Ensinos de Jesus (2° Parte)


Embora a quantidade de material de que dispomos acerca dos ensinamentos de Jesus não seja grande, as implicações são tão vastas que nem mesmo todos os volumes que já foram escritos acerca de Jesus e seus ensinos têm satisfeito as mentes daqueles que buscam a verdade e a autêntica expressão religiosa revelada. As interpretações sobre os ensinamentos de Jesus são tão numerosas quanto as opiniões sobre a sua pessoa e o sentido de seu ministério. — Por conseguinte, — neste pequeno artigo —, esperamos apresentar somente um esboço abreviado do que Jesus ensinou, esperando compreender apenas os temas principais.
1.  Fontes
O corpo principal dos ensinos de Jesus acha-sepreservado nos quatro evangelhos, embora os livros deAtos e Apocalipse, e as epístolas, sirvam para corroborar a mensagem essencial de Jesus. Essas obras posteriores, entretanto, não citam freqüente­mente a Jesus, e nem mesmo apresentam paráfrases do que ele disse. Sabemos que as primeiras epístolas  de Paulo foram publicadas antes dos evangelhos, pelo que não se poderia esperar que contivessem citações dos mesmos; mas é surpreendente que não contenham mais citações da tradição oral, e de pesquisas pessoais nos muitos documentos escritos que devem ter vindo à luz antes dos quatro evangelhos que conhecemos. Também é verdade que as epístolas paulinas posteriores (escritas após os evangelhos) não citam os evangelhos nem quaisquer outras tradições que porventura contivessem ensinos de Jesus. Assim, tal como se dá com o conhecimento que se tem acerca da vida histórica de Jesus, outro tanto se verifica quan­to aos seus ensinos —somosobrigados a depender pessoalmente dos quatro evangelhos. Os evangelhos apócrifos apresentam material adicional, embora a maioria dos ensinos que parecem fidedignos se baseia nos quatro evangelhos, que antecederam àqueles. Entretanto, é muito provável que exista nesses evangelhos apócrifos algum material adicional autêntico. Quem fizesse um estudo especial nesses documentos, a fim de separar o que parece válido e que não é baseado nos quatro evangelhos canônicos, prestaria um grande serviço à causa do cristianismo. Também existe certo número de declarações, fora dos evangelhos, que chegou até nós, sendo possível que muitas dessas declarações sejam autênticas. Essas declarações são intituladas pelos eruditos como declarações «não-canônicas» de Jesus. Importantes escavações arqueológicas foram levadas a efeito por B.P. Grenfell e A.S. Hunt, em Behnesa, a antiga Oxyrynchus, cerca de dezesseis quilômetros do rio Nilo, situada no canal principal (Bahr Ysef), que trazia água para a região de Fayum. Essa cidade, na antiguidade, foi a capital do distrito de Oxyrynchus. Nos séculos IV e V de nossa eratornara-se famosa como comunidade cristã.
Foi nessa localidade, pois, que se desenterraram alguns papiros contendo diversas declarações atribuí­das a Jesus, algumas delas similares às que se lêem nos evangelhos, embora outras sejam diferentes. Foram publicadas sob o título de Logia, em 1897. Algumas delas dizem como segue: «Jesus diz: Excetojejueis para o mundo, de maneira alguma encontra­reis o reino de Deus; e exceto se fizerdes do sábado um verdadeiro sábado, de modo algum vereis ao Pai». «Jesus diz: Estive no meio do mundo e na carne fui visto por eles e encontrei todos os homens bêbados, e a ninguém encontrei sedento entre eles e a minha alma se entristeceu por causa dos filhos dos homens, porque estão cegos em seus corações, e não vêem».«Onde houver dois, não estão sem Deus, e onde houver ao menos um, digo que estou com ele. Levanta a pedra, e ali me encontrarás, racha a lenha, e aliestou eu». «Jesus diz: Ouves com um dos ouvidos, maso outro ouvido fechaste». Outras declarações desse grupo são similares ou iguais às declaraçõescanônicas, tais como a cidade edificada sobre uma colina, mas há uma declaração na qual Jesussupostamente diz que ninguém pode cair nem ocultar-se. Em 1903, Grenfell e Hunt descobriram um outrofragmento de papiro, em Oxyrynchus, e que continha mais declarações atribuídas a Jesus, que foi publicado sob o título New Sayings of Jesus’and a Fragment of aLost Gospel from Oxyrynchus (London, 1904). Esses documentos indicam quão populares eram as declarações de Jesus entre os cristãos do Egito, e também ilustram o tipo de coleções feitas por eles. Quanto é autêntico nessas coleções é incerto, e provavelmente assim será sempre. Não obstante, não há que duvidar que pelo menos uma parte dessas declarações é autêntica. Outras declarações não-canônicas de Jesus podem ser    encontradas em mss gregos e latinos do N.T., os quais se afastam em muito da tradição textual ordinária. Isso é particularmente verdadeiro acerca do texto «ocidental» do N.T. (isto é, manuscritos que chegaram a nós vindos do Ocidente, partes da África da Itália e da Europa). Os códices D e W são os principais exemplares. O códex D e algumas traduções latinas também contêm um texto mais longo do livro de Atos dos Apóstolos do que o texto geralmente aceito, acrescentando detalhes sobre a vida e as palavras dos apóstolos, e fornecendo algumas informações de natureza geográfica.
O leitor pode verificar facilmente que, embora exista algum material adicional que preserva algumas declarações de Jesus, e que parte das mesmas certamente é autêntica, contudo, ficamos limitados aos quatro evangelhos como fontes informativas, fidedignas para que compreendamos os ensinamentos de Jesus, porquanto o material adicional extrabíblico é reduzido.
2.  Natureza inigualável
Todos concordam que os ensinamentos básicos de Jesus podem ser encontrados no judaísmo revelado. De fato, a teologia cristã tem suas raízes ali. Muitas das declarações de Jesus podem ser encontradas na literatura rabínica, algumas vezes em sua forma exata, e outras vezes em forma modificada. Certo número dessas declarações, todavia, deve ter sido autêntico, porque não encontramos traço algum das mesmas em qualquer peça literária. A habilidade especial de Jesus, — ao manusear o pensamento judaico, era de eliminar aquilo que era supérfluo e prejudicial ou mesmo errôneo, preservando o melhor da tradição, tanto no V.T., quanto nos escritos rabínicos. Alguns dos bem conhecidos temas judaicos receberam nova vida ou nova interpretação nas mãos de Jesus. Por exemplo, o ensino sobre o reino de Deus (ou do céu). Esse tema era antigo e familiar entre os judeus, mas Jesus fê-lo soar com uma nova urgência, pois proclamou que o reino estava às portas, e que ele mesmo era o rei, por ser o Messias. Jesus também ensinou a ressurreição dos mortos e indicou que esse evento faria parte integral do estabelecimento do reino. Mais do que qualquer outro contemporâneo ou do que qualquer profeta do A.T., ele revelou a espiritualidade do reino e demonstrou que não pode ser encarado como mero sistema político de governo. Por causa da espiritualidade do reino, o arrependi­mento é urgente e necessário. Essa renovação e nova ênfase, bem como a proclamação de que o rei já estava presente, fez com que o ensino de Jesus sobre o «Reino de Deus» fosse não apenas novo, mas absolutamente sem-par. Jesus também revolucionou outros ensinamentos, incluindo muitos ensinos bási­cos da lei, tal como o sentido do divórcio, do adultério, do amor, etc. De fato, Jesus reinterpretou a lei «de modo radical». Isso não significa que ele não tinha companhia entre os escritores rabínicos, pois a verdade é que os tinha, em muitos particulares. No entanto, o que ele disse e fez foi revolucionário e até mesmo sem igual.
Jesus veio para ensinar sobre o pequeno rebanho, em contraste com a correnteza principal do judaísmo e,  finalmente, usou a palavra «igreja», com ela indicando um tipo inteiramente novo de comunidade religiosa. Esses ensinos não tinham igual. Desde o décimo sexto capítulo de Mateus temos os primórdios dessa nova ordem, e seguem-se muitas instruções que se aplicam aos diversos problemas que porventura surgissem no seio da nova comunidade. O desenvolvi*mento do tema messiânico, i aplicado à personalidade do próprio Jesus, certamente era uma novidade em Israel. O — Servo Sofredor — era novo para o pensamento judaico, pois embora certos trechos do V.T. claramente indiquem sua existência, o pensa­mento judaico deixara passar completamente em branco as suas implicações. As «duas vindas» do Messias, igualmente, eram uma novidade, porque, embora contidos no V.T., não foram compreendidas pelos teólogos judeus. O tema do resgate ou «expiação»era bem conhecido entre os judeus, mas aplicar tal tema a um homem, ou seja, ao Messias, era reconhecido como possível apenas por alguns poucos. O ensino sobre a ressurreição era bem conhecido e largamente aceito nos dias de Jesus, na congregação judaica; Jesus, porém, transformou-o em uma doutrina poderosa, ao ressuscitar pessoalmente e ao insuflar esperança a todos sobre a conquista .da morte. Nas mãos de Jesus, a ressurreição se tornou um ensino novo e revolucionário, e a igreja primitiva se desenvolveu à base do mesmo, tendo-o propagado por toda a parte. O corpo inteiro das profecias de Je­sus, a começar por Mat. 20, mas especialmente Mat. 24, forma um grupo de ensinos sobre acontecimentos futuros e de sua significação que é definidamente sem-par, e não unicamente novo. Em suma, podemos afirmar que a natureza sem-par dos ensinos de Jesus nos fornece as pedras fundamentais sobre as quais está alicerçado o cristianismo. E naquilo em que o cristianismo difere do judaísmo, nisso mesmo os ensinamentos de Jesus diferem da correnteza princi­pal do judaísmo de seus dias.
