Qualidade Estética do Livro de Filemon


«Os tributos à beleza, à delicadeza e ao tato da epistola a Filemom vêm da parte de representantes de todas as escolas, de Lutero a Calvino, e então de Renan, de Baur e de von Soden… A epístola tem sido comparada com uma carta dirigida por Plinio, o Moço, a um amigo, em circunstâncias similares. Contudo, citando Lightfood, ‘Se a pureza de (ficção for excetuada, dificilmente haverá qualquer diferença de opinião em se dar a palma ao apóstolo cristão. Como expressão de simples dignidade, de cortesia refinada, de profunda simpatia e de caloroso afeto pessoal, a epístola a Filemom não tem rival. E sua proeminência se torna um tanto mais notável porque seu estilo é bastante frouxo. Nada deve às graças da retórica; seu efeito se deve exclusivamente ao espírito do escritor’. ‘Deleitamo-nos com ela’, diz Sabatier, ‘em nossa atarefada estrada, descansando um pouco com Paulo, de suas grandes controvérsias e labores fatigantes, no oásis refrescante da amizade cristã. Estamos acostumados a conceber o apóstolo sempre preparado para a guerra, revestido de lógica e de argumentos contundentes. E delicioso encontrar­mos a um Paulo em descanso, capaz de entregar-se, por alguns momentos, a uma conversa amigável, tão plena de liberdade e até mesmo de prazer’». (Vincent, introdução à epístola a Filemom).
«Essa epístola apresenta um exemplo encantador e magistral do amor cristão». (Lutero).
«Em parte alguma encontraremos a sensibilidade e o calor da amizade delicada de forma mais belamente mesclada com altos sentimentos de um intelecto superior, sim, de um mestre e apóstolo, do que nesta epistola breve mas tão sentenciosa». (Ewald).
«Que consciência de dignidade apostólica, que profunda humildade e amor! Que elevação e plenitude de pensamento cristão, exibido no trata­mento de um incidente pertencente à mais comum das relações da vida! Que poder de eloquência! Que delicadeza de sentimentos, mas que argumentos incisivos!» (Wiesinger).
«Trata-se de preciosa relíquia de um grande caráter. Persegue seu objetivo com grande amor e sabedoria cristãos, com tanto tato psicológico, e sem renunciar à autoridade apostólica, de forma tão engenhosa e sugestiva, que essa epistola, vista meramente como espécime da elegância e da urbanidade ética, poderia ser posta entre as obras-primas epistolares da antiguidade». (Meyer).
«Essa epístola é importante ajuda, que nos capacita a entender a Paulo, ao seu caráter, aos seus dotes intelectuais, às suas qualidades de coração». (Burke).
«Se essa epístola não fosse considerada sob outros prismas além de uma mera composição humana, ainda assim teríamos de reputá-la uma obra-prima». (Doddridge).
«Cícero nunca escreveu com maior elegância». (Erasmo).
«Foi escrita como elemento decorativo do evange­lho». (Jerônimo).
«Admiremos a sua elegância». (Bengel).
A epístola similar de Plínio, o Moço (Letters, ed. F.C.T. Bosanquet, IX.21), é dada em seguida, para Satisfazer à curiosidade do leitor:
«Teu liberto, a quem ultimamente mencionaste para mim com desprazer, esteve comigo; e se lançou a meus pés com submissão tal como poderia ter-se lançado aos teus. Com muitas lágrimas me rogou, e até com toda a eloquência da tristeza silenciosa, que eu intercedesse por ele; em suma, convenceu-me, com toda a sua conduta, que sinceramente estava arrependido de sua falta. Estou persuadido que se reformou totalmente, devido ao fato de que parece sentir profundamente a sua culpa. Sei que estás indignado com ele, — e também sei que não é sem razão; mas a clemência nunca poderá ser exercida, com tanto aplauso, como onde há mais causa de ressentimento. Antes tinhas afeição por esse homem, e espero que novamente seja assim; nesse ínterim, permite-me solicitar-te apenas que o perdoes. Se porventura ele vier novamente a incorrer em teu desprazer daqui por diante, terás maior motivo para te justificares da ira, conforme também agora te mostras sumamente misericordioso para com ele. Concede algo a esse jovem, às suas lágrimas e ao téu temperamento naturalmente suave; não continues a deixá-lo intranquilo, e, quero adicionar, não te intranquilizes tu mesmo; pois um homem da bondade de teu coração não pode irar-se sem sentir grande agitação. Temo que se vier a juntar os meus fogos aos dele, pareça eu querer compelir-te a perdoá-lo. Contudo, não tenho escrúpulos por juntar meu pedido ao dele; e tanto mais fortemente porque o repreendi incisiva e severamente, ameaçando-o positivamente de nunca mais interceder novamente em seu favor. Porém, embora fosse apropriado dizer isso para ele, para induzi-lo a um maior temor de ofender, não o digo para ti. Talvez eu tenha novamente oportunidade de rogar-te nesse sentido, obtendo uma vez o teu perdão; supondo, quero dizer, que a sua falta seja tal que me seja próprio interceder por ele, e a ti, seja próprio perdoar. Adeus».

Nenhum comentário: