofe­rece aos seres humanos a sua própria natureza e vi­da{salvação), não consiste principalmente nos «sofri­mentos» que os homens encontrarão; e não nos equivoquemos sobre isso, tais sofrimentos são reais. Mas a tragédia consiste muito mais do fato de que perderam sua primogenitura como homens, um direito de primogenitura que lhes cabe pelo simples fato de serem homens, pelo que, potencialmente podiam ter vindo a participar da vida e da natureza do Homem Ideal, chegando assim a participar da sua própria divindade (ver II Ped. 1:4). Tendo perdido seu direito de primogenitura, passaram por perda infinita, porquanto aquilo que poderiam ter ganho é um ganho infinito. Os perdidos, pois, estão infinitamente perdidos, por terem deixado de ser infinitamente salvos. Se fizermos da salvação apenas o perdão dos pecados e a mudança futura de endereço para os céus, algum dia, então não teremos compreendido o que significa ser eleito para a glória eterna. Nisso, outrossim, teremos perdido de vista o contraste gigantesco entre o que significa ser «salvo» ou ser «perdido».
Note bem
Meus amigos, há alguns anos, quando escrevi este artigo sobre a Descida de Cristo ao Hades, na preparação do Novo Testamento Interpretado, falei (como o leitor pode ver) sobre a restauração dos perdidos como se fosse uma perda infinita, em comparação com a redenção dos remidos. Desde aquele tempo, tenho chegado apercepção de que é depreciador ao caráter do Salvador-Restaurador falar sobre qualquer parte de sua obra como uma perda infinita. É melhor dizer que tudo que ele faz émagnificente; tudo que ele faz, ele faz bem, e o total de suas obras constituem um tapete magnífico, composto dos contrastes necessários de cores brilhan­tes e claras e escuras. Ver o artigo sobre Restauração que dá mais detalhes sobre estes conceitos.
O trecho de Col. 1:16 mostra que o «tudo» que Cristo criou, o que foi criado por causa de seu ser (a criação foi «nele» e «por» ele), também será «para ele», isto é, um «retorno a ele». Encontramos aqui uma «metáfora da emanação» da filosofia e da teologia antigas. O sol, o fogo central, despede seus raios, emana seus raios. Mas então o sol recolhe seus raios, que uma vez mais são absorvidos pelo sol. Autores do N.T. e primitivos cristãos normalmente evitavam a metáfora da emanação, porque se prestava a ensinar o panteísmo; mas neste ponto essa metáfora é aplicada com cautela, sem qualquer intenção de ensinar o panteísmo. Assim, a criação procede de Cristo. «O tudo» vem da parte dele, por causa dele e por meio de seu poder. Mas então, com a mesma certeza, haverá de retomar a ele, sendo por ele absorvido, o que é a mesma coisa que a unidade referida em Efé. 1:10. O mesmo «tudo» que foi emanado dele, haverá de retornar a ele, pois nada pode ficar fora do magnetismo de seu poder. Em seu retorno, Cristo tomar-se-á «tudo para todos» (ver Efé. 1:23). Ele é a razão da existência de tudo, o alvo do viver de todos. Sim, isso será menos intenso no caso dos perdidos, mas é algo verdadeiro, embora com alguma limitação, o que nos admira. E assim se vê a veracidade da declaração: «Quando eu for levantado, atrairei todos a mim» (João 12:32). Isso não quer dizer que todos os homens venham a entrar na «verdadeira vida», que foi tencionada para todos, e que consiste na participação na própria forma de vida necessária e independente de Deus (ver João 5:25,26 e 6:57). Nem significa que todos compartilharão da «natureza divina» (II Ped. 1:4). Mas significa que de nenhuma forma, e por nenhum meio, poderá falhar finalmente a missão de Cristo, conforme os homens consideram isso um fracasso. Quando tudo for reunido em tomo de Cristo, formando uma unidade, sua missão terá sucesso de diferentes modos, e com diferentes resultados, mas não será um fracasso. E é mesmo impossível que sua missão possa falhar, do modo como os homens descrevem um fracasso.