3.  Temas Básicos
Tal como outros lideres religiosos, Jesus proclamou verdades acerca de Deus e da busca espiritual. Mas, diferentemente de outros líderes, também ensinou a identificação e a importância de sua própria pessoa como Filho único de Deus, o Messias, o Salvador, o Rei e o Juiz. Assim sendo, a sua mensagem não consistia meramente de um sistema de teologia, mas era uma auto-revelação. Essa mensagem começou desde o principio, e se estendeu até às suas últimas palavras, (ver Luc. 2:48-50 e João 20:17).
a.    O Reino de Deus
Mateus empregou quase exclusivamente o titulo de «reino dos céus», e é certo que ele não entende com isso coisa alguma que os outros também não tencionavam dizer. O trecho de Mat. 19:23,24 usa os termos um em lugar do outro, o que prova positivamente o que acabamos de dizer. São termos sinônimos. Jesus jamais ofereceu qualquer definição do que esse termo significava para ele, pelo que temos de examinar muitas passagens, para que obtenhamos uma visão geral e compreensiva. A expressão «reino dos céus» se encontra cerca de trinta vezes no evangelho de Mateus. A ideia básica desse conceito é a região ou reino onde tudo está sujeito a Deus, onde sua autoridade prevalece. Esse reino, portanto, pode ser presente ou futuro, externo ou interno. Jesus proclamou um reino literal, sobre a face da terra, onde Deus haveria de governar e, segundo ele, logo haveria de ser estabelecido. Tal reino, por conseguinte, deve ser ao mesmo tempo político e religioso, com ordem social e governo.
Não obstante, João fala da impossibilidade de alguém entrar no «reino de Deus» sem o novo nascimento; e apesar de Jesus certamente ter visto a necessidade da conversão, para os que entrassem no reino terrestre, parece óbvio que Jesus também deve ter usado o termo para referir-se a algo como o «céu», segundo é empregado esse termo na igreja atual. No céu, ou lugares celestiais, Deus governa; ali está o seu reino. Os homens podem entrar nesse reino mediante o novo nascimento. Esse uso, pois, é muito diferente do reino literal, à face da terra, como governo terrestre sobre o qual Deus exerceria controle. Mas esse termo também pode ser entendido como a influência de Deus sobre um mundo ímpio, e alguns, hoje em dia, se referem à igreja como o reino sobre a terra, porquanto exerce sua influência no mundo. Quando Jesus declarou que o reino está «dentro» do indivíduo, ou, traduzindo mais exatamente, «entre vós», (ver Luc. 17:21), provavelmente ele tinha em vista algo como isso. Ele e seus discípulos formavam uma espécie de reino de Deus, um começo, um núcleo do reino que era esperado entre os homens.
Desde os dias de Orígenes que os intérpretes têm tentado fazer dessas palavras, «entre vós», significa­rem a condição espiritual do indivíduo — o reino de Deus estaria na vida desta ou daquela pessoa, como se o sentido fosse «dentro de vos». Apesar desta seruma tradução possível, o contexto parece ser contrário à essa interpretação, pelo que a tradução mais exata é mesmo «entre vós*, o que nos transmite a idéia que já foi mencionada. Não obstante, em certo sentido, o reino de Deus pode estar «dentro» de nós, ainda que esse texto não indique isso. Assim, pois, vê-se que o termo pode ser complexo, formado por muitos elementos do N.T. O tema do reino era um dos principais, — se não mesmo o principal dos temas do ministério de Jesus, juntamente com o qual ensinava sua própria missão messiânica e real. Os crentes (ainda que não todos) continuam esperando o reino terreno em resultado da segunda vinda de Cristo. A melhor e mais completa descrição sobre o reino, especialmente em seus aspectos espirituais, e como esses aspectos podem ser aplicados aos homens, se encontra no décimo terceiro capítulo do evangelho de Mateus. A leitura da exposição ali feita dará ao leitor ampla compreensão sobre o que estava envolvido no ensino de Jesus sobre o reino. O reino de Deus é encarado como a súmula de todas as bênçãos e benefícios espirituais, e conquistá-lo pode custar um alto preço, ainda que nenhum preço seja alto demais, (ver Mat. 13:44-46). Dessa forma, Jesus convocou os seus discípulos ao «sacrifício» e à dedicação, bem como ao sofrimento, quando necessário, para que pudessem ser membros autênticos desse reino.
b.     O Filho do Homem
Alguns têm ensinado que posto Jesus ter dito que o Filho do homem viria entre «nuvens do céu», que é impossível que ele se tivesse identificado com esse personagem. Porém, a simples leitura dos diversos textos que mencionam esse termo é suficiente para convencer a qualquer leitor de que essa idéia é falsa. A sua vinda das nuvens faz alusão a um futuroaparecimento glorioso do reino, isto é, a «parousia», o que não forma uma idéia contraditória ao ensino geral de Jesus sobre ele mesmo como Filho do Homem. O próprio termo vem de uma expressão hebraica e indica, principalmente, uma posição de humildade, isto é, a posição de um homem comum, sem privilégios especiais. Essa expressão é usada por cerca de oitenta vezes com respeito a Jesus, a maioria das quais por ele mesmo. É empregada da seguinte maneira: 1. Jesus era um ser humano, um homem comum, um homem típico, um homem identificado com outros homens, compartilhando de sua posição, natureza e sofrimento. 2. Mas com esse termo Jesus se vincula ao personagem profetizado em Dan.7:13,14. Por esse titulo o ministério sem igual e poderoso de Jesus é usualmente indicado, bem como a sua estatura metafísica especial. A missão ou ministério indicado inclui a sua futura segunda vinda, quando Jesus aparecerá como juiz universal, (ver João5:22-27). 3. A idéia do Filho do homem «sofredor» foi um resultado natural da necessidade da missão terrena de Jesus. Ele, na qualidade de Filho do homem, tinha que sofrer como homem representativo. Jesus veio a encarar essa parte de sua missão como inevitável e, de fato, esse foi seu serviço supremo em favor dos homens, (ver Mar. 10:45 e 14:22-24). 4. Ê título messiânico.
c.    Missão Messiânica
A palavra «Messias» significa ungido e o vocábulo «Cristo» vem do termo grego equivalente. A palavra Cristo, na realidade, é um adjetivo que se transformou em substantivo próprio, passando a designar um indivíduo — Jesus Cristo — embora os reis, os .sacerdotes e os profetas também fossem «ungidos». O próprio Jesus usou esse termo para identificar-se, utilizando-se dele como titulo, (ver Mat. 23:8,10). Aunção tinha o propósito de confirmar a autoridade daquele que recebia deter­minados ofícios ou funções.Jesus, o maior de todos os reis, sacerdotes e profetas, foi chamado de o Cristo por causa de sua unção,efetuada pelo Espirito Santo, para seu ofício e missão especiais. A unção com óleo era aplicada aos enfermos, aos cegos e até mesmo aos mortos, (ver Tia.5:14; João 9:5,11 e Mar. 14:8). Jesus, na qualidade de ungido, exercia sua autoridade espiritual sobre esses males.
A palavra «Messias» era usada no judaísmo comotítulo oficial que indicava a expectação central dos judeus quanto aos benefícios possíveis e profetizados da parte de Deus, e que visavam à nação de Israel. O pleno desenvolvimento das idéias messiânicas perten­ce ao judaísmo posterior, e talvez seja surpreendente para alguns o conhecimento de que esse termo só se encontra por doas vezes em todoo A.T., a saber, em Dan. 9:25 e 26. Não obstante, as alusões ao Cristo são abundantes nos vários escritos não-bíblicos, os quais, em sua essência, eram comentários de suas Escrituras Sagradas. Alguns acreditam, entretanto, que as chamadas passagens messiânicas do V.T. (quer usem quer não usem realmente a palavra «Messias») eram simples títulos aplicados a profetas ou reis vivos, sem qualquer significação escatológica. Contrariamente a essa idéia, pode-se observar que muitíssimas dessas passagens (tais como os chamados salmos messiâni­cos) vão muito além do que se poderia esperar ser dito a reis e profetas de Israel. Parece certo, a julgar pelos comentários feitos pelos judeus, que eles esperavam o aparecimento de um grande personagem futuro, que agiria como libertador e rei. O Messias, pois, pode ser definido como um personagem «teológico», isto é uma pessoa que incorporaria, em si mesmo, de maneira toda especial, a «salvação» e o livramento do povo de Israel, o povo de Deus. O Messias seria o instrumento dos propósitos de Deus.
O elemento temporal desse livramento e dessa salvação pode ser um verdadeiro problema, pois a grande verdade é que sempre houve e sempre haverá desacordo entre as autoridades judaicas, acerca do tempo do aparecimento do Messias. Os trechos deHeb. 1:2 e I João 2:18 falam sobre os últimos dias, o que obviamente é um termo de origem judaica para indicar o tempo do reinado do Messias, em contraste com todos os tempos anteriores ao Messias. Na passagem de Heb. 1:2 poderíamos traduzir, com muito maior razão, «os últimos destes dias» onde a palavra «destes» se referiria aos dias imediatamente anteriores ao Messias, os dias finais da antiga dispensação. Nos últimos daqueles dias, pois, é que o Messias apareceu. É verdade que pelo menos a expressão «últimos dias», segundo o uso atual da igreja, se refere aos dias que precederão imediatamen­te a segunda vinda de Cristo ou o estabelecimento do reino celestial sobre a face da terra; mas a escatologia judaica não aludia necessariamente a isso ao empregar a expressão «últimos dias».
A doutrina do Messias, tanto no V.T., como no pensamento judaico em geral, não é claramente declarada, conforme esperaríamos que o fosse. Muitos judeus não esperavam o cumprimento de todas as escrituras messiânicas em uma só pessoa. Os essênios aguardavam três personagens separados que haveriam de cumprir essas expectações.
Alguns judeus distinguiam entre o «profeta vindouro» e o Messias, (ver Mat. 11:3), ao passo que outros faziam os dois termos aplicarem-se à mesma personagem. Nem todos os intérpretes judeus criam que o Messias teria de ser, necessariamente, o Filho de Davi, embora o trecho de Mat. 22:42 ilustre o fato de que Cristo seria o Filho de Davi, segundo era também a opinião prevalente dos judeus ao tempo de Jesus. Alguns judeus deixavam passar completamente em branco um personagem terreno, nunca pensando em um bebê que cresceria como homem normal e que se manifestaria como o Messias; mas antes, pensavam que a história do mundo seria terminada de modo súbito, em meio a cataclismos, quando uma figura sobrenatural desceria do céu a fim de assumir ocontrole do mundo. Enquanto isso, outros, que sesatisfaziam com as coisas conforme elas eram, que gozavam de riquezas e do luxo, negavam ou ignoravam qualquer espécie de intervenção messiâni­ca. Essa era justamente a atitude dos saduceus, que acima de tudo temiam perder sua posição privilegiada mediante qualquer alteração na ordem ou mediante qualquer revolta. No caso de outros, ainda, era costumeiro identificar governantes terrenos com o Messias, como se esses governantes, em sua autoridade terrena, estivessem cumprindo as exigên­cias das profecias messiânicas. Alguns viam o Messias no livramento político e religioso da nação de Israel através da revolta dos hasmoneanos. Os herodianos chegaram mesmo a proclamar que Herodes era o Messias; mas deve-se ajuntar que tais idéias não obtinham o favor geral entre o povo.
