Compreendendo o pânico do fim de semana


Na noite anterior à minha pregação, caminho — para frente e para trás no meu quarto, sussurrando pensamentos relativos ao sermão, testando-os, descartando centenas de pensamentos, exultando sobre um ou dois que brilham como moedas, investindo nestes.
Fico sem fôlego quando caminho. Faço barulhos estranhos. Mas a casa precisa estar tão silenciosa quanto a morte. E o Deus poderoso precisa estar ao meu lado para me salvar, porque certamente grandes ondas de dúvida virão me esmagar, e, nesse momento, gaguejo: “Ajude-me. Senhor!”, e falo de modo ofegante: “O que o Senhor quer que eu diga?”.
Nem toda a interpretação das Escrituras no mundo conseguirá me salvar dessa viagem noturna em águas tempestuosas: devo pregar e fico assustado com essa idéia. Nas poucas horas em que durmo, sonho. Em meus sonhos, chego à igreja atrasado, e as pessoas estão indo embora. Não consigo achar minha beca, minhas roupas estão surradas, e as pessoas estão impacientes. Ou (o segundo pior horror) em um estalo no meio da pregação, percebo que estou de cuecas. Ou (o pior de tudo) esqueci totalmente o que havia planejado dizer.
Eu acordo às 5 da manhã. Não como porque não consigo. JVIeu ser interior está tão instável quanto a água. Mas quando encontro as pessoas, meu ser exterior assumiu um sorriso, fala suavemente, toca todo mundo e se dirige para o culto com segurança. E eis que lá estou eu pregando.
E em algum domingo qualquer, tenho êxito. Ninguém espera um colapso pastoral. Todo mundo toma esse sermão como certo, enquanto eu sussurro grandes porções secretas de gratidão a Deus. Mas quando o sábado chega de novo, estou novamente caminhando, de olhos arregalados e apavorado.
Você também? O sucesso também causa espanto a você, visto que a perspectiva de pregar já tinha horrorizado você?
Quando eu era jovem, pensava que a experiência acalmaria os meus medos. Não foi o que aconteceu. Durante anos, orei a Deus que me concedesse uma paz pré-sermão. Deus não concedeu isso, e me culpei pela falta de fé.
Mas agora fico pensando: Talvez o medo seja parte dos ossos do ofício. Talvez, porque essa tarefa exige o pregador por inteiro, nosso ser inteiro fica envolvido na tensão do preparo, e assim o nosso estômago começa a se manifestar.
Pregar é — mas não somente — uma função do nosso intelecto. Estamos fazendo mais do que passando puro conhecimento às pessoas. Nossas almas são desafiadas a crer no que falamos. Além disso, crer significa que nós experimentamos o que declaramos: é uma parte de nossa história pessoal, real no sofrimento e na alegria, real no pecado, real no perdão e na graça e na liberdade. Assim, tornamo-nos uma evidência em pé do que pregamos, e o nosso ser todo — alma e mente e corpo e experiência — participa no momento sagrado da pregação.
Ê Cristo quem salva. Mas na comunidade humana, é esse vaso particular cuja voz, cuja pessoa e cuja pregação proclamam a Cristo. Não, não posso me esconder em minha capa de autoridade e ainda persuadir as pessoas de um Jesus amável, encarnado, próximo e que nos envolve.
Nunca posso abstrair o meu eu de minha pregação, já que o propósito e a paixão da tarefa envolvem o meu amor. Prego porque amo, amo duplamente. Esses dois amores definem meu ser.
Pois amo o Senhor, o meu Deus, com todo o coração e com toda a minha alma e toda a minha mente. Não tenho nada mais importante em todo o mundo para transmitir a qualquer pessoa do que o Único que amo completamente. Essa é uma responsabilidade estupenda. E é minha, porque não posso separar meu amado do meu amor, nem meu amor de mim mesmo. Quando falo de Deus, minha paixão está presente: na paixão torno Deus conhecido! Mas a glória do Senhor me torna autoconsciente. Será que sou digno de sussurrar o nome?
Não tenho escolha a não ser tentar. Pois amo essas pessoas também — esses rostos, esses olhos — com um amor particular e distinto. O melhor que posso dar, isso preciso dar a eles. A eles, em sua linguagem, para a vida individual de cada um deles.
E, no sábado à noite, eu me angustio: Eles ouvirão isso? Permitirão que a palavra dura os machuque, que a palavra boa os cure e a palavra forte os direcione e salve? Falarei isso de tal forma que eles o recebam de mim? Oh, povo, povo, a profundidade do meu amor é a profundidade do meu temor por vocês!
Assim, continuo caminhando.

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