O vicio das teologias sistemáticas e das denominações sectaristas:
É bom termos um sistema de crenças; é bom que nos identifiquemos com algum grupo, a fim de podermos envidar um esforço comum em prol do Evangelho. As teologias sistemáticas e as denomina­ções, porém, compartilham todas do vício de «excluir» ou «distorcer» aquilo que não se bitola dentro de sua linha de pensamento. Assim, alguns homens negam a divindade de Cristo porque não podem perceber como uma entidade pode ser, ao mesmo tempo, divina e humana. E outros, pelo mesmo motivo, negam a humanidade de Cristo. Ambos esses lados deixam de ver as doutrinas realmente grandes da fé cristã, as quais, em algum ponto, se resumem em paradoxos; não por serem realmente tais, mas porque assim nos parecem, devido ao nosso presente limitado entendi­mento. A «teologia» é o estudo do divino, e, portanto, como pode ser reduzido com êxito a termos humanos? Alguns rejeitam a doutrina do «livre-arbítrio», porque as Escrituras ensinam a «predestinação» e, por semelhante modo, outros rejeitam a doutrina da predestinação, porque as Escrituras ensinam o livre-arbítrio. Denominações são formadas a fim de defender este ou aquele lado de um paradoxo. As denominações fazem a verdade estacar no ponto de partida. As denominações param, mas a verdade continua; e aqueles que se põem a seguir a verdade, são tidos como quem está no trilho errado.
Nesse mesmo campo dos paradoxos deixamos os ensinamentos sobre o juízo. Existem aqueles versícu­los severos, incansáveis, aterrorizantes, rubros. Precisamos deles porque nos advertem sobre os resultados muito negativos do pecado. — Mas também existem aqueles versículos esperançosos, resplendentes, penetrantes, que levantam o véu da melancolia. Não se pode duvidar que não sabemos como harmonizar todas as Escrituras em um único «grande quadro», e nem podemos dar argumentos convincentes para todos. Mas incorremos em erro ao fazermos uma passagem bíblica entrar em choque com outra, negando assim a grandiosidade da revelação de Cristo, — que, finalmente, será «tudo para todos».
Ouçamos o cântico da redençao que desce dos céus, em tons divinos, o magnificente cântico dos eleitos, e que somente eles podem entoar. Mas demos ouvidos, igualmente, ao cântico da restauração, que ultrapassa as dimensões do juízo eterno. Esse cântico é menos imponente, mas expressa o mesmo tema, o único tema que finalmente haverá, Cristo. Ouçamos o tema do hino entoado por qualquer indivíduo ali: é Cristo. Ê isso que as Escrituras querem dizer quando afirmam que Cristo é o Alfa e o Ômega. Alfa, porque a criação foi efetuada «nele» e «por ele». E Ômega, porque a criação também é «para ele». Ômega, repito, e não meramente Alfa. Vede o Cristo de pé!
Foi grandioso ordenar que um mundo saísse do nada, Mas foi maior redimir,
Foi grandioso revelar Deus a seres angelicais,
Mas foi maior dar valor ao humilde homem.
Foi grandioso habitar em favor divino exaltado,
Mas foi maior ser Salvador de homens alquebrados.
Aos perdidos, entretanto, sem importar quão grande seja seu lucro final, podemos dizer as palavras de Robert Browning:
Oh, se traçarmos um círculo prematuro, Sem nos importarmos com ganho a longo prazo, Gananciosos por pronto lucro ou proveito, certamente Má terá sido nossa barganhai
VIII. Não é a mesma coisa que o purgatório
O texto que ora comentamos tem sofrido várias perversões. Naturalmente, tem sido usado como texto de prova da existência do purgatório, mas desajeita­damente. Pois o purgatório envolve a noção de que os cristãos que tiverem morrido com pecados não-per- doados ou imperfeições, terão de passar um período de sofrimento e julgamento, a fim de serem purificados e aprimorados. Nosso texto, porém, fala de almas perdidas, e não das almas dos justos. Para os perdidos foi que a misericórdia foi oferecida; a eles é que o Evangelho foi pregado.
IX. Sumário do ensino da passagem
Após fazer expiação, Cristo, em seu espirito humano desencarnado, desceu ao hades, dimensão dos espíritos humanos que partiram. Ali pregou o evangelho aos desobedientes e lhes ofereceu salvação sob a condição de fé e arrependimento, preservando as mesmas condições de sua missão salvadora conforme se vê no plano terrestre, onde ele é, igualmente, o único Salvador. Nesse ato, Cristo, cremos, por implicação, estabeleceu um precedente. A Igreja, que é seu corpo, sua plenitude, por ser isso, tem a tarefa de fazer Cristo tornar-se «tudo para todos», pois o corpo é a expressão do Cabeça em todas as dimensões. Assim nos ensina Efé. 1:23 e este versículo contempla a eternidade, conforme nos mostra o contexto. Outros trechos bíblicos ensinam que fronteiras eternas serão traçadas quando da volta de Cristo, e não quando da morte de cada indivíduo; e notemos que I Ped. 4:6 demonstra isso. O texto mostra que Cristo é o Salvador cósmico, e não meramente terreno. Ele teve seu ministério sobre a terra; seus apóstolos e sua Igreja continuaram essa missão; então ele levou sua missão ao mundo inferior, para ser continuada do mesmo modo que sua missão terrena. Finalmente, ele teve sua missão nos céus, e, combinando todas essas missões, que são apenas uma grande Missão Cósmica, finalmente ele se tornará tudo para todos.