O N. T. define mais claramente o ofício do Messias, acrescentando novas dimensões ao mesmo, e identifi­cando a Jesus como o Messias tão longamente esperado. A conexão essencial do judaísmo com o cristianismo depende exatamente dessa identificação. Os cristãos primitivos criam que Jesus cumpriu todas as exigências das profecias messiânicas, e que havia apenas um «messias», e não três. Também criam que não haveria um «profeta vindouro» separado, além do profeta representado na figura do Messias. Vários aspectos da missão do Messias foram definidos, tal como o aspecto do Servo Sofredor. Esse servo, no conceito bíblico, é o agente de Deus na restauração nacional, mas também ministraria entre os gentios, (ver Is. 42:1-4). Esperava-se que ele tivesse um tipo definido de ministério entre os pobres, os enfermos e os necessitados, (ver Is. 42:5-25), e os primitivos cristãos viam um cumprimento completo de todas essas idéias na pessoa de Jesus.
Esse servo seria um «Servo Sofredor», embora essaidéia jamais tivesse sido geralmente reconhecida pelos judeus, que jamais a aplicaram ao Messias. EmboraIs. 53 indique claramente esse aspecto da missão do Messias, os intérpretes judeus nunca o entenderam com clareza. O N.T. confirma essa interpretação, e embora alguns eruditos mais liberais do N.T. duvidem que o próprio Jesus tenha feito essa identificação, passagens tais como Mat. 20:18,19,28 e 21:38-42 (além de diversas outras predições de Jesus acerca de seus próprios sofrimentos) parecem mostrar claramente que Jesus, ao identificar-se como o Messias, ao mesmo tempo ilustrou essa sua missão com a figura do Servo Sofredor.
Jesus parece ter-se referido à sua — missão messiânica — tanto em termos presentes como em termos futuros. O Messias seria o arauto do reino futuro, seria aquele que haveria de sofrer e de dar a sua vida em resgate de muitos, seria aquele cuja vinda haveria de demonstrar a validade das reivindicações messiânicas; mas também seria o rei futuro que ainda viria e estabeleceria o seu domínio neste mundo, (ver Mat. 26:64,65). Alguns intérpretes liberais têm procurado demonstrar que Jesus jamais falou sobre sua missão messiânica ou a defendeu, ou mesmo chegou a reivindicar tal autoridade; mas essa opinião é extremamente estranha, quando noslembramos que nossas únicas fontes de informação, sobre qualquer autoridade acerca dos ensinamentos ministrados por Jesus, são os quatro evangelhos, cuja intenção, conforme os evangelhos deixam transparecer aberta­mente, era justamente a de provar que Jesus era o Messias prometido. A acusação que provocou a sua execução era de que havia blasfemado por ter feito elevadas reivindicações, como servo especial de Deus. Os soldados zombavam dele e diziam: «Profetiza-nos, ó Cristo, quem é que te bateu!», (Mat. 26:68). E a acusação estampada na cruz foi: «Jesus, o Rei dos Judeus».
Tudo isso indica que as reivindicações da missão messiânica de Jesus não foram apresentadas apenas pelos crentes primitivos, mas, em primeiro lugar, pelo próprio Jesus. É verdade que com frequência ele teve de ocultar a sua verdadeira identidade, o que certamente se devia às idéias errôneas de que o povo nutria sobre o Messias profetizado, que julgava que seria uma figura essencialmente política e guerreira. Ora, Jesus sempre evitou imiscuir-se nas questões políticas terrenas. Ele contemplava um reino espiri­tual, um líder espiritual, uma reforma e uma renovação religiosa; mas as multidões não estavampreparadas para acolher esse tipo de Messias que Jesus idealizava.
d.    Princípios Éticos
Todos reconhecem que o judaísmo é essencialmente uma religião ética, e desde os tempos mais antigos a ênfase do mesmo tem recaído sobre os elementos éticos. Os dez mandamentos, embora apresentados em uma fórmula básica distintiva do judaísmo revelado, refletem, contudo, em grande parte, o que é reconhecido como uma moralidade essencial na maioria das religiões do mundo. Jesus, como filho de Israel, foi um mestre essencialmente ético, embora não o fosse exclusivamente (conforme fica demonstra­do pelos outros temas básicos de seus ensinos, referidos nesta seção). Não obstante, parece verdade que os elementos éticos são os que ocuparam, de maneira predominante, os sermões e as instruções particulares expostos por Jesus. Com esse termo,princípios éticos, queremos indicar o seguinte: 1.conduta; 2. princípios ou regras que são recomenda­dos como normas dessa conduta; 3. —esforço crítico do estudo e da reflexão que têm por desígnios sistematizar, organizar e aplicar tais princípios. O N.T. (incluindo os evangelhos) apresenta vasto acúmulo de material que serve de uma espécie de sistema «ético organizado».
Deve ser óbvio, em toda a ética cristã básica (que se alicerça nas declarações de Jesus), que esse é um reflexo da ética judaica básica. A ética cristã modificou a ênfase de parte do ensino judaico, e foi além da tradição judaica em outras particularidades. Por exemplo, o casamento misto não era reputado válido no judaísmo. (Por misto o cristianismo entende o casamento entre um crente e um não-crente, ou entre um judeu e um não-judeu). Mas o cristianismo reconhece os casamentos mistos como válidos, ainda que não sábios. Essa é a mensagem de I Cor. 7:13,14. Quanto a uma instância de ênfase, Jesus recomendava o celibato aos que do Senhor recebem esse dom, tal como já tinham feito os essênios e como Paulo confirmou posteriormente; mas, de modo geral, certamente a ênfase judaica não recaía sobre o celibato. No que tange ao divórcio, Jesus falou em termos mais severos do que qualquer judeu comum. Essas são apenas algumas sugestões acerca das diferenças de ênfase ou acerca das modificações que podem ser vistas nos ensinamentos de Jesus, quando confrontados com os princípios éticos do judaísmo; passemos, agora, a observar certos pontos particulares.
Em primeiro lugar, consideremos o grande método básico ou a grande consideração dos ensinos éticos de Jesus, que em sua maioria podem ser identificados com as normas do judaísmo. Os que estão familiarizados com a ética do ponto de vista da filosofia, devem lembrar-se de que os sistemas éticos têm bases extremamente variadas. Por exemplo, parte da conduta reputada ética pode basear-se em considerações inteiramente humanas. Protágoras deAbdera (450 A.C.) fez soar a nota-chave de grande parte da ética moderna, ao dizer: «O homem é a medida de -todas as coisas». Com isso ele quis dizer que as considerações éticas, como quaisquer outrasconsiderações que afetam a vida humana, devem ter seu fundamento apenas naquilo que é bom para o homem, naquilo que é útil para o ser humano, que obtém os alvos desejados pelos homens, e não naquilo que agrada a algum deus ou deuses, ou ao que pode ser reputado como um nebuloso após-vida. A ética pragmática está alicerçada nessa atitude. O que mostra ser bom, após tentativa e erro, é bom para nós, e o que é bom para nós hoje, talvez não seja o que será bom amanhã. Por conseguinte, essa ética pragmática não pode estar baseada em princípios «eternos» ou «teístas». De modo geral, na ética pragmática, as considerações «divinas» ou eternas se fazem completamente ausentes.
Ora, nem o judaísmo e nem Jesus basearam seus princípios éticos nessas crenças. Existem outros que refletem uma ética cínica ou pessimista, os quais negam que exista qualquer valor humano autêntico, e que, por isso mesmo, assumem uma posição adversa ou pelo menos cética acerca de qualquer pronuncia­mento que procure regulamentar a conduta humana. O pessimismo ensina que a própria existência é o maior de todos os males, e que o maior pecado do homem é o de «ter nascido» (Schopenhauer). Evidentemente, Jesus não compartilhava dessas idéias. Mas ensinou que há bens positivos que devem ser obtidos e maus positivos que devem ser evitados. Os estóicos, por sua vez, ensinavam que qualquer espécie de emoção é má, quer positiva, quer negativa. Segundo essa filosofia, o desejo é mau, a busca e a pesquisa também são processos maus. Somente o desprendimento total da vida é aceito como princípio ético para os estóicos.Segundo eles, é mister exercer a «apatia» ante tudo. Embora Jesus tenha aprendido a controlar o seu próprio ser de maneira extraordinária, dificilmente alguém poderia classificar a sua «com­ paixão» pelas multidões como um sentimento de «apatia». Por outro lado, os epicuristas e hedonistas criam que somente o prazer é um alvo digno da existência humana, e que se deve usar da inteligência na busca do prazer. Jesus permitia o prazer, certamente mais do que João Batista, mas via alvos mais elevados na vida do que o prazer.
Sócrates cria que o perfeito conhecimento do bem assegura, automaticamente, a conduta perfeita. Assim sendo, igualava a bondade com o conhecimen­to. Acreditava que o indivíduo que realmente soubesse o que é bom para ele, automaticamente faria o que é bom. Portanto, Sócrates ensinava a auto realização e a compreensão como a busca básica do homem, porquanto, segundo pensava, isso o conduziria à conduta perfeita. Sua vida, pois, foi dedicada à busca do entendimento da bondade. Essa idéia é boa até onde vai, mas ignora a natureza pervertida do homem, que algumas vezes prefere conscientemente o mal, — em vez do bem, e sempre para seu dano próprio. Jesus, portanto, foi muito mais fundo do que Sócrates, porque a sua missão visou essencialmente a transformar a natureza básica do homem, e não simplesmente insuflá-lo à auto-realização. Em geral, poderíamos classificar o sistema ético de Jesus como teísta. Com isso queremos dizer que tem por base a grande consideração que é Deus. Deus é o legislador, e o homem é responsável, antes de tudo, a Deus, e apenas secundariamente a si mesmo e aos seus semelhantes. A ética teísta geralmente ensina princípios éticos «eternos» e «imutáveis». Mas a ética pragmática admite mudança e alteração. A ética teísta conta com um Deus eterno e imutável que impede a mudança de qualquer modalidade. Se houver mudança, será tão-somente em resultado de uma melhor compreensão sobre Deus e seus caminhos, e não pela mudança no próprio Deus ou em seus ensinos. Jesus, por conseguinte, falou de princípios eternos, e todo o seu sistema repousa nos mesmos. Esperamos, por conseguinte, que a despeito da passagem de dois mil anos, a contar da vida terrena de Jesus, os princípios e exigências básicas permaneçam inalteráveis.
