Principais Temas de Filipenses


A epistola aos Filipenses não pode ser reduzida a uma apresentação de sequência lógica, porque se trataria de uma composição de várias epístola, de forma um tanto frouxa, que abordam diversos temas. Trata-se da mais pessoal das epístolas escritas por Paulo, a mais reveladora da emotividade do apóstolo dos gentios. Temos aqui uma combinação de notas pessoais, explosões de advertência, de ação de graças e de ternura, reflexões profundas e denudas extremamente amargas.
1. O tema da alegria aparece de maneira mais pronunciada nesta epístola do que em qualquer outro dos escritos de Paulo. Isso pode parecer-nos estranho, considerando-se as circunstâncias tão adversas sob as quais essa epistola foi redigida, pois Paulo se encontrava aprisionado, e pairavam sobre ele tão graves ameaças que ele já pensava que o martírio era uma forte possibilidade. Porém, no capítulo final desta epístola Paulo diz-nos como já havia aprendido a estar contente, nas diversas vicissitudes da vida. Seria uma espécie de estoicismo cristão, produzido por uma vida de intensos e constantes sofrimentos, que o apóstolo sempre atribuía à vontade de Deus, como acompanhamento necessário tanto para a propagação do evangelho como para o desenvolvimen¬to espiritual do crente. (Ver Fil. 1:3,4; 1:25; 2:1,2,16-18,28; 3:1,3; 4:1,4,5,10).
2. A razão dos sofrimentos e o triunfo deles sobre os mesmos é outro dos temas centrais desta epistola. O martírio de Paulo era considerado como algo possível, embora ele esperasse que o seu ministério se prolongasse por mais algum tempo, não para sua própria vantagem, mas para a vantagem deles. Sobre isso se manifesta a maior parte do primeiro capítulo, além dos trechos de Fil. 2:15,17 e 4:1. Paulo evidentemente pensava que os crentes de Filipos continuariam a enfrentar perigos similares àqueles que ele mesmo tinha de enfrentar, como perseguições e vários sofrimentos e abusos, incluindo a própria morte. (Ver Fil. 1:27-30). Não obstante, Paulo diz que os sofrimentos dos crentes fomentam o progresso do evangelho. (Ver Fil. 1:12).
3. Paulo sustenta nesta epistola a sua esperança no retomo de Cristo Jesus para breve. Ele foi capaz de olvidar os seus sofrimentos em vista da fé que a parousia (a segunda vinda de Jesus) haveria de apagar de vez a agonia do ódio e da hostilidade dos homens, soerguendo os crentes ao nível da glória de Cristo. Ele sabia que a sua morte ocorreria antes disso (ver Fil. 1:23), mas mesmo assim continuava embalando a esperança de que a segunda vinda de Cristo se desse durante sua vida terrena. (Ver Fil. 1:6,10; 2:10,11,16; 3:20,21 e 4:5).
4. Havia ainda a necessidade de exortar a igreja dos crentes de Filipos à coesão e à humildade, que consiste da participação na atitude mental de Cristo; e isso levou Paulo a compor sua mais profunda declaração concernente à humanidade de Cristo, à sua missão humana, à sua humilhação, ao seu triunfo em sua missão terrena e à sua exaltação aos lugares celestiais que redundará em sua supremacia sobre tudo quanto há na criação. Entre as epistolas de Paulo, essa é a mais completa afirmativa sobre esse assunto. (Ver Fil. 2:1-11). Nenhuma outra passagem paulina pode comparar-se com essa, sobre a humanidade de Jesus Cristo.
5. A advertência contra os legalistas ocupa a primeira porção do terceiro capítulo desta epistola, sendo uma das declarações mais amargas de Paulo acerca desses inimigos do evangelho, o que também constituía um dos principais problemas que havia na igreja cristã primitiva.
