Você precisa reacender as chamas domingo após domingo


Amo pregar. Odeio pregar. A melhor descrição está em Jeremias: é como fogo nos ossos. E trabalho santo e trabalho terrível. Deixa exausto, mas alegra; entusiasma, mas consome.
Nas segundas feiras, sou restos chamuscados. Quanto mais queimei no domingo — quanto mais preguei com convicção ardente e esperança radiante — mais queimado e arrasado estou na segunda. Estou agitado, mas não tenho iniciativa para fazer nada ou, se tenho, falta a energia para me sustentar nisso. Estou exausto, morto de cansado, experimentando o que muitos Pais da Igreja no deserto chamaram de acedia ou prostração: um amortecimento interno provocado pelo intenso calor do sol.
O pior de tudo, a segunda-feira é vivida com a consciência de que eu preciso fazer tudo isso de novo no domingo seguinte. As segundas-feiras são os dias em que eu preferiria vender sapatos.
Mas então o domingo vem, e os ossos ardem novamente. Sou mais uma vez um tição recém-aquecido nas mãos de Deus. Se eu não prego, fico com uma tristeza dolorida. Eu me irrito mais com não pregar do que com pregar. “Mas, se eu digo: ‘Não o mencionarei nem mais falarei em seu nome’, é como se um fogo ardesse em meu coração, um fogo dentro de mim. Estou exausto tentando contê-lo; já não posso mais!” (Jr 20.9).
Assim, amo a pregação e a odeio.
A surpresa é que dez anos de pregação não diminuíram isso. Isso tem, na verdade, aumentado e intensificado. Todo domingo há a paixão, se eu prego, e a dor, se não prego. Na segunda, tanto faz, há um caminho intimidador — tanto por ser muito longo quanto por ser muito curto — que preciso trilhar até o domingo seguinte. Pregar não é trabalho. E fogo.
Como devemos viver com esse ciclo de fogo e cinzas e fogo novamente?
Pregação quando começa afaltar oxigênio
Essa situação, no mundo físico, refere-se ao fenômeno em que um fogo diminuiu porque queimou todo o oxigênio na sala — então, se de alguma forma surge uma abertura na sala — uma porta é aberta ou o teto é perfurado pelo próprio fogo — ar carregado de oxigênio entra com força e causa uma explosão. Vento fresco encontra um fogo quase morrendo e novamente está furiosamente flamejante.
Esse fenômeno físico é uma boa metáfora para o chamado para a pregação. E exatamente o que eu descrevi: o que extingue tudo que está dentro e quase apaga a si mesmo; depois, o fogo encontra vento fresco e se expande novamente. Sabendo que isso é o modelo do resto da minha vida, tenho me tornado desesperado por disciplinas que me ajudem a viver com isso. Aqui estão três.
Espere interrupções divinas
O sermão tem o poder hipnótico da sedutora. Ele persuade-me, ordena-me e instiga-me. “Venha para mim”, o sermão sussurra. Quando isso fracassa, ele se torna grosseiro: “Venha aqui agora! Se não…”. Ele freqüentemente habita meu sono, uma vaga ansiedade se arrastando pelos cantos dos meus sonhos. Incontrolável, o sermão se torna uma obsessão.
Não tenho uma grande história de vitória pessoal para relatar aqui. A melhor coisa que eu encontrei foi a prática da confiança em Deus quanto ao meu tempo.
Jesus estava sempre sendo interrompido — por homens cegos, leprosos, fariseus que se encontravam com ele à noite, pais desesperados com filhos endemoninhados ou morrendo, mulheres pecadores pegas em adultério ou colocando perfume em seus pés. E ele estava sempre interrompendo outros — coletores de impostos contando dinheiro, pescadores remendando redes ou puxando-as para cima, perseguidores indo para Damasco. Muito de seu ministério transformador aconteceu por meio de interrupções.
Muitos de nós que pregamos somos os sacerdotes e levitas na história que Jesus contou do bom samaritano. Estamos tão inflexivelmente focados nos nossos deveres com o templo que perdemos o que Deus tem para nós à beira da estrada. A única cura que conheço é o comprometimento diário e intencional da espera por Deus nas interrupções. (Enquanto eu escrevia isto, Deus interrompeu a minha agenda três vezes. Dois telefonemas, um de um homem à margem da fé salvadora e precisando de um pouco de atenção extra; o outro de um homem de outro credo interessado em realizar um trabalho para a igreja. A terceira interrupção foi de uma mulher pedindo alimento. Ela e seu filho não tinham nada para comer. “Eu vim a você faminto . Jesus disse. “Você percebeu?”. Eu estava tão ocupado que quase não percebi).
Viver uma teologia de interrupções abre minha alma para o vento fresco que reacende a minha chama.