Falando de maneira muito «generalizada», pode­mos classificar os sistemas éticos em sistemas relativistas absolutistas. Pelo termo «absolutista» se compreende também a idéia de categoria. Os princípios éticos absolutistas ou categóricos ensinam que os princípios éticos são absolutos, não estando sujeitos a modificações, formando uma categoria permanente e imutável. Princípios eternos e imutáveis são inatos ao homem e foram dados por Deus. Entretanto, é possível alguém ter idéias de princípios absolutistasou categóricos sem pôr Deus no quadro de suas considerações, porque pode crer que a «natureza» ou algum outro principio «universal» que não seja «Deus» pode servir de fundamento da conduta ética. Em contraste com isso, temos a ética «relativista», que ensina que não existem princípios eternos e, sim, pessoas, condições, estruturas sociais e muitas outras condições, que determinam o que é bom para nós, o que não o é, e que as mudanças nas pessoas, nas estruturas sociais e em outras condições também modificam os princípios éticos. Vê-se, portanto, que, se considerarmos uma classificação geral, Jesus ensinou princípios éticos absolutistas ou categóricos, pois a ética «teísta» é um dos ramos desse tipo de sistema ético.
Consideremos agora algumas particularidades sobre esses ensinamentos éticos. Com esse propósito, não podemos fazer nada melhor do que examinar, ainda que de passagem os conceitos do Sermão da Montanha, em Mat. 5—7.
1.    A paternidade de Deus. Jesus via a Deus como a fonte de toda vida humana e como benfeitor de todos, tal como um pai humano deseja o bem de todos os seus filhos. Jesus expandiu grandemente o conceito judaico de Deus, porquanto apresentou um Deus universal, e não local. Esse conceito é básico para os princípios éticos de Jesus e forma um contraste definido e violento com o judaísmo comum. Por muitas vezes Jesus empregou o termo «vosso Pai que está no céu», no Sermão da Montanha e em outros lugares, (ver Mat. 5:45; 6:1,6,14,18). Isso não visava a contradizer a outra idéia de que alguns são «filhos do diabo», nem afirmar a conversão como experiência a todos os homens. Porém, serve para despertar-nos para o fato da grande compaixão de Jesus, e também que, por força da criação, em sentido bem real, todos têm a fonte de sua existência em Deus, e que esse deve ser o alvo de todos. Por esse motivo é que nos é oferecida a possibilidade e grande realidade de muitos benefícios que são dados aos homens de modo geral. A missão do Messias tinha por finalidade declarar a salvação universal oferecida por Deus. Até que grau de perfeição Deus haverá de finalmente desenvolver essa missão, antes do término da história da humanidade, aqui ou no além, pode-se tão-somente conjecturar; mas as implicações são vastíssimas.
2.   O principio do amor. Jesus ensinou insistente­mente essa virtude. Ele mesmo foi enviado ao mundo por motivo do amor do Pai. Jesus exercia grande compaixão para com as multidões. O décimo quinto capitulo do evangelho de João é uma demonstração dessa atitude, e muitos dos princípios do Sermão da Montanha repousam nesse alicerce. O novo manda­mento consiste no amor, pois essa é a virtude que realmente cumpre todos os requisitos da lei. Precisamos sentir pelos outros o que sentimos por nós. mesmos. Sabemos o que é o amor próprio e o praticamos, porquanto quase todos os nossos atos se baseiam no egoísmo. Cuidamos de nós mesmos, de nossos planos para o futuro, vestimo-nos e temos cuidado com nossa saúde. No seio da família tornamos mais evidente esse princípio do amor, pois amamos os membros íntimos de nosso círculo familiar, e nossa grande preocupação é o bem-estar dos mesmos. Ora, o que Jesus quer é justamente que nosso amor se expanda para abranger o mundo inteiro, incluindo até mesmo os nossos inimigos. A vereda do amor é a vereda mais curta para o desenvolvimento e o progresso espirituais. O próprio Jesus foi o exemplo supremo de como deve funcionar esse princípio. O amor não somente diz que não se deve matar, mas proíbe até mesmo o odiar, (ver Mat.5:21). O amor diz não somente que não se deve adulterar, mas nem mesmo cobiçar, (ver Mat. 5:28). O amor não somente diz que não se deve provocar a violência, mas instrui até mesmo a sermos ativos pacificadores, (ver Mat. 5:9). Aquele que cultiva em sua vida o amor de Jesus, nutrindo-o em seu homem interior, será mais rapidamente transformado à imagem de Cristo, que é o grande propósito da existência humana.
3.     Respeito à autoridade constituída. Assim ensinou Jesus, ao falar especificamente da lei e dos profetas como autoridades religiosas (ver Mat. 5:19). Jesus aprovava a lei e os profetas, embora algumas vezes tivesse discordado de seus contemporâneos no tocante à interpretação que davam à lei e aos profetas. Jesus ensinou uma inquirição espiritual sincera e fervorosa durante esta vida, e baseou essa inquirição em antigas pedras fundamentais — as pedras básicas do judaísmo revelado. Por conseguinte, aqueles que desobedecem aos mandamentos, só causam dano a si mesmos. E aqueles que quebram os mandamentos e assim ensinam a outros, prejudicam duplamente a si mesmos e aos outros — serão os chamados mínimos do reino dos céus.
4.    Jesus aprofundou parte do ensino do Judaísmo contemporâneo. Todos reconheciam que o assassínio ê um mal. Mas Jesus procurou mostrar que o ódio é uma forma de homicídio; críticas severas, uma língua virulenta e odiosa, ira, etc., são formas de assassínio, porquanto ferem e destroem as suas vitimas, ainda que não causem a morte do coipofísico. Quanto ainda temos de aprender acerca disso na igreja, que por muitas vezes se toma cena de ódio amargo e de debates acirrados. Quantos crentes têm destruído um irmão na fé! Quantas igrejas evangélicas têm destruído pastores! Quantos «anciãos» ou «autorida­des» da igreja têm destruído a juventude da igreja por fazerem coisas movidos pela ira, criticando amarga­mente, devido ao ódio que se instala em seus corações. Se Jesus estivesse conosco hoje em dia, pessoalmente, nas nossas igrejas, procuraria aprofundar nossos conceitos acerca do que é o homicídio. E se ele estivesse em nossos corações, faria a mesma coisa sem ser notado (ver Mat. 5:21,22).
5.     Jesus aprofundou a moral no tocante aoadultério. Um homem talvez congratule a si mesmo se não toca em mulher, mas Jesus indicou que acobiça já é adultério, e qual homem pode congratular-se por não cobiçar? Jesus não ensinava aqui contra as instituições sociais da poligamia e do concubinato (Mat. 5:27) e não é provável que ele classificasse esses costumes sociais dos judeus como adultério; mas em Mat. 5:31,32, e especialmente mais tarde, em Mat. 19:3-9, pelo menos desencorajou tais práticas como indignas daquele que verdadeiramente procura progredir espiritualmente. A lei de Jesus referente ao adultério requer uma transformação completa no íntimo, em contraste com a regulamentação das ações externas que era tão comum na ética judaica. Um bom exame nessa lei ensina-nos o quanto ainda temos de caminhar para sermos moralmente transformados segundo a imagem de Cristo — e esse é um dos propósitos ou alvos desta nossa existência terrena.
6.    Jesus pregava uma linha dura sobre o divórcio que é totalmente adversa às filosofias e à sociologia modernas. Muitos eruditos acreditam que o registro das palavras de Jesus por Marcos, que não permitem qualquer desvio nesse particular, são as verdadeiras palavras de Jesus (ver Mar. 10:1-9). Em geral contudo, a igreja tem preferido a versão de Mat. 19:9, que permite o divórcio (e provavelmente novo casamento do cônjuge inocente), por razão de fornicação. Os sociólogos e psiquiatras do mundo inteiro não se sentem à vontade ante as declarações de Jesus, pois creem que há muitos motivos válidos para o divórcio e que existem muitos outros crimes que uma pessoa casada pode cometer contra seu companheiro ou companheira de matrimônio, que são piores do que o adultério. Ê possível que se o assunto tivesse sido mais extensamente examinado, e sob outros prismas, — Jesus tivesse acrescentado aos seus ensinos outros detalhes sobre a questão; mas os evangelhos servem para fornecer-nos a ênfase principal de Jesus sobre a questão do casamento e do divórcio. Como sempre foi típico de Jesus, ele alicerçou a questão inteira sobre princípios eternos.
«No principio…Deus…» fez assim ou assado. Desde o principio, a norma tem sido «um homem— uma mulher». Nenhum estudo moderno tem melhora­do esse princípio, e reconhecemos instintivamente a sua validade. Mediante tal preceito, Jesus indica a inferioridade ou mesmo o mal da poligamia e do concubinato. «Um homem—uma mulher» é o melhor, e está de conformidade com o desígnio original das coisas. Isso envolve mais do que meras diferenças de ênfases entre Jesus e o judaísmo — o que se praticava entre os judeus de seus dias era uma completa distorção do princípio eterno.