6. Essa necessidade de assim pronunciar-se contra o legalismo, levou o apóstolo Paulo a expressar sua própria dedicação suprema a Cristo, o seu alvo e os seus propósitos na vida, seus anelos espirituais mais profundos, tudo o que viera a fazer parte de sua vida, quando ele repelira o tipo de fé religiosa que caracterizava os legalistas, — que se orgulhavam em diversas relações humanas, como a descendência física ou como as realizações religiosas. É bem provável que essa seja a mais famosa e a mais usada das seções de todas as epistolas desse apóstolo, quando os pregadores desejam apresentar sermões de ensino para suas igrejas. (Ver Fil. 3:4-16). Não podemos ocultar que há certo aspecto apologético nessa seção, porquanto Paulo repreendeu àqueles que continuavam confiando em uma forma de ufania humana, a qual anteriormente o caracterizara como intenso fariseu que ele fora. Essa atitude errônea agora parecia atrair a certos crentes, que se imaginavam «perfeitos», assim enganando-se a si mesmos. Paulo nos mostra, na presente seção, que nem mesmo ele podia reivindicar qualquer coisa semelhante à perfeição nesta vida; antes, continuava a esforçar-se em direção ao alvo ideal e elevadíssimo, que ainda não havia atingido.
7. O trecho de Fil. 4:10-20 constituiria a carta de agradecimento. Os crentes de Filipos, em mais de uma ocasião, em contraste com tantas outras igrejas da época apostólica, haviam enviado algum dinheiro a Paulo, a fim de ajudá-lo em suas situações financeiras tão estreitas. Portanto, aqueles crentes haviam dado o exemplo de como a igreja cristã, em qualquer era, deve interessar-se por suprir ativamente às necessida¬des daqueles que «vivem do evangelho». O ideal do A.T. sobre uma casta sacerdotal, que vivia das ofertas voluntárias do povo, é aqui aprovado e confirmado; mas não como uma espécie de esmola, conforme essa prática tem sido tão frequentemente redunda, e, sim, como dever da igreja local, interessada em obedecer os mandamentos de Cristo, para que fosse por todo o mundo e pregasse o evangelho a toda a criatura. As doações monetárias ao trabalho missionário da igreja é uma garantia de que Deus abençoará o doador e lhe suprirá as suas necessidades, conforme nos mostra a passagem de Fil. 4:19.
8. Paulo repreendeu também a contenda que surgira na igreja dos filipenses, resultante de certo orgulho e egoísmo, por parte de membros que tinham aprendido a desprezar a outros. Paulo conclamava aquela igreja local à unidade em Cristo, como meio seguro de eliminar desordens dessa natureza. (Ver Fil. 4:2,3).
9. A epístola de Paulo aos Filipenses contém uma das mais excelentes exortações quanto à pureza íntima, quanto à maneira de pensar, quanto ao estado de consciência,— que deve resultar em ações externas piedosas. Ver Fil. 4:8, onde encontramos a exortação para que os crentes se concentrassem naquilo que é honesto, justo, puro, amável, de boa fama, virtuoso e digno de louvor. Ê fato sobejamente conhecido que nossas ações procedem da maneira de pensar. Se tivermos de manter ações santas nesta vida, essas devem ter início na fonte, isto é, nos pensamentos. O crente está na obrigação moral de resguardar o santuário de sua mente e de sua alma, cultivando-o com a mensagem da graça de Cristo. Trata-se do mesmo conceito que foi desenvolvido em Rom. 12:1,2. Fica suposto que a vida interior dos pensamentos, se for cuidadosamente cultivada e resguardada, garanti¬rá uma vida de pureza e utilidade nas mãos de Deus. Naturalmente que essa é uma idéia central de Cristo, que afirmou que todos os grandes pecados têm sua origem na mente, nos motivos, que finalmente produzem as ações malignas e erradas. Isso é o que também se aprende, em vários trechos do Sermão do Monte (ver Mat. 5—7). Com isso concorda aquela expressão que diz: o homem é aquilo que pensa.

Um comentário:

Unknown disse...

muito bom o estudo sobre a carta aos filipenses muito proveitoso