Para Onde a Filosofia da “Amigabilidade” Está Levando a Igreja?


A filosofia da “igreja amigável” é uma curva fechada em direção a um caminho errado para a igreja. Estou convicto de que o menosprezo à adoração, às Escrituras e à teologia, em última análise, resultará em um sério comprometimento doutrinário. Aliás, isso talvez já esteja ocorrendo. Líderes cristãos que se identificam como evangélicos estão começando a questionar doutrinas fundamentais como o inferno e a depravação humana.

Um dos movimentos mais populares da atualidade abraça uma doutrina conhecida como “imortalidade condicional”, semelhante à doutrina do aniquilamento. É a crença de que os pecadores não- redimidos, em vez de passarem a eternidade no inferno, são simplesmente erradicados. Encaixando-se perfeitamente à filosofia da “igreja amigável”, esse ponto de vista ensina que um Deus misericordioso não poderia consignar ao tormento eterno seres criados por Ele. Portanto, em lugar disso, Deus os elimina por completo.
A “imortalidade condicional” e a doutrina do aniquilamento não são ideias novas. A história nos mostra, todavia, que a maioria das pessoas e movimentos que adotam a doutrina do aniquilamento não se mantêm ortodoxas. Negar a eternidade do inferno é equivalente a uma arrancada em direção ao declínio.
Spurgeon atacou a “imortalidade condicional” considerando-a um dos grandes erros do declínio do século dezenove. Ele afirmou: “aqueles que negam a eternidade do inferno também destroem a esperança de um céu que, a todo momento, temos esperado. É claro que a recompensa dos justos não deve ter maior duração do que o castigo dos ímpios. Ambos são descritos como eternos no mesmo versículo (Mt 25.46); e estas palavras foram proferidas pelos mesmos lábios sagrados. Portanto, visto que o castigo é descrito como duradouro por toda a eternidade, assim também deverá ser a vida”.
As Escrituras declaram: “O diabo, o sedutor deles, foi lançado  para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelo séculos dos séculos” (Ap 20.10). Jesus falou a respeito do homem rico que “no inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama” (Lc 16.23,24). Foi também Jesus quem disse: “E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhorentrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois, seres lançado no inferno, onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga” (Mc 9.47,48). E Apocalipse 14.11 descreve o estado eterno daqueles que seguirem o anticristo, na tribulação: “A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome”. Em todas as Escrituras, o próprio Senhor Jesus foi o ensinador mais prolífico acerca do inferno. Ele falou mais acerca deste assunto do que todos os apóstolos, profetas e evangelistas juntos.
A pregação que menospreza a ira de Deus não enriquece o evangelismo; pelo contrário, prejudica-o. A urgência do evangelho fica irremediavelmente perdida quando o pregador nega a realidade ou a severidade da punição eterna. A autoridade das Escrituras é comprometida quando uma porção tão grande dos ensinos de Jesus precisa ser negada ou atenuada. A seriedade do pecado é depreciada por tais doutrinas. E, desta forma, o evangelho é subvertido.
Quão profundamente a tendência de se negar a existência do inferno já penetrou o evangelicalismo? Uma pesquisa feita entre seminaristas evangélicos revelou que aproximadamente a metade deles — 46% — sente que pregar acerca do inferno aos incrédulos é “de mau gosto”. Pior do que isso, três em cada dez dos pesquisados que professam ser “nascidos de novo” creem que as pessoas “boas” irão para o céu quando morrerem, ainda que não creram em Cristo. Um entre dez evangélicos afirmou que o conceito de pecado está fora de moda.
Muitos dos que abraçaram a filosofia da “igreja amigável” não ponderaram cuidadosamente como esta é incompatível com a verdadeira teologia bíblica. Em sua natureza, trata-se de uma visão pragmática, e não bíblica. Baseia-se precisamente no mesmo pensa­mento que está corroendo o âmago da doutrina ortodoxa. Está conduzindo o evangelicalismo ao neo-modernismo e encaminhando as igrejas a um rápido avanço rumo ao declínio.
A resposta, é claro, não é uma “igreja não-amigável”, e, sim, uma comunhão vibrante, amável, honesta, adoradora e comprometida de crentes que ministram uns aos outros, assim como a igreja de Atos 4, mas que se abstém do pecado; onde os crentes se mantêm responsáveis uns pelos outros e que ousadamente proclamam a verdade completa das Escrituras. As pessoas que não amam as coisas de Deus talvez não achem tal lugar muito “amigável”. Mas a bênção do Senhor estará sobre essa comunhão de verdadeiros crentes, pois foi isso que Deus ordenou que a igreja deve ser. E, como prometeu, Ele haverá de acrescentar pessoas à igreja.

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