O Ser de Deus Revelado em Seus Atributos


Da simplicidade de Deus segue-se que Deus e Seus atributos são um. Não devemos
considerar os atributos como outras tantas partes que entram na composição de Deus, pois, ao
contrário dos homens, Deus não é composto de diversas partes. Tampouco devemos considerá-
los como alguma coisa acrescentada ao Ser de Deus, embora o nome, derivado de ad e tribuere,
pareça apontar nessa direção, pois nenhum acréscimo jamais foi feito ao Ser de Deus, que
eternamente perfeito. Comumente se diz em teologia que os atributos de Deus são o próprio
Deus, como Ele se revelou a nós. Os escolásticos acentuavam o fato de que Deus é tudo quanto
Ele tem. Ele tem vida, luz, sabedoria, amor, justiça, e se pode dizer com base na Escritura que Ele
é vida, luz, sabedoria, amor, justiça. Os escolásticos afirmavam, ademais, que toda a essência de
Deus é idêntica a cada um dos atributos, de modo que o conhecimento de Deus, é Deus, a
vontade de Deus, é Deus, e assim por diante. Alguns deles chegaram mesmo a dizer que cada
atributo é idêntico a cada um dos demais atributos, e que não existem distinções lógicas em Deus.
Isto constitui um extremo muito perigoso. Embora se possa dizer que há uma interpenetração dos
atributos de Deus, e que eles formam um todo harmonioso, estamos partindo em direção ao
panteísmo quando eliminamos todas as distinções em Deus, e dizemos que a Sua auto-existência
é a sua infinidade, que o Seu conhecimento é a Sua vontade, que o Seu amor é a Sua justiça, e
vice-versa. Uma coisa característica dos nominalistas é que eles obtiveram todas as reais
distinções em Deus. Eles temiam que, ao admitir reais distinções nele, correspondentes aos
atributos atribuídos a Deus, eles poriam em perigo a simplicidade e a unidade de Deus, e,
portanto, foram motivados por um propósito louvável. De acordo com eles, as perfeições do Ser
divino existem somente em nosso pensamentos, sem nenhuma realidade correspondente no Ser
Divino. Por outro lado, os realistas afirmavam a realidade das perfeições divinas. Eles
compreenderam que a teoria dos nominalistas, coerentemente levada a diante, seguiria na
direção de uma panteística negação de um Deus pessoal e, portanto, consideravam da máxima
importância sustentar a realidade objetiva dos atributos de Deus. Ao mesmo tempo, eles
procuravam salvaguardar a unidade e a simplicidade de Deus defendendo que toda a essência
está em cada atributo: Deus é Tudo em todos; Tudo em cada um deles. Tomás de Aquino tinha o
mesmo propósito em mente quando afirmava que os atributos não revelam o que Deus é em Si
mesmo, nas profundezas do Seu Ser, mas somente o que Ele é em relação às Suas criaturas.

Naturalmente devemos resguardar-nos contra o perigo de separar a essência divina dos
atributos ou perfeições divinas, e também contra um falso conceito da sua relação mútua. Os
atributos são reais determinativos do Ser Divino ou, noutras palavras, qualidades inerentes ao Ser
de Deus. Shedd fala deles como “uma descrição analítica e bem próxima da essência”. Num
sentido são idênticos, de modo que se pode dizer que as perfeições de Deus são o próprio Deus
como Ele se nos revelou. É possível ir até mais longe e dizer como Shedd, “Toda a essência está
em cada atributo, e cada atributo na essência”. E, devido à estreita relação existente entre a
essência e os atributos, pode-se dizer que o conhecimento dos atributos leva consigo o
conhecimento da essência divina. Seria um erro conceber a essência de Deus como existente por
Si própria e anterior aos atributos, como também seria um erro conceber os atributos como
características aditivas e acidentais do Ser Divino. São eles qualidades essenciais de Deus,
inerentes ao Seu próprio Ser e com Ele coexistentes. Estas qualidades não podem ser alteradas
sem alterar o Ser essencial de Deus. E desde que são qualidades essenciais, cada um deles
revela-nos algum aspecto do Ser de Deus.