Alguns intérpretes acham que a descida deve ser ligada com tais escrituras como Efé. 1:10,23 e 4:8-10 para ensinar que esta missão de Cristo aos perdidos no hades terá o efeito de uma restauração dos não-eleitos, mas não a redenção dos eleitos. A restauração dará a eles uma vida de utilidade e certo nível de glória, mas será uma forma de vida infinitamente mais baixa do que a redenção.
X. Esse ensino nos comentários modernos
Conforme já se frisou aqui e ali, acima, essa interpretação é «comum» na história da igreja, embora, para alguns, possa parecer uma novidade até obnóxia, pois tem contemplado a verdade somente, através dos óculos de alguma denominação particu­lar. Este artigo tem sido compilado com base no exame de dezessete comentários diversos, além de outros livros, como dicionários, léxicos e enciclopédias, que também têm sido consultados. Dentre os dezessete comentários consultados, doze têm uma interpretação essencialmente idêntica à deste artigo. Esses doze são os seguintes: Bloomfield, no «Compre­hensive Commentary»; Vincent, em «Word Studies in the New Testament»; Mason em «Ellicott’s Commen­tary»; R. Rawson Lumby, em «The Expositor’s Bible»; Lange, no «Lange’s Commentary»; Bigg, no «The International Critical Commentaiy»; Hunter e Hom- righausen no «The Interpreter’s Bible»; Meyer, em «Meyer’s Commentary on the New Testament». Pode-se notar que esses homens representam a herança da literatura cristã no idioma inglês, e são luteranos, anglicanos, batistas e presbiterianos. A maior parte dos batistas e presbiterianos no tocante aos modernos grupos evangélicos, precisamos admi­tir, não seguiu essa orientação. Dentre os cinco comentários restantes que foram consultados, John Gill, Adam Clarke eFaucett negam totalmente a narrativa da descida. Calvin o admite a realidade da descida, mas não vê nenhum bem oferecido aos perdidos dali. Robertson apresenta ambos os lados da questão, mas não nos dá sua opinião pessoal. Portanto, dentre os dezessete comentários examina­dos sobre a questão, apenas três negam completamen­te a «descida», e somente quatro dão uma interpreta­ção que não segue as linhas apresentadas neste artigo. Por «não seguem as linhas» queremos dizer que não veem vantagem nem melhoria na descida, no tocante aos perdidos, ao passo que todos os outros comentários, de vários modos, vêem uma melhoria ou mesmo o oferecimento de plena salvação no mundo de julgamento intermediário. Esse mesmo esmagador apoio tem sido dado à narrativa da «descida» através da história da igreja (conforme já vimos no primeiro ponto deste artigo).
XI. A descida ao Hades na historia do cristianismo
Primeiramente, deve-se notar, que «descidas» ao mundo inferior dos espíritos, por parte de deuses e heróis, e por várias razões, como curiosidade, obtenção de algum dote pessoal, para prestar algum serviço misericordioso, etc., são comuns nos escritos dos babilônios, egípcios, gregos e romanos. Nas tradições babilónicas temos a descida de Istar; nas tradições mandeanas, a descida de Hibil-Ziwa; nos escritos gregos, a descida de Hércules, na obra de Eurípedes, «Alcestis». E tais descidas também eram comuns nas religiões misteriosas.
As descidas na literatura pagã podem refletir uma intuição espiritual da parte dos homens que o estado dos mortos deve ser sujeito a modificação pela misericórdia de Deus. Na teologia judaico-helenista,tal conceito era acolhido favoravelmente, e profetas do A.T. são retratados como quem cumpria missões ao hades. (Ver o ponto quarto da discussão em prova disso). Na literatura extracanônica da igreja primiti­va, a descida era doutrina importante. 0 Evangelho de Pedro, o Evangelho de Nicodemos e o Testamento de Abraão contêm a história. A descida foi referida de modo positivo pela maioria dos pais da igreja, cujos escritos porventura ventilem o tema, e isso continuou até Agostinho, no século V, que deu uma interpretação que nega totalmente a descida. A descida foi incluída nos Credos Apostólico e Atanasiano. Logo após a época de Agostinho, poucos chegaram a negá-la, embora alguns nomes respeitáveis estejam ligados a essa negação.