7.    Recomendação do celibato. Conforme já disse, Jesus baseava os seus ensinamentos éticos sobre o alicerce de uma intensa pesquisa espiritual — aquela pesquisa que leva os homens de volta à presença de Deus. Portanto, sobre determinadas questões que não envolviam necessariamente os princípios do bem e do mal, Jesus enfatizava o bem que seria melhor que outros bens. Jesus honrava o matrimônio e procurou elevar o pensamento judaico sobre o assunto, ao mostrar que o casamento não pode ser rompido por razão alguma. Jesus também elevou a posição da mulher na sociedade judaica e proferiu coisas que tinham em vista solapar o alicerce do duplo padrão que era tão geralmente praticado em Israel, em seus dias. Não obstante, parece perfeitamente claro, por meio de Mat. 19:10-12, que Jesus reconhecia o valor do celibato, pelo menos no caso de algumas pessoas. Somente alguns podemreceber essa doutrina. Mas esses podem buscar melhor o reino dos céus se praticarem o celibato. Esse princípio concorda com o que Paulo procurou expressar posteriormente, em I Cor. 7:7 (e nesse capítulo em geral). Muitas religiões reconhecem o mesmo princípio, e aqueles que tentam viajar pela estrada mística, em sua inquirição religiosa, ou aqueles que buscam iluminação sobre questões especiais dizem-nos que o celibato é a melhor condição para quem quer dedicar-se a essa busca intensiva. Isso não significa, porém, que Jesus tenha criado — ordens religiosas — ou decretado essa prática para as mesmas. Essas ordens religiosas são desenvolvimentos posteriores da cristandade, e não têm qualquer autoridade nos ensinamentos de Jesus. Todavia, o princípio do celibato, como questão particular, como ajuda no processo espiritual, permanece aprovado e recomendado tanto por Jesus como por Paulo. Esse ensino não era desconhecido para a corrente principal do judaísmo; mas certamen­te não era praticado de forma generalizada. No entanto, era uma das principais doutrinas dos essênios. Jesus teve algum contato com os essênios; e alguns dizem que esse contato foi vital e contínuo, no que era seguido por João Batista. O certo é que Jesus adicionou a sua autoridade a esse preceito.
8.     Jesus mostra o alvo da inquirição espiritual.
«Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste» (Mat. 5:48). Aqui Jesus falava da perfeição moral no sentido absoluto. A palavra «perfeito» pode significar «maduro», e certamente Jesus recomendava a maturidade espiritual; porém, este ensino é mais profundo do que isso. A igreja geralmente tem perdido de vista o fato de que o alvo da inquirição espiritual é a perfeição absoluta, que envolve uma transformação total nos aspectos moral e metafísico. Paulo ensina a mesma coisa no primeiro capítulo de Efésios, ao falar sobre o fato de que somos o «corpo» de Cristo. Isso envolve transformação total, tanto moral como metafisicamente. A perfeição absoluta é o nosso alvo. O trecho de Heb. 2:10 ensina a mesma coisa que fala acerca da verdade que Jesus vai conduzindo «…muitos filhos à glória…». Jesus participou da nossa natureza a fim de que pudéssemos participar da sua natureza, em sentido absoluto. O oitavo capítulo da epístola aos Romanos ensina a mesma verdade ao dizer que estamos sendo transformados à imagem de Cristo. Ê em direção a esse acontecimento que a criação inteira geme e sofre dores de parto. Essa é a obra especial de Deus — a duplicação de seu filho. Aqueles que forem assim transformados serão muito mais elevados que os anjos em sua estatura metafísica, e serão tão perfeitos moralmente quanto o próprio Deus. Esse é um alvo extremamente elevado, e é nessa direção que se deve orientar a inquirição espiritual. Esse conceito (refletido em Mat. 5:48), portanto, é a base de todos os princípios éticos de Jesus. É por essa razão que Jesus requeria um discipulado minucioso em todos os pontos. Esse é o motivo por que ele elevou os princípios do «amor à humanidade», a ponto de incluir os próprios inimigos. £ por essa razão que ele regulamentou a conduta entre os sexos e quanto ao matrimônio. Esses princípios éticos são necessários para o sucesso e para o rápido progresso na inquirição cristã que visa a atingir a grande imagem moral de Deus e a imagem metafísica de Cristo. Muitas outras particularidades poderiam ser mencionadas além das que foram referidas nesta breve seção, mas as que foram aqui ventiladas nos dão à ideia dos princípios éticos de Jesus e o alvo ou propósito de toda existência e conduta dos homens.
e.  Acontecimento futuros. O conhecimento espe­cial de Jesus.
Os evangelhos mostram que Jesus tinha poderes especiais de conhecimento, inclusive da telepatia e do conhecimento prévio. Este fato é apresentado pelos evangelistas como uma prova (entre muitas) domessiado autêntico de Jesus. Os rabinos previam um Messias dotado de tais poderes e os evangelhos mostram que, neste ponto, (como em muitos outros), Jesus cumpriu as esperanças do povo de Israel. Poderes elevados do conhecimento podem ser a propriedade de meros homens, pois o homem é um espírito, e deve ter altos poderes espirituais. Estes são ainda mais notáveis em pessoas de um desenvolvimen­to alto de espiritualidade. Não é preciso supor que o conhecimento especial de Jesus foi uma propriedade da divindade dele, embora, possa ser que os evange­listas tenham apresentado esta capacidade aos seus leitores como se fosse uma prova disto. De qualquer maneira, não devemos esquecer da extrema impor­tância da humanidade de Cristo. Ver o artigo sobre a Humanidade de Cristo. De modo geral, podemos declarar que Jesus, normalmente, nas suas façanhas, se limitou aos seus poderes humanos espirituais (desenvolvidos e usados pelo Espírito Santo) quando fez seus milagres, com a provável exceção dos milagres «da natureza» (como o ato de acalmar as águas do mar, multiplicar o pão etc.), quando, evidentemente, usava seus poderes divinos. Foi desígnio da encarnação que Jesus fosse limitado (normalmente) às mesmas fontes de poderes as quais nós temos acesso. Nisto, ele nos mostrou o caminho do desenvolvimento espiritual. Jesus era homem verdadeiro, que labutava como homem, que sofreu e se desenvolveu tal como todos os seus irmãos. Seus poderes especiais, por conseguinte, normalmente dependiam de seu desenvolvimento como homem. Se assim não fosse, as suas palavras que indicam que os discípulos podem fazer as mesmas coisas que ele fez, contanto que tenham fé, quase não teriam sentido.
Sua íntima comunhão com o Pai, mediante o Espírito Santo, transformava toda a sua pessoa. Ele ia se tornando um ser diferente. Tendo sido feito, por pouco tempo, menor do que os anjos, agora, mediante a inquirição; e o desenvolvimento espirituais, na qualidade de homem, se ia elevando. E isso ele fez justamente para mostrar-nos o caminho. Jesus foi ao mesmo tempo o caminho e o pioneiro desse caminho; e tudo quanto ele fez é possível para nós, a começar pelos milagres e a terminar pela perfeição moral. Ele é o alvo em todos os aspectos da vida cristã. Seremos semelhantes a ele em nossa natureza, e essa transformação está aberta para nós. Precisamos, tão- somente, andar como ele andou, nos desenvolvermos como ele se desenvolveu, e de sermos indivíduos que seguem seriamente essa inquirição, porquanto — não há limite.
Portanto, parece lógico afirmar que os especiais poderes telepáticos de Jesus e seu conhecimento prévio eram manifestações dessa sua humanidade altamente desenvolvida, de sua humanidade espiri­tualizada. Nada disso nega a sua divindade, mas tem o propósito de declarar, sem o menor equívoco, a sua verdadeira humanidade. Jesus, portanto, foi um grande previsor do futuro, um profeta de aconteci­mentos futuros. Jesus deve ter previsto muitos acontecimentos pormenorizados de sua vida diária. As Escrituras dizem-nos que ele previu a negação de Pedro e a traição de Judas. Ele previu a extensão da oposição que lhe seria movida, tanto pelas autorida­des religiosas como pelo povo em geral. Ê-nos impossível saber com certeza, mas, segundo os detalhes de que dispomos, parece certo que sua vida se assinalava pelo conhecimento prévio de muitas minúcias de sua vida. Entretanto, preocupam-nos mais aquelas profecias que dizem respeito a nós e ao mundo em geral. Jesus previu a sua morte como resgate em favor de muitos (ver Mat. 20:28 e Mar. 10:45). Há três grandes avisos sobre a aproximação de sua morte, no evangelho de Mateus, e esse trecho de Mat. 20:28 nos dá a avaliação de Jesus sobre sua própria morte. Jesus também previu a sua ressurrei­ção(ver Mar. 9:9). Previu que teria breve ministério após a sua ressurreição, pois advertiu aos discípulos que fossem encontrá-lo na Galiléia (ver Mat. 28:7). Em conexão com esses eventos, ele previu o seu triunfo final sobre os seus inimigos e o sucesso de seu ministério universal (ver Mat. 24; Mar. 13; Luc. 21:5-36). Nesses ensinamentos, naturalmente, Jesus indicou a vitória de Deus nos homens e entre eles (ver Mat. 10:23; 16:28; Mar. 9:1; Luc. 22:69). Por causa de sua rejeição, Israel passaria pelo juízo e como símbolo desse juízo, Jesus previu a destruição de Jerusalém, bem como a intensificação, e não o desaparecimento do poder romano em Israel (ver Mar. 13:1,2), sendo essa uma de suas mais famosas profecias a breve prazo. Embora esse acontecimento estivesse próximo, suas implicações iam longe, por ser esse um símbolo do fato de Israel ter sido posto temporariamente de lado, que é o tema abordado extensivamente por Paulo em Rom. 9—11, especialmente no décimo primeiro capitulo. Quase desde o princípio de seu ministério Jesus predisse o apareci­mento da igreja (ver Mat. 16). Por semelhante modo, descreveu o método geral da ação de Deus, antes da restauração de Israel, bem como os acontecimentos que teriam lugar quando do estabelecimento do reino. Ele predisse o derramamento especial do Espírito Santo, que seria o agente no seio da igreja, a fim de cumprir nela os propósitos de Deus (ver joâo 16:7-22 e Luc. 24:49).
A passagem mais famosa das profecias de Jesus é o vigésimo quarto capítulo do evangelho de Mateus, cujo paraleio é o décimo terceiro capítulo de Marcos. Aqui é exposto um sumário dos acontecimentos ali previstos:
1.   «Predição da destruição de Jerusalém», como símbolo da queda e da rejeição de Israel.
2.  «Surgimento de religiões falsas» e de pseudo cristos — como característica da era da igreja», quando o cristianismo haveria de tomar-se poderoso e ser um fator mundial de maior envergadura que o judaísmo.
3.  «A desordem geral» e a violência que haveriam de caracterizar a história humana durante esse período, e que se tomariam muito mais graves pouco antes do estabelecimento literal do reino.
4.  «A perseguição contra os verdadeiros discípulos» por parte de homens ímpios e desarrazoados, os quais ficarão cada vez pior, ao aproximar-se o fim desse período. Em resultado dessa maldade crescente, muitos discípulos esfriarão, isto é, perderão a coragem de continuar na inquirição espiritual.
