Podemos determinar o tempo da permanência de Paulo em Corinto com grande precisão, quando confrontamos esse caso com suas visitas a outras localidades. No trecho de Atos 18:2 encontramos a menção de que Priscila e Áquila chegaram a Corinto, vindos da cidade de Roma, porque os judeus haviam sido expulsos da capital do império por ordem do imperador Cláudio, conforme nos informa Suetônio em Vida do Deificado Cláudio, 25:4. A data mais provável desse acontecimento é 49 D.C. Outrossim, essa passagem de Atos 18:2 revela-nos como Gaio, que foi feito procônsul da Acaia, defendeu a causa de Paulo, negando-se a imiscuir-se numa questão religiosa, que não lhe estava afetando. Sabe-se que Gaio se chamava Lúcio Júnio Aneu Gálio, e que era irmão do famoso filósofo estóico romano, Sêneca, que fora tutor de Nero, o terrível e sádico, imperador romano. Uma inscrição encontrada em Delfos possibilitou-nos datar o seu período proconsular dentro de limites bem estreitos. Isso nos tem permitido calcular que Sêneca iniciou seu encargo a 10 de julho de 51 D.C. Alguns estudiosos têm sugerido um ano mais tarde; porém, seja como for, podemos inferir com segurança que Gálio estava em Corinto, em 50 D.C., e que, portanto, Paulo ali se encontrava também. É bem provável que o apóstolo dos gentios tenha chegado ali em 50 D.C., na primavera, tendo partido no outono de 51 D.C.
Por conseguinte, a correspondência de Paulo com Corinto deve ter-se iniciado em 51 D.C., sendo provável que a primeira epístola aos Coríntios foi escrita entre 52 e 54 D.C. Mui provavelmente Paulo escreveu essa primeira epístola poucos meses antes de ter partido de Éfeso, a fim de revisitar as igrejas que havia fundado na Macedônia e Corinto. Quanto a isso, pode-se verificar o que ele diz em I Cor. 16:19: «As igrejas da Ásia vos saúdam». A cidade de Éfeso era, por assim dizer, o quartel-general de Paulo na Ásia, pelo que é lógico supormos que a primeira epístola aos Coríntios foi escrita daquela cidade. (A introdução sobre essa epístola fornece-nos outros detalhes atinentes a essa suposição).
Com base nessas considerações, podemos inferir com segurança que a segunda epístola aos Coríntios não pode ter sido escrita antes do fim de 54 D.C. E já que a segunda epístola aos Coríntios provavelmente representa uma série de epístolas, e não uma única missiva, é seguro supormos que essa correspondência poderia ter-se prolongado por um ano ou mais. Contudo, alguns estudiosos situam a escrita da primeira epístola aos Coríntios tão tarde como 56 ou 57 D.C., em vista do que a segunda dessas epístolas deve ter sido escrita algum tempo mais tarde. E a chamada «epístola severa», provavelmente a primeira das cartas que vieram a fundir-se, formando a nossa II Coríntios, provavelmente foi escrita mais ou menos nos fins de 54 D.C., depois que Paulo partira de Éfeso» tendo passado através de Trôade, até chegar na Macedônia, onde também se encontrou com Tito.
«Que esse encontro (entre Paulo e Tito) e a escrita do trecho de II Cor. 1-9 (da Macedônia) deve ter-se verificado em novembro de 54 D.C., parece provável, se pudermos depender da narrativa do livro de Atos. Na narrativa altamente condensada de Atos 20:1-6, apreendemos que Paulo passou três meses na Grécia, isto é, em Corinto, naturalmente, e que então retomou por mar de Filipos a Trôade, depois dos dias dos pães asmos. Portanto, se ele voltou para Filipos a tempo de partir após a páscoa, e se passara três meses em Corinto, parece que chegou nesta última cidade em dezembro ou janeiro, e que escrevera o trecho de II Cor. 1-9 cerca de seis semanas a dois meses antes, ou seja, novembro». (Morton Scott Enslin, «The Literature of the Christian Movement», parte II, Harper Torchbooks, Nova Iorque, 1956).
A chamada epistola severa, mencionada em diversos trechos de II Cor. 1-9, teria sido escrita antes, como é claro. Já os capítulos décimo a décimo terceiro da segunda epístola aos Coríntios contêm, ao menos, uma parte dessa «epístola severa», o que significa que esses capítulos foram escritos antes dos capítulos primeiro a nono, contanto que sejam corretas as suposições apresentadas sobre a correspondência de Paulo com Corinto, tanto aqui como na introdução à primeira epístola aos Coríntios.
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