Temas de Segunda Corintios


Dez são os principais temas abordados nesta segunda epístola aos Coríntios, a saber:
1.   Deus Pai: Embora esta segunda epístola aos Coríntios não tenha tido por intuito ser um tratado doutrinário, tal como a primeira dessas epístolas, ela contém uma porção surpreendente de material doutrinário. Sobre esse tema de «Deus Pai», pode-se observar os seguintes particulares: Ele é Pai, motivo pelo qual usa de misericórdia e consola aos seus filhos (ver II Cor. 1:3). Deus é uma personalidade viva. (Ver I              Cor. 3:3 e 6:16). Ele é alguém que se revela a si mesmo, o que confirma a posição central do «teísmo», o qual afirma que Deus é, não só o Criador, mas também é aquele que controla a sua criação, punindo e recompensando suas criaturas mortais. Deus se tornou conhecido principalmente através da pessoa de seu Filho, o Senhor Jesus Cristo. Desse modo, ele se faz presente entre os débeis agentes humanos postos a seu serviço. (Ver II Cor. 4:7; 6:7 e 13:4). Deus foi quem estabeleceu a ordem moral, razão pela qual deve ser respeitado e temido; mas o futuro eterno está garantido para aqueles que nele confiam. (Ver. II Cor. 1:18; 7:1 e 5:5).
2.   Realidade de Satanás e dos poderes diabólicos: Satanás é o «deus» deste mundo (ver II Cor. 4:4), embora se disfarce como mensageiro luminoso, como mensageiro do reino da luz (ver II Cor. 11:14). Os homens, através de Satanás e da perversidade natural de suas próprias naturezas, precisam de reconciliação e da concretização da «nova criação» em Cristo. (Ver II  Cor. 5:17-19). A redenção é que quebra o poder do reino das trevas. (Ver II Cor. 1:2).
3.   O Senhor Jesus Cristo: Cristo aparece com destaque em trechos como II Cor. 1:3; 4:5 e 13:14. Ele é a imagem ou semelhança de Deus (ver II Cor. 4:4). Ele é o Filho de Deus (ver II Cor. 1:19). Também é impecável (ver II Cor. 5:21). Ê Cristo quem assegura a realização das promessas de Deus aos homens, isto é, é quem garante o cumprimento das mesmas. (Ver II Cor. 1:19,20). Ele é o Redentor que traz os homens de volta a Deus, anulando a alienação que há entre os homens e o seu Criador. (Ver II Cor. 5:17-19). Jesus é o Messias de Israel, para quem os judeus deveriam olhar com expectação. (Ver II Cor. 3:12-15). Jesus é o Cristo preexistente, que não quis preservar sua anterior posição gloriosa e nem quis ignorar os homens, mas antes, empobreceu por nossa causa, dessa maneira conferindo-nos as riquezas dos céus. (Ver II Cor. 8:9). Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, conforme se lê em II Cor. 4:14. E ele é o Senhor de todos e o Juiz de todos os homens. (Ver II Cor. 5:10).
4.   O Espírito Santo: Ver especialmente II Cor. 13:14. O Espírito de Deus é quem produz a nova ordem, determinada por Deus e trazida à luz por Jesus Cristo, o Filho de Deus, proporcionando vida aos homens, o que o código legal de Moisés jamais poderia ter feito. (II Cor. 3:17-19). A esfera da ação do Espírito Santo é o «coração», a «alma» ou «homem interior». (Ver II Cor. 3:3). O Espírito de Cristo é o poder que transforma os crentes. (Ver II Cor. 3:6). O dom do Espírito Santo é a garantia de tudo quanto Deus promete aos homens para o futuro. (Ver II Cor. 1:22 e 5:5).
5.   Autoridade do Antigo Testamento. As promessas de Deus (contidas nas Escrituras do A.T.) se referem aos crentes, que são o verdadeiro Israel. (Ver II Cor. 1:19,20). Porém, o código escrito, a lei de Moisés, é inferior à revelação divina que nos trouxe Cristo. (II Cor. 3:3,6). Não obstante, o A.T. se reveste de importância, não devendo ser desprezado por nós. (Ver II Cor. 3:14,15). O erro fatal dos judeus incrédulos foi não terem eles percebido o cumprimen­to do Antigo Testamento na nova dispensação, em Cristo Jesus.
6.   A imortalidade. A mais completa descrição bíblica que existe sobre a «imortalidade» aparece no quinto capítulo da segunda epístola aos Coríntios. A imortalidade, todavia, não consiste em mera existência interminável; antes, consiste em uma vida de propósito e tipo específicos. No começo do estado eterno, cada crente será julgado de acordo com sua conduta nesta vida terrena. Esse julgamento determinará o nível de glória da transformação em Cristo, da capacidade de servir ao Senhor naquele novo estado. Não obstante, não devemos esperar que haja qualquer estagnação no estado eterno. Em outras palavras, é lógico supormos que o crente, tendo ficado aquém daquilo que poderia ter sido e feito, apesar disso será capaz de progredir no estado eterno, mais e mais, até que a imagem de Cristo seja aperfeiçoada nele, quando então compartilhará da própria divindade (ver II Ped. 1:4; II Cor. 3:18), que é o próprio alvo de toda a existência humana. Esse estudo paulino sobre a «imortalidade» também inclui a esperança do arrebatamento e a transformação que isso produzirá, sem que certos crentes passem pela morte física.