5.   «Uma nova mensagem» o evangelho do reino, não diferente da mensagem que Jesus pregou a Israel, mas uma mensagem que deverá ser anunciada pelos seus discípulos em escala internacional, que abran­gerá todas as nações. Isso tem sido parcialmente cumprido no ministério da igreja, mas alude especificamente à proclamação do reino pouco antes do fim, quase inteiramente levada a efeito durante o período da Grande Tribulação, um período de sete anos, que precederá de imediato o estabelecimento do reino.
6.  «O aparecimento do anticristo» e da abominação desoladora, também mencionada em Dan. 9. A questão também é abordada em II Tes. 2.
7.   «Grande e amarga perseguição contra Israel», nos dias da tribulação, intitulada angústia de Jacó. Essa perseguição será um grande agente na restauração de Israel, porquanto os israelitas entra­rão nessa perseguição ainda como nação que rejeita a Cristo.
8.      Nesse capítulo, Jesus descreve de modo abreviado a «Grande Tribulação», mostrando que será um período de angústias sem paralelo e de sofrimento universal. A maior parte do livro de Apocalipse segue paralela a essas profecias, posto que quase todo esse volume se dedica à descrição minuciosa desses acontecimentos.
9.  «Alguns serão preservados» durante esse período (os «eleitos»), tempo esse que será assinalado pela violência quase ilimitada dos homens, bem como pelas tremendas comoções da natureza, incluindo a fúria das ondas, a destruição incontrolável das águas do mar, grandes terremotos, pragas generalizadas, enfermidades e morte de milhões de criaturas humanas.
10.  Imediatamente antes do aparecimento de Cristo na glória quando ele vier para reinar, os próprios céus sofrerão distúrbios notáveis. Provavelmente a atmosfera da terra será perfurada, permitindo a entrada de calor intenso, que destruirá a muitos (ver Apo. 16:8,9). Os físicos também estão predizendo essa modalidade de acontecimentos, o que indica que os tempos realmente estão próximos. Alguém escreveu como segue: «Oxalá não fosse verídico o Apocalipse; mas é». Alguns físicos explicam que a causa de muitos desastres naturais (terremotos, maremotos, etc.) é o fato de que os pólos da terra estão mudando (o que já aconteceu antes), o que provoca muitos distúrbios na natureza, quando as costas marítimas são destruídas, quando os oceanos invadem muitas áreas continentais, quando há terremotos de proporções gigantescas. Um bem conhecido místico de nossos dias (falecido em 1945) indicou que essas destruições serão tão universais e intensas que apenas uma pequena porcentagem da atual população do mundo conseguirá sobreviver. Ele deixou indicado que esses acontecimentos terão lugar antes do ano 2000 D.C., e muitas autoridades bíblicas têm dito exatamente isso por muitos anos. É bem possível que essa profecia sobre a Grande Tribulação seja um dos tópicos mais pregados atualmente nas igrejas. Estará a igreja dormindo?
11.  Jesus ensinou a sua segunda vinda; terá aspectos literais e simbólicos; estabelecerá o reino de Deus longamente esperado à face da terra, inaugurando o reino milenar. Será acompanhado pelo julgamento dos ímpios. Será estabelecida uma nova ordem, e o livro de Apocalipse indica uma espécie de espiritualização da humanidade; isso significa que os que tiverem permissão de entrarem com vida na era milenar (que incluirá nações inteiras) receberão uma transformação parcial em seus seres, embora conti­nuem sendo humanos. Essas pessoas terão vidas extremamente longas, e muitas delas provavelmente viverão durante todos os mil anos.
Jesus ensinou a necessidade de — fidelidade — no discipulado como a principal característica à luz desses acontecimentos, a fim de que a humanidade possa atravessar esse período de julgamento, tanto da tribulação como depois, com sucesso. Segundo a opinião de alguns’, a «igreja» ficará isenta da tribulação, embora muitos crentes sinceros digam o contrário. Se a igreja tiver de atravessar a tribulação,terá de ser preparada por advertências similares às contidas aqui. Em caso contrário, mesmo assim seus membros devem ser discípulos fiéis, porquanto a igreja também passará pelo juízo do trono de Cristo. Ver o artigo sobre o Arrebatamento.
f.    Morte de Cristo e sua significação
A teologia do N.T. acerca do sentido da morte de Cristo, é bastante extensa. A maioria dos ensinos concernentes à expiação e a outros efeitos da morte de Cristo, emerge das epístolas, e não dos evangelhos, e quase sempre da pena do apóstolo Paulo. Podemos alistar como segue as principais implicações da morte de Jesus.
1.  Em relação à Igreja e aos santos: expiação por substituição — Cristo tomou-se pecado por’ nós, levando a nossa penalidade, e nós temos ficado com sua justiça. Cristo se tornou o fim da lei para aqueles que creem. A igreja não está debaixo da lei no que diz respeito à justificação. Reina agora uma nova lei no que implanta o poder de praticarmos a justiça — essa é a lei do Espírito (ver Rom. 8). Foi efetuada a redenção que nos livra do pecado e de seu poder e que, finalmente, nos livrará de sua presença. Foi apresentada expiação a Deus, removendo a ira contra os homens e seus pecados. O próprio pecado já foi julgado, pelo que finalmente desaparecerá como um dos fatores da existência. Foi instaurada a purificação de pecados, tanto a dos pecados do passado como progressivamente e também na vida vindoura. A justificação vem através da fé na expiação. Gozamos de identificação especial com Cristo (o batismo espiritual; ver Rom. 6). Participamos de sua morte e ressurreição por meio de um processo místico, e recebemos o benefício decorrente de ambas. A expiação assegura-nos a glorificação final e a nossa transformação segundo a imagem de Cristo, tanto moral quanto metafisicamente.
2.  Sentido da morte de Cristo para com Israel. A morte de Jesus cumpriu a promessa que foi feita a essa nação concernente ao Messias-Servo Sofredor. Essa morte conseguiu o necessário para a redenção nacional. Removeu os símbolos da salvação na forma de sacrifícios de animais e de outros ritos, dando-nos a substância tão longamente esperada. Finalmente assegurará o estabelecimento da nação de Israel à testa de todas as nações, quando a obra de Deus completar-se por meio de Cristo. Isso assegurará alta posição para a nação de Israel, durante o milênio. No que diz respeito a todos os demais povos, a salvação
individual será providenciada, embora os alvos finais sejam um tanto diferentes do que no caso da igreja.
3.  Sentido da morte de Cristo para com as nações. Algumas nações terão permissão de. entrarem no período milenar, e essa gente experimentará certa espiritualização de seus seres, pois apesar de continuarem humanos e mortais, sua existência terrena será grandemente prolongada, e eles realmen­te serão mais espirituais, em sua natureza moral e metafísica, do que os homens de hoje em dia. Nações dotadas de imortalidade serão finalmente estabeleci­das à face da terra, o que também será resultado direto da obra da expiação de Cristo e de outras realizações do Senhor Jesus, em sua missão benéfica em favor dos homens.
4.  Sentido da morte de Cristo para com a criação física: A criação física inteira, segundo a conhecemos atualmente, será renovada. A maldição contra o pecado será suspensa. Finalmente haverá uma nova criação, que instaurará novos céus e nova terra.
5.  Sentido da morte de Cristo para com os céus. A passagem de Heb. 9:23 indica a purificação dos lugares celestiais, em resultado da morte de Cristo. Sabemos que o pecado começou nos lugares celestiais, e não à face da terra. Finalmente, porém, o princípio do pecado será removido dos lugares celestiais. Os seres celestiais deixarão de lutar contra esse princípio pecaminoso. Obterão a vitória completa e final, demonstrando que seres dotados de livre-arbítrio podem preferir o bem em vez do mal.
6.  Relação da morte de Cristo para com os anjos caídos, os demônios e Satanás. Segundo ensina o segundo capítulo de Colossenses, o reino da maldade finalmente cairá. Essa destruição será gradual. A morte de Cristo assegurou a destruição final desse reino, embora até agora não tenha produzido esse resultado final.
7. Influência da morte de Cristo sobre Hades; sobre o inferno: I Ped. 3:18-20, 4:6 (e outras passagens do N.T.) falam de um ministério de Cristo em Hades. Alguns veem este ministério como uma oferta completa de salvação aos perdidos, além do túmulo, até que a Segunda Vinda de Cristo termine este tempo, este dia de oportunidade. Isto significa que a nossa morte pessoal não marca este limite. A maioria dos pais antigos da igreja tinha este ponto de vista, como João de Damasco (seção VIII) nos informa em seu livro, A Fonte de Sabedoria. Apenas nos tempos modernos é que qualquer seção de tamanho razoável da igreja tem ignorado ou rejeitado a estória da Descida de Cristo ao Hades. Alguns veem este ministério do submundo como um meio de «restaura­ção», mas não como uma salvação evangélica, para os perdidos. Em outras palavras, o seu ministério no Hades «melhorou» o seu estado de perdição. Ef. 4:8,10 demonstra que os efeitos deste ministério são permanentes ao estado de todos os homens em todo lugar. O assunto, logicamente, tem sido sujeito a muita controvérsia, e a alguns abusos. Ver o artigo sobre a Descida de Cristo ao Hades.
8.  Por causa de sua obra remidora (que inclui sua morte expiatória), Cristo será estabelecido como cabeça do universo, e não somente da terra (ver Efê. 1,  Col. 1 e 2). Jesus é o grande alvo de toda a criação. Os crentes serão transformados à imagem de Cristo, moral e metafisicamente. Toda a criação, todas as criaturas, celestiais e terrenas, terão em Cristo o seu centro. 0 ponto mais alto de toda a criação será a duplicação da pessoa de Jesus Cristo nos homens remidos.
