Autor de Gálatas


Com base em considerações de estilo, de vocabulá­rio, de reiteração de temas, de desvendamento da personalidade do autor e de considerações literárias de toda a sorte, praticamente não existe um único estudioso das Escrituras que duvide da autoria paulina dos quatro grandes clássicos paulinos, a saber, as epístolas aos Romanos, aos Gálatas, e as suas epístolas aos Coríntios. Esses quatro livros permanecem de pé ou caem juntos, porquanto ou todos foram escritos por Paulo ou nenhum deles foi escrito por esse apóstolo, tão óbvio é que o mesmo indivíduo escreveu todos os quatro. Somente ocasionalmente é que a autoria paulina desses quatro livros do N.T. têm sido posta em dúvida. Nenhuma tentativa séria nesse sentido fora feita até o século passado, quando F.C. Baur e os seus seguidores adiantaram a teoria que a epístola aos Gálatas era resultante da controvérsia legalista que houvera na igreja cristã primitiva, tendo sido escrita, por conseguinte, por elementos paulinistas, em nome de Paulo, a fim de emprestarem senso de autoridade à posição que haviam tomado. Essa teoria, entretanto, não tem sido bem recebida pelos eruditos em geral, os quais podem encontrar ali muitos indícios de natureza histórica e biográfica, que seriam impossíveis de inventar, até mesmo pelos mais engenhosos seguidores do apóstolo Paulo.
As circunstâncias referidas nessa epístola se coadunam perfeitamente com o que se sabe acerca do cristianismo da época de Paulo. Outrossim, a experiência religiosa refletida na epístola é caracterís­tica daquilo que se sabe sobre Paulo, como homem. Diz Morton Scott Enslin: «Esta é uma epístola genuína de Paulo; e que a possuímos essencialmente conforme foi originalmente escrita tem sido posto em dúvida com grande raridade, e isso jamais por críticos sem preconceitos. Nem se pode pensar em uma carta forjada. A excitação óbvia sob a qual ela foi escrita; a forma apaixonada de expressão; as mudanças súbitas de pensamento, tudo isso é mui improvavelmente obra de algum crente ensaísta posterior… Não se trata de um ensaio frio, estudado. Paulo se sentia tão excitado que seus pensamentos com freqüência ultrapassavam seu poder de expressão». (The Literature of the Christian Movement, parte III, Introdução aos Gálatas, pág. 216).
Juntamente com as epístolas de Romanos, I e II Coríntios, além de cinco outras das epístolas paulinas, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses e Filemom, a epístola aos Gálatas ocupa lugar antiquíssimo dentro do cânon do N.T. Não há que duvidar que até mesmo em seus dias de vida, já havia uma coletânea de livros escritos por Paulo. Podemos considerar a passagem de II Ped. 3:16, que se refere aos seus escritos como «Escritura», o que, evidente­mente, lhes dão autoridade similar aos escritos do A.T.
O primeiro uso histórico da epistola aos Gálatas como um «livro sagrado», ou seja, como parte do cânon das Escrituras, ocorreu em cerca de 144 D.C., nos escritos do herege gnóstico Márcion. Este incluiu a epístola aos Gálatas entre os dez livros de Paulo que ele considerava inspirados, juntamente com uma forma mutilada do evangelho de Lucas. Esses onze livros é que constituíam o seu «cânon» das Escrituras. Uma geração mais tarde, o «cânon» muratoriano (de cerca de 185 D.C.) também incluía essa epístola como escrita por Paulo. Antes mesmo disso, Policarpos em sua epístola aos Filipenses, a citou. Nos dias de Irineu, um dos pais da igreja, essa epístola aos Gálatas já vinha sendo usada pelo gnóstico Valentino, conforme somos informados no livro de Irineu, Adv, Hae. 3:3, bem como pelo seu discípulo, Teodoro (ver Exc. ap. Ciem. Alex., cap. 53). O próprio Irineu se utilizou dessa epístola aos Gálatas (ver Adv. Haer. III.7,2), como também o fez Clemente de Alexandria, outro dos pais da igreja (ver Strom. III, pág. 468), a exemplo de Tertuliano (ver De Praescript. Haer., cap. 6). Portanto, a epístola aos Gálatas era abundantemente usada nos séculos II e III da era cristã, quando vieram aqueles pais da igreja. Pode-se asseverar, por conseguinte, que a autoridade canônica da epístola aos Gálatas não é inferior a qualquer outro dos livros do N.T., e que a sua posição como livro de autoria paulina tem sido confirmada através de toda a história do cristianismo.

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