Sugestões Feitas Quanto às Divisões dos Atributos


A questão da classificação dos atributos divinos tem ocupado a atenção dos teólogos por
longo tempo. Várias classificações têm sido sugeridas, a maioria das quais distingue duas classes
gerais. Estas classes são designadas por diferentes nomes e representam diferentes pontos de
vista, mas substancialmente são as mesmas, nas diversas classificações. Destas, as mais
importantes são as seguintes:

1. Uns falam de atributos naturais e atributos morais. Os primeiros, como auto-existência,
simplicidade, infinidade, etc., pertencem à natureza constitutiva de Deus, de maneira distinta de
Sua vontade. Os últimos, como na verdade, bondade, misericórdia, justiça, santidade, etc.,
qualificam-no como um Ser moral. A objeção a essa classificação é que os atributos morais, assim
chamados, são tão verdadeiramente naturais (isto é, originais) em Deus como os demais. Dabney
prefere esta divisão mas, em vista da objeção levantada, admite que os termos não são felizes.
Ele opta por falar em atributos morais e não morais.

2. Outros distinguem entre atributos absolutos e relativos. Os primeiros pertencem à essência
de Deus, considerada em si mesma, ao passo que os últimos pertencem à essência divina,
considerada em relação à Sua criação. A primeira classe inclui atributos como auto-existência,
imensidade e eternidade; a outra, atributos como onipresença e onisciência. Esta divisão parece
partir do pressuposto de que podemos ter algum conhecimento de Deus como Ele é em si
mesmo, inteiramente à parte das relações que mantém com as Suas criaturas. Mas não é assim,
e, portanto, falando com propriedade, todas as perfeições de Deus são relativas, indicando o que
Ele é em relação ao mundo. Evidentemente Strong não reconhece a objeção e dá preferência a
esta divisão.

3. Ainda outros dividem as perfeições divinas em atributos imanentes ou intransitivos e
emanentes ou transitivos. Strong combina esta divisão com a anterior quando fala de atributos
absolutos ou imanentes e relativos ou transitivos. Os primeiros são aqueles que não se expõe
nem operam fora da essência divina, mas permanecem imanentes, como imensidade,
simplicidade, eternidade, etc.; e os últimos são os que se expõem e produzem efeitos externos
quanto a Deus, como onipotência, benignidade, justiça, etc. Mas se alguns dos atributos divinos
fossem puramente imanentes, todo conhecimento deles estaria excluído, ao que parece. H.B.
Smith observa que cada um deles deve ser ao mesmo tempo imanente e transitivo.

4. A distinção mais comum é entre atributos incomunicáveis e comunicáveis. Os primeiros são
aqueles aos quais nada análogo existe na criatura, como asseidade, simplicidade, imensidade,
etc.; os últimos, aqueles com os quais as propriedades do espírito humano têm alguma analogia,
como poder, bondade, misericórdia, retidão, etc. esta distinção não achou nenhum favor da parte
dos luteranos, mas sempre foi popular nos círculos calvinistas, e se encontra em obras
representativas como as dos professores de Leyden,1 Mastricht e Turretino. Todavia, desde o
princípio percebeu-se que a distinção é insustentável, se não houver ressalva, visto que, de certo
ponto de vista, todos os atributos podem ser denominados comunicáveis. Nenhuma das
perfeições divinas é comunicável, na infinita perfeição em que estas existem em Deus e, ao
mesmo tempo, há no homem tênues vestígios até mesmo dos chamados atributos incomunicáveis
de Deus. Entre os teólogos reformados mais recentes há uma tendência para descartar-se desta
distinção em favor de algumas outras divisões. Dick, Shedd e Vos mantém a velha divisão. Kuyper
se expressa como estando insatisfeito com ela e, apesar disso, a reproduz em sua proposta,
virtutes per antithesin e virtutes per synthesin: e bavinck, depois de seguir outra ordem na primeira
edição da sua Dogmática, retorna a ela na Segunda edição. E, finalmente, os Hodge, H.B. Smith e
Thornwell seguem uma divisão sugerida pelo Catecismo de Westminster (presbiteriano). Contudo,
a classificação dos atributos em duas classes principais, como se vê na distinção que estamos
considerando, é o fato inerente a todas as outras divisões, de modo que todas estão sujeitas à
objeção de que evidentemente dividem o Ser de Deus em duas partes, que primeiro discute Deus
como um Ser pessoal. Pode-se dizer que essa forma de tratamento não resulta numa concepção
unitária e harmoniosa dos atributos divinos. Todavia, esta dificuldade pode ser aplainada se se
estender claramente que as duas classes de atributos mencionadas não são estritamente
coordenadas, mas que os atributos pertencentes à primeira classe qualificam os pertencentes à
Segunda, de sorte que se pode dizer que Deus é único, absoluto, imutável e infinito em Seu
conhecimento e sabedoria, em Sua bondade e amor, em Sua graça e misericórdia, em Sua justiça
e santidade. Tendo isto em mente, e também lembrando que nenhum dos atributos de Deus é
incomunicável no sentido de que eles estão no homem como estão em Deus, não vemos razão
por que nos afastar da velha divisão que se tornou tão familiar na teologia reformada. Por razões
práticas, parece mais desejável conservá-la.