O leitor poderá observar que quase todas essas doutrinas emergem das epistolas, especialmente das de autoria de Paulo. Muitos se interessam pelo quadro exposto nos evangelhos, especialmente em face de que as idéias ali apresentadas resultam diretamente das palavras autênticas e verdadeiras do próprio Jesus, e não das palavras dos discípulos, como desenvolvimento posterior da igreja. Alguns eruditos mais liberais insistem que a igreja criou um Jesus «teológico», sem nenhuma ligação com o Jesus histórico. Por isso, rejeitam quase totalmente as epistolas como verdadeiras representações de Jesus. Esses mesmos mestres negam, igualmente, qualquer ensino que se aproxime do das epístolas que porventura se ache nos evangelhos. A grande verdade,porém, é que os evangelhos expõem um quadro da expiação que a torna universal. Se não quisermos aceitar esse testemunho, seremos obrigados a depender de conjecturas para encontrar a verdade, e embora todo homem seja um agente moral livre, que pode fazer toda forma de conjectura, o crente sério, especialmente se a sua experiência religiosa é válida e vívida, terá de rejeitar o método da conjectura na busca da verdade. A vida de Jesus foi tão grande, as suas obras foram tão profundas, que parece razoável aceitar o testemunho dos evangelhos como explicação de sua grandeza. Durante a parte final do seu ministério, Jesus devotou grande parte de sua atenção à sua morte próxima e ao sentido de sua morte para com os seus discípulos (ver Mat. 16:21; Mar. 8:31; 9:31; 10:33,34; Luc. 9:22,44; 22:37; João 6:51; 10:11-18). Jesus declarou que a sua morte seria um resgate em favor de muitos (ver Mat. 20:28). As tentativas da parte de alguns, que procuram negar isso como parte dos próprios ensinos de Jesus, por alegarem que ele não poderia compreender a sua própria morte dessa maneira, têm falhado inteira­mente. Que alguém desse a sua vida como resgate pelo povo não era um conceito inteiramente estranho ao judaísmo. Naturalmente que o resgate oferecido por Jesus deve ser compreendido em sentido diferente do oferecido da própria vida, por parte de algum profeta, segundo esse oferecimento deve ter sido compreendido pelos judeus. Jesus ilustrou isso na cena da «última ceia». Nessa oportunidade ele ensinou claramente as implicações espirituais desse ensino (ver Luc. 22:19,20; Mat. 26:27,28; Mar. 14:22-24). A passagem de Mat. 26:27,28 indica que a morte de Cristo nos traz a remissão de pecados, estabelecendo uma nova aliança entre Deus e os homens (ver Luc. 22:20). A linguagem usada é similar à de Is. 52:13—53:12, que descreve, em forma profética, a vinda do Messias-Servo Sofredor. Também nos devemos lembrar de que os discípulos imediatos de Jesus, especialmente Pedro, se tornaram seus intérpretes especiais na igreja primitiva, ao passo que Paulo assevera que o seu «evangelho» não diferia em nada do deles. A igreja primitiva, de modo geral, aceitava a interpretação de Paulo, não achando que fosse incoerente com a que haviam recebido da parte dos discípulos imediatos de Jesus. Passagens tais como Mat. 28:19,20 emprestam universalidade ao ensino que a morte de Cristo e os benefícios dela decorrentes não podem ser aceitos como limitados a qualquer nação ou povo.
g.    Relação de Cristo para com o judaísmo
A relação entre Jesus, seus ensinos e o judaísmo, já transpareceu nos comentários acima acerca de Jesus, de sua identificação, de seu ministério e de seus ensinamentos distintivos; pelo que também basta apresentar aqui um «breve sumário». A magnitude de sua pessoa eleva-o de imediato acima de qualquer profeta, sacerdote ou rei de Israel. Pelos fins do século II de nossa era, mais de vinte religiões distintas se tinham desenvolvido em torno de seu nome. Pelos fins do século IV de nossa era mais de oitenta desses grupos já haviam surgido, enquanto a corrente principal do cristianismo se transformava em uma religião universal, mais que o judaísmo fora ou mesmo tentara ser. Jesus tinha muitas características próprias dos mestres e profetas judeus, e o seu ministério visava especialmente à nação de Israel. Mas quase desde o início de seu ministério Jesus foi rejeitado. Já no oitavo capítulo do evangelho de Marcos, vemos uma rejeição definida à pessoa de Jesus e ao seu ministério. A sinagoga fora fechada para Jesus. Enganamo-nos quando vemos, no ministério de Jesus, apenas um movimento reformista no seio do judaísmo. Não é de forma alguma improvável que Jesus tivesse tido muito contato com os essênios, tal como acontecera com João Batista. Jesus se identificou desde o começo com o movimento de João Batista e pela história sabemos que os essênios já se tinham alienado, como um grupo, do judaísmo. A alienação de Jesus não demorou muito mais, e as sinagogas cerraram-lhe as portas, o que forçou o Senhor a pregar ao ar livre. Seu ministério, por conseguinte, dificilmente poderia ser reputado um movimento reformador. Consistia mais da formação de um grupo distinto dentro do judaísmo. Posterior­mente (Mat. 16) Jesus intitulou o seu grupo de seguidores de sua igreja. Embora alienado e separado da corrente principal do judaísmo, Jesus continuava a ministrar para toda a nação de Israel, pois disso consistia sua missão como Messias.
A separação entre Jesus e o judaísmo tradicional pode ser vista ainda com maior clareza nos ensinos dos evangelhos. Já no décimo sexto capitulo do evangelho de Mateus, encontramos menção da igreja.Os capítulos que vêm logo em seguida, baseados nos ensinos de Jesus, contêm diversas instruções acerca de problemas que poderiam surgir na sua «igreja». Jesus estabeleceu leis disciplinares, leis de amor mútuo entre os crentes, leis de autoridade no seio da igreja, leis relativas ao perdão entre os membros da igreja, leis acerca das atitudes que devem ser mantidas para com os novos convertidos, leis sobre as relações familiares, leis acerca das atitudes para com as crianças. Esses ensinos indicam o aparecimento, desde o começo, de um grupo totalmente — separado — dentro do judaísmo, e também que a igreja de Jesus se separaria, finalmente, de modo total do judaísmo, em grau maior que os essênios (ver Mat. 16-19). Parte do ensino sobre o reino dos céus reflete certo colorido de uma «era da igreja», isto é, representa o reino visto na igreja que surgia e se desenvolvia, e não como desenvolvimento dentro do judaísmo (ver Mat. 13). Jesus, em seus ensinos sobre a sua própria pessoa como Filho do homem, foi muito além do que se poderia esperar no judaísmo convencional, especialmente porque universalizou o conceito de Filho do homem. Por semelhante modo, a idéia inteira da sua missão messiânica é universaliza­da nos evangelhos.
Marcos procura mostrar que o cristianismo não deve ser entendido apenas como um ramo do judaísmo. As seções finais desse-evangelho e dos demais enfatizam, particularmente, essa particulari­dade, ao mostrarem que o evangelho deverá ser anunciado a todas as nações e que Jesus, voltará como rei e juiz universal.
Nem mesmo os ensinamentos éticos de Jesus podem ser inteiramente contidos dentro da tradição judaica. Jesus elevou a Deus como pai universal dos homens, assim alterando um principio judaico exclusivista. Jesus ensinou um princípio de amor universal, em favor de todos os homens, ao passo que a maioria dos mestres judaicos permitia ou mesmo encorajava o ódio contra os inimigos estrangeiros. Jesus muito elevou os princípios éticos, mostrando que o ódio é reputado por Deus como assassínio, e que a cobiça já é adultério aos olhos do Senhor. A posição da mulher também foi guindada a novos níveis, bem como todo o conceito do matrimônio, devido ao princípio eterno de «um homem-uma mulher». Mais do que qualquer outro mestre antigo ou moderno, Jesus apontou para o alvo da perfeição absoluta, e ensinou que os homens, finalmente, serão semelhantes a Deus no aspecto moral, quando atingirem totalmente o alvo determinado para eles pela vontade de Deus (ver Mat.5:48).
Na qualidade de profeta sobre acontecimentos futuros, Jesus ultrapassou a tudo quanto se conhecia no judaísmo, especialmente em face de ter revelado não apenas o futuro de Israel, mas também o futuro de todas as nações e de todos os homens e, mais especialmente ainda, por ter revelado que sua própria pessoa, finalmente, seria rei e juiz universal. O judaísmo jamais reconheceu qualquer ensino seme­lhante a esse, e nesses particulares é que vemos a distinção entre o judaísmo e o cristianismo, que equivale à distinção entre o judaísmo e Jesus Cristo.
Talvez o mais distintivo de todos os ensinamentos de Jesus seja o da expiação e o do sentido geral de sua morte, não visando apenas aos indivíduos, mas também às nações e ao universo em geral, incluindo tanto a criação física como a espiritual, tanto os homens como os anjos, tanto a terra como os lugares celestiais. Jesus, por conseguinte, emprestava um sentido universal ao seu ministério e aos seus ensinos. Essa universalidade é a marca distintiva do cristianis­mo e, em seus muitos e variados aspectos, reflete a natureza das relações entre Jesus e o judaísmo. Jesus é o Salvador dos crentes, —é Senhor e Rei deles; mas também é o Salvador do mundo inteiro, e o seu nome está acima de todo e qualquer outro nome.
h.    Vários Temas das Parábolas de Jesus
Finalmente, a fim de completarmos esta seção sobre Jesus e seus ensinamentos, observemos, em forma esboçada, os diversos temas das suas parábolas. Jesus deve ter proferido muitas outras parábolas que não se acham registradas, mas aquelas de que dispomos mui provavelmente servem de boa indicação sobre os assuntos que ele ensinou por esse método. Encontramos quarenta e uma parábolas de Jesus. O evangelho de Mateus contém vinte e três delas, dez das quais não se encontram em nenhum dos outros evangelhos. O evangelho de Marcos contém apenas oito das quarenta e uma parábolas, e apenas uma que os outros não registraram — a parábola da semente em crescimento, Mar. 4:26-29. O evangelho de Lucas foi o que melhor preservou as parábolas de Jesus, porquanto contém trinta das quarenta e uma dessas parábolas, dezesseis das quais foram registradas exclusivamente por ele. Quanto a uma lista completa das parábolas de Jesus, bem como suas localizações, etc., ver o artigo intitulado o Problema Sinóptico. Este artigo também contém uma lista completa dos milagres de Jesus (registrados nos evangelhos).
Quando se fala sobre as parábolas de Jesus, deve-se usar uma lata definição desse termo, porquanto algumas de suas parábolas mais extensas, que fornecem explicações pormenorizadas (como a pará­bola do «semeador», Mat. 13:3-23), poderiam ser chamadas, com mais razão, de alegorias. Também se poderia empregar a designação de «símiles» para as parábolas mais breves, como a da pérola de grande preço, em Mat. 13:45,46. O evangelho de João não usa «parábolas», «alegorias», ou «símiles» e, sim, «metáforas». Por exemplo, o fato de Jesus ter dito «Eu sou a porta», «Eu sou o caminho», «Eu sou o pão que.desceu do céu», etc., são metáforas, as quais ilustram um objeto ou ensino identificando-o com outro objeto. Uma símile pode ser parecida com uma metáfora, exceto que explana a comparação, ou, segundo podería­mos dizer, — explica os seus símbolos. Uma parábola, segundo a definição dos dicionários, é uma história simples contada com o fito de ilustrar ou ensinar ou moralizar ou doutrinar. Usualmente não procura ensinar algo com cada minúcia, como é o caso das alegorias. Com o uso da palavra «parábola», aplicada às histórias narradas por Jesus, queremos incluir o que poderia ser chamado com mais acerto, em alguns casos pelo menos, de «símile», em outros casos, de «alegoria», e ainda em outros, de «metáfora». Por conseguinte, a palavra «parábola», necessariamente assume um sentido muito lato, incluindo todas essas idéias. — Abaixo, tentamos ilustrar os temas principais das quarenta e uma parábolas de Jesus, preservadas para nós nos evangelhos.