7.   A função e os propósitos do sofrimento do crente.
Debilidade e sofrimento são combinados com os conceitos de poder e triunfo, tal como o próprio Cristo, que era rico, se tornou pobre, tendo sofrido muito, até que triunfou em sua missão. (Ver II Cor. 13:4). Os homens são apenas vasos de barro, e devem experimentar sofrimentos e provas; porém, «o poder se aperfeiçoa com o sofrimento» (ver II Cor. 12:9). O sofrimento, pois, é um instrumento que Deus usa a fim de levar a existência humana à perfeição, tanto como agente purificador quanto como agente desenvolvedor das graças espirituais.
8. A esperança cristã. A despeito das frustrações, dos sofrimentos e das provas, além do desespero ocasional, tudo isso redundará para o crente em um peso eterno de glória. (Ver II Cor. 4:10-18). Essa esperança inclui a certeza da imortalidade absoluta. (Ver II Cor. 5:1-10). Nos trechos de I Cor. 15:52 e I Tes. 4:17, percebe-se que Paulo esperava estar vivo ainda quando da «parousia» ou segundo advento de Cristo, sendo essa uma de suas grandes esperanças. A passagem de II Cor. 5:1-19 mostra-nos que Paulo continuava retendo essa esperança; porém, mesmo que isso não se concretizasse, ainda assim podemos ter a certeza de uma casa eterna, nos céus, não feita por mãos humanas. Sem importar o que venha a acontecer, haveremos de permanecer firmes em nossa fé em Cristo, esforçando-nos, quer presentes, quer ausentes, por agradá-lo. (Ver II Cor. 5:9). Toda a esperança cristã se alicerça sobre o dom inefável de Deus (ver II Cor. 9:15), o que provavelmente indica a pessoa do próprio Cristo, ou então a salvação que ele nos propicia. A esperança cristã inclui a expectação da fuga para os lugares celestiais, as dimensões da luz, conforme lemos no décimo segundo capítulo da segunda epistola aos Coríntios.
9. O uso do dinheiro. Está aqui em foco o espírito cristão bondoso. Damos porque Deus nos deu em proporção infinita, bem como por causa do exemplo inspirador do próprio Cristo. (Ver II Cor. 5:18; 8:9 e 9:15). O mais importante dom de Deus que podemos dar é a nossa própria pessoa (ver II Cor. 8:5). A vida humana inteira pode ser uma forma de doação, que produz frutos dignos e aprovados pelo Senhor; e o serviço aqui focalizado é prestado tanto aos homens como a Deus, como manifestação do amor cristão. (II Cor. 8:1 e 9:14). O verdadeiro espírito de doação cristã, que agora se volta para as questões materiais, deve ser voluntário. (Ver II Cor. 9:5,7). Isso deve ser feito com boa atitude e com intensidade. (Ver II Cor. 8:2 e 9:7). O crente deve dar de modo generoso e alegre, (II Cor. 8:2 e 9:6,7,11). Também devemos dar, de conformidade com a capacidade própria. (Ver II Cor. 8:11,12). O exemplo de um crente, em suas doações, encoraja a outros a seguirem o seu bom exemplo (ver II Cor. 9:2). O espírito dadivoso dos crentes edifica a fraternidade, a compreensão e o espírito de adoração mútua. (Ver JI Cor. 9:12-14).
10. Defesa do apostolado de Paulo. Por detrás das cenas, esse tema domina grande parte da primeira e da segunda epístola aos Coríntios. Os capítulos décimo a décimo terceiro da segunda epístola são os principais trechos que abordam essa questão, onde também Paulo, ao fazer oposição aos seus adversários, revela-nos o seu íntimo, os seus conflitos e anelos, as suas esperanças, os seus desapontamentos, mas a sua esperança é permanente e imorredoura. Esta seção também ataca os adversários de Paulo, a quem ele reputava como «falsos apóstolos».
«A segunda epístola aos Coríntios fornece-nos alguns vislumbres íntimos de Paulo, mostrando-nos como ele realmente era, em momentos de maior pressão emotiva, indignado ou desanimado, ou então aliviado e grato. Tem sido dito com razão, sobre a primeira epístola aos Coríntios, que ela retira o telhado da igreja cristã primitiva, permitindo-nos espiar o seu interior. Porém, a segunda epístola aos Coríntios nos fornece um quadro ainda de maior intimidade, porquanto permite-nos olhar para o interior do coração de Paulo». (Goodspeed, Introdução à segunda epístola aos Coríntios, em sua tradução, impressa pela University of Chicago Press).

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