Propósitos do Destino do Evangelho de Mateus


1.    Suas muitas citações extraídas do A.T., devem ser tanto literárias quanto polêmicas. O autor indica que o cristianismo é uma graduação acima do judaísmo, mas não contradição com o mesmo. Isso significa que o autor sagrado aceitava a tese de que a antiga e a nova dispensações se combinavam em Cristo e sua igreja, e que a igreja contém o «melhor do judaísmo», elevado a um nível superior.
2.    Jesus é o novo Moisés, e seus ensinamentos são a nova lei, conforme se torna evidente na seção dos capítulos 5—7. Assim como Moisés exigia o respeito do povo, por ter trazido uma revelação inédita, assim sucedeu no caso de Cristo. Mas a revelação trazida por Cristo é superior à de Moisés, pelo que sua autoridade é maior. Jesus Cristo é o Messias (primeiro capítulo), é o Filho de Davi e é o Salvador. Por conseguinte, ele também é o Reilegítimo.
3.    O evangelho foi escrito para consolar aos crentes perseguidos, talvez da época do imperador Domiciano, conforme vimos na seção que aborda a questão da «data».
4.   O evangelho de Mateus foi escrito para erguer uma nova autoridade, já que Jerusalém (e, portanto, o judaísmo), fora recentemente destruída. Essa nova autoridade está centralizada em Pedro (décimo sexto capítulo), que o evangelho de João encontra no corpo conjunto dos apóstolos (João 20:19ss).
5.    O autor sagrado, feliz acerca do esboço histórico de Marcos, que incorporara em seu próprio livro, percebeu que havia falta de um bom esboço quanto aos ensinamentos de Jesus, e resolveu dar ao mundo cristão uma espécie de compêndio desses ensinamentos.
6.    O conteúdo do próprio evangelho mostra o intuito de fazer um apelo a judeus e gentios igualmente, assegurando a ambos que Jesus é o Messias e Salvador. A genealogia e a referência frequentemente repetida às leis e costumes judaicos, serviam de apelo aos judeus. A referência ao ministério de Jesus fora dos territórios judaicos (4:15,25), com a indicação de que os judeus haviam repelido a ele mesmo e à sua doutrina, o que quer dizer que sua mensagem se voltou para os gentios (8:11,12 e 21:43), além da Grande Comissão (28:19,20), enfatizam a universalidade do novo evangelho, apelando aos gentios.
7.    O evangelho de Mateus se interessa pelas questões escatológicas, refletindo a crença dos cristãos primitivos de que o segundo advento de Cristo (a «parousia») estava próxima, e que grande tribulação rebentaria com o aparecimento do anticristo, o que seria uma realidade para breve (ver Mat. 24).
8.    O livro tenciona mostrar com o que se parece o ideal reino dos céus, e como Cristo deve ser o rei daquele reino (caps. 1,2,5—7,13 e 25). Essas seções também nos mostram o que se espera dos súditos desse reino celestial.
9.   Esse evangelho foi escrito para satisfazer às necessidades da igreja em crescimento, pois aborda «problemas eclesiásticos» e propõe soluções (caps. 16 ss). Erramos quando supomos que o evangelho de Mateus, em qualquer sentido, visava aos «judeus», e não à igreja, ainda que grande parte do mesmo reflita o período de «transição» do antigo para o novo. O discipulado cristão ideal, nos caps. 5—7, por exemplo, ensina não meramente as — regras do reino — pois na ideia do autor sagrado, a igreja representa uma concretização preliminar do próprio reino. Um evangelho que foi escrito quando o cristianismo já existia há cerca de cinqüenta anos, dificilmente pode ser tido como um documento judaico. «A principal conseqüência da vida e da morte de Jesus frisada no evangelho de Mateus é a vinda à existência da igreja universal de Deus, o novo Israel, onde encontram abrigo todos os povos. O evangelho começa com a predição de que Jesus é o Emanuel, «Deus conosco» (Mat. 1:23) e termina com a promessa de que esse mesmo Jesus, agora Cristo ressurreto, estará com seus discipulos, retirados dentre todas as nações, até o fim dos tempos. A nota de universalidade, que soou no começo da narrativa da manifestação de Jesus aos magos, vai reverberando na ordem com que termina o evangelho, de que os crentes fossem pelo mundo inteiro, fazendo discípulos dentre todas as nações… Visto que o caráter messiânico de Jesus se tomara pedra de tropeço para os judeus, o reino lhes seria tirado e dado a uma nação que ‘produziria seus frutos’ (21:42,43). Os patriarcas do novo Israel, os apóstolos, compartilhariam da vitória final do Messias, agindo como seus co-assessores no julgamento, segundo Jesus deixa claro nas palavras registradas em Mat. 19:28, e conforme o evangelista enfatiza ao inserir as palavras ‘convosco’, na declaração derivada de Marcos, inserida em Mat. 26:29». (The New Bible Dictionary, Eerdman’s, 1962, pág. 796).
10. Este evangelho, bem como aquele escrito por Marcos, mostra-nos Jesus como poderosíssimo operador de milagres. Proporcionalmente, esse aspecto ocupa mais espaço do que aquele conferido a qualquer outro aspecto da sua vida. Os escritos rabínicos mostram que — o Messias esperado — seria poderoso operador de milagres. O evangelho de Mateus exibe Jesus de Nazaré como quem está qualificado para ser esse Messias, por que quem exerceu tanto poder em sua vida, quanto ele? Em quem o Espírito Santo operou tão poderosamente quanto o fez em Jesus Cristo?

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