«Tal crença, sob uma forma ou outra, tomou-se cada vez mais comum nos primeiros séculos, e finalmente, foi geralmente aceita pela igreja, apare­cendo nos Credos Apostólico e Atanasiano. Na Idade Média, tomou-se tema popular de peças teatrais sobre milagres, na arte e na literatura. Durante a Reforma, foi geralmente inclusa nas confissões e outras declarações de fé. Em tempos mais recentes, a «descida» tem-se tomado motivo de controvérsia. Contudo, continua sendo aceita, mas comvariegadas interpretações, pela maior parte do cristianismo, tanto católica quanto protestante, ainda que um número crescente de denominações evangélicas a venha negando» (Encyclopedia of Religion, New Students’ Outline Series, pág. 224).
XII.  A descida no  Novo Testamento
Quanto a passagens, além daquelas que ventila­mos, que contêm alusões à descida de Cristo ao hades, ver Atos 2:27,31 (Pedro também falava); Efé. 4:8,10; Rom. 10:6,9.
Embora as referências neotestamentárias não sejam abundantes no que tange a esse acontecimento, há muitas alusões a descidas assim, na literatura não-judaica. Além disso, os primeiros escritos cristãos, e não poucos deles, contêm a narrativa da descida de Cristo ao hades. Ver uma demonstração desta declaração, com outras referências nas notas do presente artigo.
1.    O significado da descida não é que Cristo foi ao hades a fim de pregar o juízo. Isso é contradito pelo texto de Efé. 4:9 ss e I Ped. 4:6. Sua descida teve o mesmo propósito que sua subida, isto é, «para que enchesse todas as coisas», ou se tomasse «tudo para todos», a mesma expressão encontrada em Efé. 1:23. Ver Efé. 4:10.
2.   A maioria dos pais da igreja viam, nessa descida ao hades, a oferta de plena salvação aos perdidos que ali se encontravam. Em outras palavras, Cristo transformou o hades em um campo missionário. Ver detalhes sobre esta idéia no NTI em I Ped. 4:6.
3.    Outros dentre os pais da igreja, pensavam que Cristo melhorava o estado dos perdidos, mas sem lhes oferecer a salvação evangélica, que é uma idéia digna de atenção, mas inferior. I Ped. 4:6 quase certamente fala de salvação. O plano de Deus de longo alcance (o mistério da vontade de Deus), sem dúvida, contém esta idéia de restauração, mas a descida é relacionada a uma oferta de salvação, não meramente restauração a um estado inferior.
4.    Que alguma forma de restauração foi a intenção de Cristo, concorda com a mensagem de Efé. 1:10, a qual requer a formação da unidade de tudo em tomo de Cristo, finalmente. Sua descida ao mundo inferior, garantiu que os lugares de julgamento não escapas­sem o âmbito de seus propósitos. (Ver João 14:6 no NTI e o artigo, Missão Universal de Cristo).
5.     A remoção dos santos do tempo do V.T. de hades para os céus.
6.    Tanto a descida quanto a subida de Cristo tiveram idêntica finalidade (ver o vs. 10), isto é, que
Cristo fosse tudo para todos. As notas que figuram em Efé. 1:10 .
7.    O que indica a tradição da descida de Cristo aohades? Indica que, sem importar onde os homens se encontrem, o Cristo pode alcançá-los em sua missão de benevolência.
«Pensemos nas regiões atravessadas pelo Senhor Jesus, o alcance das categorias de seres pelas quais ele passou, ao subir e descer, a fim de que pudesse ‘encher todas as coisas’. Céus, terra, hades — e novamente hades, terra e céu, tudo se tomou dele; não apenas na forma (te mero poder soberano, mas também na forma de experiência e de comunhão de vida. Cada coisa Cristo anexou ao seu domínio por motivo de habitação e devido ao direito de um amor auto devotado, quando, de esfera em esfera, ele ‘viajou na grandeza do seu poder, poderoso para salvar’. Ele é o Senhor dos anjos; ainda mais, dos homens — Senhor dos vivos e dos mortos. Para aqueles que dormem no pó ele proclamou seu sacrifício realizado e o direito de julgamento universal que lhe foi dado pelo Pai… Estivera ele humilhado? Esteve humilhado no ventre da virgem e na manjedoura, envolvendo suadeidade dentro do arcabouço e do cérebro de uma criancinha; esteve humilhado em sua casa. e na bancada do carpinteiro da vila; esteve humilhado devido às contradições dos pecadores com as suas zombarias;esteve humilhado devido à morte na cruz, até o abismo mais profundo, até aquele submundo populoso e sombrio para o qual olhamos estremecen­do à beira da sepultura! E daquele golfo mais inferior ele subiu novamente à terra sólida e à luz ‘ do dia, este mundo de homens que respiram; e daí foi subindo e subindo, através das nuvens rasgadas e das fileiras de anjos em coro, tendo passado sob os umbrais das portas eternas até que tomou seu assento à mão direita da Majestade, nos céus» (Findlay, em Efé. 4:9,10).