Busque o silêncio
Existe um parágrafo lindo na biografia que Carl Sandburg escreveu sobre Abraham Lincoln na qual descreve os primeiros anos de Lincoln e o segredo de sua força posterior: “Na solidão da mata, ele convivia com árvores, com o rosto do céu aberto e a água nas diferentes estações, com aquela ferramenta individual de um homem só, o machado. O silêncio o tomou para si mesmo. Na sua formação, o elemento do silêncio foi imenso”.
Nosso mundo não é como o de Lincoln; está atravancado de imagens, retinindo de todos os tipos de barulhos, ininterruptamente agitado. A floresta desapareceu, e o refúgio não tem mais lugar. Agora, os que querem manter o silêncio precisam buscá-lo.
Perto de onde moro, existe um rio que nasce em um grande lago. O rio faz curvas como um labirinto em seu caminho de descida para o oceano. É ali que eu vou para ter silêncio. No verão, nado. No outono, pesco. No inverno e na primavera, caminho na areia da margem do rio. Ali eu ouço.
Como uma noite escura faz com que as estrelas brilhem mais, assim a espera no silêncio dá às palavras clareza e brilho. Eu vou àquele lugar cansado de palavras, mas ressurjo novamente pronto para ouvir e falar uma palavra no tempo certo.
Conecte com os elementos
A pregação é elementar. Há água, vento, terra e fogo. A pregação nasce do fogo. Aquele fogo é alimentado, não abafado, pela água do Espírito, intensificado pelo vento do Espírito e, então, misturado nos elementos terrenos da carne e dos ossos. Viver no ritmo e estrutura do fogo requer que eu também viva com a terra, o vento e a água.
Minha busca pelo silêncio no rio em parte serve para isso. Mas há mais. Eu trabalho com madeira. Ando de bicicleta. Faço jardinagem. Nado em rios de corredeiras frias e oceanos de ondas bravas. Toco a terra, mergulho na água, vou até os espaços abertos onde o vento acaricia ou esmurra. Conecto de novo o que está dentro de mim com o que está fora, minha mente com meu corpo e meu corpo com o seu ambiente.
Fazer jardinagem dessa maneira é maravilhoso. As palavras “humano”, “humilde” e “húmus” compartilham a mesma raiz. Jardinar é algo adámico, é tocar o húmus do qual somos feitos. Isso é humildade e humanização.
Existe algo em colocar a semente e o bulbo na terra, em podar os galhos até o branco do caule e observar a gota de seiva se formando no lugar do corte, em colocar o adubo e ver as minhocas se retorcendo na terra, cheirar a grama cortada ou os galhos queimados, comer cenouras recém-arrancadas ou pêssegos que acabam de ser co-lhidos — existe algo nisso tudo que me ajuda a aceitar minha humanidade novamente.
E também existe algo nisso tudo que me ajuda a encontrar novamente, inesperadamente, o Cristo ressurreto, como Maria Madalena pensando que ele era o jardineiro.
Não precisa ser necessariamente jardinagem, é claro. Pescar, caminhar, fazer pão, construir casas de passarinho ou rebocar uma parede — qualquer coisa que conecte de novo nossa mente com nosso corpo, e nosso corpo com os elementos.
Cinzas quentes da segunda feira
Eu escrevi isso em uma segunda-feira fria de inverno. Antes de começar, fiz um fogo no forno à lenha perto da minha escrivaninha. Cortei uma casca de pinheiro com seiva incrustada em pequenos tocos, coloquei isso no jornal da semana anterior amassado em cima de uma base grossa de cinzas brancas e cinzas escuras (os restos de muitos fogos) e joguei o fósforo. Depois que consegui fazer o fogo pegar, coloquei vários pedaços de pinheiro e cedro amarelo em forma cruzada, fechei as portas do forno e ajustei os abafadores.
Depois me sentei para escrever. Quando havia quase terminado, percebi que a sala tinha esfriado. Levantei para verificar o fogo. Abri o forno e primeiro só vi escuridão e fumaça negra. Eu havia fechado demais os abafadores, e o fogo estava quase apagado. Os cepos de lenha estavam ali, parcialmente queimados, inertes, fumegando. Mas isso apenas durou um momento.
Em forma de redemoinho entrou ar pela porta aberta, o ar soprou um pouco na lenha e a incandesceu. Subitamente, ela pegou fogo. As chamas saltaram de repente e a lenha começou a estalar com o calor delas.
Pregação quando começa a faltar oxigênio
É segunda, mas o domingo está chegando. Eu não estou pronto para pregar de novo. Aliás, neste exato momento, não quero pregar nunca mais. Sinto-me como lenha parcialmente queimada em cinzas frias. Mas não quero me preocupar com isso. Sei que Deus abrirá as portas novamente, deixará o ar entrar com força.
E o que faço agora? Vou lá fora cortar lenha.

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