O Conhecimento de Deus


Nas seções I e II, enfatizamos a debilidade das tentativas humanas para conhecer a Deus. Desconhe­cemos muito mais do que conhecemos sobre Ele. Contudo, é nosso dever procurar conhecer a Deus, sendo isso algo necessário para a sustentação de nossa própria vida. Pelo menos espiritualmente falando, isso não é algo que possamos dispensar se assim quisermos fazer. O homem é um ser espiritual, e a espiritualidade é a substância de toda a sua vida e de todo o seu esforço, embora muitos homens não reconheçam isso.
Há trechos bíblicos que abordam a natureza incompreensível de Deus, como Jó 11:7; 21:14; 37:26; Sal. 77:19; Rom. 11:33. Portanto, qualquer conheci­mento de Deus, que venhamos a obter, é extrema­mente limitado, mas, esse conhecimento limitado reveste-se de imensa importância.
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Maneiras de Conhecer a Deus:
1.  A principal dessas maneiras é a auto revelação de Deus. Á própria existência da Bíblia serve de prova do fato de que Deus se revela a nós, embora essa revelação seja necessariamente parcial. Ver Mat. 11:27; João 17:3; Rom. 1:19,20; Efé. 1:17; Col. 1:10 e I         João 5:20.
2.  A Revelação do Filho. O Logos, o principio do Filho da deidade, manifesta-se em Jesus Cristo, mediante a sua encarnação. Essa é a suprema revelação de Deus entre os homens (João 1:14,18).
3.  Abordagem Racional. O primeiro capítulo de Romanos reconhece que a razão humana pode chegar a obter certo conhecimento de Deus (vs. 19,20). Os filósofos têm afirmado que Deus é o Grande Intelecto, e que o homem é um intelecto que se deriva de Deus, o que explica a afinidade existente entre Deus e o homem. A razão humana, naturalmente, reveste-se de certa qualidade divina, podendo refletir algo do Ser divino.
4.  A Abordagem Intuitiva. O homem tem acesso a um conhecimento que ultrapassa à percepção dos sentidos e da razão. Ele é capaz de conhecimento imediato (intuição), sem fontes conhecidas. Parte disso deve-se, sem dúvida, à sua afinidade com a natureza divina, pois o homem foi criado à imagem de Deus. Sua faculdade intuitiva revela-lhe certas coisas sobre a natureza de Deus. Ele possui ideia inatas (que vide) entre as quais destaca-se a Ideia Divina. A crença na existência de Deus, bem como algum conhecimento sobre Deus, não depende da revelação, além de transcender à razão. Esse conhecimento tem base firme na própria natureza humana, criada com a capacidade inata de reconhecer a Deus.
5.    As atividades filosóficas, que incluem os argumentos racionais, intuitivos e morais para lançarem luz sobre o conhecimento de Deus e da alma, revestem-se de grande valor. Destaco esse fato como um ponto separado, a fim de enfatizá-lo, embora tais elementos também se achem sob outros pontos. Nesta altura, incluo uma citação extraída do Dicionário Bíblico de Unger, que se reveste de certa foiça, quando consideramos que Unger foi um escritor evangélico bastante conservador.
«As Escrituras não buscam provar a existência de Deus, mas apenas supõem ou asseveram o fato como algo que os homens deveriam estar preparados a reconhecer”. As provas racionais da existência do Ser divino, porém, não devem ser consideradas de grande valor. São extraídas principalmente da natureza, da história e da humanidade. Algumas vezes é precipita­damente afirmado que os argumentos edificados em tomo desses alicerces são antiquados ou inúteis. No entanto, permanecem de pé, sem importar suas modificações quanto à forma, sendo essencialmente válidas e de grande valor para confirmar e explicar a crença em Deus, o que, ao mesmo tempo, é tão natural para todo coração humano. Deve-se notar também que a natureza, o homem e a história nos dão revelações gerais sobre Deus — um fato que não é raramente mencionado nas Escrituras. Ver Sal. 19:1-3; Atos 14:17; 17:26,27; Rom. 1:19,20; 2:15. De acordo com isso, o estudo dessas normas produz não somente certas evidências da existência do Ser Divino, mas também algum conhecimento a respeito de seu caráter».
6.   As Experiências Místicas. O misticismo (que vide) pode ser definido como o contato com um ser ou com seres superiores a nós mesmo, e isso de vários modos. No misticismo ocidental, esse contato usualmente é externo, isto é, com seres fora de nós. No misticismo oriental, a ênfase se faz com as dimensões mais altas do próprio ser. O contato com algum ser superior, ou com o próprio «eu» superior, pode ser mediado através da percepção dos sentidos, como nas experiências visionárias e auditivas, ou pode ser inteiramente subjetivo, como nas visões internas e experiências intuitivas. Todas as religiões são edificadas sobre a, base das experiências místicas. Um profeta teve uma visão. Ele a registra por escrito; seus discípulos preservam-na em um livro sagrado. A organização (a Igreja) preserva o livro e o canoniza, a fim de protegê-lo. Porém, o processo inteiro começa com a visão, com a experiência pessoal do profeta sobre o Ser divino. Muitas dessas experiências são inefáveis, e não podem ser reduzidas à forma escrita, exceto nos termos vagos de conceitos abstratos. O ministério do Espirito Santo e os seus dons são formas de misticismo. Os discernimentos obtidos através da mediação são frutos da abordagem mística ao conhecimento. Alguns místicos têm-se asseverado possuidores de um perfeito conhecimento de Deus, mas isso representa uma opinião exagerada e absurda. Não obstante, a maneira mais eficaz de alguém adquirir o conhecimento de Deus é através do caminho místico. A revelação é mesmo uma subcategoria do misticismo. A iluminação referida em Efésios 1:17 só é possível através das experiências místicas.
7.   As Escrituras. A Bíblia não representa uma única maneira pela qual Deus revela a si mesmo. Ela incorpora muitos aspectos. São o produto da revela­ção, mas também contêm raciocínios e discernimentos intuitivos que não foram dados diretamente como revelações, mas foram produtos do exercício espiritual e da inquirição por parte de homens santos. A inspiração das Escrituras inclui o uso das habilidades naturais e da erudição dos homens, sendo frutos de sua busca espiritual. Seja como for, o resultado final é que contamos com muitos ensinos e discernimentos de Deus e de sua natureza, de tal modo que a Bíblia é a nossa principal informação sobre a Ideia divina.
«…Deus Desconhecido… é precisamente aquele que eu vos anuncio… o Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe… Senhor do céu e da terra… ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais… Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração» (Atos 17:23-25, 28).

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