XIII. A descida e a restauração
A descida ao hades e a ascensão tinham o mesmo propósito, isto é, fazer Cristo tudo para todos, (encher todas-as coisas). Ver Efé. 4:9,10. Ê impossível pensar que a descida foi para condenar e a ascensão para salvar. Os dois têm o mesmo propósito e são elementos vitais da Restauração (que vide). Ver Efé. 1:10,22,23. A descida, portanto, não tocou somente as vidas das pessoas que viviam antes de Cristo, mas sim, todas as vidas, em todos os tempos. A descida foi uma das chaves que abriu a porta universal da oportunidade e da salvação.
Tempo  e  a restauração
As imensas eras da eternidade futura serão envolvidas, até que a restauração sega absolutamente completa. Omistério da vontade de Deus (que vide) não pode ser vencido, nem completamente, nem parcialmente, ou Deus não é Deus. Seu poder onipotente e sua predestinação garantem a realização. O amor de Deus opera em tudo, porque o próprio julgamento é um dedo da mão amorosa de Deus.
Tempo  e a salvação
Faço uma diferença entre a redenção e a restauração que é explicada no artigo sobre a Restauração. A restauração deve ser absoluta, de todos os seres. A salvação é dos redimidos. Há uma grande diferença em nível de glória, embora tudo que o Redentor-Restaurador faça é infalivelmente grande e glorioso. Vem, então, uma pergunta importante: Os restaurados, afinal, podem tomar-se redimidos? As imensas eras da eternidade futura podem ser meios de salvação e não somente de restauração? A esta  pergunta eu conjecturo sim na base da convicção que nenhum ato de Deus pode ser estagnado, inclusive, o ato redentor. Porém, o resultado final disto, é conhecido só por Deus. Antecipo o efeito do tapete no qual existirão muitos níveis de glória, um tapete de muitas cores, brilhantes e obscuras, cada uma representando um nível diferente de glória e tipo de ser. Acho que uma cor pode transformar-se em outra, até mesmo na cor áurea da redenção, mas antecipo que o número final do eleitos será pequeno. Somente Deus tem conhecimento destes mistérios.
Otimismo. O ponto de vista pessimista que limita o ato redentor e o ato restaurador à extensão da vida biológica de cada pessoa nos dá um evangelho negativo e impotente. Neste evangelho, a missão de Cristo falha. Isto não pode representar a verdade. Trechos do Novo Testamento como I Ped. 3:18-4:6 e Efé. cap. 1 são contra este tipo de explicação do evangelho.
CONCLUSÃO
1.    É errado usar este texto ou permitir que influencie o pensamento de alguém de modo a diminuir a importância da missão evangelizadora da igreja atual. Quão absurdo seria pensar que é menos importante conduzir homens a Cristo agora, somente porque é possível que sejam levados após seu sepultamento. A mesma rebeldia que levou homens a rejeitarem a Cristo agora, facilmente pode levar homens ao estado eterno destituídos de sua salvação. Entretanto, por outro lado, nenhum zelo evangelístico no presente estado mortal deveria levar-nos a uma visão embotada acerca do prodigioso poder da missão de Cristo, aqui, ali ou em qualquer parte.
2.    A discussão sobre a «descida», ou sobre qualquer outro ponto teológico, não deveria tornar-se pretexto para cortarmos e requeimarmos a outros, apontando- lhes dedos acusadores, usando impensadamente a palavra temível «herege».
Ó Deus! … Que carne e sangue fossem tão baratos! Que os homens viessem a odiar e matar,
Que os homens viessem a silvar e a decepar a outros
homens,
Com línguas de vileza …por causa da…
“Teologia”.
Ouçamos as palavras ditadas pela sabedoria:
Da covardia que teme novas verdades,
Da preguiça que aceita meias’verdades,
Da arrogância que pensa saber toda a verdade,
Õ Senhor, livra-nos!

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