Observações Sobre o Arrebatamento no Tocante a Segunda Vinda de Cristo para Julgar


1.  Suposta contradição entre I e II Tessalonicenses no tocante a esse assunto. I Tessalonicenses parece ensinar um «arrebatamento» sem sinais de aviso, e, portanto, iminente, extremamente próximo. II Tessa­lonicenses, por sua parte, parece dizer que isso não poderá suceder enquanto não acontecerem primeiro certas coisas, a saber, o aparecimento do anticristo e a apostasia. Por que essa diferença?
a.    Há uma interpretação que se vai popularizan­do em nossos dias, e que pretende fazer-nos crer que I Tessalonicenses fala sobre o arrebatamento da igreja (o que ocorreria sem sinais prévios e que poderia suceder a qualquer instante), ao passo que II Tessalonicenses se referiria à vinda de Cristo a fim de julgar o mundo (um acontecimento posterior, precedido por sinais). Tal idéia é extremamente duvidosa, como a leitura meramente casual do quinto capítulo de I Tessalonicenses é capaz de indicar. Pois o  «mesmo dia» que apanhará o crente verdadeiro desperto e vigilante, apanhará o incrédulo dormindo, espiritualmente falando. Comparar I Tes. 5:2 com II Tes. 2:2. Ambos esses trechos aludem à «parousia», não havendo qualquer indício de que Paulo estivesse falando acerca de acontecimentos distintos.
b.   Luzes derivadas do A. T. É verdade que o A.T. se refere ao primeiro e ao segundo adventos de Cristo, como se fossem um único evento. E por certo, os rabinos judeus também não faziam qualquer distin­ção entre as duas ocorrências. Portanto, é possível que os dois acontecimentos de que falamos (um arrebata­mento e uma vinda de Cristo para julgar), venham a ser, afinal, acontecimentos distintos, sem que isso jamais tenha sido claramente descrito.
c.     Seja como for, porém, a própria «parousia» não será um único evento, e nem mesmo um evento duplo. Antes, será uma série de acontecimentos. Terá início na batalha de Armagedom (ver Apo. 16:14,15); terá de incluir o arrebatamento da igreja; e terá de envolver, igualmente, a vinda de Cristo para julgar os perdidos. No entanto, envolverá também a destruição final dos céus e da terra, terminado o milênio (ver II Ped. 3:4,12). A «parousia», pois, será a vinda e a manifestação de Cristo através de uma série de ocorrências, o que se prolongará por um extenso período de tempo. No processo dessa manifestação, Cristo sujeitará todas as coisas debaixo de seus pés e tornar-se-á o Senhor universal (ver Efé. 1:10). Portanto, podem ser falsas ou verdadeiras as distinções de tempo que estabelecermos quanto a essa manifestação, no que diz respeito a «estágios».
2.    Por conseguinte, o próprio Paulo, ao descrever a parousia, podia cair em aparentes contradições, porquanto explanava algo muito complexo, sobre o que ele mesmo tinha um conhecimento limitado. Alguns têm mesmo sugerido que, em diferentes oportunidades, Paulo possa ter exprimido uma ideia ou outra, no que chegou mesmo a contradizer-se. Nesse caso, em I e II Tessalonicenses, ele pode ter feito exatamente isso.
3.    Sem embargo, penso que existe uma interpreta­rão mais provável ainda. Em I Tessalonicenses, Paulo expressou um «sentimento» ou «esperança», isto é, que Cristo voltaria em breve. Isso é encarado como algo tão breve que fica eliminada qualquer necessidade de sinais prévios. No entanto, ele exprimia uma «esperança», e não um dogma. Se porventura fosse um dogma, estaria laborando em erro, porquanto Cristo não retornou durante o período de vida de Paulo. Já em II Tessalonicenses, Paulo teria tido de assumir uma posição mais madura sobre o assunto. E assim, a vinda de Cristo, embora ele continuasse sentindo que ocorreria em breve, não teria lugar imediatamente, porquanto seriam necessários pelo menos dois sinais de aviso, antes que pudesse realizar-se a vinda de Cristo: a. o aparecimento do anticristo; e b. a apostasia. Isso nos é dito em II Tes. 4:3. Tal ensino, pois, adquiriu então a forma de uma declaração dogmática, mais ampla e completa, que a declaração «esperançosa» de I Tessalonicenses. Em outras palavras, temos aqui um «desenvolvimento» teológico.
Nota do Tradutor. Além disso, em I Tessalonicen­ses, Paulo não estava entrando em contradição com aquilo que ensinara pessoalmente aos crentes de Tessalônica, quando ainda se encontrava entre eles. Apenas fizera um sumário de seu ensino, naquela primeira epístola. Como esse sumário fora entendido como se tivesse exprimido o quadro completo, Paulo se viu forçado, em II Tessalonicenses, a apresentar o quadro profético mais amplo. E no quinto versículo, capítulo 2, relembra aos Tessalonicenses, que quando estivera entre eles, mostrara a complexidade da questão, que eles haviam erroneamente simplificado ao lerem sua primeira epístola: «Não vos recordais de que, ainda convosco, eu Costumava dizer-vos estas cousas?»
Essa controvérsia, contudo, é explicada ainda com maiores detalhes no artigo sobre a segunda epistola aos Tessalonicenses, seção I.
4.  No tocante a «quando» o arrebatamento terá lugar, se pré-tribulacional, meio-tribulacional ou pós-tribulacionàl, isso é amplamente ventilado nas notas sobre I Tes. 4:15 no NTI. A posição desta obra é que a própria tribulação abarcará um período de quarenta anos (o número místico bíblico que representa provação), e que os sete anos (tradicionais), serão um período especial daquele período maior, e não a totalidade do mesmo. A igreja pode escapar ou não daquele período especial, no último estágio do período maior de quarenta anos, e terá envolvimentos especiais com Israel. Seja como for, a igreja terá de enfrentar o anticristo, pelo menos nos primeiros passos de seu poderio; e também será testemunha da apostasia. A cristandade tornar-se-á uma ala do poder do anticristo e o remanescente de verdadeiros crentes, que resistirá a ele, será amargamente perseguido.

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