Correspondência Paulina com Corinto


1.   Questão da integridade desta epístola.
A maioria dos intérpretes acredita que a primeira epístola aos Coríntios forma, essencialmente, uma unidade sólida; mas parece que a segunda epístola aos Coríntios representa uma série de missivas, que finalmente, foram reunidas, formando uma uni­dade, como se todas elas representassem uma única missiva escrita pelo apóstolo Paulo. —E embora que seções exatas representam missivas separadas seja uma questão em torno da qual os intérpretes não chegaram ainda a um acordo, a ideia de uma coleção de epístolas e não de uma única epístola, conta com razões que nos impelem a aceitá-la como certa. Isso não significa, contudo, que qualquer de suas porções seja posta em dúvida como paulina. Isso quer dizer meramente .que o apóstolo Paulo enviou mais do que somente duas epístolas aos crentes de Corinto. A maior parte dos eruditos acredita que houve pelo menos quatro dessas missivas. (Quanto a detalhes maiores sobre esse problema, o leitor pode consultar o artigo sobre à primeira epístola aos Coríntios, sob o título «A Correspondência de Paulo com Corinto», seção IV). A essas notas são adicionadas as seguintes observações sobre as possíveis cartas separadas que podem ser distinguidas em nossa segunda epístola aos Coríntios: Parece não haver qualquer sombra de dúvida sobre o fato de que houve uma «epístola severa», enviada pelo apóstolo Paulo aos crentes de Corinto, e que precedeu à escrita do trecho de II Cor. 1-9. Isso transparece de modo claro na passagem de II Cor. 7:5-9, que menciona tal correspondência anterior.
Paulo expressa sua tristeza por ter enviado aquela carta, mas, também diz que, depois de ser sabido que a mesma se mostrara eficaz (e até mesmo os seus adversários admitiam tal fato, como se vê em II Cor. 10:10), não mais se entristecia por causa dela, já que a mesma havia contribuído para a sua reconciliação com os crentes coríntios. Essa «epístola severa», é aceita atualmente como certas porções ou mesmo a totalidade do trecho de II Cor. 10-13, onde repentinamente, a linguagem suave que Paulo vinha usando nos capítulos primeiro a nono, evidenciando o seu alívio devido à melhoria das condições entre os crentes daquela cidade, se modifica. Nesses capítulos — 10-13, aparecem reprimendas e autodefesas inflexíveis, repetidas insistentemente. Pelos menos podemos supor que esses capítulos (décimo a décimo terceiro) representam uma parte daquela «epístola severa».
Todavia, aparecem outras referências àquela «epístola severa», em II Cor. 1-9. (Por exemplo, II Cor. 2:4). Paulo escreveu aquela «epístola severa» triste e lacrimejante. Também escreveu com a determinação firme de renovar a lealdade dos crentes de Corinto para com ele, e de fazê-los repelirem os adversários. (Ver II Cor. 2:9). Sua própria severidade servira tão-somente para assegurar-lhes o quão profundamente se interessava e preocupava por eles (ver II Cor. 2:3,4). Não obstante, exigiu alguma forma de punição para o líder que se opunha a ele (ver II Cor. 2:6). Foi Tito quem levou essa carta, pois Paulo lhe assegurara que os crentes de Corinto seriam novamente conquistados à amizade de Paulo, e vice-versa. (Ver II Cor. 7:14,15). E é patente que Tito também se aproveitou da oportunidade para promover a coleta que Paulo recolhia para os santos pobres da igreja de Jerusalém. (Ver II Cor, 8:6). Evidente- mente Paulo haveria de ir ao encontro de Tito em Trôade, com qualquer notícia que este último pudesse
trazer-sobre a situação em Corinto. No entanto, Tito não compareceu ao encontro, e a angústia de Paulo se intensificou. (Ver II Cor. 2:12). Foi então que Paulo se dirigiu à Macedônia, talvez à cidade de Filipos, onde se encontrou com Tito, que lhe trazia notícias favoráveis. Foi em vista dessas notícias favoráveis que Paulo escreveu a chamada «epístola de agradecimento», a porção essencial do trecho de II Cor. 1-9.
2. A epístola de agradecimento. A tonalidade do trecho de II Cor. 1-9 é inteiramente diversa daquilo que aparece em II Cor. 10-13; pois aquela primeira porção da nossa segunda epístola aos Coríntios mostra a gratidão de Paulo ante o fato de que a combinação de sua epístola severa e da mediação de Tito havia sido suficientemente eficaz para solucionar os problemas da igreja de Corinto. (Ver II Cor. 7:5-12). Tendo sido solucionados os problemas principais, Paulo pôde dar prosseguimento aos seus planos de visitar novamente a igreja de Corinto; e dessa vez o fez com alegria, e não em tristeza e lamentação, conforme sucedera na vez anterior. Era mister que Paulo fosse ali, a fim de recolher a coleta que desejava levar para os santos pobres de Jerusalém. Paulo já havia dito aos crentes da Macedônia que os crentes de Corinto estavam preparados para cumprirem a sua parte na coleta. (Ver II Cor. 9:2). Porém, para garantir que essa coleta se completaria, já que a mesma talvez tenha sido interrompida pelo conflito entre Paulo e alguns dos membros da igreja de Corinto, esse apóstolo mandou uma mensagem à sua frente para emularem os crentes à ação, no tocante à coleta. Paulo exortou os crentes de Corinto a contribuírem com generosidade, prometendo-lhes a recompensa divina em face da mesma. Por essa razão é que o apóstolo permaneceu ainda na Macedônia, completando a coleta ali feita e dando prosseguimento ao seu ministério geral do evangelho, esperando que os crentes coríntios se preparassem para fazer a sua contribuição. (Ver II Cor. 8:1-5 e 9:2). O trecho de Rom. 15:24-27 indica-nos o total sucesso desse apelo feito por Paulo.
3.   Existem outras possíveis missivas, representadas nesta segunda epístola aos Coríntios. Alguns intér­pretes destacam o trecho de II Cor. 6:14-7:1 como uma possível missiva curta sobre o problema do jugo desigual, ou mesmo como parte de uma outra missiva. Ora, isso parece fazer de ‘nossa segunda epístola aos Coríntios uma conjunção de três cartas. Mas outras divisões ainda têm sido propostas pelos eruditos, conforme se pode verificar no artigo sobre à primeira epístola aos Coríntios, em sua seção IV. Todavia, essas três epístolas formadoras da segunda epístola aos Coríntios são as mais frequentemente propostas.

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