1.  Parábolas que Explicam Diversos Aspectos do Reino dos Céus
a.  Jesus mantém uma relação especial para com o reino dos céus ou reino de Deus. Ele prepara o caminho, e prega a mensagem; e assim a mensagem se torna conhecida entre os homens. A maioria dos homens a rejeita, mas outros a recebem e produzem fruto em vários graus. (Parábola do semeador: Mat. 13:3; Mar. 4:3; Luc. 8:4). Nesse reino, surgem discípulos falsos que causam condições destrutivas. Mas o julgamento final separará os falsos dos verdadeiros. (Parábola do joio: Mat. 13:36). O reino desfrutará de um fenomenal crescimento exterior. (Parábola do grão de mostarda: Mat. 13:31; Mar. 4:30; Luc. 13:18). O reino será dotado de notável poder inerente de crescimento. (Parábola do fermen­to: Mat.13:33; Luc. 13:20). O reino cresce de uma maneira inconsciente para os observadores. (Parábola da semente, Mar. 4:3). O reino tem grande valor, e pode ser descoberto acidentalmente, isto é, sem que haja busca consciente; mas mesmo nesse caso o seu grande valor será percebido por quem o encontrar. (Parábola do tesouro escondido: Mat. 13:34). O reino tem grande valor e pode ser objeto de intensas pesquisas, e quando encontrado por aquele que o busca, o seu valor é imediatamente reconhecido. (Parábola da pérola de grande preço, Mat. 13:45). O reino se estenderá a muitos povos, nações e indivíduos, e reunirá tanto bons quanto maus; mas uma separação seletiva final haverá de purificar o reino. (Parábola da rede de pesca: Mat. 13:47). O reino se assemelha a uma grande festa de casamento, com muitos convidados presentes, alguns aceitáveis e outros não. (Parábola das bodas: Luc. 14:7. A parábola da grande festa ilustra a mesma verdade: Luc. 14:16).
b.  Perto do fim de seu ministério, Jesus apresentou outra série de parábolas do reino, que visam ilustrar especialmente que o mesmo foi tirado das mãos de Israel, que o juízo aguarda aos que rejeitarem o reino, e que todos os homens devem preparar-se para esperar o reino. Assim é que temos a parábola dos dois filhos (Mat. 21:28), a parábola dos trabalhadores na vinha (Mat. 20:1), a parábola do casamento do filho do rei (Mat. 22:1), a parábola da figueira (Mar. 13:28; Mat. 24:32; Luc. 21:29), a parábola dos servos (Mar. 13:34; Luc. 12:35), a parábola do pai de família e do ladrão (Mat. 24:42; Luc. 12:36), a parábola do servo bom e do servo mau (Mat. 24:45; Luc. 12:42), a parábola das dez virgens (Mat. 25:1), a parábola dos talentos (Mat. 25:14; Luc. 19:11), a parábola das ovelhas e dos bodes (Mat. 25:31). Com essas parábolas, Jesus ilustrou quão insensato é rejeitar a sua mensagem, e também ilustrou a rejeição de Israel,o sucesso final do reino, a volta do rei a fim de reinar, a necessidade de vigilância diligente e de serviço no reino, para quem deseja ser verdadeiro discípulo do rei.
c.  O termo reino dos céus (ou reino de Deus) tem assumido muitos sentidos diversos, e o próprio Jesus o empregou de diversas maneiras. O conceito básico é a idéia da dimensão onde todos estão sujeitos a Deus, ou pelo menos onde há a tentativa de pôr tudo sob o seu controle. O reino pode ser o reino terreno; o reino celestial; o mundo do além, onde ninguém pode entrar sem passar pelo novo nascimento; ou a influência da verdade e da espiritualidade entre os homens. A igreja pode ser um agente do reino, bem como seu ponto ou consideração central. O reino pode ser encarado como a súmula de todos os benefícios espirituais, pelo que também nenhum preço é alto demais para pagar por sua aquisição. Por conseguin­te, as parábolas do reino têm uma aplicação vastíssima, que afeta nossa vida inteira. Deveríamos ser os servos fiéis, os recebedores da semente, interessados pelo crescimento do reino, vigiando pelo retorno do rei. Deveríamos buscar o seu reino como buscaríamos um tesouro ou uma pérola excelente, e deveríamos estar dispostos a nos desfazermos de qualquer e de todas as nossas posses, a fim de adquirirmos o reino, que se reveste de valor infinito. Portanto, as parábolas do reino incluem muitas lições acerca do discipulado cristão e acerca da inquirição espiritual.
2.  Parábolas que Ensinam a Natureza Revolucio­nária da Doutrina Cristã
As duas primeiras parábolas de Jesus que foram registradas ensinam exatamente isso. Trata-se das parábolas dos panos e remendos novos e velhos e dosodres novos e velhos: Mar. 2:21,22; Mat. 9:16,17.
3.  Parábola que Ataca o Preconceito e a Hipocrisia Religiosos
É o caso da parábola dos lavradores maus: Mar. 12:1; Mat. 21:33 e Luc. 20:29.
4.  Parábolas que Ensinam Vários Princípios Éticos
Por meio de suas Parábolas, Jesus ensinou a necessidade de misericórdia: Parábola do servo incompassivo (Mat. 18:21). Também ensinou a necessidade de misericórdia e de sermos perdoadores, porquanto o pecador pode ser restaurado: Parábola do filho pródigo (Luc. 15:11) e da moeda perdida (Luc. 15:8).
5.  Parábolas que Ensinam o Amor de Deus pelos Homens
Jesus ilustrou esse amor de Deus por toda humanidade com o princípio que Deus não quer que ninguém pereça: Parábola da ovelha perdida (Mat.18:11; Luc. 15:3).
6.  Parábolas que Frisam a Graça
Jesus ensinou parábolas nesse sentido, como as da ovelha perdida, do filho pródigo e do servo incompassivo, nas quais ilustrou o princípio da graça, que chega ao ponto de perdoar inúmeras vezes.
7. Parábolas que Ilustram Aspectos do Discipulado Cristão
Jesus também usou parábolas com esse propósito. As primeiras intenções não são suficientes, e é melhor obedecer finalmente, ainda que haja rebeldia a princípio, do que mostrar boa intenção no princípio mas nunca realizar o serviço. É o caso da parábola dos dois filhos (Mat. 21:28), da parábola da vinha (Mat. 20:1-16). A parábola dos talentos (Mat. 25:41) também ilustra certos aspectos do discipulado cristão, embora a grande verdade seja que ilustra principal­mente a rejeição do reino por parte de Israel. Nessa classificação também cabem as parábolas do tesouro perdido, e da pérola de grande preço, as quais falam do grande prêmio a ser conquistado pelo verdadeiro discípulo, incentivando-nos ao verdadeiro discipulado cristão.
8.  Parábolas sobre a Oração
Jesus contou a parábola do amigo importuno (Luc. 11:5) e da viúva persistente (Luc. 18:1) a fim de ensinar a importância da oração e seus notáveis resultados.
9.  Parábolas sobre a Insuficiência das Riquezas
Jesus também contou parábolas que mostram que as riquezas materiais não são suficientes, pois a vida é muito mais importante do que a teoria dos bens materiais nos leva a supor. A alma é mais importante do que as riquezas, segundo a parábola do rico insensato. (Luc. 12:16).
10.  Parábolas sobre o Correto Uso das Riquezas
Jesus ensinou-nos a usar corretamente o dinheiro, bem como o modo de tratarmos aos outros, para nosso próprio benefício espiritual. Ê o caso da parábola do mordomo desonesto (Luc. 16:1).
11.  Parábola sobre a Religião Falsa
Existe uma religião falsa, que se ufana de suas realizações mas que é repelida por Deus, embora os homens tanto a favoreçam. Jesus relatou uma parábola nesse sentido, que também mostra como os homens podem encontrar-se com Deus, mediante o arrependimento e a confiança simples. Foi o que ele ensinou na parábola do fariseu e do publicano (Luc.12:16).
12.  Parábolas sobre a Volta do Rei
Nessas parábolas Jesus se referia à sua parousiaou aparecimento em glória, mostrando que devemos estar preparados para esse acontecimento. Cinco são as parábolas que nos ensinam a necessidade de preparação: Parábola do dono da casa (Mat. 42:42), parábola do mordomo sábio (Mat. 24:45), parábola das dez virgens (Mat. 25:1), parábola dos talentos (Mat. 25:14) e parábola das ovelhas e dos bodes (Mat. 25:31).
Conforme mencionamos antes, em conexão com essas parábolas, também foram ensinadas lições específicas a Israel, como nação, como também foram ilustrados certos elementos da doutrina do reino.
13.  Parábolas sobre a Sabedoria de Ouvir a Cristo
Jesus mostrou, numa parábola, quão grande sabedoria mostra aquele que lhe dá ouvidos e, em contraste, quão louco é o que não lhe dá atenção. £ o caso da parábola dos dois fundamentos (Mat. 7:24 e Luc. 6:47).
14.  Parábolas Contra os Preconceitos Religiosos e Raciais: Luc. 10:33 ss.
15.  Parábolas sobre o Alto Custo do Discipulado
Querendo ilustrar quanto custa a verdadeira religião e o discipulado cristão autêntico, Jesus contou a parábola da torre que não foi terminada (Luc. 14:28) e do rei que se preparava para a guerra (Luc. 14:31).
Vemos, pois, que as parábolas de Jesus incluem muitas implicações éticas, doutrinárias e dispensacionais que não estão incluídas nestes comentários. Um estudo minucioso acerca de cada parábola, com o auxílio deste artigo, poderá ilustrar esse fato, preenchendo os hiatos quanto aos pormenores que foram deixados em branco.

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